O futebol só chegou ao Vasco em 1915. O novo esporte, trazido da Inglaterra começou de maneira tímida nos campos cariocas. Em 1913, um combinado português realizou alguns jogos amistosos no Rio a convite do Botafogo. Mesmo não tendo ido bem, o time visitante empolgou a colônia lusa que, em pouco tempo, formou alguns clubes para a prática da modalidade esportiva: fora, o “Centro Esportivo Português”, o “Lusitano” e o “Lusitânia”, que foi o único que conseguiu se manter, porque só aceitava sócios portugueses.
Como o Vasco estava decidido a formar um time de futebol, procurou a direção do Lusitânia, propondo uma fusão, pois a Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA), que promovia o esporte no Rio tinha restrições de nacionalidade, o que impedia a participação de clubes sem jogadores brasileiros em suas competições. E o Vasco afirmava a união de irmãos de todas as raças. Só por isso o Lusitânia cedeu e aceitou a fusão.
O futebol no Vasco foi oficializado no dia 26 de novembro de 1915. O primeiro jogo do novo time de futebol aconteceu pouco mais de cinco meses após a fundação, no dia 3 de maio de 1916, contra o Paladino Futebol Clube, valendo pela Terceira Divisão carioca. O Vasco usou camisas pretas com a Cruz da Ordem de Cristo, equivocadamente chamada de Cruz de Malta, à altura do coração. O resultado não foi nada animador, uma derrota acachapante de 10 X 1. O gol de honra e primeiro da história do Vasco, foi marcado por Adão Antônio Brandão, um português que viera para o Rio de castigo, pois o pai não perdoava sua falta de gosto pelos estudos.
Adão foi um atleta polivalente, que marcou época no Vasco, pois além do futebol também se destacava em outros esportes, como atletismo, remo, natação e pólo aquático. Jogou futebol até 1933, quando o esporte se profissionalizou no então Distrito Federal.
A primeira vitória veio no dia 29 de outubro de 1916, quando o Vasco venceu a Associação Atlética River São Bento por 2 X 1, gols de Alberto Costa Júnior e Cândido Almeida. O jogo foi realizado no campo do São Cristóvão, na Rua Figueira de Mello, válido para a Terceira Divisão da LMSA. Mesmo com a vitória, o Vasco foi lanterna do campeonato.
Em 1917, com a reformulação da LMSA que mudou a denominação para Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMTD), foi aumentado o número de equipes em cada Divisão. Com isso, os seis clubes da Terceira Divisão, inclusive o Vasco, foram promovidos para a Segunda Divisão. Naquele ano o Catete foi campeão, mas o time da Cruz de Malta começou a mostrar força. Ganhou nove jogos, num total de 16 e alcançou a quarta colocação. Em 1918, o Americano, time da capital ganhou a taça, e o Vasco chegou ainda mais perto, sendo terceiro colocado.
Em 1919, houve um retrocesso. Mesmo com vitórias, o time foi quinto classificado e o Palmeiras campeão. Em 1920, quarto lugar. Em 1921, a Liga reordenou as Divisões, separando a Primeira Divisão pelas categorias A e B. O Vasco foi para a B e chegou ao vice-campeonato, apenas dois pontos atrás do campeão, o Vila Isabel. Finalmente, em 1922 o primeiro título. O Vasco foi campeão da Série B. No jogo final, dia 17 de julho, no campo da Rua Morais e Silva, o Carioca foi massacrado, num incrível 8 X 3, e levantou a Taça Constantino, primeira na história do futebol do clube.
O time vascaíno, treinado pelo uruguaio Ramón Platero, jogou com Nélson - Mingote e Leitão – Nolasco - Bráulio e Artur – Pascoal - Cardoso Pires – Torterolli - Claudionor e Negrito. O artilheiro foi Claudionor, que marcou quatro gols, seguido de Cardoso Pires, com dois. Pascoal e Torterolli fizeram um cada.
