Quando o empresário João Pessoa de Queiroz, dono da Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP) concordou que os seus funcionários organizassem um time de futebol, certamente não imaginava que no pátio de sua empresa estava começando uma história que com o passar dos anos chegaria ao “The New York Times” e ao “Livro Guinnes de Recordes”.
Era o dia 15 de novembro de 1938 quando Onildo Ramos, Alex Codiceira e Amaro Silva (todos já falecidos) fundaram o Íbis S.C., uma referência ao pássaro mitológico, símbolo da empresa. As cores do uniforme foram escolhidas por influência do Sport e se mantém até hoje: camisas vermelhas com listas diagonais pretas, calções pretos, meias vermelhas.
Nos primeiros tempos o Íbis foi apenas um time dos funcionários que jogava descompromissados amistosos nos fins de semana do bairro recifense de Santo Amaro. Ninguém pensava em futebol profissional. Com a morte de João Queiroz, os herdeiros implantaram uma política de contenção de despesas e os primeiros cortes tiveram como alvo o lazer dos operários. O Íbis estava condenado a desaparecer.
Não fosse a intervenção do gerente Onildo Ramos, um dos fundadores, o time do “pássaro preto” não existiria hoje. Ele atendeu o apelo do filho Ozir, que também trabalhava na fábrica e levou para dentro de casa, a responsabilidade de manter o Íbis em atividade. Tinha início uma nova etapa na vida do clube. Acabava a fase romântica do amadorismo.
O Íbis deixou de ser um time de empresa para se tornar um clube de futebol profissional. Foi um dos fundadores da atual Federação Pernambucana de Futebol, sendo o único clube filiado que nunca deixou de disputar todos os campeonatos promovidos pela Entidade. E passou por fases regulares e ruins. Boas, nunca. Enfrentou dificuldades de toda a ordem. Os jogadores recebiam salários simbólicos. A maioria jogava mais por amor ao clube, do que por qualquer outra coisa.
Ainda assim, o Íbis chegou a conseguir alguns patrocinadores fixos, como o Café Royal e o Café Soberano, que estampavam suas marcas nas camisas do time. Com o falecimento de Onildo, o filho Ozir assumiu a presidência do clube em 1957. Na ocasião disse que a paixão pelo Íbis “é como paixão de bêbado por cachaça. Sabe que faz mal, mas não larga o vício”. Ozir Ramos ficou mais de 30 anos no comando do clube.
Depois dele o Íbis teve entre os seus presidentes os desportistas Meibe Ramirez, Sóstenes Mesquita, Joaquim Caldas, Omar Júnior, coronel Carlos Alberto Pinto Carvalho e Ozir Ramos Júnior, atual primeiro mandatário, eleito em 2006.
O Íbis tem quase 60 conselheiros e cerca de 10 mil sócios, muito mais que Sport, Santa Cruz ou Náutico. Existe uma explicação: no mandato do presidente Joaquim Caldas foram distribuídas quase 10 mil carteirinhas de sócio. Como o clube não tem sede, não é cobrado qualquer taxa e as pessoas gostam de ter a carteirinha como souvenir.
Foi no final da década de 70 e início da década de 80 que o Íbis ganhou a fama de ser o pior clube de futebol de todos os tempos, não apenas do Brasil, mas do mundo. Dizem que foi o jornalista Lenivaldo Araújo, na época correspondente da revista “Placar”, o responsável pela titulação. Em 1979 jogou 12 partidas pelo campeonato pernambucano, perdeu todas, levou 51 gols e marcou 1 (um zagueiro adversário fez contra), no jogo em que o Sport venceu por 8 X 1. Foi essa campanha horrorosa que mereceu matéria no “The New York Times”.
Entre julho de 1980 e junho de 1984, a equipe passou exatos três anos, dez meses e 26 dias sem vencer. Foram 54 partidas, com 48 derrotas e seis empates. Dentro dessa estatística, em 1981, pelo campeonato pernambucano jogou 23 partidas e perdeu todas.
Ainda assim, as estatísticas sobre o Íbis são bastante imprecisas. Um levantamento feito em 2005 apontou um histórico de 1.064 jogos, com 137 vitórias, 145 empates e 782 derrotas. O saldo negativo era, então, de 2.221 gols. Depois disso ninguém mais se interessou em levantar dados, pois o clube vem passando por uma fase quase de esquecimento, por estar fora do foco do campeonato principal de Pernambuco. Inspirada no Íbis a turma do programa televisivo “Cassetta & Planeta”, da Rede Globo, criou o Tabajara Futebol Clube.
Antes de se tornar o pior time do mundo o Íbis foi durante muito tempo chamado pela imprensa pernambucana de "rubro negro das Salinas", em homenagem ao Santo Padroeiro do bairro de Santo Amaro das Salinas, onde tinha sua sede. Era a época em que o time, embora pequeno, às vezes assustava os grandes.
No inverno de 1947, estreante no campeonato principal fez 5 x 4 em cima do Sport. E 1 x 0 contra o Náutico, em janeiro de 1948, ambos os jogos nos Aflitos. Ainda em 1948 uma goleada em cima do Náutico por 5 x 3. Em 1950, outra proeza: empate em 4 x 4 com o Sport, escore repetido em 1953, diante do Santa Cruz. De outra feita, empate de 0 x 0 com o Sport, após o que o intermediário Cier Barbosa mandou todo o time do Íbis, inclusive o treinador Souza Arantes, para o Barreirense de Portugal.
Foi sempre assim, uma ou outra vitória apertada em cima de um grande: 1 X 0 ante o Náutico, em 1961, gol de Carlos Alberto, um soldado da Polícia Militar. E outro 1 x 0 mais adiante, em 16 de julho de 1965, contra o Santa Cruz, gol de Rildo, jogo em que o goleiro Jagunço realizou defesas “milagrosas”. E em 2000, mais uma vitória de 1 x 0 frente o Náutico. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
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