segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A morte de Ibsen Pinheiro

No jogo de ontem (26) entre Internacional e Pelotas, pelo Campeonato Gaúcho, foi feito um minuto de silêncio em homenagem a Ibsen Pinheiro, ex-dirigente colorado e ex-deputado federal, falecido na noite desta sexta-feira (24), aos 84 anos de idade.

Ele estava no hospital Dom Vicente Scherer, na Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, fazendo quimioterapia, quando teve uma parada cardiorrespiratória, morrendo por volta das 21h.

Segundo o filho, Marcio Pinheiro, foi descoberto há pouco tempo um mieloma múltiplo, um tipo de câncer na medula. Mas, ainda assim,  estava com uma saúde boa para um homem de 84 anos, com cuidados diários.

Márcio contou que na quinta-feira, Ibsen estava animado porque se sentia melhor. “A sensação que fica é de que parecia que ele estava se despedindo da gente”, disse a filha Cassia, salientando que “não era algo que a gente esperava, porque, apesar da idade, a cabeça dele estava como todos sempre conhecemos, lúcida, bem-humorada”.

O velório do ex-deputado ocorreu das 9h às 16h de sábado (25) na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre. Amigos, políticos, familiares e dirigentes do Internacional promoveram homenagens e compartilharam lembranças.

O corpo de Ibsen Pinheiro foi cremado no final da tarde de sábado no crematório Angelus, em Porto Alegre. 

O velório do político, que morreu na noite de sexta-feira, ocorreu no salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa e encerrou por volta de 16h. 

Pelas redes sociais, o Colorado lamentou a partida de Ibsen. “A paixão e o trabalho de Ibsen Pinheiro levaram o Clube do Povo ao topo do Brasil. Um dirigente histórico e um grande homem público”.

"Nossos caminhos estarão ligados para sempre. A paixão e o trabalho de Ibsen Pinheiro levaram o Clube do Povo ao topo do Brasil. Um dirigente histórico e um grande homem público que nos deixou hoje, aos 84 anos. Sentiremos a sua falta!"

Ele foi um dos principais nomes do MDB no Rio Grande do Sul, tendo presidido a Câmara dos Deputados entre 1991 e 1993. O partido, no Rio Grande do Sul emitiu uma nota de falecimento no final da noite de sexta-feira:

"A perda desse grande companheiro – uma das mentes mais brilhantes da política brasileira – deixa um vazio no coração do MDB de todo o Rio Grande do Sul e do Brasil", afirmou o partido.

Nascido em São Borja em 5 de julho de 1935, Ibsen foi presidente da Câmara dos Deputados entre 1991 e 1993. Em 1992, comandou a sessão que levou ao impeachment de Fernando Collor. Foi também presidente do PMDB do Estado, deputado estadual e vereador.

Era conhecido ainda pela sua atuação como jornalista, procurador de justiça, promotor, advogado e ex-dirigente do Sport Club Internacional.

Ibsen começou a sua carreira como jornalista, trabalhando na prefeitura de Porto Alegre entre os anos de 1959 e 1960. Durante a década de 1960, 
trabalhou na Rádio Gaúcha e no jornal Zero Hora, escrevendo principalmente artigos sobre esporte.

Em 1969, chegou pela primeira vez à vice-presidência do Internacional, em um grupo chamado "Os Mandarins", que ficou na história do clube por liderar uma era de conquistas que culminou com os títulos do Campeonato Brasileiro em 1975, 1976 e 1979.

Ibsen retornou aos microfones da Rádio Gaúcha em 1971. Na década de 1970, foi membro também do programa Sala de Redação, então apresentado por Cândido Norberto.

Ibsen foi eleito pela primeira vez em 1976, assumindo o cargo de vereador de Porto Alegre pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Conhecido por sua verve e sua qualidade no discurso, ele logo começou a despontar, elegendo-se deputado estadual em 1978 e deputado federal em 1983. Reelegeu-se em 1986, participando da construção da Constituição de 1988.

No início da década de 1990, Ibsen Pinheiro foi um dos nomes mais importantes da política nacional. Presidiu a Câmara dos Deputados entre 1991 e 1993, liderando a casa legislativa durante o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992.

Em maio de 1994, diante do escândalo dos anões do Orçamento, Ibsen teve o seu mandato cassado por 296 votos favoráveis, 139 contra e 24 abstenções, em um processo controverso. A ação criminal, entretanto, foi arquivada por falta de provas em 1995.

Ibsen se elegeu deputado federal em 2006. No ano de 2009, foi relator do texto que previa uma reforma política. O texto, entretanto, não foi adiante. Em 2010, relatou o projeto que previu a redistribuição dos royalties do pré-sal.

Ele também assumiu como deputado estadual em 2014, cumprindo seu mandato na Assembleia Legislativa até 2018. No ano de 2016, voltou ao Internacional como vice-presidente de futebol.

O atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, lamentou a morte e disse estar muito emocionado.

“Ibsen estará sempre guardado no meu coração. Um exemplo pra mim. Tive a oportunidade de conviver e aprender muito com ele. Perdemos um homem público diferente”, afirmou, em entrevista à colunista Kelly Matos.

O governador Eduardo Leite lamentou a morte pelo Twitter. “Recebi com tristeza a notícia do falecimento do deputado Ibsen Pinheiro. Ibsen foi homem público incansável na luta por um país melhor. Sua trajetória política, marcada pelo diálogo e pelo respeito, deixa grande legado ao Brasil. Informo que decretarei luto oficial por três dias no RS”.

“Foi absolutamente fundamental e decisivo, colocou sua inteligência e articulação a favor da construção da democracia no país”, afirmou o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça em entrevista à Rádio Gaúcha. 

