Em
1942, em meio à Segunda Guerra Mundial, um atacante argentino chamado Adolpho
Milman, conhecido por aqui como “Russo”, que desenvolveu quase toda a sua
carreira de futebolista no Fluminense, defendeu a ""Seleção Brasileira".
É
verdade que a sua passagem pela Seleção foi meteórica, apenas um jogo, pelo "Campeonato Sul-Americano" daquele ano, vitória de 2 X 1 sobre o Peru. Mas bastou
para acender uma discussão que que persiste até hoje.
O
xis da questão é descobrir exatamente onde o ex-atacante nasceu. Sabe-se que
sua família era natural da região onde hoje fica o Afeganistão, então dominada
pelo Império Russo, migrou para a província de Entre Ríos, na Argentina, e
depois se estabeleceu no Rio Grande do Sul.
Ao
longo da história, esses três lugares já foram apontados como berço do
ex-jogador. Enquanto ele atuava profissionalmente, a história que circulava
entre os torcedores era de que “Russo” havia nascido na Rússia/Afeganistão e
vindo para o Brasil ainda quando bebê. Os jornais da época diziam
que ele era de Pelotas.
No
entanto, a família de “Russo” tem essa outra versão para a nacionalidade do
antigo centroavante. De acordo com seu filho, Fernando Milman, ele era mesmo um
imigrante argentino, nascido na província de Entre Rios, em 26 de julho de 1915,
filho de Salomão e Clara, um casal de ucranianos.
O
escritor pelotense Lourenço Cazarré, afirma que ele nasceu, sim, no exterior,
mas bem mais perto daqui. Citando Jane Gershenson, sobrinha do craque, Lourenço
diz:
"Salomão
e Clara casaram-se em Buenos Aires, mas logo partiram para viver na província argentina
de Entre Ríos. Lá vieram à luz seus três primeiros filhos: Joana, Adolfo e
Bertha. Tempos depois, se transferiram para Pelotas, onde nasceram os outros
cinco: Moisés, Isaac, Milton, Rosa e Ada".
Então,
de acordo com sua sobrinha, “Russo” teria nascido na Argentina, na província de
Entre Ríos, próxima ao Uruguai e ao Rio Grande do Sul. Nesta província, há uma
"Plaza Milman", situada no pequeno município de Ubajay - seria
uma homenagem à família?
As
dúvidas acerca de suas origens acabaram alimentadas pelo próprio atleta, que
recusava-se até mesmo com os filhos a falar muito do seu passado.
Caso
essa realmente seja a versão verdadeira da história, o ex-atacante do
Fluminense é um dos cinco jogadores de toda história nascidos no exterior que
defenderam em algum momento a "Seleção Brasileira".
Além
dele, apenas o britânico Sidney Pullen, o português Casemiro do Amaral e o
italiano Fracisco Police, todos no começo do século passado, além do meia belga
Andreas Pereira, ainda em atividade e hoje no Manchester United, alcançaram
esse feito.
A
história de Adolpho Milman é muito semelhante à do seu oposto perfeito, Aarón
Wergifker, o único brasileiro que jogou pela Argentina. O ex-zagueiro do River
Plate também era de família russa e nasceu no Brasil em uma parada da viagem
dos seus pais rumo ao país vizinho.
"Russo" foi
criado em Pelotas, onde passou a infância e adolescência. Seu pai era dono de
uma pequena fabrica de japonas e casacos, chamada “Londres”. Iniciou sua
carreira juvenil no Esporte Clube Pelotas, tendo participado de jogos do clube
no Campeonato Gaúcho de 1933.
Depois disso “Russo” dedicou praticamente toda sua carreira ao Fluminense. Ele chegou ao clube quando tinha 18 anos, em 1933, e se aposentou 11 anos depois. Com exceção de uma passagem de alguns meses pela França (Cercle Paris), só vestiu a camisa tricolor.
