segunda-feira, 24 de março de 2008

Árbitro, profissão perigo

Quem procura, acha. O velho ditado serve como uma luva para quem se atreve a ser árbitro de futebol. Hoje, até que a profissão rende um bom dinheiro, mas só em grandes centros e ainda assim em jogos importantes. Em algumas cidades do interior é diferente, principalmente em jogos envolvendo equipes amadoras, onde o contato com o público é direto. O dinheiro é pouco e a incomodação é muita. Neste artigo conto alguns fatos reais que os árbitros já enfrentaram nessa perigosa profissão.

Começo com uma historia do radialista catarinense João Küerten. Comentarista de um jogo entre Hercílio Luz e Tubarão, seu time do coração, não se conteve quando o árbitro marcou um pênalti que achou inexistente. Saiu da pista de onde transmitia, entrou em campo e foi até a marca do pênalti e deu um tiro na bola, não permitindo a cobrança.

Não são poucos os casos de agressões aos árbitros, seja por jogadores, seja por torcedores. No ano passado o árbitro Alexandre Barreto, foi agredido pelo jogador Rogerinho, do São Luiz de Ijuí, em jogo contra o Brasil de Pelotas, no Estádio Bento Freitas. O jogador não se conformou com a validação do segundo gol do Brasil. Ao ser expulso derrubou Barreto com um soco no rosto. Ainda tentou continuar com a agressão, mas foi contido pelos próprios colegas.

Em junho de 2003, no povoado Capitan Juan Antonio, em Artigas, no Uruguai, o juiz de um jogo entre duas equipes amadoras matou com uma facada um torcedor que tentou agredi-lo. O incidente aconteceu quando o árbitro mostrou cartão amarelo a dois jogadores que brigavam a socos. O campo foi invadido por torcedores e um deles, 26 anos e com antecedentes criminais, agrediu o árbitro que reagiu, sacando uma faca e matando o agressor com um golpe no peito, sendo preso em seguida.

O ex-árbitro de futebol, Estemir Vilhena da Silva, no livro “Memórias de um ex-arbítro de futebol”, conta que num jogo entre Rio-Grandense X Rio Grande, na cidade gaúcha de Rio Grande, passou por momentos difíceis. Torcedores do Rio Grande queriam “matá-lo”, porque expulsara o jogador Alfeu, aquele mesmo do Internacional (RS). Ao fim do jogo, na saída do vestiário para a rua, tinham de passar por um corredor formado por brigadianos. Era quase suicídio. Tudo se resolveu quando o auxiliar Orlando Simões, sargento do Exército engatilhou seu revólver e gritou para os torcedores: “O primeiro que tentar nos agredir vai morrer”.

Esta eu presenciei. Em 1982, na Praia do Cassino, em Rio Grande jogavam duas equipes amadoras pelo “Culturão”, competição promovida por uma emissora da cidade. O jogo estava quase no fim quando torcedores invadiram o campo para agredir o juiz. Este, prontamente sacou de uma navalha e se defendeu valentemente durante longos 20 minutos, até que a Brigada Militar chegou. “Paulinho Navalha”,como era conhecido, saiu ileso.

O ex-árbitro goiano Urias Crescente Alves Júnior, conta que num jogo entre Goiânia e Botafoguinho, em 1952, expulsou quatro jogadores. O jogo era irradiado e acompanhado em casa por sua mãe, uma italiana legítima. Durante a narração, o locutor disse que o juiz fora jurado de morte por alguns jogadores. Ao final do jogo, Urias viu sua mãe no estádio, com um revólver 38 cano longo debaixo do avental, aos gritos: “Quem vai bater no meu filho?”. Assustado, ele a levou para o vestiário. O episódio está descrito numa crônica do ex-presidente da Federação Goiana, Valdir Castro Quinta, publicada na “Folha de Goiás”, com o título: “A mãe vem em socorro do filho”.

Num jogo entre o Ceará e um time de Pernambuco, a torcida alvinegra, cansada de ver os árbitros errarem contra seu time, levou uma enorme faixa para o estádio, onde se lia: "Se roubar morre". Era uma brincadeira, mas foi levada a sério, tanto que a arbitragem foi correta. E, por via das dúvidas, o Ceará ganhou.