“Ele instituiu os caminhos para hoje termos uma democracia que funciona, que resiste, isso é graças a um modelo institucional do qual Ibsen foi um dos operários. É um patrono de nossa história, do nosso passado político”, complementou.

“O trabalho que ele realizou sempre foi respeitado, tanto na política como no esporte, inclusive por aqueles que não são torcedores do Internacional. A gente tem que saber que o Ibsen vai, mas deixa história de trabalho, dignidade, de um homem que semeou coisas boas”, disse o ex-governador do RS, Germano Rigotto.

Ex-governador do Rio Grande do Sul e companheiro de Ibsen no PMDB, José Ivo Sartori elogiou a intelectualidade do colega e confessou que sempre o consultava antes de tomar decisões importantes. No Twitter, Sartori chamou Ibsen de "grande amigo" e "referência política".

O ex-presidente do Internacional, Fernando Carvalho, também lamentou a perda. “Um pensador colorado, com ideias claras, com ideias definidas, com uma ideia de futebol. Durante muito tempo, na década de 70, essas ideias prevaleceram no nosso clube, foi uma época vitoriosa. (...)

Depois tivemos uma grande convivência no clube, sempre companheiro, sempre solidário, sempre aparecendo para ajudar em momentos difíceis durante a minha gestão, que foi de 2002 a 2006, ele esteve sempre ao lado e, em momentos decisivos, foi uma palavra que muitas vezes conduziu as minhas atitudes — disse Carvalho.

O ex-presidente do Grêmio Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, afirmou que aprendeu muito com Ibsen: “Te confesso que fiquei muito triste. Tinha uma convivência excelente, extraordinária. Faz 10 dias, 15, que eu, o Ibsen e o Márcio, filho dele, estivemos num restaurante. Ele parecia muito frágil fisicamente. Sempre respeitei muito o Ibsen. Pela sua experiência, sabedoria.

Ele sabia ensinar muito quem era um pouco mais moço do que ele. Ele me ensinou muitas coisas sobre o debate. Uma vez ele me disse "O debate faz parte da nossa atividade. Tem momentos que tu vai ganhar e outros que tu vai perder. Temos que ter consciência que se hoje tu vai ganhar, amanhã tu vai perder".

Pelo Twitter, o ministro-chefe da Casa Civil, o gaúcho Onyx Lorenzoni, lamentou a morte de Ibsen. Ele definiu o político como “importante na história do Brasil, de muita coragem pessoal, com grande capacidade de compreensão e análise do cenário político brasileiro”.

O ministro da Cidadania, Osmar Terra – também gaúcho – postou na rede social que Pinheiro foi um dos “mais brilhantes políticos brasileiros”. “Com uma enorme capacidade de formulação e de compreensão da política”.


domingo, 26 de janeiro de 2020

A imprensa esportiva brasileira está de luto

Morreu na última sexta-feira (24) , no Hospital Rio Laranjeiras, o jornalista e comentarista esportivo Sérgio Noronha, de 87 anos, vítima de uma parada cardíaca, após contrair uma pneumonia há 10 dias.

Ele foi um dos mais populares cronistas esportivos do país. Trabalhou na “Rede Globo” de 1975 até 2009. Um comentarista que os torcedores brasileiros aprenderam a respeitar nos jornais, no rádio e na televisão.

Noronha sofria do “Mal de Alzheimer” e morava no “Retiro dos Artistas”, em Jacarepaguá, desde novembro de 2018, levado pelo amigo e árbitro de futebol Arnaldo Cezar Coelho.  Ao chegar no “Retiro”, Noronha já apresentava sinais de um câncer de mama, que depois evoluiu para o cérebro, com metástase.

Arnaldo Cezar Coelho, companheiro de trabalho de longa data do comentarista e que o ajudava a se manter na instituição que abriga artistas idosos em dificuldade financeira. Ele não tinha parentes próximos no Rio.

Durante todo o período em que Noronha esteve no “Retiro dos Artistas”, Arnaldo custeou o tratamento do amigo e colocou enfermeiros revezando-se na assistência ao jornalista. O velório acontece neste domingo,  a partir das 9 horas, na “Capela 3” da “Real Grandeza” e o sepultamento está marcado para às 14 horas.

De acordo com a administradora do “Retiro dois Artistas”, Cida Cabral, no período em que permaneceu no local, Noronha foi muito feliz e adorava o convívio com os outros moradores.

Ao gravar um vídeo sobre o amigo, Arnaldo Cezar Coelho disse que Noronha foi um jornalista esportivo eficiente, honesto e exemplar. “O jornalismo esportivo perdeu um excelente profissional e eu perdi um grande amigo.”

Em sua página nas redes sociais, o presidente do “Retiro dos Artistas”, Stepan Nercessian, escreveu: “Grande jornalista brasileiro se despediu hoje. Que Deus o receba em sua casa. Sérgio estava morando conosco no Retiro dos Artistas.”

A trajetória de Sérgio Noronha na imprensa esportiva brasileira começou nos anos 50. Ele era um curioso e interessado office boy da revista “O Cruzeiro” até o dia em que ganhou uma chance como redator, transformando-se em um dos mais populares cronistas esportivos do país.

O carioca Sérgio Noronha, que torcia para o Vasco da Gama, escreveu em vários diários até ganhar as páginas do “Jornal do Brasil” e se tornar referência no texto esportivo. No rádio e na televisão, demonstrou o mesmo talento.

Um dos grandes jornalistas da sua geração, Sérgio Noronha nasceu no dia 28 de dezembro de 1932, no Rio de Janeiro. Estudou Letras na “Faculdade Lafayete” quando, aos 22 anos, começou a trabalhar na revista “O Cruzeiro”. Em 1959, virou repórter do “Jornal do Brasil” e passou ainda pelos jornais “Diário Carioca”, “Correio da Manhã” e “Última Hora”, além das revistas “Senhor” e “TV Guia”.

