No
Brasil, fez sucesso defendendo o Flamengo, do Rio de Janeiro e comandando o Internacional,
de Porto Alegre e Vitória e Bahia, ambos da “BoabTerra”. Também ganhou
notoriedade em sua época de jogador, por dar origem à expressão "Volante”
no futebol brasileiro.
Como
jogava no meio de campo, a expressão "Volante" se tornou popular
definindo a sua posição, e a expressão é utilizada para os jogadores que atuam
na mesma posição até os dias atuais, em todo o Brasil.
Jogou
por diversos clubes da Argentina, Itália e França, mas foi no Flamengo que se
destacou mais, sendo tricampeão carioca.
Chegou
ao rubro-negro após uma curiosa experiência na “Seleção Brasileira” na “Copa do
Mundo FIFA” de 1938: na época, ele jogava na França, que sediava o “Mundial”, e
trabalhou como massagista na delegação do Brasil.
Comandou
diversas equipes brasileiras, entre as quais o Vitória, onde foi bicampeão
baiano e ajudou no fim do jejum de títulos do “rubro-negro” em 1953. No Bahia,
comandou o time no jogo extra da final do “Campeonato Brasileiro” de 1959, onde
consagrou-se campeão.
Até
hoje, “Volante” é o único treinador estrangeiro a ter conquistado o título de
campeão brasileiro, pelo Bahia, em 1959. E ainda treinou o “Rolo Compressor”,
do Internacional. E “fez seu nome”, ou melhor, sobrenome, no Brasil.
Literalmente.
Títulos
como jogador. Livorno (Itália): Campeonato Italiano – Serie B (1932–1933);
Flamengo:
Campeonato Carioca (1939, 1942 e 1943); Torneio Relâmpago: (1943). Como
treinador. Internacional: Campeonato Gaúcho (1947 e 1948). Vitória: Campeonato
Baiano (1953 e 1955). Bahia: Campeonato Brasileiro (1959).
Campanhas
em destaque, como jogador. Rennes (França): Vice-campeão da Copa da França (1934–1935).
Vice-campeão da Copa da França, pelo Olympique Lillois (França), atual Lille (1935–1936).
Era
filho do imigrante italiano e ferreiro ferroviário Giuseppe Volante, que adquiriu
uma das cotas oferecidas pelo proprietário do enorme terreno que deu origem à
cidade de Lanús.
Carlos
foi o quarto de sete filhos de Giuseppe. Veio a se consagrar mais
internacionalmente do que na própria terra natal, onde o Volante mais
notabilizado foi o sétimo filho do italiano: José Pepe Norberto, o primeiro dos
três homens que no profissionalismo argentino foram jogadores, técnicos e
presidentes de um mesmo clube (claro, o Lanús), antecedendo Carlos Babington
(Huracán) e Daniel Passarella (River).
Carlos
Volante, por sua vez, foi apenas jogador e técnico no “Granate” e nas duas
funções não passou de um ano no time. Ainda assim, construiu renome para ter
perfil no livro “97 Íconos de la Historia Granate” (de 2012, quando o clube fez
97 anos), bem como no “ABC Granate” (de 2013).
Carlos
Voolante passou por outros clubes da cidade. Nas categorias de base, começou na
quinta divisão juvenil do “Argentino”, de Lanús. Na idade da quarta divisão
juvenil, passou ao “Lanús Central”, sendo campeão e voltando ao “Argentino”,
onde não teve continuidade.
Em
1923, ingressou nos “Grenás” para, em 1924, já integrar o quadro de aspirantes.
Foi o capitão do elenco vice-campeão nessa categoria e no mesmo ano, estreou no
time adulto. Foi em 19 de outubro, na 24ª rodada do campeonato, no 2-2 com o “Tigre”.
Volante
jogou até 1926 no clube, quando foi 6º colocado entre 26 equipes, até então a
melhor campanha do time. Mas não passou de 11 jogos, sem gols, sem maiores
registros fotográficos.
Em
1927, passou ao “Adrogué”, que pouco depois foi afastado da Liga. O jogador foi
cumprir serviço militar, onde foi buscado pelos dirigentes do “San Martín”.
Em
1928, ele ingressou no “Platense”, onde obteve uma sequência maior. Na mesma
época, o irmão José Volante, da mesma posição de centromédio, começava no time
adulto do “Lanús”, que viria a enfrentar o “Platense” em 24 de março.
Os
irmãos teriam combinado que Carlos não jogaria. A mãe Luísa interferiu e
ordenou que o mais velho também jogasse e que ambos lutassem pela vitória. E
José foi uma das figuras da vitória lanusense por 5 X 2.
