A imprensa esportiva brasileira viveu ontem (30-03), uma tarde inesquecível para a história do futebol de nosso país. Antes do jogo Botafogo x Fluminense, pela Taça Rio, a Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Lazer, através da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj), fez justiça a um dos expoentes da crônica esportiva, o jornalista, poeta e escritor Armando Nogueira, com um espaço, que leva o seu nome, localizado na Tribuna de Imprensa do estádio do Maracanã.
O jornalista que, para mim, é o “Pelé da crônica esportiva brasileira”, mesmo enfrentando problemas de saúde esteve no Maracanã e se emocionou bastante com a homenagem, especialmente no momento em que foi descerrada uma placa na entrada do Espaço que leva seu nome, onde está gravado o poema “Maracanã”, de sua autoria, cujos direitos autorais ele repassou para a Suderj.
Além da placa em acrílico, onde está gravada a poesia, o Espaço Armando Nogueira tem em suas paredes, uma galeria da fama com os chamados “Notáveis do Rádio”. Figuram neste corredor fotos de grandes nomes da crônica esportiva, como Antônio Cordeiro, Ari Barroso, Benjamin Wright, Carlos Marcondes, Celso Garcia, Clóvis Filho, Deni Menezes, Doalcei Camargo, Iata Anderson, João Saldanha, Jorge Curi, José Cabral, José Carlos Araújo, Kléber Leite, Luiz Fernando Vassalo, Luiz Mendes, Luiz Penido, Mário Vianna, Oduvaldo Cozzi, Orlando Baptista, Ronaldo Castro, Ruy Porto, Waldir Amaral e Washington Rodrigues. Além desses radialistas, outros 50, também votados, terão suas fotos expostas no local.
As homenagens para Armando Nogueira não ficaram somente na Tribuna de Imprensa, tiveram continuidade com a outorga da “Medalha do Mérito Pan Americano”, pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, em sessão solene realizada nas próprias dependências do Maracanã. A homenagem foi sugerida pelo vereador Luiz Antônio Guaraná.
Em 29 de janeiro deste ano, em breve e emocionante solenidade no Palácio das Laranjeiras, Armando Nogueira recebeu das mãos do ministro das Comunicações, Hélio Costa, acompanhado do governador Sérgio Cabral, a “Medalha da Ordem do Mérito das Comunicações”. No Grau de Grã Cruz, a mais alta condecoração concedida a personalidades que prestaram notáveis serviços ao setor.
Filho de cearenses que um dia emigraram para o Acre, fugindo da seca, Armando Nogueira nasceu em Xapuri, no dia 14 de janeiro de 1927. Em 1944, com apenas 17 anos foi para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito e trabalhou como ensacador, embora já pensasse em se tornar jornalista. E sem imaginar que um dia formaria ao lado de Mário Filho e Nélson Rodrigues, a Santíssima Trindade da crônica esportiva brasileira.
Em 1950, conseguiu trabalho na seção de esportes do jornal “Diário Carioca” (extinto), que na época reunia os mais destacados jornalistas cariocas, como Prudente de Moraes Neto, Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza. O “Diário Carioca” é até hoje lembrado como uma verdadeira escola do jornalismo brasileiro.
Foi testemunha ocular do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na Rua Toneleros, em Copacabana. Ao escrever sobre o episódio, fez história no jornalismo brasileiro: pela primeira vez numa reportagem um fato era narrado na primeira pessoa. Depois de permanecer por 13 anos no jornal, Armando Nogueira passou pelo “Diário da Noite”, revista “Manchete” (1957), “O Cruzeiro”, dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand e “Jornal do Brasil” (1959).
Armando foi um dos pioneiros da televisão brasileira, em 1959, quando trabalhou na primeira produtora independente do país, dirigida por Fernando Barbosa Lima. Ele escrevia textos para serem lidos pelos locutores Cid Moreira e Heron Domingues, na antiga TV-Rio. Em 1966, convidado por Walter Clark, foi para a Rede Globo onde implantou, com Alice Maria, o telejornalismo de qualidade da emissora, que passou a atrair o interesse dos profissionais e do público. Nos 25 anos em que esteve na emissora da família Marinho, introduziu o jornalismo em rede nacional e criou os noticiosos “Jornal Nacional” e “Globo Repórter”.
Em 1989, Armando Nogueira mostrou que além de grande jornalista também era um homem íntegro e que não pactuava com atos inescrupulosos. No segundo turno das eleições presidenciais daquele ano, a Rede Globo promoveu um debate entre os candidatos Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva. No compacto do evento, exibido no dia seguinte Jornal Nacional foi feita uma edição que favorecia Collor, apoiado direta ou indiretamente pelas empresas de Roberto Marinho.
Armando Nogueira, como diretor de jornalismo, não compactuou com aquilo e levou pessoalmente a Roberto Marinho a sua indignação. Por causa de seu comportamento ético e profissional, acabou sendo aposentado pelos donos da emissora, de onde se desligou em definitivo no ano seguinte.
O grande nome da imprensa brasileira e que merece o respeito de todos nós, mantém uma coluna diária que é reproduzida em mais de 60 jornais de todo o país, participa de um programa no canal por assinatura SporTV, de um programa de rádio e de um sítio na Internet. É o proprietário da Xapuri Produções, que faz vídeos institucionais para empresas, para as quais também profere palestras motivacionais.
No futebol, é torcedor apaixonado do Botafogo, desde 1944, quando chegou ao Rio de Janeiro e assistiu a um jogo entre Flamengo e Botafogo. Encantou-se por Heleno de Freitas. A grande paixão de Armando Nogueira foi sempre o esporte, particularmente o futebol. Cobriu 15 Copas do Mundo e 7 Olimpíadas e escreveu 10 livros, todos sobre esportes: “Drama e glória dos bicampeões (em parceria com Araújo Neto)”; “Na grande área”; “Bola na rede”; “O homem e a bola”; “Bola de cristal”; “O vôo das gazelas”; “A copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert)”; “O canto dos meus amores”, “A chama que não se apaga” e “A ginga e o jogo”.
Com um estilo poético de escrever, Armando Nogueira imortalizou várias frases. Eis algumas delas: “Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio”; "Ademir da Guia, tens o nome, o sobrenome e a bola do craque"; "Arthur Friedenreich jogava Futebol com o coração no peito do pé. Foi ele quem ensinou o caminho do gol à bola brasileira"; “É sempre melhor ser otimista do que ser pessimista. Até que tudo dê errado o otimista sofre menos"; "Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola".
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