Chegou em 1975 à “TV Globo”, onde comentou as “Copas do Mundo” de 1978, 1982, 2002 e 2006. Passou também pela “TV Educativa”, “Rádio Globo”, “Rádio Tupi“ e “SporTV”. Voltou à “TV Globo” em 1999 e ficou por mais 10 anos.

Seus últimos trabalhos foram na “TV Bandeirantes” em 2009 e “Canal Premiere” em 2011. Além de repórter e comentarista, foi ainda redator, secretário de redação, editor de esportes e colunista.

A relação de Sérgio Noronha com a televisão foi longa, mais de 40 anos. Na Globo, começou em 1975, trabalhando até 2009. “Tem que ter uma medida da sua crítica, da sua transmissão, da sua narração muito boa. Não diga nada se não tiver certeza”, declarou Noronha ao projeto “Memória Globo”.

Clubes e antigos companheiros de imprensa lamentaram falecimento e prestaram homenagens: “A diferença dele é que soube passar de uma boa linguagem escrita para uma boa linguagem falada”, disse o repórter Marcos Uchôa.

O narrador de futebol da “Rede Globo”, Galvão Bueno, disse que faz sempre questão de frisar a parceria que fez com Sérgio Noronha na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Garante que ali aprendeu muito. 

“Noronha me ensinou a ser um profissional mais completo e uma pessoa humana muito melhor. Que Deus o receba com muito amor e muito carinho, “Seu Nonô”, completou.

Ex-comentarista de arbitragem da “TV Globo”, Arnaldo Cezar Coelho se emocionou ao lembrar do amigo: “Perdi um amigo. Conheci “Seu Nonô” quando ele jogava futebol na Urca na década de 60.

Ele era o cara que sentava no paredão e ficava me pressionando quando era juiz. Ali conheci ele. Depois ele foi para o “Jornal do Brasil”, “Rádio Globo”... A vida toda foi meu companheiro, um parceiro de vida toda de frequentar a minha casa”.

Ex-jogador e hoje comentarista, Júnior também prestou sua homenagem ao amigo de coberturas: “O Sérgio Noronha foi um ícone do jornalismo esportivo brasileiro. Primeiro no jornal, depois na rádio, e posteriormente na televisão.

Tive um prazer muito grande de trabalhar com o Sérgio e aprendi muito com ele. Ainda mais que entrei no seu lugar quando ele saiu da “TV Globo”, e eu comecei a comentar.  Agradecimento é muito grande a tudo aquilo que ele fez, não só pelo jornalismo, mas por mim também”.

Também o ex-jogador e atual comentarista, Walter Casagrande foi mais um que se comoveu com a notícia e fez questão de gravar uma homenagem: “Quando cheguei em 97 à “TV Globo”, o Sérgio Noronha já estava lá.

Foi um orgulho trabalhar com ele, fizemos várias transmissões juntos, porque era um jornalista muito conceituado naquela época, de “Copa do Mundo”, colunas em jornais... Eu aprendi muito com o Sérgio Noronha porque no início, quando cheguei à “TV Globo”, não tinha muita experiência como comentarista.

Trabalhando juntos, saindo depois de partidas para jantar e conversar, e ouvir histórias, eu evoluí muito na convivência com ele. Era um jornalista muito conceituado, viu muita coisa, sabia muita coisa, participou de diversas coisas importantes no futebol.

É uma perda que não dá para reparar. É uma pena receber essa notícia, que entristece um pouco o meu dia. Era uma pessoa que eu gostava muito e vai deixar muita saudade”.

José Carlos Araújo, que também trabalhou com Noronha, lamentou o falecimento e elogiou o amigo: “Um do maiores talentos que conheci no jornalismo esportivo. O melhor texto que já vi. Um profissional completo. Era um homem multimídia numa época que era difícil ser.

O último emprego dele fui eu que consegui, na “TV Bandeirantes”. Era aparentemente mal-humorado, mas uma pessoa da melhor qualidade. Baita de um talento. Sinto bastante a falta dele. Queria muito enaltecer a atitude do Arnaldo Cezar Coelho, que o ajudou muito nesses últimos anos”.

Nas redes sociais, alguns clubes também se manifestaram sobre a morte de Sérgio Noronha. O Club de Regatas Vasco da Gama lamentou o falecimento do jornalista Sérgio Noronha, ocorrido nesta sexta-feira (24).  “Desejamos muita força aos amigos e familiares”.

O Clube de Regatas do Flamengo lamentou profundamente o falecimento do jornalista Sérgio Noronha. “Aos familiares e amigos, nossos sentimentos. Descanse em paz, Seu Nonô”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Sérgio Noronha, em foto recente, no "Retiro dos Artistas", onde morava.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O time amador que não quis Garrincha

O fim da carreira de “Garrincha” foi melancólico. Tratava-se da caricatura de quem um dia conheceu a glória vestindo as camisas do Botafogo e da Seleção Brasileira, ajudando a conquistar um bicampeonato, em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile,

 Era o ano de 1973, quando “Garrincha” desembarcou no Vale do São Francisco, para mais uma exibição em troca de dinheiro para garantir o seu sustento. Naqueles tempos, jogador de futebol não ganhava as fortunas pagas hoje em dia.

Que Garrincha vestia a camisa de qualquer time de futebol, Brasil afora, para ganhar alguns trocados, todo o mundo sabe. Mas que um time amador o rejeitou, pelo menos para mim, é novidade.

O fato ocorreu há 47 anos atrás em Juazeiro, na Bahia, num jogo amistoso entre o time local do Veneza, contra o América, de Petrolina (PE), em que o “anjo das pernas tortas” jogaria um tempo em cada equipe.

