Muita gente pensa que o termo “cabeça-de-bagre”, usado no futebol para definir um jogador ruim, sem a menor técnica, tenha sido criado pelo folclórico misto de jornalista e técnico João Saldanha. Mas não foi. A invenção foi de Olavo Leite “Kafunga” Bastos, considerado até hoje o melhor goleiro que vestiu a camisa do Clube Atlético Mineiro, em todos os tempos, apesar de seu 1,75 m. De acordo com o “Aurélio”, “cabeça-de-bagre”, uma gíria antiga, quer dizer indivíduo estúpido, idiota, imbecil. Faz o maior sentido, pois o bagre tem a cabeça oca e não serve para nada.
Quando parou de jogar, “Kafunga” não conseguiu ficar fora do futebol, por isso foi gerente e técnico (1961) do Atlético e depois comentarista esportivo de rádio, jornal e TV em Belo Horizonte. Dono de uma grande popularidade, não teve dificuldade para se eleger vereador por quatro mandatos e depois deputado estadual. Inteligente e mordaz soube criar muitas expressões que entraram para o vocabulário futebolístico nacional.
Além do “cabeça-de-bagre” achou inspiração para muitas outras frases que são repetidas até hoje; “No Brasil o errado é que está certo", para criticar algumas coisas do esporte ou fora dele; "Não tem corê-corê”; "gol barra limpa" ou "barra suja”, quando o lance era legal ou não; "Isso é lá dos tempos de mil e novecentos e Kafunga”, quando queria dizer que uma coisa era muito velha; "vap-vupt" , para o que era feito de qualquer jeito; “despingolar”, sair correndo, evadir-se, desvencilhar-se; “tá no filó”, gol, bola na rede; “lesco-lesco”, destramelar, abrir, liberar e “FAO”,Força Atleticana de Ocupação.
Sentindo o gostinho pelo rádio, “Kafunga” não se limitou apenas a falar sobre futebol. Aos domingos apresentava na Rádio Itatiaia um programa de música brasileira do passado, o “Kafunga de todos os tempos”, onde se divertia contando histórias de quando jogava.
Ninguém jogou tanto tempo pelo Atlético, único clube de sua carreira, quanto “Kafunga”. Ele foi diferente da maioria dos jogadores de futebol de hoje, que assinam contrato, juram amor pelo clube, beijam o escudo e logo, logo vão embora. “Kafunga” defendeu o “Galo” em 712 jogos, de 1935 a 1955, e foi campeão mineiro por 11 vezes, além de “Campeão dos Campeões”, em 1937. Participou da famosa excursão a Europa em 1950, sendo um dos “campeões do gelo”. Até hoje a torcida atleticana lembra um dos melhores times do Atlético, em toda sua história de 100 anos, formado ao final dos anos 40: Kafunga – Murilo e Ramos – Mexicano - Zé do Monte e Afonso – Lucas – Lauro – Carlyle – Nívio e Lero.
A contratação de “Kafunga” tinha tudo para não acontecer. Em 1933, defendendo a seleção fluminense, num amistoso, foi goleado por 11 X 1 pela seleção mineira. Mesmo assim os dirigentes gostaram de sua atuação e resolveram contratá-lo. E o tempo mostrou que não tiveram motivos para arrependimento.
Apesar de toda a afeição e dedicação que teve pelo Atlético e por Belo Horizonte, “Kafunga” não era mineiro. Nasceu em Niterói (RJ) no dia 7 de agosto de 1914 e faleceu no dia 17 de novembro de 1991, em Belo Horizonte. O apelido ele ganhou por causa do tamanho do nariz, que o fazia fungar constantemente. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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