Dia desses num dos programas do canal Sportv se comentava os gols marcados pelo goleiro artilheiro Rogério Ceni, do São Paulo Futebol Clube. E a pergunta inevitável não tardou: qual o goleiro que fez o primeiro gol da história? Sem dúvida, uma boa pergunta. E ouvi dos participantes dos programas várias respostas. E de telespectadores, também.
Uns diziam que foi Ubirajara, do Flamengo. Outros que foi Jaguaré, folclórico goleiro do Vasco nos anos 30. Na verdade, não foi nenhum dos dois. O primeiro gol de goleiro que se tem notícia aconteceu em 25 de março de 1882. E foi marcado por James McAulay, da Seleção da Escócia, em um jogo contra País de Gales. James McAulay era goleiro, mas atuou nesse jogo como centroavante e fez um gol na vitória de 5 a 0.
O livro “Guia dos Curiosos” garante que no Brasil, Ubirajara, ex-Flamengo foi o primeiro goleiro a marcar um gol. Foi num jogo do campeonato carioca, contra o Madureira, em 19 de setembro de 1970. Ele bateu com força um tiro de meta, buscando armar o ataque, pois o time adversário estava todo avançado. A bola, quicou duas vezes, deu um “chapéu” no goleiro do Madureira e só parou dentro do gol. Mesmo com um gol de goleiro o Flamengo acabou perdendo aquele jogo por 2 X 1.
Há quem diga que o goleiro Jaguaré, do Vasco da Gama teria sido o autor de um gol “vestindo a camisa número 1”, que seria o primeiro de um goleiro brasileiro. Porém, não existem informações de quando e nem contra qual adversário esse gol aconteceu. O que se sabe com certeza sobre Jaguaré, é que foi ele quem trouxe as primeiras luvas de goleiro para o Brasil, compradas na Europa durante uma excursão do Vasco.
Outros goleiros que se destacaram em seus clubes como verdadeiros artilheiros: Rogério Ceni (79 gols), São Paulo FC; José Luis Félix Chilavert (62), C.A. Peñarol, de Montevidéu e Seleção do Paraguay; René Higuita (41), Deportivo Rionegro e Seleção da Colômbia; Jorge Campos (40), Puebla do México e Seleção Mexicana; Johnny Martín Vegas (30), Sporting Cristal, de Lima, Peru; Dimitar Ivankov Kayserýspor (30), da Bulgária; Álvaro Misael Alfaro (29), do Club Deportivo Isidro Metapán, de El Salvador; Hans-Jörg Butt (28), do Sport Lisboa e Benfica; Marco Antonio Cornez (24), do Deportes Iquique, do Chile; Dragan Pantelić (22), do FK Radnicki Nis, da Jugoslavija; Žarko Lučić (21), do Mladost Podgorica Crna, de Gora e Nizami Sadigov (21), do Turan Tovuz, do Azerbaijan.
Rogério Ceni, o maior goleiro artilheiro do mundo nasceu em 22 de janeiro de 1973, na cidade paranaense de Pato Branco, a mesma de Alexandre Pato, do Milan da Itália, mas cresceu no Mato Grosso, onde até hoje reside a maior parte de seus familiares. Foi revelado pelo Sinop Futebol Clube, da cidade de Sinop, que quer dizer Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa responsável pela colonização do norte de Mato Grosso por agricultores do norte do estado do Paraná. Em 7 de setembro de 1990 transferiu-se para as categorias de base do São Paulo F.C..
Depois foi para a reserva de Zeti, nos tempos do técnico Telê Santana. Em 1997, com a ida de Zeti para o Santos, Ceni assumiu a titularidade. De lá para cá todos conhecem a história. O goleiro do São Paulo se tornou um especialista na cobrança de faltas próximas à área e firmou-se como cobrador oficial de pênaltis do tricolor paulista. Rogério Ceni treinou esse fundamento por mais de 15 mil vezes. O primeiro gol foi numa cobrança de falta, em 15 de fevereiro de 1997, num jogo do Campeonato Paulista contra o União São João, de Araras. Em 13 de setembro de 1997 marcou seu primeiro gol em campeonato Brasileiro, também de falta, contra o Botafogo do Rio de Janeiro.