O jogo serviu para unir as duas cidades do Vale do São Francisco. A imprensa das duas cidades fez ampla cobertura do evento, conclamando os torcedores a irem até o “Estádio Adauto Moraes”, em Juazeiro para ver em ação um dos melhores jogadores de futebol de todo o mundo.

Até aí, tudo bem. Mas o que ninguém esperava, aconteceu, o presidente do  Veneza não quis “Garrincha” no seu tine, sob a alegação de que iria prejudicar o entrosamento entre seus jogadores.

Foi feito um sorteio para ver em qual dos time ele jogaria primeiro, e deu Veneza. Demorou para o jogo ter início. Foi quando chegou a notícia de que o presidente do Veneza não queria “Garrincha” no seu time. “O Veneza é muito bom, não tem vaga nem para Garrincha”, disse Lulu (Aloísio) Viana , presidente do clube baiano, concluindo que para ganhar do América não precisava do craque.

“Garrincha” não se abalou e disse  que não tinha problema e que jogaria os dois tempos no clube pernambucano.

Pilar, ex-volante do América, guarda com carinho em uma das paredes de sua peixaria, uma fotografia do dia em que jogou ao lado de “Garrincha”. Ele conta que a rivalidade entre os times das duas cidades foi fundamental para a recusa da equipe juazeirense.

A intenção do presidente do Veneza era não mexer na estrutura do time, que na época era considerado um dos principais do futebol amador da região.

A profecia do presidente do Veneza, de que seu time ganharia fácil o jogo, não se confirmou. O América venceu por 3 X 1, com o “Alegria do Povo” jogando 45 minutos e não marcando nenhum gol. No segundo
tempo foi substituído pelo garoto Marco Polo.

Marco Polo, que jogava no América, lembra bem daquele dia.  Conta que teve de ceder a camisa 7 para ele. Mas garante que valeu e pena, pois recebeu várias orientações do experiente jogador. Uma delas era para que não fosse para área durante as cobranças de falta, já que os zagueiros do Veneza eram fortes e não dariam chances de finalizações. E as dicas do Mané foram certeiras.

Teve um momento que que “Garrincha” o chamou e disse: “Você é novo, vai jogar do meu lado”. Marco Polo garante que  deu certo. Lembra que ele dava dribles, cobrava falta. Uma ele cobrou pela direita, o zagueiro defendeu, e Marco Polo dominou a bola, chutou e fez o gol.

Outra ele cobrou, bateu no goleiro, na trave, e Marco fez mais um. A idade dele para jogar no amador ainda dava. Ele não jogava como antes, mas ainda era muito bom, afirmou Marco Polo.

Marco Polo sabe que uma oportunidade daquelas não acontece todo dia e lamentou o fim melancólico do craque, que sofreu com a bebida no fim da vida e morreu aos 49 anos, vítima de uma cirrose hepática. E salientou que “o cara jogar com um homem daquele não é todo mundo não. Uma pena que morreu de uma maneira que… Eu sinto muita “, completou.

No dia seguinte ao jogo, a passagem do “Mané” pela região foi o assunto mais comentado nas rádios das duas cidades. “Foi a realização de um sonho", disse o radialista “Sivuca”, que entrevistou “Garrincha” durante sua passagem no “Vale do São Francisco”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Garrincha com a camisa do América, de Petrolina (PE).

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O time dos encarcerados

O Club Atletico General Lamadrid é uma pequena agremiação esportiva da periferia de Buenos Aires. Conhecido também como Lamadrid, em seus 70 anos de existência nunca conseguir ir além da 3ª Divisão do Campeonato Argentino.

O diferencial do Lamadrid para qualquer outro clube, é que o seu estádio divide muro com um presídio, o que proporcionou uma relação curiosa com os presos, que através das janelas têm com o futebol seu único contato com o mundo exterior.

Por essa razão o time é conhecido por “Carceleros” (“carcereiros”, em português).  O presídio já existia quando o Lamadrid foi fundado em 11 de maio de 1950, 27 anos depois. 

Em dias de jogos, as bandeiras azuis, cor do clube,  são estendidas não só nas arquibancadas modestas do “Estádio Enrique Sexta”, de 3.500 lugares, inaugurado em 1950,  mas também nas janelas das celas.

O clube de Vila Devoto, bairro humilde de Buenos Aires, tem uma história que nenhum outro clube do mundo tem. E que até virou tema de um livro do jornalista Marcelo Izquierdo,   “Carceleros – Lamadrid, el club y la prisión”, ainda sem título em português. O livro é vendido por 378 pesos (cerca de R$ 150) no Mercado Livre.

O prédio da prisão se localiza a cerca de 50 metros do campo, próximo o suficiente para uma visão privilegiada. Por ano, cerca de 60 bolas são perdidas ao cair além do muro. “Quando vai uma nova, às vezes volta uma velha”, ironiza o jornalista, em entrevista ao jornal Mundo Deportivo, da Espanha.

O autor é natural do bairro onde fãs e presos se unem numa mesma torcida. “Este livro é uma homenagem aos clubes de bairro da Argentina, simbolizados pelo Lamadrid”, disse Marcelo Izquierdo.

As conquistas do clube são poucas: o título da “Primera D”, de 1971, os acessos à “Primera C”, em 1983 e 1995, um acesso à “Primera B”, em 1998 e o título da “Primera División C”, na temporada 2010-2011. A maior goleada aplicada foi um 9 X 1 sobre o Defensores, de Cambaceres, em 1998

Como é comum na Argentina, onde a cultura do futebol de bairro é valorizada, o Lamadrid se tornou motivo de orgulho não só para os moradores vizinhos do estádio, mas também para os presos. Algumas das histórias resgatadas pelo livro são maravilhosas. Como a de “Mário Oriente”.

