domingo, 25 de janeiro de 2009

Fábrica de craques

A edição de número 40 da Copa São Paulo de Futebol Júnior chega ao seu final na manhã de hoje quando a partir das 11 horas as equipes do S.C. Corinthians Paulista e Clube Atlético Paranaense, decidem o título. Este ano a competição, que é a principal da categoria no Brasil, contou com a participação de 88 equipes vindas dos mais distantes locais e representando todos os Estados da Federação. Esse número exagerado de equipes e atletas prejudica o propósito de revelar talentos.

A Copa São Paulo começou em 1969 e nas suas duas primeiras edições participaram somente quatro clubes paulistas. Corinthians e Nacional foram os finalistas do primeiro torneio, com o time do Parque São Jorge levando a melhor. A partir de 1971 passou a receber clubes de todo o Brasil.

Entre 1993 e 1997, foram convidadas equipes estrangeiras para participarem da disputa: Boca Juniors (Argentina), Peñarol (Uruguai), Cerro Porteño (Paraguai), Nagoya Grampus Eight e Yomiuri Verdy (ambos do Japão), além das seleções sub-20 do Japão e da China. O primeiro clube estrangeiro a participar da competição foi o Bayern de Munique (Alemanha) em 1985. Como todas elas caíram na primeira fase, a organização da Copinha abandonou a idéia.

Originalmente a competição era chamada de Taça São Paulo de Juniores e era organizada pela Prefeitura de São Paulo. Em 1987, o então prefeito Jânio Quadros decidiu não arcar com os custos da competição, que não foi realizada naquele ano. Em 1988 a Federação Paulista de Futebol tomou para si a responsabilidade do torneio - o que acontece até hoje - e inovando ao marcar jogos para cidades do interior do Estado. A Copa São Paulo é disputada no inicio de cada ano, de modo que a Final coincida com a data de aniversário da cidade de São Paulo, 25 de Janeiro.

Mas nem sempre a decisão do Torneio aconteceu exatamente em 25 de janeiro. Teve casos em que a final foi realizada antes do mês de janeiro: 1981, (23 de dezembro de 1980); 1982, (19 de dezembro de 1981) e 1983 (18 de dezembro de 1982). O título chegou a ser decidido em 19 de janeiro de 1989; 20 de janeiro, nos anos de 1979, 1980 e 1985; 22 de janeiro de 1984; 23 de janeiro de 1976; 24 de janeiro de 1988; 26 de janeiro de 1986 e 1991; 31 de janeiro de 1990 e até em 6 de março de 1971.

O Corinthians Paulista, com seis títulos é o maior vencedor da Copa (1969, 1970, 1995, 1999, 2004 e 2005), seguido de Fluminense, do Rio de Janeiro, com cinco conquistas (1971, 1973, 1977, 1986 e 1989), Internacional, de Porto Alegre-RS, com quatro (1974, 1978, 1980 e 1998) e Atlético Mineiro com 3 (1975, 1976 e 1983). Com dois títulos, São Paulo (1993 e 2000), Ponte Preta, de Campinas-SP (1981 e 1982), Nacional, de São Paulo (1972 e 1988) e Portuguesa de Desportos, de São Paulo (1991 e 2002). Foram campeões uma única vez as equipes do Juventus, de São Paulo (1985), Cruzeiro, de Belo Horizonte-MG (2007), Santos, de Santos-SP (1984), Vasco da Gama, do Rio de Janeiro (1992), Guarani, de Campinas-SP (1994), América (São José do Rio Preto-SP-2006), Marília, de Marília-SP (1979), Flamengo, do Rio de Janeiro (1990), América, de Belo Horizonte-MG (1996), Paulista, de Jundiaí-SP (1997), Roma Barueri, de Barueri-SP (2001), Santo André, de Santo André-SP (2003) e Figueirense, de Florianópolis-SC (2008).

O Corinthians é o maior recordista de finais, 14 ao todo (contando a de hoje), com 6 títulos, sendo que 2 títulos foram conquistados em cima de seus maiores rivais: Palmeiras em 1970 e São Paulo em 2004. O Palmeiras é a única equipe, das 6 existentes na cidade de São Paulo (São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, Juventus e Nacional), que ainda não venceu a competição.

A Portuguesa de Desportos possui o melhor aproveitamento em finais, vencendo as duas decisões que disputou. Em 1991 a “lusa” realizou a melhor campanha da história da Copa São Paulo, ao vencer seus nove jogos, marcando 32 gols. O América de São José do Rio Preto (SP) foi campeão da Copinha em 2006 e tem a segunda melhor campanha da história, mesmo com o time sendo formado somente a 60 dias da competição.

Só em três anos os times paulistas não estiveram presentes nas finais. Nestas ocasiões houve confrontos entre Fluminense X Botafogo em 1971 (ambos cariocas; campeão: Fluminense), em 1980 entre Internacional X Atlético Mineiro (mineiros x gaúchos; campeão: Internacional) e em 1996 entre América X Cruzeiro (ambos mineiros; campeão: América).

Em 1995 a Federação Paulista organizou a Supercopa dos Campeões da Copa São Paulo, tendo como vitorioso nesta única edição o Palmeiras, que participou como convidado, ao vencer na final o São Paulo num jogo que ficou marcado pela batalha campal promovida por facções de torcedores após o jogo, que resultou na morte de um torcedor sãopaulino.

Nos últimos anos o torneio passou a ter a presença quase obrigatória de empresários e olheiros vindos de todo do mundo em busca de novos craques, antes que estes passem a valer verdadeiras fortunas. Em 2007 houve uma alteração significativa no regulamento, e desde então apenas atletas sub-18 podem participar dos jogos, ao contrário das edições anteriores, nas quais eram permitidas as inscrições para jogadores de até 20 anos.

