O Íbis de Pernambuco já viu o seu status de “pior time do mundo” correr sério perigo. Já surgiram muitos candidatos. O Grêmio Atlético Sampaio, de Boa Vista, Roraima, ou simplesmente o GAS, como é mais conhecido foi o último time a assustar o rubro-negro pernambucano. Não foram poucos os críticos que chegaram a questionar o "título" do Íbis, dizendo que o GAS conseguia ser ainda pior. Em 2004 o time começou a afundar. Chegou ao fundo do poço em 2006, quando venceu um só jogo na temporada. E assim mesmo, sem jogar. Foi um W.O. sobre o Progresso, de Mucajaí, que não apareceu.
O GAS ficou sem vencer dentro de campo de 8 de maio de 2004, quando derrotou o São Raimundo, por 4 X 0 até 2007, quando venceu o Atlético Rio Negro Clube, por 4 X 3 e de virada. A história do clube até que é bonita. Em meados da década de 1960 chegaram a Roraima vários militares do Exército Brasileiro, vindos de diversos pontos do país para servirem em um dos quartéis de Boa Vista. Entre eles estava o cearense Agenor de Souza Almeida, o “seu Agenor”, que viria a fundar o GAS em 11 de junho de 1965. O nome foi uma homenagem ao seu conterrâneo General Sampaio.
O “leão” foi o mascote escolhido. O pobre animal, reverenciado como o “rei das selvas”, sinônimo de força e coragem não merecia tal “homenagem”. Os torcedores (?) apelidaram o time de “Leão do Norte” e “Leão Dourado”. O escudo tem fundo vermelho, no centro um leão em amarelo e bem em baixo o nome Sampaio, escrito em letras maiúsculas.
O clube aderiu ao profissionalismo na década de 1990. Em 1996 disputou pela primeira vez o Campeonato Roraimense de Futebol e sagrou-se vice-campeão, perdendo o título para o Baré. Foi um início promissor, tendo garantido vaga para a Série C do Campeonato Brasileiro de 1996. A campanha nacional foi terrível: perdeu todos os jogos, fez só quatro gols e abandonou a competição ainda na primeira fase.
Olhando bem, não é surpresa Roraima ter um time tão ruim. O campeonato de lá é uma verdadeira desgraça. Os outros times não são muito diferentes do GAS. E o público sabe disso. Adivinhem qual tem sido a média de público no campeonato, nos últimos anos? Não mais do que 50 pessoas nas rodadas duplas que são jogadas aos sábados à tarde. É a menor média do futebol brasileiro. Até na várzea de qualquer cidade, o público é maior.
Só um exemplo: no dia 22 de Julho de 1996, o jogo entre Progresso x Rio Negro pelo campeonato de Roraima teve apenas um pagante: o herói foi o funcionário do Ministério de Agricultura Abraão Pereira de Souza. A renda foi de R$ 5,00 e cada clube recebeu R$ 1,00.
O fundador do clube, “seu Agenor Sampaio” ainda é o presidente. A empregada doméstica de sua casa é que lava e passa o uniforme do time. Na Diretoria ele conta apenas com o genro e funcionário público, Jander Ramalho, uma espécie de “faz tudo”. Ele carrega os jogadores nos dias de jogos em sua caminhoneta “Pampa”. A maioria deles mora na periferia de Boa Vista. No elenco tem gente de tudo que é profissão, de pintor de parede a teólogo. Treino é coisa rara. E dinheiro, mais ainda. De vez em quando uma cesta básica, e fica por aí.
Já existiu um outro Grêmio Atlético Sampaio, mas no Acre. E não era ruim como o “xará” de Roraima. O Sampaio acreano, de Rio Branco foi fundado e dirigido pelo comando do exército local. Foi campeão acreano em 1967 e extinto pouco depois, em 1969. Treinava no campo da 4.a Companhia da Fronteira. O principal incentivador do GAS era o capitão Maia. Esse time deixou saudade, tanto que existe em Rio Branco uma rua que leva seu nome.
Mas o GAS de Roraima não está sozinho nessa briga para ver quem é ou foi o pior time do mundo. A lista é grande e incompleta, pois com certeza devem existir muitos outros candidatos por este mundo de Deus afora. Eis alguns.
O Estudantes, de Timbaúva (PE), foi o grande rival do Íbis no Estado. Enquanto o “pássaro preto” levava pancada na primeira divisão, o time timbauvense apanhava na segundona. Em 1995 teve um saldo negativo de 46 gols.
“Bonita” também foi a campanha do Expressinho (MA), que no campeonato de 1996 jogou 18 partidas e perdeu todas. Sofreu 67 gols e marcou apenas 3. O Vitória do Mar, também do Maranhão conheceu vitórias, só no nome. Dizem que tempos atrás o clube disputou com o Íbis o título de pior do mundo, mas nem isso conseguiu ganhar.
E do Cruzeiro de Arapiraca (AL), o que dizer? Em 1988 o time ficou conhecido como "assombroso". O técnico Eraldo Lessa era o administrador de cemitério e a torcida adversária não deixava por menos e chamava os jogadores de "coveiros", porque eles “enterravam” o time. O clube ganhou um único jogo naquela época, contra o São Domingos e num dia primeiro de abril. Vitória de “mentirinha”, diziam os gozadores de plantão.
Um outro Cruzeiro não fica atrás. É o Cruzeiro Esporte Clube, de Porto Velho (RO). A última vez que o time soube o que é uma vitória foi no dia 12 de abril de 2005, quando venceu o Pimentense, por 1 a 0, no seu estádio, o Aluízio Ferreira. Desde então, foram 18 jogos, com 15 derrotas, dois empates e mais uma vitória, mas no tapetão, contra o mesmo Pimentense. Dentre as derrotas acumuladas, o Cruzeiro sofreu uma goleada de 10 a 0 para o Ji-Paraná, no dia sete de maio de 2005. Dois jogos depois, o time melhorou e perdeu para o Genus por “apenas” 9 a 0. Nos 18 jogos disputados desde a última vitória, foram 56 gols sofridos, média de 3 gols por jogo e somente 10 gols marcados.
Outra proeza para ninguém botar defeito foi protagonizada pelo já extinto time do Bernardo, de São Bernardo do Campo (SP), que foi último colocado na 6ª divisão paulista, por seis anos consecutivos.
O mais novo aspirante ao título de pior do mundo não pode ser desconsiderado. É candidato fortíssimo. Trata-se do Esporte Clube Perilima, de Campina Grande (PB). O próprio nome do time é inacreditável. O dono, Pedro Ribeiro Lima, juntou o PE, de Pedro, o RI, de Ribeiro e o sobrenome LIMA e compôs a obra, PERILIMA.
O Perilima foi fundado em 8 de setembro de 1992, com o nome de Associação Desportiva Perilima e pertence a uma fábrica de “sordas”, uma mistura de bolachas de trigo e rapadura, típica da região Nordeste. Os jogadores são quase todos funcionários da empresa e recebem apenas um complemento de salário. O dono banca todas as despesas do clube, cerca de R$ 15 mil por campeonato. Sua única exigência é sempre ser escalado e só sair quando quiser. O que não é problema, pois além de jogador e capitão da equipe, é o técnico.
Pedro, que se diz viciado em futebol e que fica doente quando não joga, tem 1.62 metro de altura e pesa 80 quilos. Costuma jogar pelo menos o primeiro tempo, não marca ninguém e raramente toca na bola. O time não tem torcedores, mas conta com a simpatia de todos pelo seu caráter folclórico.
Em 2001 mudou o nome para Esporte Clube Perilima. Em 2003 voltou ao nome antigo de Associação Desportiva Pirilima. É conhecido como a “Águia de Campina Grande”. Vive num constante sobe e desce nos campeonatos da primeira e segunda divisões. A propósito, a segunda divisão paraibana é agora oficialmente denominada de “Troféu Chico Bala”. Entre os “craques” do time no ano passado figuravam nomes como “Chimba”, “Nego Pai”, “Fumaça” e “Foguinho”.
O ano passado a FIFA reconheceu seu Pedro como o mais velho jogador em atividade no futebol mundial (58 anos). O único gol que marcou na carreira foi no jogo em que perdeu por 5 X 1 para o Campinense, de Campina Grande, pelo campeonato paraibano, no dia 28 de março de 2007. O gol foi de pênalti, aos 35 minutos do segundo tempo. O “artilheiro” tinha dois sonhos, fazer um gol como profissional e encerrar a carreira aos 60 anos. Agora, só falta um.
No campeonato paraibano de 2007 o Perilima conseguiu 15 derrotas seguidas, sofreu 67 gols e marcou 7. Somando-se os dois jogos que perdeu na segunda divisão de 2006, um campeonato que teve apenas dois participantes - foi vice-campeão sem vencer – a marca de derrotas consecutivas em partidas oficiais sobe para 18 jogos, incluindo um jogo do estadual de 2005.
A última vitória do time das “sordas” foi em 26 de fevereiro de 2005, 1 x 0 sobre o Nacional de Cabedelo, outro time do mesmo DNA do Perilima. Foram 26 jogos oficiais sem vitória, e duas goleadas, 7 X 0 para o Campinense, a “Raposa do Nordeste” e 11 X 0 para o Treze, o “Galo da Borborema.” O único ponto conquistado no campeonato do ano passado foi no empate em 3 X 3 com o Esporte, de Patos, no estádio Amigão, em 14 de abril. Nesse jogo o “dono do time” desperdiçou um pênalti.
No exterior, perde-se a conta de quantos times ruins existem. A quantidade é enorme, por isso vou dar apenas um exemplo. O Deportivo Jalapa, da Nicarágua por incrível que pareça foi campeão nacional em 2001. E no ano seguinte foi disputar a Copa dos Campeões da Concacaf, em El Salvador. Confiram os resultados dos seus jogos: na estréia, derrota por 4 X 1. No segundo jogo, por 17 X 0. No terceiro, 19 X 0. Sofreu: 40 gols e marcou um. Ganhou o apelido de “Real Madrid às avessas”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário