O Rio Grande do Sul é um dos Estados que abriga a maior quantidade de clubes centenários no futebol brasileiro. E a cidade litorânea de Rio Grande é berço do mais velho de todos, o S.C. Rio Grande, que em 19 de julho último, completou 108 anos de existência. Com muita justiça essa cidade já foi chamada de a “Capital do Futebol”, por manter três clubes de futebol profissional de muita tradição. O S.C. São Paulo está em festa, com o seu centenário, comemorado no último sábado, dia 4. E ano que vem será a vez do F.B.C. Rio-Grandense, o caçula da cidade também chegar à histórica marca centenária.
O “Leão do Parque”, como é chamado por seus ardorosos torcedores foi fundado pelo jovem Adolpho Corrêa. Em meados do mês de setembro de 1908, ele e três amigos, José Sartori, Bartholomeu Casanova e Hermenegildo Bernardelli, assistiam um treino do S.C. Rio Grande, no gramado da Compaigne Auxiliare de Chems de Fer Brésil, na avenida Buarque de Macedo, onde depois foi erguido o antigo Estádio Arthur Lawson (Oliveiras).
Em dado momento um zagueiro chutou a bola para fora do gramado, indo parar em umas macegas nas proximidades. Os três rapazes pediram ao auxiliar de mecânico, Alexandre Lempeck, ainda um adolescente que a fosse apanhar. De posse daquele instrumento raro e fundamental para a prática do futebol, os três amigos foram embora. Nos primórdios do futebol a bola tinha que vir da Inglaterra e a um preço nada convidativo.
Adolpho Corrêa, engenheiro ferroviário, de descendência portuguesa, que veio pequeno para o Brasil, primeiro para São Paulo e depois para Rio Grande, pensou logo em fundar um clube que abrigasse a colônia lusitana na cidade, bastante grande já na época. O futebol era até então, uma exclusividade dos ingleses e alemães do S.C. Rio Grande. Mesmo trabalhando na companhia de trens, os três não conseguiram fazer parte da equipe do S.C. Rio Grande.
Os quatro rapazes procuraram a direção do S.C. Rio Grande e da Compaigne Auxiliare, para pedir ajuda e colocar a idéia em prática. Não teve nenhum problema. Foi cedida uma área que dava frente para o cemitério católico, e onde hoje se encontra o Estádio Aldo Dapuzzo. E no dia 4 de outubro de 1908, reunidos em um prédio de número 133, da avenida Rheingantz, fundaram o S.C. São Paulo. O nome escolhido foi uma homenagem a capital paulista, primeira cidade brasileira em que Adolpho Corrêa morou e onde conheceu o esporte inventado pelos ingleses.
Em 16 de outubro foram escolhidas as cores vermelho e verde para serem as oficiais, naturalmente por inspiração da bandeira de Portugal, até porque o clube era dominado pela maioria lusitana. O primeiro fardamento era composto de boné verde e vermelho, camisa branca e calções pretos.
Estava dada a partida para uma trajetória cheia de glórias. O S.C. São Paulo ganhou o título de campeão da cidade em 24 oportunidades: 1916, 1918, 1920, 1927, 1928, 1931, 1932, 1933, 1935, 1943, 1945, 1952, 1954, 1958, 1959, 1966, 1967, 1968, 1969, 1970, 1971, 1973, 1980 e 1987.
O maior efeito da história do clube aconteceu em 1933, quando se sagrou campeão gaúcho. No jogo do título, o S.C. São Paulo venceu o Grêmio Portoalegrense por 2 X 1, em jogo realizado no dia 19 de novembro, no antigo Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre. Darci Encarnação e Cardeal marcaram para os riograndinos e Nenê descontou para o Grêmio. O time base era: Odorico – Valentim e Fernandinho – Quico –Darci Encarnação e Riquinho – Archimino – Cardeal – Osquinha – Ballester e Scala (Vadi). O diretor técnico era Leomar Mena.
Tive a honra de conhecer Darci Encarnação, o maior jogador da história do clube. Eu era editor-chefe do jornal “Agora” e uma de suas filhas era minha colega de trabalho. Várias vezes conversei com ele, que me contou muitas passagens interessantes de sua brilhante carreira.