Depois disso “Russo” dedicou praticamente toda sua carreira ao Fluminense. Ele chegou ao clube quando tinha 18 anos, em 1933, e se aposentou 11 anos depois. Com exceção de uma passagem de alguns meses pela França (Cercle Paris), só vestiu a camisa tricolor.
“Russo”
foi um dos grandes artilheiros da história do Fluminense, tendo feito 154 gols
em 249 jogos, entre 1933 e 1944, sendo um dos destaques do famoso "Fla-Flu
da Lagoa", na final do “Campeonato Carioca” de 1941.
Participou
das conquistas dos Campeonatos de 1936, 1937, 1940 e 1941, além do "Torneio
Aberto" de 1935 e do "Torneio Extra" de 1941.
"Russo" estreou pelo Fluminense em 1933, e formou linhas de ataque lendárias, ao lado
de Pedro Amorim, Carreiro, Sobral, Rongo, Romeu Pellicciari, Tim e Hércules.
Sofreu
uma grave contusão em 1938, não tendo disputado nenhuma partida pelo Tricolor
neste ano, tendo ido para Paris, a fim de se recuperar e onde chegou a jogar
por um pequeno clube local, o Cercle Athlétique, retornando para o Fluminense
em 1940, a tempo de se sagrar campeão carioca, e conseguindo recuperar a antiga
forma.
"Russo" é especialmente lembrado por duas atuações espetaculares: em 1941, anotou cinco
gols contra o Bangu; em 1943, fez três contra o Botafogo.
Até
pouco tempo, era o segundo maior artilheiro do Fluminense em Fla-Flus com 13
gols, perdendo neste quesito apenas para Hércules, autor de 15 gols nas décadas
de 30 e 40 do Século XX.
“Russo”
era tido como jogador de rara inteligência, tendo, entre seus fãs, ninguém
menos do que seu companheiro de clube, Tim, que quando se tornou treinador, foi
um dos maiores estrategistas da história do futebol brasileiro, mestre de toda
uma geração de técnicos.
o "Campeonato Carioca" de 1941, fez parte do ataque que fez 106 gols, um feito
jamais igualado neste torneio, tendo como companheiros o argentino Rongo, Romeu
Pellicciari, Tim e Hércules.
Contava
Tim que, no dia do "Clássico Vovô" de 4 de setembro de 1943, no "Estádio de
Laranjeiras", o então técnico do Fluminense, o uruguaio Ondino Viera, no momento
da distribuição de camisas e tarefas aos jogadores, pediu a “Russo” que
marcasse o jogador Santamaría, um argentino que jogava no Botafogo, o que ele
recusou, devolvendo a camisa ao técnico.
Interpelado
por Ondino Viera,”Russo” explicou que sua posição em campo e suas
características não lhe permitiriam executar bem a função, recomendando que o
treinador escalasse Carlos Brant, que era volante e ainda sabia atacar.
Vencido
pelo argumento de ”Russo”, Ondino preferiu deixá-lo entrar em campo e jogar
como acreditava que seria o melhor para ele e para o tricolor. Resultado: o
Fluminense ganhou do Botafogo por 5 X 3 e Russo marcou três gols.
Depois
da aposentadoria, foi técnico do América em 1949, conquistando o "Torneio Início" do "Campeonato Carioca" daquele ano, assim como foi técnico interino do
Fluminense durante o "Torneio Rio-São Paulo" de 1955, com uma derrota para o
Santos no "Estádio da Vila Belmiro" por 2 X 1 e uma vitória no Fla-Flu por 3 X 1.
Amigo
de João Saldanha foi supervisor da "Seleção Brasileira" antes da “Copa do Mundo”
de 1970. Ele morreu em 22 de fevereiro de 1980, aos 65 anos, no Rio de Janeiro,
vítima de um câncer causado pelo hábito de fumar. Em seu obituário no “Jornal
do Brasil”, Sandro Moreyra escreveu que ele era gaúcho, de Pelotas.
Em
1982, dois anos após a morte de “Russo”, a revista “Placar” elegeu uma seleção
histórica do Fluminense, e ele foi um dos onze escolhidos.