Já
Carlos foi punido pela diretoria do “Platense”, que acreditou que ele não havia
dado tudo de si. O jogador passou pela insólita situação de ouvir as duas
torcidas o chamando de traidor
Ele
se defendeu dizendo que um pontapé sofrido aos 10 minutos afetou suas condições
físicas. A resposta ao novo clube logo seria dada: o “Platense” não passou de
um 25º lugar de 36 times em 1928, mas Volante estreou em novembro pela “Seleção”,
em amistoso não-oficial com o Boca (1 X 1).
Em
fevereiro (6 X 1) e março (2 X 0), mais dois jogos não-oficiais, ambos contra o
América, do Rio de Janeiro. Em 16 de junho, a estreia oficial, no 1 X 1 com o
Uruguai no “Gran Parque Central”, de Montevidéu.
Volante
jogou novo amistoso não-oficial em agosto de 1929, contra o Ferencváros húngaro
(2 X 0). Ausente das convocações à C”opa América” daquele ano (realizada em
novembro) e da “Copa do Mundo” de 1930, voltou a ser chamado em agosto de 1930,
na primeira partida da seleção após a “Copa”.
Três
dias depois da final, jogadores não-convocados foram reunidos para amistoso
contra a Iugoslávia, a semifinalista que ainda estava de passagem pelo Rio da
Prata. E que foi derrotada por 3 X 1 por aquele virtual time B.
Foi
o último jogo de Volante pela Argentina. Ele também não durou muito no “Platense”;
no fim de 1930, integrou uma celebrada excursão do “Vélez” pelas Américas, onde
um elenco tido pela crítica como capaz de envergonhar o país perdeu só uma
partida no exterior até meados de 1931.
Quando
estava na etapa chilena da viagem, Volante recebeu telegrama de José avisando-o
do interesse do futebol italiano.
Se
armou uma grande discussão na sua casa. Volante tinha a esperança de levar
algum dia seu pai para ver a Itália de que sentia falta fazia muitos anos.
Sua
mãe não queria deixar Carlos ir. Então lhe propôs: “veja, mamãe: vou pedir um
disparate para que não me contratem. Se me derem 150 mil liras por dois anos e
4 mil por mês, você me deixa ir?’.
Aceitou
e ele fez a proposta, que foi aceita. Lhe deram tudo mais duas passagens, uma
para seu pai e outra para ele. O grande sonho se cumpriu e durante nove anos
esteve na Itália e na França.
Viu
grandes equipes como a Juventus, a Internazionale, a Roma, o Torino. E viu
jogar os ingleses dentro e fora de sua casa.
Na
Itália, jogou por Napoli, Livorno (onde venceu a Serie B de 1933) e Torino. E
conheceu e casou-se com uma certa Maria Luisa, da elite da sociedade de Turim.
Mas
assustou-se com a determinação de Mussolini em obrigar ítalo-estrangeiros que
estivessem no país a defender o exército. Em 1935, quando os fascistas
invadiram a Abissínia (atual Etiópia), Volante e esposa escaparam pela Suíça
rumo à França, onde ele defendeu o Rennes (foi finalista da Copa da França),
Lille e o C.A. Paris.
Hoje
sumida, essa equipe ainda existe e era onde jogava Lucien Laurent, autor do
primeiro gol das “Copas do Mundo”. Segundo se sabe, Volante veio a se assustar
na França com o mesmo clima bélico que sentira na Itália.
O
jogador aproximou-se da “Seleção Brasileira” na “Copa de 1938”, onde
improvisou-se como massagista, para rumar infiltrado de volta à América.
Ele
assim se tornou até hoje o único argentino a compor uma delegação brasileira em
“Copas do Mundo” Voltou junto com os tupiniquins e conseguiu no Rio de Janeiro
se alojar no Flamengo, onde brilhou.
Em
1939, o rubro-negro encerrou seu maior jejum estadual (12 anos) em uma equipe
repleta de argentinos: ele, Agustín Valido, Alfredo González, Raimundo Orsi
(outro que fugia da Itália, pelo qual marcou o gol do título da Copa de 1934) e
Arturo Naón.
Volante
chegou a ser até os anos 50 o estrangeiro que mais vezes defendeu o Flamengo,
onde foi campeão também em 1942 e 1943, pendurando as chuteiras e voltando à
Argentina.
Seu
estilo ímpar como centromédio fez com que o sobrenome viesse a nomear o próprio
posto, com diferentes técnicos solicitando aos colegas de posição “que joguem
como Volante”, um meia recuado que se movia e criava jogo ao invés de alguém de
postura rígida e fixa, como era comum.
