Não foi fácil implantar o futebol em terras sergipanas. A exemplo do que aconteceu em outros Estados, o novo esporte sofreu com o preconceito que imperava naqueles distantes anos. Quem praticava o futebol era mal visto e logo chamado de vagabundo. A primeira exibição pública de futebol, em Sergipe, remonta ao dia 7 de setembro de 1907 e aconteceu por iniciativa do major Crispim Ferreira, do 26º Batalhão de Infantaria, sediado em Aracaju. Soldados e recrutas daquela guarnição militar se reuniram num campo improvisado na Praça Valadão, que ficava defronte o Quartel e jogaram uma partida entre si. Ao que se sabe cada equipe tinha oito jogadores e o juiz foi o jovem Jaime Azevedo Villas Boas, que residia em Salvador e conhecia as regras. Ele arbitrou o jogo sozinho, não contando com o auxílio de bandeirinhas. O resultado foi um empate de 0 X 0.
Em 1909, Mário Lins de Carvalho, um jovem de 17 anos, natural da cidade de Lagarto e que morava em Salvador (BA), mudou-se para Aracaju, levando consigo a firme idéia de fundar um clube voltado para a prática do futebol. Contando com o auxílio do amigo Carlos Baptista Bittencourt foi realizada uma reunião na casa deste, na rua de Maruim, quando foi fundado o Sport Clube Lux. Como o nome não agradou, em seguida mudou para Club de Football Sergipano.
Na reunião também foram aprovadas o vermelho e branco como cores oficiais e para sede improvisada a casa de um dos fundadores, João Rocha, na rua Laranjeiras, 123. Os treinos eram realizados na Praça do Palácio, atual Fausto Cardoso. Depois do Sergipano, vários clubes de futebol começaram a surgir nos arredores de Aracaju. Tudo era improvisado, afora os campos de jogo. As chuteiras eram botinas adaptadas pelos sapateiros e as bolas, quando não podiam ser compradas em Salvador eram feitas pelos sapateiros locais. E quem não tinha dinheiro jogava com bolas de meias e pés descalços.
O Club Sportivo Sergipe é o segundo clube mais antigo do Estado, fundado em 17 de outubro de 1907. O Cotinguiba Sport Club nasceu uma semana antes, em 10 de outubro. Nos primeiros tempos os dois clubes se dedicavam exclusivamente aos esportes náuticos. Só forami aderir ao futebol em meados de 1916, e assim mesmo limitado aos seus sócios, em animados treinos realizados pelos "Team Green" e "Team Black" num campo improvisado da Praça Pinheiro Machado. Somente no final do ano é que oficialmente, os dois clubes resolveram adotar o novo esporte, graças aos esforços do capitão da Marinha, Aminthas José Jorge, um apaixonado pelo futebol.
Também foi graças ao prestígio político do almirante, que o prefeito Alexandre Freire construiu o campo de futebol da Praça Pinheiro Machado. As arquibancadas ficavam sempre lotadas às tardes de domingos, com uma forte presença de senhoras e senhoritas da sociedade local, derrubando de uma vez por todas os preconceitos daqueles que consideravam o futebol um esporte vulgar.
O Sergipe é o único clube que participou de todos os campeonatos do Estado. Também foi o primeiro a disputar jogos internacionais, tendo enfrentado equipes de porte como a Seleção de Novos da Argentina, Seleção de Ghana e clubes da Europa e America do Sul. Foi o primeiro clube do Estado a participar do Campeonato Nacional, em 1972, quando ficou na 26ª colocação. É o maior colecionador de títulos estaduais e o único hexacampeão. Foi o Sergipe o responsável por uma das maiores goleadas acontecidas no Estado: em 1996 goleou o Propriá pelo placar de 14 x 0.
Em outubro de 1916, quando o futebol foi adotado por Sergipe e Cotinguiba, os sócios jogadores desses dois clubes, formaram a “Seleção de Aracaju, derrotando o Sergipe F.C. de Própria por 4 x 0, no primeiro jogo de futebol organizado no Estado e conquistaram a “Taça Ao Preço Fixo”, o primeiro troféu da história do futebol sergipano. Isso criou um problema: a qual dos dois clubes pertenceria o histórico troféu?
