Hoje, 12 de outubro, o S.C. Pelotas, uma das mais tradicionais agremiações esportivas do Rio Grande do Sul está completando 100 anos de atividades ininterruptas. O clube é o resultado vitorioso da fusão de duas entidades que existiam nos primórdios do futebol pelotense, o Club Sportivo Internacional e o Foot-Ball Club. Às 11 horas do dia 11 de outubro de 1908 foi realizada a solenidade de fundação do S.C. Pelotas, com as cores azul e amarela, as mesmas do Club Caixeiral, local da reunião. Também ficou decidido que a data oficial de fundação seria 12 de outubro, por ser feriado nacional e mais adequada às comemorações futuras.
O primeiro presidente foi o doutor Pedro Luis Osório, que tempos depois foi proclamado Grande Benemérito e Presidente honorário. Os demais membros da Diretoria eram: Leopoldo de Souza Soares, vice-presidente; Guilherme R. Fabres, 1º secretário; Luiz Seroder, 2º secretário; Affonso Pinheiro Teixeira, tesoureiro; Alberto Rheigantz, adjunto; Dr. Joaquim Luiz Osório, orador; Adolpho Luschke, 1º guarda-sport; João F. Nebel, 2º guarda-sport; José Santiago, capitão geral; Nilo Gafrée, adjunto; Octacílio Poty Vianna, instrutor. Diretores: João Abadie; Francisco Rheigantz, Ricardo Peckmann, Jacob Müller, Haroldo Gotuzzo, Wenceslau Gastal, Ernesto Bebrensdorf, Francisco Calero, Antonio Ronhelt e Octaciano Oliveira.
A nova agremiação ocupou o terreno da Avenida Bento Gonçalves, propriedade do "Club Sportivo Internacional" e que até hoje permanece com o Pelotas. (Estádio da Boca do Lobo, com capacidade para 18 mil torcedores, tendo em seu redor 58 lojas, integrando o Shopping Lobão e restaurantes). Os diretores do Pelotas à época, além de inúmeras reformas, edificaram um pavilhão central em madeira, com cobertura de zinco e uma excelente arquibancada, que acomodava confortavelmente mais ou menos 800 pessoas.
As obras foram concluídas em curto espaço de tempo, o que deu condições para que no dia 25, fossem inauguradas em jogo intermunicipal contra o S.C. Rio Grande, que já visitara a cidade em duas vezes anteriores: 6 de outubro de 2001, quando do segundo aniversário de fundação da União Gaúcha (jogo entre suas equipes Azul e Branca, com vitória da primeira por 2 X 0), e em 13 de maio de 1906, quando goleou o Club Sportivo por 6 X 0.
O jornalista Eliseu de Mello Alves conta em seu livro “O Futebol em Pelotas”, como transcorreu a festa e o primeiro jogo da história do S.C. Pelotas. “A missão riograndina chegou aqui pela manhã, em trem expresso, e foi recebida festivamente. Diversas bandas, inclusive a do Club Caixeiral, tocaram na gare da Estação ao serem ali recepcionados e aclamados os visitantes. Formando-se após extenso préstito, ocupando 10 bondes especiais da Ferro Carril, que subiram pelas ruas 7 de Abril (atual Dom Pedro II) e 15 de Novembro até a Praça Castilhos. Tendo ali o senhor Arthur Lawson, presidente do S.C. Rio Grande, cortado a fita simbólica à entrada do pavilhão do S.C. Pelotas, franqueando-o aos sócios”.
Cerca de três mil pessoas assistiram o S.C. Pelotas vencer nos aspirantes por 5 X 1 e perder no jogo principal por 3 X 2. O centro avante Adalberto Barcelos, o Beto, jogando pelos aspirantes marcou o primeiro gol da história do áureo-cerúleo. Os aspirantes formaram com Cassal - Kirst e R. Lanes - J. Brum - R. Vinholes e O. Haertel - O. Oliveira – Barcena - A. Barcellos - A. Xavier e F. Vares.
O time principal jogou com Haroldo Gotuzzo – Jacob Muller Filho e José Andrade Santiago – Guilherme Romano Fabres – Francisco Eloy Calero e Helmuth Essenfelder – Reynaldo De Bôer – Elyseu de Barros Coelho – João Francisco Nebel – Nilo Gafrée e Curt Rheingantz. Na saída de campo, após o jogo, os atletas foram filmados pela Empresa Cinematográfica Guarany.