Mas para ganhar a vaga na Primeira Divisão A, o Vasco teria primeiro que jogar contra o São Cristóvão, último colocado da Divisão Principal em 1922. Como houve empate sem gols, o Vasco ganhou a almejada promoção e o São Cristóvão não foi rebaixado.
No ano seguinte, o Vasco entrou na disputa pelo título principal do futebol da cidade. Seus adversários eram Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, times considerados grandes, já naquela época e que eram formados exclusivamente por jovens da elite carioca. Ao contrário, o Vasco tinha muitos jogadores negros e operários, todos egressos dos terrenos baldios dos subúrbios cariocas. O técnico Ramón Platero submetia os jogadores a um ritmo alucinante de treinos, fazia-os correr diariamente do campo do Vasco, então na Rua Morais e Silva, na Quinta da Boa Vista, até a Praça Barão de Drumond, em Vila Isabel. Os demais grandes, não acreditavam na força do time do Vasco.
O preparo físico vascaíno foi decisivo. Depois de um empate de 1 X 1, no primeiro jogo do campeonato, contra o Andaraí, em General Severiano, o Vasco esmagou todos os adversários que não agüentavam o ritmo alucinante imposto no segundo tempo. Todas as 11 vitórias no campeonato foram alcançadas na etapa final de jogo.
A primeira vez na história em que Vasco e Flamengo se enfrentaram, o onze cruzmaltino venceu por 3 X 1. Foi no domingo 8 de julho de 1923, no campo do Fluminense, na então Rua Guanabara. No segundo jogo, a Liga prevendo uma grande arrecadação, colocou ingressos demais à venda. Mais de 35 mil pessoas pagaram para ver o clássico. Os jornais da época contaram que muitos torcedores pularam a grade que separava o campo para assistir ao jogo da pista de atletismo. Torcedores de todos os clubes cariocas se uniram contra os temíveis “camisas pretas”.
O Flamengo foi o vencedor por 3 X 2. O jogo deixou uma polêmica histórica. Os cruzmaltinos afirmam, até hoje, ter havido um terceiro gol, mal anulado pelo árbitro. Mas não há qualquer registro desse lance na imprensa carioca.
Depois do Flamengo o Vasco enfrentou América, Fluminense e São Cristóvão. Rubros e tricolores caíram na mesma tática das demais vitórias vascaínas e foram liquidados, no segundo tempo, pelo suficiente placar de 2 a 1. Uma vitória de 3 x 2 sobre o São Cristóvão, na penúltima rodada, deu o título por antecipação aos cruzmaltinos. O time campeão formou com Nélson - Leitão e Mingote – Nicolino - Claudionor e Artur – Pascoal – Torterolli – Arlindo - Cecy e Negrito.
Foi nesse campeonato que os torcedores vascaínos instituíram a gratificação aos seus jogadores, o que mais tarde viria a ser chamado de “bicho”. Nos mercados de secos e molhados da Saúde e da Rua do Russel, os portugueses tinham o hábito de apostar nas vitórias do Vasco. Como o time quase sempre vencia, resolveram dividir os lucros com os jogadores.
Como era proibido que estes recebessem dinheiro, já que eram amadores foi criada uma tabela que rendia uma premiação de animal, de acordo com a importância do adversário. O América, campeão em 1922, valia uma vaca com quatro pernas. O Flamengo, bicampeão em 1920/1921, uma vaca com três pernas. O Fluminense, duas ovelhas e um porco e o Botafogo e outros times também rendiam algum animal, sempre de galo para cima.
Como o Vasco estava sendo difícil de bater dentro de campo, era considerado o inimigo número 1 das demais torcidas cariocas. Por isso, os dirigentes dos clubes rivais resolveram tirar o clube das disputas, investigando as posições profissionais e sociais dos jogadores vascaínos, pois o futebol ainda era amador e ninguém podia receber pela prática do esporte. Mas o Vasco soube reagir e todos os seus atletas foram registrados como empregados de estabelecimentos comerciais de portugueses. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário