sábado, 22 de março de 2008

Futebol tipo exportação e as Ilhas Faroe

Estou curioso em saber quantos jogadores brasileiros foram para o exterior o ano passado. Acho que o Banco Central ainda não divulgou esses números. Pelo menos não li e nem ouvi nada a respeito. Por enquanto o que se sabe é ainda parcial: no primeiro semestre de 2007 quase 600 jogadores brasileiros foram para fora do país, mas os valores que deram entrada aqui, não chegaram a US$ 50 milhões. Em 2006, 343 atletas (95% de futebol) saíram do país, rendendo US$ 131 milhões. E em 2005, o montante foi US$ 159,2 milhões.

Duas coisas chamam a atenção: primeira, os números do Banco Central, não batem com os da CBF. Por exemplo, em 2006, a entidade registrou 851 transferências, contra 343 do Banco. E em 2005, haviam sido 804. Segunda, o futebol “made in Brazil” tem rendido mais dólares ao país, que algumas exportações tradicionais, como banana, melão, mamão, uva e instrumentos e aparelhos médicos.

O Banco Central começou a contabilizar os valores das transferências de atletas em 1993. Desde então, a exportação de jogadores já rendeu ao país mais de US$ 1 bilhão.

Os jogadores saem de todos os lugares do Brasil e se espalham pelo mundo inteiro. O ano passado, de acordo com o Banco Central, o Brasil exportou atletas para clubes de 86 países, entre eles alguns de pouca ou nenhuma tradição no futebol: Líbia, Uzbequistão, Ilhas Faroe, Chipre, Vietnã, Tailândia. E times como Siroki Brijeg, na Bósnia-Herzegóvina, ou Wofoo Tai Po, de Hong Kong, região chinesa que contratou 15 jogadores tupiniquins.

Mas nem todos os que vão para o exterior conseguem sucesso, e voltam ao país. Em 2006, 311 jogadores fizeram a viagem de volta. Em 2005 foram 491. A lista dos “retornáveis” do ano passado ainda não foi divulgada oficialmente.

Mesmo com tantos negócios, raros foram os clubes brasileiros que ganharam um bom dinheiro nessas exportações. Talvez as exceções tenham sido o São Paulo e o Internacional (RS). Mesmo assim, em 2003, o Milan (Itália) contratou do São Paulo o meia atacante Kaká, por US$ 8,25 milhões, valor considerado baixo pelos próprios dirigentes italianos. Tanto é verdade que o presidente do Milan e ex-primeiro-ministro da Itália, Sílvio Berlusconi, disse: “Foi a maior contratação da história do Milan. E a preço de banana”.

A curiosidade fez com que procurasse me informar sobre os “clientes” do futebol brasileiro. E me chamou a atenção as tais Ilhas Faroe (ou Føroyar, como é chamado no idioma local, o faroense). É um lugar que foi habitado pelos históricos vikings. Agora sei que é um território pertencente à Dinamarca, mas que goza de autonomia. Sua população é de apenas 50 mil habitantes. Mas, ainda assim tem filiação na FIFA desde 2 de julho de 1988 e na UEFA desde 18 de abril de 1990. E disputa as eliminatórias da Copa do Mundo e da Copa da Europa. Anterior a 1930 já existia uma equipe nacional, porém não reconhecida.

Ouvi falar desse lugar, quando a imprensa noticiou que o governo local proibiu a exibição do filme “Código da Vinci”, por considerá-lo blasfemo. Talvez porque a maioria da população pertence à Igreja Luterana.

O futebol é jogado nas Ilhas desde o século XIX. A primeira liga nacional no arquipélago foi disputada em 1942. De 1942 a 1978 todo o futebol era gerido pela Associação Esportiva das Ilhas Faroe (ISF), que em 13 de janeiro de 1979 deu lugar a atual Associação de Futebol das Ilhas Faroe.

As 18 ilhas que formam o território estão localizadas no Norte da Europa, na chamada região escandinava, ocupando uma área de 1.499 Km2. Todas as ilhas são habitadas, exceto Lítla Dímun. É vizinha da Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e dos territórios de Svalbard, administrado pela Noruega, Åland, administrado pela Finlândia e Groenlândia administrado pela Dinamarca.

Os times de futebol de lá tem nomes esquisitos para a nossa cultura: B68, B71, B36. A capital é Torshavn (nome em honra ao deus viking Thor), uma simpática cidade com casas coloridas, mas sem muitas opções de lazer. O futebol é um dos passatempos preferidos. A Seleção Nacional não é nenhuma preciosidade, mas vem evoluindo. Na primeira participação em eliminatórias, para a Copa do Mundo de 1994 lembrou o tradicional e folclórico time pernambucano do Ibis: jogou 10 partidas, perdeu todas e teve um saldo negativo de 37 gols.

Em 1998, uma pequena reação: duas vitórias sobre Malta. Em 2002, dois triunfos sobre Luxemburgo e um empate contra a Eslovênia. Nas eliminatórias para 2006, não manteve a ascensão, conseguindo apenas um empate com Chipre. Na atual eliminatória para a Copa de 2010, os faroenses estão no Grupo 7, com França, Romênia, Sérvia, Lituânia e Áustria.

O maior feito do time foi uma vitória surpreendente de 1 X 0 sobre a Seleção da Áustria, em 1992. O jogo valia pelas eliminatórias da Copa da UEFA e foi o primeiro confronto internacional da história das ilhas. A Seleção disputa seus jogos no pequeno Estádio Svangaskard, com capacidade para 8.020 torcedores, inaugurado em 1980.

O campeonato nacional, que começou a ser disputado em 1942, tem, atualmente, duas divisões e 20 equipes, 10 em cada série. Os jogadores são estudantes e profissionais com atividades paralelas, já que os salários pagos pelos clubes são baixos. O maior artilheiro da história dos faroenses foi Todi Jonsson. O Johannensen foi o que mais jogou pela seleção nacional.

No livro “Futebol: o Brasil em campo”, o jornalista inglês Alex Bellos contou a história de um jogador brasileiro em Faroe, Marcelo Marcolino, que jogou no Tofta Itróttarfelagh (B68), equipe da não menos pequena cidade de Toftir, de apenas 1.000 habitantes, 10 vezes menos que na capital, Torshavn.

Como toda Faroe, o lugar é uma verdadeira geladeira. No verão a temperatura não passa de 10 graus e no inverno dispara abaixo de zero. É neve para tudo que é lado. A temperatura média anual é de 6,7ºC. O lugar é castigado pelo vento gelado e não existem bares, cinemas ou restaurantes. Possui um mercado de pesca, uma fábrica de pescado, uma igreja e um clube de futebol, que já teve três brasileiros em seu elenco, um deles Alexandro Castilho Cárdena, vindo do 7 de Setembro, de Dourados (MS). Como 90 % da população vive da pesca, e o time treina apenas 2 horas por dia, Marcolino trabalhou descarregando bacalhau e arenque no mercado de pesca, dirigido pelo presidente do clube.

Para agüentar um lugar como aquele, Marcelo Marcolino, carioca acostumado com o calor do Rio de Janeiro, praia, cerveja e belas mulheres, sofreu bastante. Seu desejo era ser jogador de futebol e no Flamengo. Mas não conseguiu. Por isso aceitou o desafio de jogar num lugar tão distante. Contou que uma vez seu time viajou num barco de pesca, navegando sobre enormes cubos de gelo. Experiência para não esquecer nunca mais.

Quando tirou o passaporte no consulado dinamarquês no Rio de janeiro, alguém o aconselhou: “Leve roupa grossa”. Levou apenas um casaco. Não imaginava o que viria pela frente. Em Copenhagen quase congelou e pensou: "Meu Deus, quero voltar para casa." Dirigentes do B68 foram esperá-lo no aeroporto da Ilha Vágar, ao oeste do arquipélago. De lá seguiram para a minúscula Toftir. Uma verdadeira aventura: travessia de balsa e mais uma hora de carro ao longo de contornos acidentados. E pela primeira vez na vida viu neve.

Uma coisa que descobri e não sei por que foi acontecer: O Clube Atlético Mineiro disputou uma partida contra a Seleção das ilhas Faroe. Foi em 29 de julho de 1986, um amistoso na Dinamarca, com vitória de 4 X 1. Deve ter sido o primeiro e único clube brasileiro a realizar tal proeza. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Um comentário:

  1. Nilo, muito bomestes dados do "retorno" dos jogadores brasileiros, vou utiliza-los citando comprazer a fonte, nos meus comentários na Guaiba.Te saúdo pela iniciativa prque este bringuedinho saudável de blog para velhos jornalistas é ótimo.Segue emfrente quem sempre alguém vai utilizar-se das tuas pesquisas.Segura a angústia porque a gente quer falar de tudo o que sabe e pesquisa.Se quiseres tens o meu blog genérico www.bloguedogarcia.blogspot.com
    Um abraço e feliz pelo reencontro.
    João Garcia -Porto Alegre

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