Outra grande conquista do rubro-verde riograndino aconteceu em 1985, quando ganhou a Copa Bento Gonçalves, enfrentando nas finais o poderoso S.C. Internacional: vitória de 1 X 0 no dia 13 de julho, em Porto Alegre e empate de 1 X 1, no dia 4 de agosto, em Rio Grande. O time base era: Nando - Marco Antonio - Carlão e Zé Moraes - Paulo Barroco – Odir – Ernane - Evans e Isaias - Rodinaldo e Luisinho. Reservas: Edson, Kiko, Caetano, Serginho, Claudinho e Nivaldo. O técnico era Jaime Schimidt.
Foi ainda campeão da Copa Associação dos Cronistas Esportivos (ACEG) (1986); campeão do interior (1979); campeão da Copa Sesquicentenário e Copa Governador do Estado (1981) e campeão da Divisão de Profissionais do Campeonato Gaúcho (1970).
Um momento histórico na vida do S.C. São Paulo foi a vitoriosa excursão em 1981 por gramados da Venezuela, Equador e Colômbia, quando ganhou um torneio contra o Deportivo Tachira, time que no mesmo ano eliminou o Internacional de Porto Alegre, na Copa Libertadores da América.
O clube participou dos campeonatos brasileiros de 1982 (31º colocado), 1980 (41° colocado) e 1979 (43º colocado). No dia 23/03/1980 o Estádio Aldo Dapuzzo recebeu um dos maiores públicos de sua história para assistir ao empate de 0 X 0 contra o Flamengo de Zico, Adílio e Júnior, e outros jogadores que formariam a base do time campeão do mundo em Tóquio. O Flamengo djogou com Raul – Rondineli – Marinho – Júnior - Andrade – Adílio – Zico – Reinaldo - Tita e Carlos Henrique (Júlio Cesar). O São Paulo teve Sérgio - Zé Augusto – Carlão - Tadeu e Cláudio Radar – Doraci - Paulo Cesar Tatu e Astronauta – Romário - Néia e Almir. O técnico era Ernesto.
Lembro bem desse jogo. Eu era o chefe da equipe de esportes da Rádio Cultura Riograndina, que tinha entre outras “feras” do rádio de Rio Grande, Gley Santana, Pedro Pinheiro, Jorge Ravara, Antônio Azambuja Nunes, o Nico, Horácio Gomes, João Ferreira, Denis Olinto, Jonas Cardoso, Édson Costa, Édson Figueiredo, Oledir José e Ney Amado Costa.
No Campeonato gaúcho da Primeira Divisão o São Paulo fez presença nos anos de 1919 a 1960, 1971 e 1972, 1975, 1977 a 1984, 1986 a 1989, 1992 a 1994, 2001 e 2002.
Eu já contei em artigo anterior uma passagem única no futebol brasileiro, que envolveu o S.C. São Paulo e o seu centenário rival, o S.C. Rio Grande. Em 26 de dezembro de 1940, os dois clubes disputavam o jogo final da Taça Confraternização, um torneio que também reuniu o F.B.C. Rio-Grandense e serviu para selar a paz entre os três clubes da cidade.
Nos 90 minutos houve empate. A decisão foi para os pênaltis, que foram batidos à exaustão, e o resultado seguia igual. O árbitro resolveu então conceder o título aos dois clubes. Quanto ao troféu, a solução encontrada foi cortá-lo em duas partes iguais e entregar uma parte a cada time. Eu testemunho que isso é verdade, pois vi as metades da taça nas sedes dos dois clubes.
O Estádio Aldo Dapuzzo é um dos orgulhos do S.C. São Paulo. Nos primeiros anos da década de 80, o clube passava por um momento magnífico, disputando a Taça de Ouro do futebol brasileiro. Para isso foi preciso que o estádio abrigasse no mínimo dez mil torcedores. Em menos de cinco meses, depois de sucessivas campanhas de arrecadação do cimento, a torcida e o patrono Aldo Dapuzzo levantaram o anel esquerdo do estádio com capacidade para aproximadamente sete mil pessoas. Mesmo assim, o estádio não deu conta e foi necessário que a Prefeitura colaborasse com a colocação de arquibancadas atrás do gol direito para mais duas mil pessoas.
Hoje, o S.C. São Paulo passa por um momento de transição, disputando a Segunda Divisão do futebol gaúcho, mas a meta é voltar o mais breve possível a Primeira Divisão. O atual presidente é o desportista Renato Lempeck, que deverá passar o cargo, provavelmente para o conselheiro Ivo Artigas, na eleição marcada para amanhã (5). (Pesquisa: Nilo Dias)
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