Para esta parte final da bonita história do C.R. Vasco da Gama, juntei alguns acontecimentos e curiosidades bastante interessantes, que marcaram estes 110 anos de vida do “Gigante da Colina”.
Quem assiste jogos do Vasco da Gama, em São Januário, ou qualquer outro estádio, com certeza já ouviu os torcedores cantando o refrão “Casaca, casaca, casa-casa-casaca! A turma é boa, é mesmo da fuzarca! Vasco! Vasco! Vasco!”. O canto surgiu por inspiração de um negociante de nome João de Lucas, torcedor apaixonado, que foi também o fundador da Torcida Organizada do Vasco (TOV). Ele comemorava as vitórias vascaínas em reuniões festivas junto a torcedores das mais diversas classes sociais. Entre eles, conhecidos membros da elite carioca, que exibiam impecáveis casacas. Em homenagem a eles, João criou aquilo que viria com o tempo se tornar um verdadeiro grito de guerra do clube.
O ano de 1931 reservou algumas alegrias históricas aos torcedores do Vasco. No campeonato carioca, o time impôs a maior goleada da história do clássico contra o Flamengo, um acachapante 7 X 0. Mas o fato mais importante foi a vitoriosa excursão à Europa, mais precisamente a Portugal e Espanha. O clube da Cruz de Malta se tornou o segundo clube brasileiro e o primeiro carioca a jogar no continente europeu. O primeiro, foi o Paulistano, de São Paulo.
Em 12 partidas disputadas, o Vasco venceu oito, empatou uma e perdeu três. Marcou 45 gols e sofreu apenas 18. A viagem abriu as portas para a contratação dos jogadores vascaínos, Fausto e Jaguaré pelo Barcelona da Espanha.
Em 1935, a rivalidade Vasco e Flamengo se acirrou. Um desentendimento ocorrido em disputas de remo, fez com que o Vasco abandonasse a Liga e junto com o Botafogo criasse a Federação Metropolitana de Desportos (FMD), que se filiou à Confederação Brasileira de Desportos (CBD). A briga durou dois anos. Em 1937 veio a reconciliação, graças à iniciativa dos presidentes do Vasco e do América, respectivamente Pedro Pereira Novaes e Pedro Magalhães Corrêa.
No dia 29 de julho uma nova entidade foi fundada, a Liga de Football do Rio de Janeiro, que uniu todos os médios e grandes clubes. O acontecimento não poderia passar em branco, por isso Vasco e América realizaram um jogo comemorativo no Estádio de São Januário, no dia 31 do mesmo mês, perante um público recorde. A partir daí o confronto entre os dois clubes passou a ser chamado de “Clássico da Paz”.
Em 1945 o Vasco contratou alguns jogadores que fizeram história no clube: Augusto, zagueiro do São Cristóvão, Eli, médio vindo do Canto do Rio, Danilo, centro-médio oriundo do América, Ademir, destaque do Sport Recife e Lelé, Isaías e Jair, os “Três Patetas”, do Madureira. O técnico era o uruguaio Ondino Vieira, que antes dirigiu a equipe argentina do River Plate. E inspirado no uniforme de seu antigo clube, pediu a direção do Vasco que acrescentasse uma faixa diagonal branca nas camisas pretas, até então usadas. E, para os dias mais quentes do verão carioca, um modelo branco, que absorvesse menos calor, com a faixa preta. Terminava assim a era dos “camisas pretas” e começava a trajetória do “Expresso da Vitória”, que virou o livro “O Expresso da Vitória, uma história do fabuloso Club de Regatas Vasco da Gama”, de autoria de Abraham B. Bohadana.
A denominação “Expresso da Vitória” surgiu num programa esportivo e musical da Rádio Nacional, que contou com a participação de Lamartine Babo, entre outros. Lá pelas tantas, um cantor, ao se apresentar, disse que dedicaria a música ao Vasco, o “Expresso da Vitória”, um time que atropelava os adversários em campo.
O ataque vascaíno era espetacular: Djalma, Maneca, Friaça (Dimas), Lelé (Ismael) e Chico. O treinador era Flávio Costa, tricampeão carioca (1942, 1943 e 1944) pelo Flamengo. No Estadual, um passeio. Foram marcados 68 gols em 20 jogos. No primeiro turno desse campeonato, o Vasco ganhou do Canto do Rio por 14 X 1, até hoje a maior goleada da fase profissional do futebol carioca. No jogo mais difícil, contra o Botafogo de Heleno de Freitas, um empate sem gols garantiu o título ao Vasco. O “Expresso” terminou o campeonato invicto, com sete pontos à frente do alvinegro.
