Os adversários não desistiram de tirar o Vasco das disputas oficiais. Como isso não era possível pelo regulamento da Liga Metropolitana, resolveram criar uma outra entidade para dirigir o futebol carioca, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea). Todos os chamados “grandes” foram aceitos, menos o Vasco e por um argumento muito frágil: os jogadores cruzmaltinos teriam profissões duvidosas e o seu estádio não apresentava as melhores condições para sediar jogos.
Sobre o campo da Rua Morais e Silva, até que as reclamações tinham fundamento, pois realmente não oferecia uma boa estrutura. Mas o problema principal, era outro. Para aceitar o Vasco como filiado a Amea queria que o clube excluísse 12 de seus jogadores, todos negros e operários. Naturalmente, que o Vasco não aceitou. O presidente do clube, José Augusto Prestes enviou uma carta histórica ao presidente da Amea, Arnaldo Guinle, nos seguintes termos:
"Estamos certos de que Vossa Excelência será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à Amea, alguns dos que lutaram para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923". E prosseguiu defendendo seus atletas. "São 12 jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de suas carreiras. Um ato público que os maculasse nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glórias". E finalizou, decidindo não entrar na nova entidade: "Nestes termos, sentimos ter de comunicar a Vossa Excelência que desistimos de fazer parte da Amea".
Fora da disputa com os “grandes”, nada mais restou ao Vasco, senão disputar com outros 21 times de menor expressão, o campeonato da então desvalorizada Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. O clube era vítima do racismo e da falta de um estádio em melhores condições. Contra adversários fracos, os cruzmaltinos alcançaram dezesseis vitórias, sem nenhum empate ou derrota. No triangular final uma goleada de 5 X 0 sobre o Andaraí e uma vitória simples frente o Bonsucesso, garantiram o bicampeonato.
O Vasco ficou fora da Amea, por apenas um ano. Em 1925, por intervenção do dirigente botafoguense Carlito Rocha, que foi o juiz da polêmica partida contra o Flamengo, em 1923, o clube da Cruz de Malta foi aceito na entidade maior do futebol carioca. Para isso, teve que mandar seus jogos no campo do Andaraí, onde é hoje o Shopping Iguatemi. O episódio serviu para motivar os dirigentes vascaínos a construir um moderno estádio para a prática do futebol.
Foi lançada uma campanha para arrecadar fundos entre os associados e simpatizantes. Como o time se saiu muito bem no certame de 1925, sendo terceiro colocado com 13 vitórias, três empates e duas derrotas, e em 1926, melhor ainda, vice-campeão, com 14 vitórias em 18 jogos, não foi difícil conseguir apoio para o ambicioso projeto do estádio.
Em pouco tempo foram arrecadados Cr$ 690.895.00, dinheiro suficiente para a compra de uma área de 55.445 metros quadrados, no bairro de São Cristóvão, cuja escritura de compra foi lavrada no cartório do 18º Ofício, dia 28 de março de 1925. O segundo passo parecia mais difícil, buscar recursos na ordem de 2 mil contos de réis para construir o estádio. Os torcedores responderam positivamente e em pouco mais de um ano as obras tiveram início.
O Vasco ainda teve que enfrentar um sério problema: o presidente da República, Washington Luís, não autorizou a importação de cimento belga, que fora utilizado na construção do Jockey Club, mesmo sabendo que o Brasil ainda não dispunha do produto em quantidade suficiente para grandes obras. E aí a criatividade falou mais alto, os responsáveis pela obra encontraram a solução do problema com a mistura de cimento, areia e pedra britada.
Por isso, São Januário acabou se tornando mais do que um estádio, mas também um marco na história da construção civil do país. Dez meses depois do lançamento da pedra fundamental, em 21 de abril de 1927 era festivamente inaugurado o Estádio de São Januário, com a presença do Presidente da República, Washington Luís, o mesmo que antes havia dificultado a construção. Foi o comandante Sarmento de Beires, que acabara de cruzar o Atlântico no avião chamado Argos, percorrendo pela primeira vez o trajeto Lisboa - Rio, quem cortou a fita simbólica, dando por inaugurado o estádio de São Januário.
O jogo inaugural foi entre Vasco da Gama X Santos, com vitória dos visitantes, na época a maior potência do futebol paulista, por 5 X 3. Naquele dia o clube dos portugueses, negros e operários começava uma nova trajetória dentro do futebol brasileiro. O Vasco da Gama era dono do maior estádio do país, com capacidade para 40 mil torcedores, condição que durou 14 anos, até que em 1941, foi inaugurado o Pacaembu, em São Paulo.
São Januário foi palco de históricos acontecimentos. Em março de 1928, quando do jogo contra o Wanders, do Uruguai, na inauguração dos refletores e de uma arquibancada, o Vasco venceu por 1x0, com um gol feito na cobrança de córner através do jogador Santana, entrando direto no gol uruguaio. Não há notícia anterior de um gol olímpico no Brasil. A jogada aconteceu pela primeira vez num confronto entre Uruguai e Argentina.
O Complexo Esportivo-social de São Januário, além do estádio propriamente dito, conta com: Parque Aquático, inaugurado em 30 de agosto de 1953, composto de quatro piscinas, uma olímpica, outra para saltos ornamentais e duas pequenas, para o aquecimento dos atletas. Vestiários, uma estação para tratamento de água e uma sala de musculação. O Parque Aquático do Vasco da Gama sediou em 1998 uma etapa da Copa do Mundo de Natação, a primeira disputada no Brasil, como parte das comemorações do Centenário do clube.
Ginásio Poliesportivo, inaugurado em 23 de setembro de 1956, com capacidade para 2,5 mil torcedores. Quadra oficial para as partidas das equipes de futsal, basquete e handebol do clube. Capela de Nossa Senhora das Vitórias, Padroeira do Clube, inaugurada em 15 de agosto de 1955. Nela são celebradas Missas, batizados e casamentos. Salão de Troféus, lugar onde se encontram todas as glórias e conquistas do Vasco da Gama. São cerca de seis mil troféus, taças, medalhas, bronzes, copas, faixas, placas, flâmulas, diplomas, fotos e relíquias. Além de quadras poliesportivas, sede administrativa, restaurante, loja de materiais do clube e hotel-concentração para atletas;
O patrimônio do Vasco da Gama vai muito além de São Januário. O clube é dono da Sede Náutica da Lagoa, inaugurada em 18 de agosto de 1950. Foi construída devido à necessidade do clube de ter uma sede para abrigar os esportes náuticos quando as regatas passaram a ser disputadas na Lagoa. Além do salão de festas, usado para as reuniões do conselho deliberativo do clube, a sede é também garagem dos barcos usados nos treinos e competições de remo. Conta com três pavimentos, um subsolo e um terraço, carpintaria para construção e conservação de barcos, garagem de barcos, sala de musculação, alojamento para 40 atletas e a administração. Situa-se às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, no bairro da Lagoa. Possui em suas paredes externas, uma composição de azulejos de Burle Marx.
Calabouço: antiga sede náutica do clube, hoje destinada ao lazer dos associados, que conta com piscina, duas saunas, quadras esportivas, área de recreação infantil, salão de festas, departamento médico, administração e um restaurante. Situa-se ás margens da Baía da Guanabara na ponta do Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, próximo ao Aeroporto Santos Dumont e ao Museu de Arte Moderna.
Centro de Treinamento Almirante Heleno Nunes. Terreno situado às margens da Rodovia Washington Luís, onde o clube projeta e inicia a construção de seu centro de treinamento, que terá diversos campos de futebol, dois ginásios e um hotel-concentração. Parte do terreno é área de preservação ambiental, devido às suas características naturais. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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