A
frase foi virando “que joguem de volante” e seu significado se espalhou pela
América, inclusive na Argentina, para onde o jogador, uma vez aposentado,
voltou.
Em
1945, virou técnico do Lanús, clube em que iniciou no esporte que lhe deu tanto
e ao qual devia as maiores e mais inesquecíveis emoções experimentadas na vida.
O
desempenho em 1946, quando ficou por mais tempo, foi de um mero 12º lugar.
Curiosamente, em janeiro daquele ano ele voltou a compor a delegação
brasileira, participando como “sparing” convidado no time de reservas nos
rachões internos em meio à “Copa América”.
Como
técnico “Granate”, foram ao todo 30 jogos, com 8 vitórias, 7 empates e 15
derrotas. Números nada auspiciosos. Mas o que fez ele deixar o clube foi uma
proposta do Internacional e a não-adaptação da esposa na Argentina.
O
Internacional vinha atravessando uma década vitoriosa, com seis títulos
estaduais seguidos, mas a série se interrompeu exatamente em 1946, ano de
título gremista.
O
“Rolo Compressor” voltou, com a imprensa também o rotulando continuamente como
“os pupilos de Volante”. O time ganhou os títulos de 1947 e 1948, tendo mais
três argentinos: José Villalba, o segundo maior artilheiro dos “Grenais”,
Francisco Fandiño e Moisés Beresi, ex-gremista campeão em 1946.
Na
campanha de 1947, ano em que Volante foi campeão também como técnico do time de
aspirantes, o “Jornal do Dia” até ventilou que o treinador também poderia
entrar em campo no primeiro “Grenal” do campeonato municipal (então
classificatório ao Estadual), se escalando como elemento surpresa.
O
futebol do Inter foi descrito como “de ação harmoniosa”, “convincente”,
“aplastante” e “eficientíssima”, após um 6 X 0 no Cruzeiro (RS) naquela
campanha.
“Vistoso,
bem coordenado, que serviu para demonstrar o esplêndido estado de treinamento
em que se encontrava a equipe”, após um 3 X no Grêmio em 1948 – ano em que, contra um time
de reservas, o Inter também conseguiu sua maior goleada nos “Grenais”, um 7 X 0
com quatro gols do argentino Villalba.
O
mais surpreendente em leituras da época é notar homenagens gremistas ao rival
antes da partida, incluindo flores e um cartão de prata.
O
argentino jamais foi derrotado nos 12 clássicos que disputou. E sete gols foram
até dados como rotineiros: “o Internacional, ainda domingo, deu mostra de seu
poderio, abatendo de maneira espetacular e convincente o onze do Rio-Grandense,
um dos mais categorizados esquadrões de quantos concorreram ou estão
concorrendo ao Campeonato Estadual de 1948”.
O
escore que então construiu: 7 X 2, chegou a não constituir novidade para os
torcedores do ‘Rolo Compressor’, já que fazer sete tentos em seus adversários,
qualquer que seja sua categoria, se tornou ‘tabela’ no onze preparado por
Volante”. Foram as palavras do “Jornal do Dia” antes da semifinal com o Floriano.
Na final, 5 X no Grêmio Santanense.
Volante,
figura que “que desfrutou de largo prestígio e de grande simpatia no seio da
grande família colorada, em face de suas excepcionais qualidades de caráter
(palavras de “Jornal do Dia”, de 13 de novembro de 1947)”, rescindiu sem
conflitos o seu contrato em 1948, pouco após o bicampeonato, para voltar ao Rio
de Janeiro.
Fez
talvez ainda mais história na Bahia: assumiu o Vitória em 1953, quando o “Leão”
enfim profissionalizou o seu futebol, sendo imediatamente campeão baiano após
44 anos, iniciando assim a rivalidade com o Bahia.
Campeão
com os “rubro-negros” também em 1955, Volante foi ainda mais longe no rival,
treinando-o na finalíssima da vitoriosa “Taça Brasil” de 1959 sobre o Santos.
Primeiro técnico campeão nacional no Brasil, Volante também foi o primeiro
técnico de um time brasileiro na “Libertadores”, na edição de 1960.
Seu
sobrinho-neto Calvente contou que só o viu uma vez, na Argentina, nos anos 70,
pois Volante decidiu naquela década voltar com a esposa à Itália, falecendo e
sendo enterrado em Milão em 9 outubro de 1987. (Pesquisa: Nilo Dias)
Volante, no seu tempo de Lanús.