O ano de 1948 foi muito especial, pois o Vasco, na condição de campeão do Distrito Federal em 1947, foi convidado pelo Colo Colo, do Chile para participar do Torneio dos Campeões Sul-Americanos, em Santiago, que teve a participação de grandes potências do futebol mundial, como o River Plate de Di Stéfano. Os brasileiros não tomaram conhecimento dos adversários e foram campeões invictos. Um dos destaques na conquista foi a goleada de 4 X 0 sobre o temido Nacional, do Uruguai, do artilheiro Atílio Garcia. Esse foi o primeiro título internacional do futebol brasileiro, seja de clube ou seleções.
Em 1949, com a contratação do atacante Heleno de Freitas, o Vasco passou por cima de seus oponentes, com goleadas históricas. Foram 84 gols em apenas 20 jogos, e mais um título invicto, ainda sob o comando de Flávio Costa. A supremacia vascaína sobre os demais clubes era tão grande, que em 1950 a seleção titular brasileira, que perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, contava com cinco craques cruzmaltinos: Barbosa, Augusto, Danilo, Chico e o artilheiro da Copa do Mundo, o grande ídolo Ademir Marques de Menezes, o “Queixada”.
Em 1953, veio a renovação do elenco, surgindo valores como Vavá, Bellini, Sabará e Pinga. Até 1957 o Vasco ainda conquistou muitos títulos importantes: dois estaduais (1956 e 1958), o Torneio Rio-São Paulo (1958), a Pequena Copa do Mundo (Venezuela-1957), quando enfrentou clubes como o Real Madrid, Roma e Porto. No mesmo ano venceu o Real Madrid por 4 X 3, na final do Torneio de Paris e também o Barcelona por 7 X 2, em pleno Estádio Camp Nou.
Em 1958, quando da primeira conquista mundial para o Brasil, o Vasco cedeu a seleção os jogadores Bellini, Orlando e Vavá. A honra de levantar a “Taça” pela primeira vez, coube ao zagueiro e capitão do time, o vascaíno Hilderaldo Bellini, que ergueu com as duas mãos e sobre a cabeça, a “Taça Jules Rimet”, num gesto que se tornou famoso e acabou sendo copiado por todos os capitães de seleções campeãs do mundo.
Depois de 1958, o Vasco só viria a conquistar mais um título importante em 1966, o Torneio Rio-São Paulo, dividido com outros clubes. Os anos 60 marcaram uma profunda crise no clube que só acabaria em 1969. Nos anos 70 o time começou a reagir, com o título estadual de 1970 e o surgimento do maior ídolo da história do clube, Roberto Dinamite. Nessa época o Vasco alcançou brilhantes conquistas, como o Campeonato Brasileiro de 1974 e o estadual de 1977.
Durante a década de 80 o Vasco ganhou três títulos estaduais e o bicampeonato brasileiro. Em 1989, montou um time que ficou conhecido como “SeleVasco”, com destaque para Bebeto, contratado junto ao rival Flamengo. O Vasco foi campeão derrotando o São Paulo em pleno Morumbi, por 1 X 0. Os anos 90 marcaram a despedida de Roberto Dinamite em 1993. Em 1992, 1993 e 1994, a conquista do tricampeonato estadual, e em 1997, o tricampeonato brasileiro.
E veio o ano de 1998, e com ele o centenário do Clube e uma homenagem da Escola de Samba Unidos da Tijuca, no Carnaval carioca. O samba-enredo se imortalizou, e até hoje é cantado pelos torcedores do Vasco em dias de jogos. A conquista da Copa Libertadores da América aconteceu apenas cinco dias após o aniversário. Pena que a festa não foi completa, pois o time perdeu o Mundial Interclubes, para o Real Madrid, da Espanha.
No ano seguinte ao centenário, o Vasco conquistou o Torneio Rio-São Paulo e em 2000, o tetracampeonato brasileiro e a Copa Mercosul. Os anos seguintes foram de poucas alegrias para a torcida, com exceção de 2003, quando venceu seu 22° campeonato estadual. Desde então, o Vasco amarga um longo jejum de títulos.
Confira as principais conquistas do Vasco ao longo da história: campeão estadual (1923, 1924, 1929, 1934, 1935, 1945, 1947, 1949, 1950, 1952, 1956, 1958, 1970, 1977, 1982, 1987, 1988, 1989, 1992, 1993, 1994 e 2003); Campeão Sul-Americano (1948); Campeão do Troféu Teresa Herrera (1957); Campeão do Torneio Rio-São Paulo (1958, 1966 e 1999); Campeão Brasileiro (1974, 1997 e 2000); Campeão da Copa Mercosul (2000); Campeão da Taça Libertadores da América (1998) e Campeão da Copa João Havelange (2000), com o mesmo valor de Campeão Brasileiro. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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