Volto ao tema “o clube de futebol mais alto do mundo”. No último artigo não me alonguei muito para não cansar o leitor. Mas cabem mais algumas considerações. O Club Unión Minas, de Cerro Pasco, uma pequena cidade mineira nos Andes peruanos, com 4,34 mil metros de altitude, e um ambiente hostil com temperaturas entre 10 e -5C, é verdadeiramente o clube de futebol “mais alto do mundo”. Essa condição é reconhecida pela revista oficial da FIFA, que usa o clube como exemplo para mostrar como o futebol sobrevive em qualquer ambiente.
Com 70 mil habitantes, Cerro Pasco depende dos recursos gerados pelas minas de zinco, cobre e prata. O futebol não é novo por lá. Os engenheiros e mineiros ingleses que vieram trabalhar nas minas, já praticavam o esporte desde 1912, como passatempo. O futebol profissional veio só em 23 de abril de 1974, quando os trabalhadores das minas fundaram o Unión Minas, com apoio da estatal Centromin.
Durante mais de 10 anos o “Club de la Mina”, assim chamado pelos torcedores, disputou somente os jogos regionais da Copa Peru, a segunda divisão local. Em 1986, a Federação Peruana de Futebol ampliou o número de equipes na primeira divisão e o Unión Minas foi beneficiado.
O apoio financeiro dado pela Centromin era limitado, e por isso o clube contratava apenas jogadores veteranos e rejeitados pelos grandes clubes do país. Mesmo assim, o Unión conseguiu se manter em posições intermediárias, graças ao Estádio Daniel Alcides Carrión, com capacidade para 8 mil expectadores, e localizado no alto do morro, a uma altitude de 4.512 metros. É a casa do Unión e um verdadeiro pesadelo para os adversários. Não apenas pelo ar rarefeito, mas principalmente pelas temperaturas abaixo de zero.
Na altitude de Cerro do Pasco a oxigenação diminui para pouco mais de 66%. A temperatura média durante o dia é de 12 graus. Os especialistas de futebol consideram um castigo para qualquer atleta de fora da cidade que seja contratado pelo time local. Para a saúde, os riscos de hipotermia são consideráveis.
Imaginem um clube brasileiro jogar num local em que até os times peruanos, acostumados a jogar na altitude, precisam tomar medidas especiais. O mais comum é passar a noite anterior em Huánuco (a 2 mil metros de altitude), na selva central do Peru e chegar ao estádio uma hora antes do jogo. Além disso, os times tomam medidas para abrir as fossas nasais e levar garrafas de oxigênio para o intervalo.
Outra medida adotada pelos clubes é dar aos jogadores uma xícara de chá de folha de coca, a mesma matéria-prima utilizada na produção de cocaína, para ajudar a combater o “soroche” (mal de altura, como os andinos chamam os efeitos da altitude). Para que os jogadores não sejam pegos no antidoping, os clubes visitantes só servem a bebida no intervalo, quando o sorteio para o exame já foi realizado.
Mas a ascensão do futebol de Cerro de Pasco não durou muito. Em 1997, a Centromin deixou de apoiar financeiramente o clube. Em 1998 o Unión Minas ainda fez uma boa campanha, ficando na quarta posição no Torneio "Apertura" e em sexto na temporada inteira. No ano seguinte o clube sentiu a falta de dinheiro e foi perdendo força. Com pouco público no estádio e sem condições de revelar bons jogadores, acabou rebaixado para a segundona peruana, em 2001, quando nem o ambiente hostil do Estádio Daniel Alcides Carrión foi capaz de ajudar o time. De lá para cá disputa o grupo do Departamento de Pasco da Copa Peru.
Em El Alto, cidade na região metropolitana de La Paz, a prefeitura construiu o estádio Olímpico de Los Andes. Como o próprio nome diz, El Alto é uma cidade bem alta, com 4,1 mil metros de altitude. O clube que se decidisse a jogar lá poderia ser classificado como o segundo mais alto da Bolívia e do mundo. A Universidad Iberoamericana, quarto clube de La Paz, aceitou se mudar, mas faliu antes de o estádio ficar pronto. O Mariscal Braun, da segunda divisão, também chegou a aceitar o convite da prefeitura de El Alto, mas acabou ficando em La Paz. A cidade tem um bom estádio, mas não tem nenhum time. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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