Para resolver a situação, em dezembro daquele mesmo ano, Sergipe e Cotinguiba se separaram e um jogo foi marcado para decidir quem ficaria com o troféu. O Sergipe venceu por 3 X 2, com o jogador Alfredo Roque, um mulato carioca que trabalhava como contínuo no Banco do Brasil tendo marcado dois gols. No primeiro jogo interestadual disputado em Sergipe, em 1917, Roque foi o autor do gol da Vitória de 1 x 0 da Seleção de Aracaju sobre o S.C. Republica, campeão baiano. No final de 1921, Roque retornou ao Rio de Janeiro.
Em 1917 surgiu outro clube organizado; o Industrial, pertencente à Fabrica Sergipe Industrial do bairro da zona norte. No primeiro campeonato oficial, disputado em 1918, organizado pela Liga Desportiva Sergipana, quatro equipes participaram: Cotinguiba, 41° Batalhão F.C., Sergipe e Industrial. Industrial e Cotinguiba se reforçaram com jogadores vindos da Bahia, entre eles, o centro-avante Conceição, que foi o artilheiro do campeonato daquele ano e dois anos depois, retornou ao futebol da “Boa Terra”. O Cotinguiba foi campeão ao derrotar o Sergipe por 2 x 0 no jogo final.
No ano seguinte, 1919, o campeonato não foi realizado. Justamente quando se esperava que fosse o mais espetacular, rebentou uma crise inesperada. Devido ao grande número de jogadores vindos de Salvador, a LDS regulamentou o assunto, fixando um prazo mínimo de permanência dos baianos em Aracaju. O Industrial, que tinha 90% de baianos em seu grupo protestou e, da acirrada “briga administrativa”, resultou a sua desfiliação da LDS.Com dois clubes apenas, Sergipe e Cotinguiba não houve campeonato naquele ano.
Em 1920 o campeonato recomeçou e os jogos eram disputados no Estádio Adolpho Rolemberg, considerado na época o melhor e mais moderno de todo o Nordeste. Pela euforia do acontecimento a Liga perdoou o Industrial, que voltou às lides futebolísticas. Mesmo com apenas três clubes filiados, organizou-se o primeiro campeonato no novo estádio.Tudo parecia bem quando outra crise estourou: devido a uma punição sofrida por um jogador de seu segundo quadro, o Sergipe se indispôs com a Liga e abandonou o campeonato principal ainda no 1º turno. O título então teve de ser decidido entre Cotinguiba e Industrial.
Os campeonatos de 1921 e 1922 transcorreram normalmente, principalmente o “campeonato do centenário”, que contou com a participação de três novos clubes Esperança, Aracaju e Associação Desportiva Brasil, além de Industrial, Cotinguiba e Sergipe. Mas, na decisão do título de 1923, no início de 1924, outra crise estourou no futebol sergipano, desta vez com graves conseqüências.
Por causa de uma penalidade máxima assinalada pelo juiz baiano Oscar Coelho, contra o Industrial, quando o jogo estava em 1 x 1 o “tempo fechou”. Os atletas do clube proletário se insurgiram contra o juiz, provocando um enorme tumulto que culminou com a retirada de campo do alvinegro. No dia seguinte, o patrono do clube, o industrial Teles Ferraz, que presenciara o acontecimento, convocou uma Assembléia Geral, decidindo pela extinção da agremiação operária.
O certame de 1924 foi um fracasso. Com o desaparecimento do Industrial, uma espécie de Confiança daquela época, desencadeou um desinteresse geral, culminando com o afastamento do Esperança do bairro Santo Antônio. O público se afastou do Adolfo Rolemberg, que permaneceu fechado por longo tempo e seu gramado virou pasto para animais. Entre 1925 e 1926, o futebol praticamente desapareceu de Aracaju.
Em 1927 houve uma divisão no futebol do Estado, com o surgimento da Liga Sergipana de Esportes Atléticos (LSEA), com apenas três clubes filiados: Associação Atlética, América e Palmeiras, enquanto a Liga Desportiva Sergipana tinha quatro clubes filiados: Sergipe, Brasil, Cotinguiba e Aracaju.
No ano seguinte, com o fechamento da Liga Desportiva Sergipana, a nova entidade passou a comandar o futebol sergipano. Em 1931 mais oito clubes filiaram-se a ela, Vasco, Guarani, Paulistano, Palestra, Vitória, Siqueira Campos, 13 de Julho e ETEA. Em 10 de novembro de 1941 mudou a denominação para Federação Sergipana de Desportos, e em 20 de janeiro de 1976, por decisão da Assembléia Geral Extraordinária, para a atual Federação Sergipana de Futebol.
Os clubes do interior do Estado passaram a disputar o campeonato sergipano, apenas a partir de 1936, com a inclusão do Ipiranga, da cidade de Maruim. Em 1939 foram criadas as divisões do Interior, com quatro clubes, Ipiranga, Riachuelo, Socialista e Laranjeiras, e a da Capital. O Ipiranga ganhou a disputa interiorana e o Sergipe a de Aracaju. Para decidir quem ficaria com o título máximo, os dois clubes disputaram uma melhor de três partidas, onde o Sergipe levou a melhor, fazendo 2 X 0 na prorrogação do jogo decisivo. No entanto, o Ipiranga foi proclamado campeão, pois o Sergipe incluiu em sua equipe o jogador Renato Vieira, que estava inscrito na Liga Paulista. Essa fórmula de campeonato manteve-se até 1958.
A partir de 1959 o campeonato foi disputado por zonas: Leste (capital), Norte, Sul e Centro (interior). Os cinco melhores da capital e os campeões das zonas interioranas se juntavam para realizar o Campeonato Sergipano, em turno e returno. O primeiro campeonato de profissionais no Estado foi realizado em 1960, quando o Santa Cruz foi campeão.
O Estádio Lourival Baptista, o “Baptistão” foi inaugurado em 9 de julho de 1969, quando 45.058 torcedores assistiram o jogo Seleção Brasileira 8 X 2 Seleção de Sergipe. Os gols foram marcados por Toninho (3), Clodoaldo (marcou o primeiro gol da história do estádio), Gerson, Paulo César Caju, Beto (contra) e Paulo Borges, para o selecionado nacional e Vevé e Fernando para o time sergipano. O juiz foi Armando Marques.
Todos os campeões estaduais
Com 32 títulos: Sergipe (1922, 1924, 1927, 1928, 1929, 1932, 1933, 1937, 1940, 1943, 1955, 1961, 1964, 1967, 1970, 1971, 1972, 1974, 1975, 1984, 1985, 1989, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1999, 2000, campeonato sub júdice, e 2003); com 16 títulos: Confiança (1951, 1954, 1962, 1963, 1965, 1968, 1976, 1977, 1983, 1986, 1988, 1990, 2001, 2002, 2004 e 2008); com nove títulos: Itabaiana (1969, 1973, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, junto com o Sergipe, 1997 e 2005); com seis títulos: Cotinguiba (1918, 1920, 1923, 1936, 1942 e 1952); com cinco títulos: Santa Cruz (1956, 1957, 1958, 1959 e 1960); com quatro títulos: Vasco (1944, 1948, 1953, 1987); com três títulos: Palestra (1934, 1935 e 1949); com dois títulos: Ypiranga (1939 e 1945), Olímpico (1946 e 1947) e América (1966 e 2007); com apenas um título: Passagem (1950), Pirambu (2006), Industrial (1921), Riachuelo (1941) e Lagartense (1998). Nos anos de 1919, 1925, 1926, 1930, 1931 e 1938 o campeonato não foi realizado. (Pesquisa: Nilo Dias)
Saudações!
ResponderExcluirGostaria de saber se o amigo tem dados de torneio entre alagoanos e sergipanos
ouvir falar de um torneio São Francisco na década de 70.
Paz!
Saulo Guimarães