O Internacional de Porto Alegre foi campeão mundial de clubes jogando com camisetas brancas. Venceu a Copa Dubai no início deste ano com camisas brancas. Virou um placar que lhe era desfavorável na Copa do Brasil, contra o Paraná, também vestindo branco. Foram os próprios jogadores que pediram o branco nessas partidas decisivas, acreditando que isso traria sorte. Será que a cor teve mesmo algo a ver nessas vitórias consideradas quase impossíveis? Só na cabeça dos jogadores. Esse é um pequeno exemplo que mostra como a superstição convive no dia-a-dia dos clubes de futebol. É um bom tema a ser explorado.
No artigo de hoje vou contar apenas alguns fatos que presenciei, durante os longos anos em que joguei futebol e fui dirigente de clubes amadores e profissionais, e também de futebol de salão (Futsal). Vi muita coisa que pode até parecer lenda, mas é a mais pura verdade. Em São Gabriel (RS), onde morei muitos anos teve um forte time de futebol nas décadas de 1950 e 1960, o Esporte Clube Cruzeiro. Seu treinador era o uruguaio Luiz Alberto Vives, já falecido, popularmente chamado de Dom Vives.
Quando os jogadores iam entrar em campo, ele passava um pouco de mel nas chuteiras de cada um. “Para dar sorte”, dizia. Anos depois, quando fui presidente da Sociedade Esportiva e Recreativa São Gabriel, o contratei para treinador e constatei na prática a doce receita. Dom Vives foi um personagem fantástico do futebol interiorano e oportunamente será tema de um dos meus artigos.
A S.E.R. São Gabriel sempre conviveu com a superstição, desde que o saudoso jornalista Domingos Rivas fundou o clube em 1º de maio de 1979. Perdi a conta de quantas vezes as camisetas freqüentaram os terreiros de umbanda, levadas pelo massagista Adroaldo, conhecido pai de santo da cidade. Por muitos anos uma imagem de Nossa Senhora acompanhou os jogadores em uma improvisada gruta num cantinho do vestiário, onde eram feitas orações e pedidos de proteção.
Em Pelotas fiz uma duradoura amizade com outra figura merecedora de um livro: Bento Peixoto Castelã, também já falecido. Foi jogador de futebol profissional nos três times de Pelotas (RS), Brasil, Pelotas e Farroupilha. Depois foi técnico de futebol de salão, tendo sido o comandante da equipe do Brasil, cinco vezes campeã gaúcha (1963, 1966, 1967, 1968 e 1969). Também quero resgatar a sua história em outra oportunidade.
Nos anos 60 o ginásio do Esporte Clube Cruzeiro era o principal de Pelotas e palco de memoráveis noitadas esportivas. O Brasil ia decidir o título da cidade contra o Paulista, um clube também cheio de dirigentes “malandros”, onde se destacava o saudoso Wilson Moreira. Bento Castelã e seu inseparável auxiliar, Antônio Freitas, igualmente personagem folclórico, ficaram sabendo que o adversário mandara fazer um trabalho de macumba, que estava no portão principal do ginásio, a espera do time rival. E o que fez Bento? Mandou que todos os jogadores pulassem um muro lateral e entrassem no ginásio pela porta dos fundos como forma de driblar o “despacho”.
Outra ocasião quando treinava o time profissional do Grêmio Atlético Farroupilha, Bento encarregou o auxiliar Antônio Freitas de montar um congá, em pleno vestiário. O Farroupilha passava por uma fase terrível e não ganhava de ninguém. No dia do jogo, não lembro o adversário, todos os jogadores e até os dirigentes, vestidos de branco tiveram de “bater cabeça” frente o altar, como manda o ritual umbandista. E parece que a coisa funcionou, porque o time venceu aquele e vários outros jogos, em memorável reação no campeonato estadual.
O futebol brasileiro sempre andou lado a lado com a superstição, como vou contar nos próximos artigos. Muitos clubes ficaram famosos por isso, mas nenhum se igualou até hoje ao Botafogo, do Rio de Janeiro, eterno campeão na matéria. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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