Torcedor do Boca Juniors, “El Loco Mario” foi preso e encaminhado a Villa Devoto. Com o tempo, apaixonou-se pelo Lamadrid. Ao ser solto, ele se mudou para o bairro, virou diretor do clube e criou o hino oficial dos “Carceleros”. Num modo peculiar, o futebol ajudou em sua ressocialização. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

A morte de uma lenda do futebol

Faleceu em Porto Alegre no último sábado (11), aos 88 anos de idade, o ex-goleiro Valdir Joaquim de Moraes. Ele estava internado na emergência do Hospital Moinhos de Vento desde a madrugada da última terça-feira, após passar mal, e teve falência múltipla dos órgãos.

Valdir Joaquim de Morais estava com a saúde debilitada desde 2016, após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 2017, ele fraturou o fêmur e passou a ficar de cama. Seu quadro de saúde piorou nos últimos meses e passou a ser crítico nas semanas finais de vida.

Ele nasceu em Porto Alegre no dia 23 de novembro de 1931. Em sua carreira só defendeu três clubes: Renner, onde tudo começou, de 1954 a 1957. Palmeiras, de 1958 a 1968 e Cruzeiro, de Porto Alegre, onde encerrou a carreira de jogador, em 1969.

Vestiu a camisa do Verdão entre 1958 e 1968 em 482 jogos, segundo o “Almanaque do Palmeiras”, com 290 vitórias, 97 empates e 95 derrotas.

Ainda no Palmeiras, Valdir foi treinador interino por algumas vezes entre 1973 e 1980, consultor-técnico (à convite de Vanderlei Luxemburgo, atual treinador) de 1993 a 1997, período no qual enfileirou títulos.

Depois de se aposentar, Valdir Joaquim de Morais criou a profissão de preparador de goleiros em 1969, à época inexistente no Brasil. Nessa função, se tornou um dos melhores do mundo, com participação na comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa de 1982, comandada por Telê Santana.

No São Paulo, acompanhou o “Mestre Telê” na conquista do bicampeonato da Libertadores e do Mundial. Foi o responsável pela recuperação do goleiro Zetti, tetracampeão com a “Seleção Brasileira”, e preparou Rogério Ceni no início da carreira.

Em 2007, esteve no São Bento, de Sorocaba ao lado de Rincón, mas não conseguiu evitar a queda da equipe para a “Segunda Divisão”. Em 2008, retornou ao Palmeiras na função de coordenador-técnico do time profissional, comandado por Vanderlei Luxemburgo.

No dia 13 de agosto de 2008, Valdir comemorou 50 anos de sua chegada ao Palmeiras. Disse o gaúcho sobre este momento especial. "Eu havia atuado por mais de 10 anos no Renner e recebi a visita do Osvaldo Brandão [ex-treinador do Palmeiras] no início de agosto de 1958.

Ele foi até lá para buscar eu e o Chinesinho, atacante, cuja indicação havia sido feita pelo Ênio Andrade. Lembro que, quando cheguei em São Paulo, demorei alguns dias para acertar. Foi uma novela. Mas felizmente deu tudo certo e em 13 de agosto de 1958 assinei meu contrato com o Palmeiras".

A Sociedade Esportiva Palmeiras divulgou nota oficial: “É com muito pesar que a Sociedade Esportiva Palmeiras informa o falecimento de Valdir Joaquim de Morais e manifesta condolências aos amigos e familiares do eterno goleiro do Verdão . Obrigado por tudo, ídolo!”.

A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) também se manifestou sobre a morte de Valdir. “O futebol está em luto com a morte de Valdir Joaquim de Moraes, aos 88 anos. Lenda do Palmeiras, ele foi o primeiro goleiro brasileiro a disputar uma final de Libertadores, em 1961”.

Outras manifestações. Paraná Clube: “Lamentamos a morte de Valdir Joaquim de Morais. Ele integrou a primeira comissão técnica do nosso “Tricolor da Vila”, liderada por Rubens Minelli. Aos familiares e amigos, fica aqui nossos sentimentos”.

S.C. Corinthians Paulista: “Uma pausa na Copinha para uma notícia triste. O clube informa com pesar o falecimento de Valdir Joaquim Moraes, bicampeão brasileiro (98/99) e campeão mundial (2000) como supervisor técnico do Timão. O Corinthians se solidariza aos familiares e amigos”.

Seu verdadeiro nome é Valdir Joaquim de Morais, com "i" (é assim que ele assina), mas ficou conhecido como "Moraes" por engano. Foi um dos melhores goleiros de sua época, apesar da baixa estatura, 1m70.

Um dos maiores ídolos do time que se imortalizou naquela equipe conhecida como a “Primeira Academia de Futebol do Palmeiras”, a segunda seria a dos anos 1970. Valdir apesar de ser baixo para a sua posição compensava com impulsão, presença, coragem, boa saída de gol, reflexo apurado e bom posicionamento, o que o tornou um dos mais completos camisas 1 da história do futebol brasileiro.

Foi importante em diversas conquistas pelo clube. Foi um dos grandes destaques da “Seleção Brasileira” diante da “Seleção Uruguaia” na disputa da “Taça Independência”, em 1965, na inauguração do “Estádio do Mineirão” em Belo Horizonte. O  time completo do Palmeiras representou a “Seleção Brasileira” e venceu a celeste olímpica por 3 X 0.

Títulos conquistados. Renner: Campeonato Gaúcho (1954); Palmeiras: Campeonato Brasileiro (1960, 1967, Robertão e 1967, Taça Brasil); Torneio Rio-São Paulo (1965); Campeonato Paulista (1959, 1963 e 1966) e Seleção Brasileira: Campeonato Pan-Americano  (1956). 