O segundo clube que o Pelotas enfrentou foi o Guarany F.C. de Bagé, em 2 de maio de 1909, com empate em 1 X 1. O primeiro grande triunfo da história áureo-cerúlea aconteceu em 24 de outubro de 1909, quando venceu o Sport Club Rio Grande, que nunca havia perdido um jogo sequer, por 2 X 0, gols marcados por Antônio Moura, que recebeu medalha especial pelo feito.
O S.C. Pelotas já estava consolidado como uma entidade forte e apta a bem representar o futebol pelotense no cenário nacional. Em 1930, o clube alcançou o maior feito de seus 100 anos de história, a conquista do Campeonato Gaúcho. O jogo decisivo aconteceu no dia 29 de março de 1930, no Estádio da Chácara dos Eucaliptos, em Porto Alegre, contra o Grêmio.
O Pelotas perdia por 2 X 0, gols de Nenê e empatou com dois pênaltis batidos por João Pedro e Marcial. O Grêmio fez 3 X 2 com Foguinho, que se rebelou com a marcação de uma terceira penalidade a favor do clube pelotense e foi expulso. Faltavam 15 minutos para o jogo acabar e o Grêmio retirou-se de campo. O juiz mandou cobrar o pênalti com o gol vazio. Marcial bateu e empatou. Como não havia mais adversário o S.C. Pelotas foi declarado campeão. O time base do S.C. Pelotas era Bordini – Dario e Grant – Coi II – Marcial e Tristão – João Pedro (Benjamim) – Torres – Tutu – Mário Reis e Chico. O técnico era Otávio Guimarães.
O campeonato foi organizado pela Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres (Faget). Além de Grêmio e Pelotas, as finais tiveram as participações do Novo Hamburgo, eliminado pelo tricolor da capital, e São Paulo de Rio Grande, eliminado pelo áureo-cerúleo de Pelotas.
Um outro grande momento vivido pelo S.C. Pelotas foi no dia 13 de setembro de 1910, quando recebeu a visita do "Club Athlético Estudiantes", da Argentina, no primeiro jogo internacional de futebol realizado em Pelotas. A chegada dos argentinos na gare da Viação Férrea foi calorosa, seguindo-se um desfile pelas principais ruas da cidade até o Estádio. O time de Buenos Aires venceu por 7 X 0.
O Estudiantes, que veio ao Rio Grande do Sul a bordo do navio “Saturno”, para a realização de alguns jogos amistosos, se apresentou ainda em Rio Grande e Porto Alegre. Na cidade marítima, no primeiro jogo da excursão, derrotou o S.C. Rio Grande por 4 X 0. Depois bateu o scratch de Porto Alegre por 7 X 3.
A década de 1950 ficou na memória dos torcedores mais antigos, como um tempo de grandes conquistas: o título inédito de tricampeão no ano do cinqüentenário, em 1958, quando o presidente do clube era Dirceu Mendes de Matos e o técnico Paulo de Sousa Lobo, o saudoso Galego. O time base era: Joãozinho (Oscar) - Getúlio e Duarte – Cascudo - Cleo e Jarí – Bedeuzinho – Dirceu - Valmir (Barão) - Nei Silva e Deraldo. Ainda em 1958 o S.C. Pelotas promoveu um festival de futebol comemorativo ao seu cinqüentenário, enfrentando adversários poderosos como o São Paulo de Zizinho, o Vasco de Ademir e o Fluminense.
Em sua vitoriosa existência de 100 anos o S.C. Pelotas teve conquistas importantes: campeão pelotense 18 vezes (1913, 1915, 1916, 1925, 1928, 1930, 1932, 1933, 1939, 1944, 1945, 1951, 1956, 1957, 1958, 1960, 1981 e 1996); campeão do torneio início do campeonato pelotense por nove vezes (1927, 1928, 1935, 1936, 1944, 1949, 1951, 1952 e 1996); (campeão gaúcho (1930); vice-campeão gaúcho (1932, 1945, 1951, 1956 e 1960) e campeão gaúcho da segunda divisão (1983).
Venceu vários torneios de âmbito estadual, entre eles: Taça Salutaris (1911); Taça Igarrego (1915); Taça Cidade de Pelotas (1924, 1973 e 1976); Torneio Monserrat – Taça Chevrolet (1928); Taça Getúlio Vargas (1929); Taça Martin Guilayn (1940); Taça Teixeira Neto (1943); Taça Sezefredo Ernesto da Costa , o Cardeal (1954); Taça Rafael Mazza (1957); Taça Pepsi-Cola (1958); Copa Companhia de Cigarros Sinimbu (1960); Taça Sesquicentenário de Pelotas (1962); Taça Previdência do Sul (1964); Torneio Comemorativo aos 150 anos da Cidade de Pelotas (1963); Quadrangular Dr. Waldemar Fetter - Troféu Rubi (1965) e Troféu Dr. Irajá Andara Rodrigues (1980).
O S.C. Pelotas sempre deu atenção a outras modalidades esportivas, onde alcançou expressivas conquistas. Em Futebol de Salão foi campeão gaúcho de 1961 e da cidade em 1957, 1958, 1959, 1961, 1965, 1970 e 1971. No basquete ganhou os campeonatos citadinos de 1928 e 1951. Em Handebol foi campeão pelotense em 1975. No Tênis, campeão pelotense de 1928 e em Xadrez, vice-campeão regional de 1954.
O clássico da cidade, o conhecido Bra-Pel tem uma bonita história que está sendo contada no livro “A história do clássico Bra-Pel”, de autoria de Mário Gayer do Amaral e Sérgio Osório, que será lançado depois de amanhã (14). É de lá que tirei estes dados estatísticos: Jogos realizados, 347; Vitórias do Brasil, 122; Vitórias do Pelotas, 107; Empates, 118; Gols do Brasil, 497; Gols do Pelotas, 480; saldo pró Brasil, 17.
Jogadores do Pelotas que foram os maiores artilheiros em campeonato gaúcho: Marcial (1930); Flávio Minuano, com 13 gols (1977); Ademir Alcântara, com 13 gols (1984) e Flávio Dias, com 18 gols (2003). O atacante Jorge Preá, hoje no Palmeiras, foi artilheiro da Série B gaúcha em 2007, com 18 gols.
O clube já participou da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro da Série C e da extinta copa Sul Minas. Além disto, já fez amistosos internacionais, como o contra a seleção da Rússia em 1994. Revelou grandes jogadores em todos estes 100 anos. Enumerar a todos, seria tarefa de difícil execução e com risco de injustiças. Por isso, escolhi o saudoso Ari Amaro Pires, o “Bedeuzinho”, para simbolizar a gama de craques que vestiram a gloriosa camisa azul e amarela.
E fico muito à vontade. Quando trabalhei na imprensa de Pelotas, especialmente como narrador de futebol, fiz uma saudável amizade com Bedeuzinho. Acompanhei sua trajetória no Pelotas e no Internacional e a decadência que veio depois, quando com sinais de debilidade mental morou em uma antiga bilheteria do Estádio da Boca do Lobo. Mas foi um grande jogador, que marcou para sempre sua passagem no S.C. Pelotas.
Bedeuzinho era natural de Herval (RS) e chegou ao Pelotas em 1950. Ficou no clube até 1960, quando se transferiu para o Internacional, onde foi campeão gaúcho de 1961, ajudando a quebrar uma seqüência de cinco títulos do Grêmio. Jogou ainda no Metropol de Criciúma (SC) e no Newls old Boys, da Argentina. Em 1963 retornou ao Pelotas para encerrar a carreira. Faleceu no dia 21 de agosto de 2001, aos 67 anos de idade.
Eu poderia estender este artigo por mais páginas e páginas, pois tive a felicidade de morar em Pelotas por quase 20 anos, período em que participei ativamente do esporte da cidade. Lembro do velho Pavilhão Gastaud, todo de madeira, que nos levava a uma viagem no tempo, até os primeiros tempos da vida do clube. Lembro do grande presidente Edgard de Moura Ronhelt, um grande amigo, em cuja lembrança homenageio a todos os que dirigiram o centenário clube da avenida Bento Gonçalves, em todos os tempos. (Pesquisa: Nilo Dias)
Marcos disse...
Gostaria de obter o escudo do CLUB SPORTIVO INTERNACIONAL.
marcos.coimbra@yahoo.com.br
13 de novembro de 2008 09:33
Luiz Carlos Knopp disse...
Obrigado Nilo pelo belíssimo trabalho.
Abração
2 de dezembro de 2008 19:44
Matheus disse...
OLA NILO DIAS , QUERIA SABER SE VOCÊ TEM A FOTO DO TITULO DA SEGUNDA DIVISÃO CONQUISTADO PELO PELOTAS EM 1983.
ABRAÇÃO
1 de janeiro de 2009 15:11
Gostaria de obter o escudo do CLUB SPORTIVO INTERNACIONAL.
ResponderExcluirmarcos.coimbra@yahoo.com.br
Obrigado Nilo pelo belíssimo trabalho.
ResponderExcluirAbração
OLA NILO DIAS , QUERIA SABER SE VOCÊ TEM A FOTO DO TITULO DA SEGUNDA DIVISÃO CONQUISTADO PELO PELOTAS EM 1983.
ResponderExcluirABRAÇÃO