A história se repetiu na Bahia. O jovem Zuza Ferreira, filho de um tesoureiro do British Bank, em Salvador foi estudar na Inglaterra e no retorno ao Brasil, no dia 25 de outubro de 1901, trazia na mala uma bola de futebol, a exemplo do que já haviam feito Charles Miller e outros introdutores do chamado “esporte bretão” no país.
Zuza não esperou para bater uma bola. Três dias depois de desembarcar, um domingo, de manhã bem cedo tomou o caminho do Campo da Pólvora com a bola debaixo dos braços. No trajeto encontrou os amigos de tantos anos, Petersen e Drumond e os convida para acompanhá-lo. A molecada, vendo aquele homem com uma bola daquele tamanho na mão, resolveu segui-lo.
A curiosidade da garotada permitiu que Zuza formasse dois times. Dividiu os jogadores: um goleiro, dois zagueiros e cinco atacantes. As goleiras foram de pedras colocadas a uma distância de mais ou menos 10 metros, uma da outra. Era 28 de outubro de 1901. Estava introduzido o futebol na Bahia.
Em pouco tempo cresceu o número de adeptos do novo esporte. Nas ruas, a garotada improvisava as célebres bolas de meia, organizava partidas que terminavam sempre em discussões, tapas e raras eram as vezes em que as vidraças das casas vizinhas não eram quebradas, gerando muita confusão.
No ano de 1904 o futebol já havia virado notícia nos jornais de Salvador, não nas páginas esportivas, mas nas colunas de polícia. Quem praticava o futebol era chamado de "Malta de vadios" e "Corja de malcriados". As queixas eram constantes dos moradores da Barra, Fonte do Boi, Parque Cruz Aguiar, Rio Vermelho, Largo do Papagaio e Campo dos Mártires, hoje chamado Campo da Pólvora.
O primeiro campeonato baiano e o segundo organizado no Brasil (depois de São Paulo) foi realizado em 1905, quatro anos depois que Zuza Ferreira trouxe a primeira bola para Salvador. Desde lá vem sendo disputado sem interrupções. Apenas quatro equipes participaram da primeira edição do certame: Clube Náutico de Regatas São Salvador, Sport Club Vitória, Club Bahiano de Tênis e Club Internacional de Cricket, que foi o primeiro campeão. Voltaria a ganhar o título só em 1914. Durante 49 anos só os clubes da capital participaram do campeonato. Foi aberto aos clubes do interior apenas a partir de 1954.
A partir de 1970 a dupla Ba-Vi passou a dominar o futebol baiano. O clube que mais triunfou no Campeonato Estadual foi o Bahia, com 43 títulos. Atrás está o Vitória, atual campeão baiano (2007), com 24 conquistas. Depois dos dois grandes, vêm o Sport Club Ypiranga, time de coração do saudoso Jorge Amado (fundado em 7 de setembro de 1906, com o nome original de Sete de Setembro), com 10 títulos, e o Botafogo Sport Club, com 7. O Galicia Esporte Clube, representante da colônia espanhola de Salvador, foi o primeiro tricampeão baiano (1941,1942 e 1943).
O Campeonato Baiano já teve dois campeões em duas oportunidades: em 1938 o Botafogo ganhou o primeiro turno e os demais clubes se negaram a disputar o segundo. A Federação fez novo campeonato e o Bahia ganhou. Depois de uma boa briga, Botafogo e Bahia foram declarados campeões. Em 1999, Bahia e Vitória foram a Justiça Desportiva e os dois foram proclamados campeões.
Os clássicos entre Bahia e Botafogo eram folclóricos. Por muitos anos o Bahia não perdia para o alvirrubro. Revoltado, um torcedor botafoguense levava um pote ao estádio sempre que os dois times se enfrentavam. Dizia que quebraria o pote só quando o seu time vencesse o Bahia. Por isso o jogo ficou conhecido como “clássico do pote”. Apenas em 1938, o Botafogo ganhou uma, por 3 x 1 e o pote foi quebrado. Os cacos foram guardados pelos torcedores botafoguenses como amuleto.
Vários clubes participaram do campeonato Baiano. Alguns deles: Sul América, São Paulo Club, Brasil, Aquidaban, Riachuelo, A.D Leônico (campeão em 1966), Associação Bancários da Bahia, Atlético F.C. (campeão em 1912), Fluminense F.C., de Salvador (campeão em 1913 e 1915), S.C. República (campeão em 1916), A.A. da Bahia (campeão em 1924), Clube Bahiano de Tênis (campeão em 1927), A.D. Guarany (campeão em 1947), Clube de Natação e Regatas São Salvador (campeão em 1906 e 1907), E.C. Estrela de Março, Real Salvador E.C., Redenção F.C., Salvador F.C., São Cristóvão F.C., S.C. Santos Dumont (campeão em 1910), Feirense Esporte Clube, de Feira de Santana (campeão em 2002), Fluminense de Feira F.C., de Feira de Santana (campeão em 1963 e 1969) e Colo Colo de Futebol e Regatas (campeão em 2006)
O Bahia E.C., fundado em 1º de janeiro de 1931, apesar de não figurar mais na Série A do Campeonato Brasileiro, ainda é o clube mais importante do Estado e responsável pelos dois maiores feitos da história do futebol baiano: campeão da Taça Brasil em 1959 e do Campeonato Brasileiro de 1988.
No dia 25 de novembro do ano passado o futebol baiano sofreu o mais duro golpe de sua história. O estádio Octávio Mangabeira, a Fonte Nova, o maior da Bahia foi palco de uma tragédia anunciada: um pedaço da arquibancada desmoronou e sete torcedores morreram depois de caírem de uma altura de 25 metros.
Essa não foi a primeira tragédia no estádio, construído em 1951. Nos tempos dos militares no poder, a praça esportiva foi reinaugurada no dia 4 de março de 1971, depois de algumas obras de ampliação. A festa teve a presença do General Emílio Garrastazu Médici, presidente brasileiro. A festa virou pesadelo com dois mortos e milhares de feridos.
A imprensa noticiou na época, sem provas, que 112.000 pessoas estiveram na Fonte Nova para ver uma rodada dupla: Bahia x Flamengo e Vitória x Grêmio Portoalegrense. Porém, o público pagante oficial divulgado dois dias depois foi de 94.972 pessoas. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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