Vale a pena reproduzir aqui, um artigo de José Trajano, publicado em seu blog (http://www.ultrajano.com.br), uma bela homenagem ao grande goleiro que nos deixou.


“Seu Valdir não entendia que ele fez parte da infância de muitos de nós, que queríamos ser goleiros como ele. Ele que enfrentava Pelé, de quem foi a maior vítima (foi o goleiro que mais sofreu gols do Rei, porque também deve ter sido o que mais o enfrentou)”

Todo mundo queria ser Valdir Joaquim de Moraes.

“Ele tem colocação”, sentenciava meu pai, o velho Jamil, amante de futebol e observador dos segredos dos goleiros. “O Valdir está sempre atento e se você quiser ser goleiro tem que olhar para ele e para a bola, é claro!”

E como eu olhava para o camisa número 1 do Palmeiras nos jogos do velho Parque Antárctica e depois nas partidas do Jardim Suspenso!!!

Valdir jogou 10 anos, honrando o clube como poucos.

Veio o uruguaio Maidana, morava no Edifício Falstaff, na esquina da Rua Caiuby com a Apinagés. Maidana, titular da Seleção Celeste, até assinou o livro de ouro do nosso time.

Mas eu queria ser Valdir.

Veio o Picasso, que morava na Rua Caiowas e sempre dizia que iria fechar o gol nos jogos contra o Corinthians. Mesmo depois quando foi jogar no Juventus.

E fechava mesmo!

Mas eu continuava querendo ser Valdir.

A frase do meu pai latejava na minha mente quando eu entrava em campo para defender o Perdizes ou nas quadras do velho futebol de salão com aquela bola pesada.

“Co-lo-ca-ção.”

Além de encantar quando estava em campo, chegou mesmo a jogar cinco partidas pela Seleção Nacional, Valdir encantava pela honradez, honestidade e pelo orgulho que demonstrava ao defender o Palmeiras.

Quando parou de jogar, tornou-se preparador de goleiros.

E com sua alma gêmea formou a comissão técnica da Seleção Brasileira.

Eu olhava Telê Santana e via Valdir, que nessa época virou Valdir Joaquim de Moraes.

Olhava o Valdir e via o Telê na comissão técnica da Seleção.

Meu velho parceiro Colibri lembrou que um dia, numa conversa informal ainda em 1981, seu Valdir – aí também já era seu Valdir – comentou que o goleiro na Copa da Espanha seria o Valdir Perez. E nós colocamos na manchete da Folha de S. Paulo.

Colibri ficou preocupado: e se o seu Valdir desmentisse?

“Mas não desmentiu nada, quando os outros repórteres foram em cima dele no dia seguinte, manteve o que tinha comentado”, relembra o Colibri.

Reinaldo Lombardi também me mandou uma mensagem com a narração de Fiori Gigliotti de um pênalti cobrado por Garrincha, então no Corinthians, e defendido por Valdir.

“Era um ídolo da torcida palmeirense!”

E é engraçado como ele, na sua infinita humildade, não entendia já velhinho a idolatria que o cercava.

Algumas vezes almoçávamos juntos no Sampa, restaurante por quilo, nos tempos em que eu trabalhava na ESPN Brasil. Seu Valdir chegava, sentava-se com a gente e eu ficava lembrando de jogos passados, me emocionando. E quantas vezes ele não se virou, interrompeu a garfada e disse:

“Mas por que vocês gostam tanto de mim? Eu sou uma pessoa comum, só fui goleiro do Palmeiras”.

Seu Valdir não entendia que ele fez parte da infância de muitos de nós, que queríamos ser goleiros como ele. Ele que enfrentava Pelé, de quem foi a maior vítima (foi o goleiro que mais sofreu gols do Rei, porque também deve ter sido o que mais o enfrentou).

Mas seu Valdir gostava mesmo era de elogiar Coutinho, o parceiro do Rei.

“Ele tinha uma frieza na hora de concluir, Coutinho não batia forte, só colocava a bola…”

A última conversa que tive com Valdir foi por telefone.

Ele já estava adoentado, em Porto Alegre.

Conversei com a filha dele e, quando mandei um abraço e já estava desistindo da entrevista, ela me estimulou. Disse que ele adorava falar, conversar sobre sua carreira.

“Faça as perguntas a ele e, mesmo que você não entenda as respostas, eu vou traduzindo para você”.

E assim foi!

Valdir ou seu Valdir foi meu ídolo.

Foi dos grandes.

O maior que eu já vi e aplaudi.

E era um goleiro que hoje seria baixinho.

Mas, como dizia meu pai Jamil, Valdir tinha uma coisa que eu não tinha:

Co-lo-ca-ção.

E gente assim não morre.

Mesmo aos 88 anos. (Pesquisa: Nilo Dias)


sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O criador do Campeonato Gaúcho de Futebol

O ano passado o “Campeonato Gaúcho de Futebol” completou 100 anos de existência. A primeira edição, realizada em 1919,  teve o Brasil, de Pelotas como vencedor, com uma goleada de 5 X 1, sobre o Grêmio.

O criador do torneio foi um bajeense, Aurélio de Lima Py, que foi o primeiro presidente da “Federação Gaúcha de Futebol” (FGF), na época, chamada de “Federação Rio-Grandense de Desporto” (FRGD), fundada no dia 18 de maio de 1918. Ocupou o cargo de 18 de maio de 1918 a 18 de maio de 1922.

Documentos históricos da FGF, mostram que a expectativa inicial era de que o primeiro campeonato fosse disputado em 1918, justamente o ano em que a entidade foi criada. 

Mas ninguém esperava que os danos causados pela gripe espanhola, que se espalhou pelo Estado e pais, fossem tão graves a ponto de causar o cancelamento da competição.

Quando da ideia de se criar um “Campeonato Gaúcho”, o vice-presidente da Federação era o pelotense Francisco Simões Lopes, tendo Washington Martins, como tesoureiro e Nestor Fontoura e José Revello, como secretários.
Aurélio Py tinha profundas ligações com o Grêmio. 

Tanto é verdade, que 28 anos depois da criação da FRGD recebeu o título de patrono do clube em sessão do Conselho Deliberativo, em 30 de julho de 1946. Pena é que tenha desfrutado da honraria por apenas três anos, uma vez que morreu em Porto Alegre, no dia 29 de agosto de 1949.

Conforme dados disponibilizados pelo “Memorial do Grêmio”, Aurélio de Lima Py nasceu na  “Estância da Candiota”, em Bagé, no dia 10 de fevereiro de 1882. Ele estudou na “Escola Brasileira”, concluindo o curso primário em 1892.

Depois fez o “Curso de Humanidades” com exames parcelados em Porto Alegre e Rio de Janeiro, em fevereiro de 1900. Na capital carioca, ingressou, no mês seguinte, na “Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”.

Em 27 de novembro de 1905, defendeu a tese “Estudo Clínico da Aortite Atheromatosa” e recebeu o grau de "Doutor em Medicina". Ao retornar para o Rio Grande do Sul, casou-se com Celina Piegas Tavares, em 10 de dezembro de 1906 em Porto Alegre.

O casal teve quatro filhos: Ecyla, Cléa, Ayrton e Cely. Em março de 1907, foi contratado como professor da “Faculdade de Medicina de Porto Alegre”. Um ano depois, passou em concurso para o cargo de professor catedrático da “Clínica Propedêutica Médica”.

Ainda na carreira da Medicina, foi provedor da “Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre”, entre 1925 e 1930. Em 1938, foi nomeado reitor da “Universidade do Rio Grande do Sul”, tendo sido o primeiro médico a assumir o cargo. E 13 anos depois, a instituição foi federada.

No dia 4 de agosto de 2010, em sessão solene na “Assembleia Legislativa”, em homenagem aos 80 anos do “Hospital São Francisco”, Py foi homenageado em memória.

Na atividade política, fez parte do “Partido Republicano Liberal” (PRL). Na “Assembleia Legislativa”, cumpriu mandato como deputado entre 1924 a 1937. Mas em meio a vida pessoal, profissional e acadêmica, o futebol sempre foi sua eterna paixão.

Seus serviços prestados ao Tricolor porto-alegrense foram amplos. No quadro social desde 1910, exerceu a função de presidente em 1912-1913, 1915, 1919-1922, 1929-1930.

Depois de 100 anos dos feitos de Aurélio de Lima Py, o futebol permanece vivo na corrente sanguínea de familiares. O sonho de ser bem sucedido dentro do esporte levou o tataraneto a seguir o mesmo objetivo, porém, com um caminho bem diferente.

Radicado nos Estados Unidos, desde 2002, Roberto Moreira Linck Júnior, 30 anos, conhecido como "Roberto Linck" ou "Betu", decidiu fundar seu próprio clube: o “Miami Dade F.C.”. A criação ocorreu no dia 20 de maio de 2014. Hoje, ele é dono e jogador da equipe.

Natural de Cachoeira do Sul, Linck vive nos EUA desde os seus 13 anos, acompanhado da família. Apaixonado por futebol, começou no futebol de salão profissional, pelo “Chicago Storn”, e no “CSM Ramnic Valcea”, da Romênia.

Em 2010, assinou contrato na” Major League Soccer” (MLS), principal liga do país, para jogar pelo “New England Revolution”. Porém, em 2011, sofreu uma lesão grave no tendão e afastou-se do futebol profissional.

A ideia de criar um time começou quando um amigo seu, que é dono de um grupo em Boston, lhe falou da necessidade de começar a pensar no futuro. Disse que um dia o futebol vai acabar. E se começar agora, daqui a 10, 20 anos, estará muito a frente nos seus projetos. E aconselhou que não esperasse tua carreira acabar para fazer isso.

Então, quando se machucou, aproveitou esse tempo para criar seu projeto, que é o “Grupo Linck".

E do Grupo Linck, surgiu a criação do “Miami Dade FC”, que é vinculado à “United Premier Soccer League” (UPSL), das divisões inferiores nos EUA. Em pouco tempo, conquistou a “National Adult League” (NAL), uma espécie de quarta divisão.

Hoje, ele tem como sócios, no clube, dois ex-jogadores: o volante Emerson e o meia Fábio Simplício. Mas o “Grupo Linck” tem um conceito muito mais amplo, com ênfase, também, com tecnologia, moda, eventos e gestão de talentos. A empresa tem sede em Miami, Flórida, porém, há uma extensão no Brasil, com investimentos da família.

Um dos aplicativos mais conhecidos, desenvolvidos pelo “Grupo Linck”, é o “Ginga Scout”, que consiste em proporcionar uma rede de contatos de jogadores com treinadores, olheiros e investidores.

A ideia partiu num diálogo entre Linck e o ex-lateral esquerdo Roberto Carlos. Perguntou ao ex-craque sobre quantos jogadores lhe pediam oportunidade. Ele disse que eram muitos, mas que conseguia ajudar um que outro.

Daí, veio a ideia do “Ginga Scout”. O jogador se registra e a empresa encaminha o contato para vários treinadores e olheiros do mundo inteiro. A família já possuia no Brasil a “Softmovel, que é administrada pelo seu pai e por um tio.

Dessa forma, Linck concilia os negócios empresariais com a paixão pelo futebol. Agora, com uma visão mercadológica do segmento, ele aponta que o futebol norte-americano tem crescido exponencialmente nos últimos anos.

Ele acredita que o "salto" se deu quando o meio-campista inglês, David Beckham acertou para jogar pelo “Los Angeles Galaxy”, em 2007, na MLS. Linck chegou aos Estados Unidos com 13 anos, em 2002.

Na época, o futebol não era nem perto do que é hoje, pois evoluiu muito. O impacto foi com o Beckham. O noticiário só falava de futebol, foi um pulo gigantesco. Hoje, o futebol está por todos os lados na cidade, com gente jogando. Hoje, os clubes tem grandes torcidas e há um interesse muito maior.

Sobre a semelhança com Aurélio de Lima Py, sobre a paixão com futebol, Linck afirma que  o tataravô, que tem uma grande história,  foi sempre uma referência para ele. Sempre as pessoas que o procuram, falam das semelhanças entre ambos.

Aurélio Py trabalhava com um clube no Sul do Brasil e Linck trabalha com um do Sul dos Estados Unido. Garante que se espelha nele e espera que um dia consiga fazer, nos Estados Unidos, o mesmo que ele conseguiu no Grêmio. E quanto a Bagé, disse que gostaria muito de visitar a cidade, um dia. (Pesquisa: Nilo Dias)


Aurélio Py, o gremista que foi o primeiro presidente da hoje Federação Gaúcha de Futebol

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Alberi o Anjo do Futebol

Alberi José Ferreira de Matosi nasceu em Recife, no dia 28 de janeiro de 1945. Embora tenha iniciado a carreira com 23 anos, idade um tanto fora dos padrões dos que buscam fazer do futebol uma profissão, ainda assim conseguiu se destacar como um dos principais jogadores na história do futebol do Rio Grande do Norte.

Quando moço até esteve nos juvenis do Santa Cruz, de Recife, onde foi campeão da categoria nos anos de 1963 e 1965. Mas arrumou emprego e deixou os gramados.

Só depois de muita insistência dos dirigentes tricolores, acabou aceitando a profissionalização como atleta. Já estava com 23 anos. Ele não confiava muito no futebol como profissão, por isso relutava em aceitar os convites para jogar.

Mas ao final valeu a pena. Se destacou no “Santinha” e em 1968 acabou vendido ao ABC, de Natal por Cr$ 10.000. E por lá virou ídolo, sendo até chamado de “Anjo do Futebol”. 

Sua estreia no novo clube não poderia ser melhor. Marcou dois gols na vitória de 3 X 2 do ABC frente o Ferroviário pelo certame estadual, dia 10 de abri de 1968, no “Estádio Juvenal Lamartine”.

A trajetória de Alberi no ABC, entre saídas e voltas, foi de 10 anos. Nesse período foi tetracampeão do Estado (1970, 1971, 1972 e 1973) e ganhou em duas oportunidades a “Taça Cidade de Natal”.

E de lambuja foi artilheiro dos campeonatos estaduais de 1971 (16 gols) e de 1972 (10 gols). E fez parte da famosa “Seleção Bola de Prata”, da “Revista Placar”, que premiava os jogadores que se destacavam em cada posição no “Campeonato Brasileiro”, desde o ano de 1970.

Alberi foi premiado com a “Bola de Prata” em 1972, ao lado de outros monstros sagrados do futebol brasileiro, como Emerson Leão,  Marinho Chagas, Figueroa, Paulo Cesar Cajú e Ademir da Guia.

É até hoje o único atleta a ganhar o prêmio, atuando por um time do Rio Grande do Norte

A inclusão de seu nome numa seleção tão importante como a “Bola de Prata”, fez com que o Fluminense, do Rio de Janeiro, se interessasse em contratá-lo. Recebeu uma proposta quase irrecusável de Cr$ 15.000 por mês. Ganhava só Cr$ 1.800.

E ainda assim recusou, sob a justificativa de “o que importa é nos sentirmos bem”. E naquele momento, o lugar onde sentia isso era em Natal, no ABC FC.
Ao longo de sua trajetória, Alberi marcou 210 gols pelo ABC e é até hoje o segundo maior artilheiro do clube, atrás apenas de Jorginho, com 219 gols.

Em 1976 foi jogar no América, de Natal e foi foi campeão Potiguar no ano seguinte e campeão da “Taça Cidade de Natal”, de 1977. Entre 1979 e 1981 jogou pelo Alecrim, também de Natal, onde foi campeão da “Taça Cidade de Natal”, de 1979.

Jogou ainda nas equipes do Rio Negro, Sergipe, Campinense, Icasa e Baraúnas, de Mossoró. Voltou para o ABC em 1984, ano que encerrou a carreira.
No total, Alberi comemorou seis títulos estaduais, sendo quatro pelo ABC, um pelo América e outro pelo Campinense. Parou aos 38 anos dizendo a seguinte frase:

“Quando as pessoas começam a olhar para você com desconfiança, por causa da idade, é melhor deixar a bola de lado. Foi exatamente o que eu fiz”, disse em sua despedida. Hoje, Alberi mora em Natal, é casado pai de nove filhos e 11 netos.

Algumas curiosidades vivenciadas por Alberi. Houve uma partida na Grécia, contra o Panathinaikos, um dos grandes clubes do país. O bicho era de 10 dólares para os outros jogadores do time, e Alberi recebeu 20 dólares, porque simplesmente acabou com o jogo.

Em 2015, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) fez uma homenagem em comemoração aos 100 anos de fundação do ABC, por sugestão do deputado José Adécio. Nove personalidades importantes da vida do clube foram homenageadas, entre elas, Alberi.

Em 2012, a vida de Alberi foi parar nas telas dos cinemas. O documentário "Alberi, o craque alvinegro" é o título de um vídeo produzido pelos estudantes de Cinema da “Universidade Potiguar”. (Pesquisa: Nilo Dias)