A Liga Deportiva Universitaria Quito (LDU), fundada em 7 de janeiro de 1930 precisou de 78 anos para vencer uma competição internacional importante como a Copa Libertadores da América. Já o Fluminense F.C., do Rio de Janeiro, derrotado na cobrança de pênaltis, foi fundado em 21 de julho de 1902, e apesar de seus 103 anos até agora não passou de um colecionador de títulos regionais – 30 campeonatos cariocas, uma Taça do Brasil (1970), o campeonato brasileiro de 1984 e uma Copa do Brasil (2007), que lhe garantiu pela segunda vez na história participar do maior torneio do continente.
Ao contrário do que aconteceu no Brasil, onde a torcida se dividiu no apoio ao Fluminense, no Equador houve uma união de todos os torcedores em torno de seu representante: "Li-Li-Li- Liga campeón", gritou a multidão que foi à base da Força Aérea Equatoriana, no norte de Quito, receber a delegação da LDU, na última quinta-feira (3). "Isto é a prova de que o Equador cresceu no futebol, foi uma vitória do país e não só da Liga de Quito", disse o atacante Agustín Delgado, em meio ao assédio dos torcedores.
O reencontro dos “heróis” da LDU com sua torcida se dará neste domingo (6), por ocasião do jogo contra o Emelec, pelo campeonato nacional do Equador, quando será dada a volta olímpica no gramado do Estádio Casa Blanca.
Na verdade a LDU deveria ter 90 anos e não 78. O clube surgiu em 1918, por iniciativa de professores e alunos da Universidade Central de Quito, com o nome de “Universitário”, mas não de forma oficial, e durante 12 anos disputou apenas jogos amistosos. Somente em 1930, quando dirigido pelo desportista Bolívar Leon, que contou com a ajuda do presidente do Equador, José María Velasco Ibarra, o “Universitário” conseguiu regularizar sua situação, mudou o nome para LDU e passou a disputar competições amadoras de nível nacional.
O primeiro título veio em 1932, campeão nacional amador, feito que se repetiria em 1952. A LDU voltou a vencer em 1954, 1959, 1960, 1961, 1966 e 1967, no campeonato amador da província de Pichincha, na região noroeste do país. O destaque do time era o atacante brasileiro José Gomes Nogueira, hoje empresário de jogadores de futebol, que teve uma passagem como técnico interino do Corinthians em 1957 e depois treinou a Seleção do Peru nos anos 60.
Outro brasileiro que defendeu a LDU foi Paulo Massa, que comandou a equipe na conquista do título nacional de 1998. Quando era técnico do El Nacional, também do Equador, ele foi protagonista de um episódio envolvendo uma emissora de televisão do Brasil. Num jogo entre Santos e sua equipe, um comentarista o confundiu com outro treinador, Paulo Matta, que ficou conhecido por ter protestado contra a arbitragem, abaixando a calça em um jogo do Itaperuna pelo campeonato carioca nos anos 90. O comentarista foi devidamente processado.
A filiação a Federación Ecuatoriana de Fútbol ocorreu somente ao final da década de 60, quando passou a disputar o Campeonato Nacional. O primeiro título na principal divisão foi conquistado em 1969, tendo ainda como principal peça o meia atacante brasileiro Gomes Nogueira, um dos maiores ídolos da história dos “Azucenas” ou “Los Albos”, como a LDU é carinhosamente chamada por seus torcedores.
Em 1972, depois de uma crise técnica o time foi rebaixado para a segunda divisão, onde ficou apenas uma temporada. Foi campeão invicto e no ano seguinte estava de volta a divisão principal, onde retomou o caminho das vitórias. Em 1974 e 1975, a equipe venceu o Campeonato Equatoriano e obteve pela terceira vez vaga na Copa Libertadores da América. Em 1976, quando chegou as semifinais, a LDU fez sua segunda melhor campanha na competição, ficando atrás, obviamente, da conquista desta semana.
Nos anos 80 a equipe não venceu nenhuma competição nacional, o que voltou a acontecer na década de 1990, quando ganhou três campeonatos do Equador, em 1990, 1998 e 1999. Em 1997 foi inaugurado o Estádio Casa Blanca, com capacidade para 55 mil espectadores e conhecido como “La Marvilla de Ponceano”.
Em 2000 nova visita a segunda divisão. E repetindo 1972, no ano seguinte voltou à elite. E em seguida novos títulos nacionais: em 2003, 2005 e 2007, se tornando o quarto maior vencedor do país com nove conquistas, ficando atrás de Barcelona (13), El Nacional (13) e Emelec (10).
Entre os principais jogadores que defenderam a LDU estão o argentino Roberto “El Pibe” Ortega, que também foi treinador, o brasileiro José Gomes Nogueira, o chileno Román Soto, o paraguaio José Maria Ocampo, o colombiano Leonel Montoya, e os equatorianos Cristian Mora, goleiro e os meias Alex Aguinaga e Edison Mendes. E, naturalmente os recentes campeões da América: José Cevallos – Campos - Calle e Araújo – Jofre Guerron (vendido ao Getafe da Espanha) – Vera – Urrutia - Bolaños – Salas – Agustín Delgado - Ambrosi - Manso - Willian Araújo – Bieler, o técnico Edgardo Bauza e os demais atletas que participaram do elenco vitorioso.
O futebol chegou ao Equador em 1899, através os irmãos, Juan Alfredo e Roberto Wright, que levaram a primeira bola ao país e fizeram uma demonstração do novo esporte no Club Deportivo Guayaquil. O primeiro jogo oficial no país aconteceu um ano depois, em 1900.
Em 1925, nasceu a federação equatoriana, que em seguida se filiou à Fifa, e surgiram os times mais populares do país, Barcelona e Emelec. A primeira liga organizada pela federação foi criada em 1957. A seleção nacional só começou a disputar jogos internacionais fora da América do Sul em 1970.
O primeiro campeonato equatoriano de futebol ocorreu em 1957 e o Club Sport Emelec foi o campeão. Participam da primeira divisão dez clubes, que jogam entre si uma primeira etapa em turno e returno, classificando os seis melhores para uma fase final, também em turno e returno. A maior goleada do futebol equatoriano em todos os tempos foi obra da LDU, ao vencer o América de Ambato por 11 x 0, quando o atacante uruguaio Francisco Bertocchi, fez oito gols, outro recorde no país.
A evolução do futebol no Equador foi lenta, o que até certo ponto se justifica porque não era o esporte mais difundido no país. Essa situação começou a mudar com a chegada do técnico iugoslavo Dussan Draskovic, que treinou a seleção nacional entre 1988 e 1994. Nessa época surgiram grandes jogadores como Alex Aguinaga e Hermán Darío “El Bolillo” Gómez, que posteriormente ajudaram a Seleção a conquistar vaga para a primeira participação equatoriana em uma Copa do Mundo, 2002, no Japão/Coréia do Sul. Foi uma presença fraca, sendo eliminada na primeira fase. O time somou uma vitória contra a Croácia e duas derrotas diante de Itália e México. Em 2006, disputou o Mundial da Alemanha, sendo eliminada pela Inglaterra nas oitavas-de-final.
Agora, com a LDU, o futebol do Equador vai conhecer uma nova experiência internacional: em dezembro deste ano vai disputar o Mundial de Clubes, no Japão, contra Manchester United (Inglaterra), Pachuca (México) e Waitakere United (Nova Zelândia). Os outros três participantes - os campeões da África, da Ásia e do Japão - serão conhecidos até novembro. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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