O futebol brasileiro está de luto. Morreu ontem, aos 84 anos, em sua casa no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, ao lado da esposa Flórida, com quem era casado há 54 anos e da filha, Paula, o ex-jogador de futebol e preparador físico, Paulo Amaral, que sofria de câncer. Ele foi o responsável por comandar os exercícios da seleção brasileira bicampeã mundial nas Copas de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile, além de ter sido jogador do Flamengo e do Botafogo. O sepultamento aconteceu ontem mesmo, às 17 horas, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.
O carioca Paulo Amaral, nascido em 18 de outubro de 1923, foi o primeiro especialista em preparação física da história da Seleção, assumindo funções que até então eram exercidas pelos próprios técnicos, como aconteceu com Flávio Costa, no Mundial de 1950, com Zezé Moreira, em 1954 na Suíça, e nos mundiais anteriores. Naquela época a preparação física não tinha a mesma importância de hoje. Era feita de forma simples, como se fosse um aquecimento.
Formado pela Escola de Educação Física do Rio de Janeiro, começou a carreira de preparador físico em 1953, no Botafogo. O atacante Pirilo, que tinha sido seu companheiro no Flamengo, assumiu como técnico e o convidou para cuidar da parte física do elenco alvinegro e dirigir o time de aspirantes onde alcançou a incrível invencibilidade de 52 vitórias em 52 jogos. Assim começou a trajetória vitoriosa do profissional.
Paulo Amaral foi considerado o mentor de uma revolução na preparação dos atletas no Brasil dos anos 60. Trabalhou, além do Botafogo e Seleção Brasileira, na Seleção Carioca, Fluminense (RJ), Vasco da Gama (RJ), Corinthians (SP), Clube do Remo (PA), Guarani (SP), Porto (POR), e Juventus e Genoa (ITA). Na época em que esteve no Vasco, introduziu o “interval training”, que até então só existia na Europa e em especial na Alemanha, o que se constituiu em um grande avanço na preparação física dos jogadores.
Como Preparador Físico ganhou os seguintes títulos: Campeão pela Seleção Brasileira nos Mundiais de 1958 e 1962; no Botafogo, Campeão Carioca em 1957, 1961 e 1963; no Fluminense, Campeão Carioca em 1969. Como técnico foi Campeão da Taça de Prata, em 1970, pelo Fluminense.
No Guarani, em 1977, Paulo Amaral foi o responsável pela primeira oportunidade do craque Careca no time de Campinas, escalando o jogador em um amistoso contra o Matsubara (PR), no estádio Brinco de Ouro.
Sua última aparição pública foi em 2006 quando foi homenageado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com a Comenda João Havelange. Na ocasião confessou que a maior alegria que teve na vida foi a Seleção Brasileira que lhe deu o orgulho de ostentar o título de bicampeão do mundo. Foi dele uma cena que entrou para a história do futebol, ao dar a volta olímpica depois do jogo final no Estádio Rasunda, em Estocolmo, carregando a bandeira da Suécia, “como retribuição ao carinho recebido do povo sueco”. O preparador físico também seria um dos convidados para os eventos comemorativos da entidade pelo cinqüentenário do título mundial da Seleção em 1958.
Com a morte de Paulo Amaral, o dentista Mário Trigo, 96 anos de idade, passou a ser o único integrante vivo da vitoriosa Comissão Técnica do Mundial de 1958.
O atacante da Seleção Brasileira da Copa do Mundo de 1962, Amarildo, foi um dos poucos presentes ao enterro do preparador físico e lamentou o ostracismo vivido por Paulo Amaral nos últimos anos e destacou sua importância para o futebol brasileiro. “Por tudo o que fez pelo Botafogo e pelo futebol brasileiro ele merecia uma homenagem mais marcante. Deu muito para o futebol e recebeu pouco. As pessoas têm que ser reconhecidas pelo que fazem. Uma homenagem no Maracanã seria o mínimo para que todos soubessem quem foi Paulo Amaral”, sugeriu o ex-jogador.
Como homenagem a Paulo Amaral, conto uma passagem descrita no livro “Nunca existiu um homem como Heleno”, de autoria do jornalista Marcos Eduardo Neves.
Em 1946 Paulo Amaral foi indicado para jogar no Botafogo. Antes de se tornar preparador físico já tinha um corpo atlético. Era muito forte. Atleta completo praticava boxe e levantava pesos. Jogando pelo Flamengo, no ano anterior, substituindo o titular Biguá, enfrentou a fúria do famoso e lendário Heleno de Freitas em uma partida do torneio municipal, disputada no estádio das Laranjeiras.
No segundo tempo, Heleno deu um passe perfeito, entre dois zagueiros, para Otávio. Na base da raça, Paulo Amaral conseguiu com a ponta da chuteira, por trás do ponta-de-lança, desviar a bola para escanteio. Heleno se virou para o companheiro e disse: “Porra, Sapo, até um merda desse tira a bola de você!”.
Paulo Amaral ouviu e retrucou: “Você não vai perder por esperar. Caia aqui perto para ver o que vai acontecer”. E Heleno não se aproximou mais da área adversária. Sorte do Flamengo, que conseguiu tranquilamente manter o resultado de 2 X 0 a seu favor.
Meses depois Paulo Amaral foi fazer teste no Botafogo. No primeiro treino marcou Heleno de Freitas e deu-lhe uma trombada bastante forte. Heleno, com a bola debaixo do braço partiu para cima de Paulo Amaral, dizendo: “Quer a bola, valentinho?” E Paulo Amaral não perdeu tempo, arrancou a bola dos braços de Heleno e a jogou em seu nariz. O sangue escorreu e o técnico Martim expulsou o agressor. Mesmo Assim, no outro dia Paulo Amaral foi contratado. Talvez porque não teve receio de enfrentar o temível e brigão Heleno de Freitas. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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