A Loteria Esportiva, popularmente chamada de “Loteca” é o mais antigo dos concursos de prognósticos promovidos pela Caixa Econômica Federal (CEF). Tudo começou em 19 de abril de 1970, quando aconteceu uma rodada experimental no antigo Estado da Guanabara. O jogo mínimo custava dois cruzeiros novos, com um duplo, o jogo com um triplo custava três cruzeiros novos. O prêmio foi fixado em 200 mil cruzeiros novos, com cem mil bilhetes concorrendo. Para ter direito ao prêmio, o apostador precisava acertar os 13 jogos selecionados pela agência “Sport Press”, contratada pela CEF. Ninguém conseguiu. Mas oito apostadores bateram na trave, e foram premiados com doze pontos.
Depois disso, outras rodadas experimentais foram realizadas: em 3 de maio, também na Guanabara, e em 17 de maio, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Oficialmente o concurso teve início em 7 de junho daquele ano. Curiosamente foi nesse concurso que pela primeira vez foram acertados os 13 pontos. Já o primeiro apostador a ganhar o prêmio sozinho foi Gilberto Furtado Medeiros, no teste número 5, realizado em 28 de junho, mas sem marcar os treze pontos. Ele errou apenas um jogo, num teste que teve oito empates.
Naquela época não existia a avançada tecnologia de hoje. Era preciso preencher um cartão que era entregue na casa lotérica, que usava uma máquina manual da IBM, chamada “Port a Punch”, para furar dois cartões, sendo que um ficava como comprovante com o apostador. No domingo, depois de finalizados todos os jogos, um computador da CEF levava 17 minutos para processar as apostas, lendo cartão por cartão até encontrar os premiados. Nove pontos era o mínimo para o prêmio ser rateado. Depois, seguia com o mesmo processo até achar cartões com 10, 11, 12 e 13 acertos. Quando algum jogo não era realizado, na segunda-feira acontecia um sorteio e também o processamento.
Tem um velho ditado que diz: “Deus dá rapadura, para quem não tem dente”. É claro que eu não compartilho desse pensamento, pois como cristão que sou, acredito que cada um recebe nesta vida aquilo a que tem direito. Quem somos nós para tentar decifrar o enigma do porque alguns têm tudo e outros nada? Mas o meu propósito não é o de discutir questões religiosas, sim o de mostrar a trajetória de alguns ganhadores da Loteria Esportiva e o destino dado a verdadeiras fortunas.
A Loteria Esportiva em pouco tempo transformou-se em uma verdadeira coqueluche nacional. Os valores pagos a cada semana eram milionários. Nas casas de apostas as filas eram cada vez maiores. Afinal, quem não gostaria de ficar rico da noite para o dia?
Neste artigo vamos mostrar como algumas pessoas lidaram com as fortunas ganhas. O maquinista Jovino Viriato do Carmo ganhou em agosto de 1970, 2,9 milhões de cruzeiros, ou R$ 5,4 milhões de hoje. Seu primeiro ato como novo milionário foi comprar uma fazenda em Vassouras, no Médio Paraíba fluminense. Sem experiência na atividade rural, acabou contraindo muitas dívidas. Alguns anos depois foi obrigado a vender a fazenda, para honrar compromissos e cuidar do filho, viciado em drogas. Morreu pobre, em 2000.
Um dos casos mais conhecidos foi o de Eduardo Varela, o “Dudu da Loteca”, que ficou milionário de uma hora para outra. Em maio de 1972, no teste 85, ele acertou uma “zebra” inesperada no jogo entre Corinthians e Juventus, no Pacaembu. O Corinthians tinha 95% das apostas, enquanto o “Moleque Travesso” vinha de cinco derrotas consecutivas. O meia Brecha, ao marcar o gol da vitória grená por 1 X 0, encheu os bolsos de “Dudu”, que ganhou nada mais, nada menos, do que 11,6 milhões, aproximadamente R$ 18,2 milhões.
Com 23 anos de idade e um “caminhão” de dinheiro ele comprou casas e apartamentos, um deles na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, um dos endereços mais caros do País. Sem experiência em negócios, acabou investindo altas cifras em dois hotéis em Campos de Jordão (SP), que acabaram falindo. Isso não o deixou pobre. O pior viria depois, quando se separou da mulher. Ele havia feito outra “burrada”, ao colocar quase todos os imóveis, inclusive o da Vieira Souto, no nome do sogro. Com a separação, perdeu tudo. Sobraram apenas duas salas no centro do Rio de Janeiro e um imóvel em Itaipava, região serrana do Rio. Na época, o ex-milionário trabalhava como funcionário de uma corretora de valores.
Já o comerciante Mário Alberto Ronconi, de Santa Tereza, no Espírito Santo, ganhou em novembro de 1972, 14 milhões de cruzeiros, o equivalente a R$ 20,4 milhões de hoje. É verdade que ele não ficou com toda essa grana. Teve que dividir com mais 18 amigos, com quem havia feito um bolão. A sua parte, ele aplicou num fundo de investimento, mas se deu mal. Seis meses depois a inflação já havia acabado com metade do prêmio.
Com o dinheiro que restou, entrou como sócio numa rede de supermercados. Outra decepção, mais perdas num prazo de seis meses. Sem mais alternativas teve que sair da sociedade. Com as sobras do prêmio comprou um posto de gasolina, que mantém até hoje e lhe garante uma estabilidade financeira.
Final triste teve o apostador baiano Francisco Portela, que em abril de 1974 ganhou 14,7 milhões de cruzeiros, mais ou menos R$ 15,9 milhões em valores atuais. Ele aplicou o dinheiro na construção imobiliária em Salvador e em seguida foi a falência. Hoje, mora nos Estados Unidos, onde trabalha como funcionário de um escritório de contabilidade. (Pesquisa: Nilo Dias)
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