O normal é o jogador ser expulso de campo. Mas já aconteceu do juiz ser expulso. Foi no Estádio El Campín, na Colômbia, num jogo em que o Santos vencia o Millionarios, de Bogotá por 2 a 1. Depois de uma confusão o árbitro expulsou Pelé, que estava no meio apenas para apartar. Revoltada, a torcida ameaçou invadir o gramado e bater no juiz. Precavida, a polícia colombiana sugeriu uma alteração: “sai o juiz e entra um bandeirinha”. Isso foi feito. Pelé voltou, e agradeceu fazendo mais três gols.

E às vezes acontecem situações inexplicáveis. Em 2002 um jogador da Liga Amadora de Futebol da Holanda foi suspenso por beijar um árbitro na boca. A Associação de Futebol puniu o jogador com oito jogos de suspensão por comportamento impróprio.

Mas nem tudo são espinhos na profissão. Tem as rosas, também. É o lado folclórico da arbitragem. Caso do representante comercial e árbitro Clésio Moreira, o “Margarida” catarinense, que proporciona verdadeiros shows nos jogos que apita, para delírio dos torcedores. Ele se inspirou no polêmico “Margarida”, o árbitro carioca Jorge Emiliano (falecido), que dava o que falar, dentro e fora dos campos.

Clésio usa uniforme e chuteiras cor-de-rosa. No decorrer do jogo utiliza vários trejeitos, dois deles já famosos: o “passo da gazela” e a forma de mostrar cartões: faz uma ginga de corpo, joga as costas para trás e com força arranca o cartão do bolso e o levanta quase no rosto do jogador. Por causa de seu jeito “diferente” de apitar, foi afastado da Federação Catarinense. Mas continua dando shows particulares em jogos amistosos.

E os árbitros que se preparem. Vem “bomba” por aí. E não será no eixo Rio-São Paulo, mas no Rio Grande do Sul. Um grupo de torcedores do Grêmio está organizando uma facção denominada "Torcida 88", uma forma de dissimular a saudação nazista "Heil Hitler".

Num recente final de semana em Criciúma (SC), bandidos e vândalos disfarçados de torcedores jogaram bombas de fabricação caseira dentro do estádio. Uma delas atingiu um torcedor de 62 anos, deficiente físico, que teve uma das mãos dilacerada.

Mas a Justiça já começou a punir os agressores. Ano passado o árbitro Juscelito Antônio Viccari, agredido durante uma partida de futebol no Rio Grande do Sul ganhou duas indenizações pagas pela prefeitura de Ciríaco: R$ 716 por danos materiais e R$ 4 mil por danos morais.

Três jogadores de futebol amador, de Iporã do Oeste (SC) foram condenados a pagar R$ 10,5 mil de indenização por danos morais e R$ 120,00 por danos materiais ao árbitro Valdir Rohr. Ele foi agredido durante um jogo comemorativo ao Dia do Trabalho, em 1999, quando levou socos e pontapé, que ocasionaram um ferimento aberto na região mandibular direita, ranhuras no ombro direito com edema e traumatismo na coluna dorsal lombar.

O diretor de futebol Paulo Lasmar e o técnico Carlos Alberto Silva, do
América de Minas Gerais, também foram condenados a pagar R$ 15 mil de indenização por danos morais ao árbitro Cléver Assunção Gonçalves e a seu auxiliar Márcio Eustáquio Souza Santiago. Os juízes de futebol se sentiram ofendidos por declarações do cartola e do técnico após uma partida do Campeonato Mineiro de futebol, em 2004. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Um comentário:

  1. Oi Nilo tudo bem? Aqui em Rio Grande, na Ilha da Torotama, que fica cerca de uma hora e meia distante da cidade,num clássico Novo Avante e Fiateci, o árbitro marcou um pênalti contra o Fiateci e a torcida invadiu o campo. O Onedir Lilja, presidente do Novo Avante colocou o árbitro no seu caminhão e rumou para a cidade. No meio do caminha, o susto: "Tens que voltar Onedir. Esqueci o meu guri na beira do campo". Diz o Onedir que deixou o homem no meio do caminho e voltou para buscar a criança.Horácio Gomes

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