O primeiro gol de Rogério Ceni em um jogo internacional aconteceu em 25 de agosto de 1999, contra o San Lorenzo de Almagro, da Argentina, em jogo válido pela Copa Mercosul. E outra vez em cobrança de falta perto da grande área. O Palmeiras é o time que sofreu mais gols de Ceni, (6), seguido pelo Cruzeiro (5). No ano de 2005 chegou ao auge, marcando 21 gols, sendo o último na histórica semi-final do Mundial de Clubes, contra o Al-Ittihad, da Arábia Saudita.
Rogério Ceni não poupou seu ex-companheiro de clube, Zetti, e nem o atual goleiro reserva do São Paulo, Bosco. Fez gols nos dois: quando Zeti estava no Santos, em 1998 e Bosco na Portuguesa de Desportos, em 2002. Em compensação tomou um gol do paraguaio Chilavert, de pênalti, em 23 de outubro de 1997, no empate de 3 X 3 com o Vélez Sarsfield, da Argentina, pela Supercopa.
Rogério Ceni é um quebrador de recordes. No dia 20 de agosto de 2006, ultrapassou o goleiro paraguaio Chilavert, até então recordista mundial, com 62 gols, ao marcar contra o Cruzeiro de Belo Horizonte, em cobrança de falta o seu 63º gol em partidas oficiais. E nesse mesmo jogo ainda fez outro gol, de pênalti, chegando aos 64 gols.
Até hoje (12/04/2008), Rogério Ceni é dono deste incrível retrospecto: 79 gols marcados, sendo 46 de faltas e 33 de pênaltis. Em amistosos fez 2, ambos de falta. Os outros 77 gols foram em jogos oficiais. Chama a atenção o fato de que o São Paulo nunca perdeu nos jogos em que Rogério Ceni fez gol. Foram 54 vitórias e 16 empates.
Não foi só contra o Cruzeiro que o goleiro tricolor fez dois gols num mesmo jogo. Antes, havia marcado contra a Internacional de Limeira (SP), no campo do adversário, em 25 de abril de 1999, num jogo do Campeonato Paulista, na vitória de 2 a 1. Foi um gol de pênalti e um de falta. Em 17 de julho de 2004, num jogo no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro, numa vitória de 2 X 1, frente o Figueirense, também com um pênalti e uma falta. E finalmente, na vitória de 4 X 0 contra o Tigres do México, pelas quartas-de-final da Copa Libertadores da América de 2005, fez dois gols de falta, e ainda perdeu um pênalti e a chance de bater um novo recorde, três gols numa só partida.
No dia 1º de setembro do ano passado, na vitória de 6 X 0 sobre o Paraná,no Morumbi, Rogério se tornou o goleiro do São Paulo que passou mais tempo sem levar gol em Campeonatos Brasileiros, 988 minutos, ultrapassando os 694 minutos de Valdir Peres, em 1983. O goleiro são-paulino só voltou a ser vazado em 15 de setembro, num jogo contra o Santos. Os goleiros que ficaram mais tempo sem sofrer gols no “Brasileirão” foram Jairo, do Corinthians, em 1978, com 1.132 minutos e Emerson Leão, do Palmeiras, em 1973, com 1.057 minutos).
Esse extraordinário jogador atuou 17 vezes pela Seleção Brasileira e fez parte do grupo campeão do mundo em 2002. Em 22 de junho de 2006 jogou pela primeira vez uma partida de Copa do Mundo, ao substituir o titular Dida, aos 36 minutos do segundo tempo da goleada de 4 X 1 frente o Japão. A última vez que a seleção utilizou dois goleiros numa mesma Copa do mundo foi em 1966, na Inglaterra.
A galeria de troféus de Rogério Ceni é de dar inveja a qualquer um: ganhou por cinco vezes a Bola de Prata, concedida pela Revista Placar. Em 2006 recebeu o troféu de ouro da CBF, como melhor goleiro e melhor jogador do Campeonato Brasileiro. O ano passado abusou de ganhar prêmios: Melhor Goleiro do Campeonato Brasileiro, Craque do Brasileirão e Craque da Torcida, todos concedidos pela CBF.
O experiente goleiro do São Paulo já teve seu nome incluído por três vezes na lista dos dez melhores goleiros do mundo, organizada todos os anos pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Em 2005 ocupou a nona posição, em 2006 foi sexto colocado e em 2007, o quinto classificado. O ano passado foi o único jogador atuando no futebol sul-americano indicado para o Prêmio Bola de Ouro, da revista “France Football.” (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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