A baixa idade dos participantes (até atletas de 15 anos estão autorizados a jogar) foi uma das condições criadas pela FPF para inibir a ação de empresários e, desta forma, cativar os grandes clubes a estarem na competição. Nos últimos anos, Flamengo e Vasco chegaram a abdicar de sua vaga para priorizar o Campeonato Carioca Sub-20. Nesta edição da Copinha, o desfalque foi o Botafogo (RJ), pelo mesmo motivo.

Pela Copa São Paulo já passaram grandes nomes do futebol brasileiro como Rivelino, Falcão, Casagrande, Jardel, Djalminha, Toninho Cerezo, Rogério Ceni, Raí, Cafu, Kaká e Robinho, entre outros. Mas um jogador ninguém jamais vai esquecer: Dener, um furacão que surgiu na edição de 1991 quando ao lado de Tico, Sinval e Pereira conduziu a Portuguesa ao título contra o Grêmio. (Pesquisa: Nilo Dias)

Dener foi uma das maiores revelações da Copa São Paulo. (Foto Divulgação)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Vale a pena visitar

CONVIDO A TODOS OS LEITORES DESTE BLOG A VISITAREM A MINHA NOVA PÁGINA, ONDE BUSCO RESGATAR A MEMÓRIA DO NOSSO FUTEBOL, EM FOTOS. O ENDEREÇO É :

www.reliquiasdofutebol.blogspot.com

MANDE FOTOS E DETALHES SOBRE O CLUBE DE SUA CIDADE. DESDE JÁ, O FUTEBOL BRASILEIRO AGRADECE.

Para ser xavante não basta uma vida

O blog faz sua homenagem ao glorioso G.E. Brasil, de Pelotas, reproduzindo um bonito e emotivo artigo assinado pelo jornalista Nauro Júnior, 39 anos, fotógrafo de "Zero Hora", em Pelotas e publicado no blog "Rumos do Sul", no site do jornal "Zero Hora", de Porto Alegre.

"O futebol gaúcho se vestiu de luto, e as cores da tristeza são o vermelho e o preto. A torcida do Brasil de Pelotas, conhecida pela irreverência e pela alegria, acordou incrédula na última sexta-feira.

Uma tragédia na noite de quinta-feira tirou a vida do maior ídolo xavante dos últimos anos. Ele era amado e amava driblar, ouvindo o urro ensurdecedor que vinha das arquibancadas do caldeirão da Baixada. Junto com ele se foram o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani, dois tímidos guerreiros que, assim como Claudio Milar, amavam vestir as cores do time mais alucinado do interior do Estado.

Na quinta-feira de manhã, a delegação do Brasil de Pelotas saiu para jogar um amistoso em Santa Cruz. Claudio Milar, o craque, me dizia na saída que pretendia voltar até a 1h para dormir em casa com a sua amada Caroline e o pequeno Agustín. Não voltou mais. Doze horas depois de termos nos visto, quando ele projetava que este era o ano do xavante, me encontrei novamente com o amigo já sem vida.

Milar sempre me pedia pelas mais de 500 fotos que tenho dele vibrando, fazendo gols, dando autógrafos para seus admiradores, e até uma dele vestindo a camisa com o número 100 às costas, a preferida dele. Jamais imaginei que teria de fazer uma foto do amigo morto.

Era 1h30min da madrugada de sexta feira quando tive a incumbência de dar a terrível notícia pela Rádio Gaúcha. Milar, Régis e Giovani já faziam parte da delegação Xavante em outra dimensão. Minutos depois, em Pelotas, xavantes começaram a vagar pela volta do Estádio Bento Freitas como almas à procura de alguma explicação.

Os caixões só chegaram ao Bento Freitas no meio-dia de sexta, quando torcedores lotavas as arquibancadas. Como São Tomé, talvez só vendo acreditassem que não se tratava de um pesadelo. Junto com a xavantada, entravam abraçados torcedores do Pelotas, do Farroupilha, colorados, gremistas, jogadores, ex-jogadores, habitantes de uma cidade que ama o futebol. Em cada canto do estádio havia um rosto incrédulo. Velhos, moços, mulheres, crianças, gente de todas as raças e classes sociais choravam como se houvesse morrido alguém da família. E quem disse que Milar, Régis e Giovani não eram da família? Na claque xavante, todos têm o mesmo DNA. São apaixonados, loucos, fiéis e não desistem nunca. É isso mesmo, não desistem nunca.

O caixão de Milar foi o primeiro a sair do estádio, e os gritos da torcida vinham da arquibancada como nos tempos recentes em que o uruguaio entortava zagueiros com o seu drible desconcertante bem próximo ao alambrado, lá na ponta direita, onde os xavantes e o ídolo se encontravam no momento de maior cumplicidade e paixão.

Com os gritos de guerra "Ei, Ei,Ei, Milar é nosso Rei", a majestade foi embora para ser enterrada no Uruguai. O túmulo de Milar será um templo de peregrinação dos torcedores do Brasil.

O corpo de Régis e Giovani foram velados pelo resto da tarde. Milhares de pessoas passaram para dar o último adeus. Às 18h entrou no estádio um silencioso caminhão de bombeiros e nele foram colocados os dois caixões, cobertos por uma montanha de coroas de flores. Minutos depois o veículo começou a sair lentamente do estádio, e uma horda de xavantes começou a caminhar atrás do cortejo. À medida que o caminhão vermelho aumentava a velocidade, eles apressavam o passo e cantavam, enquanto Régis e Giovani passavam pela última vez pelas ruas da cidade onde nasceram. As pessoas derramavam lágrimas em sacadas de prédio, portões das casas e nas esquinas.

Por um momento parecia que o tempo parou, tudo parou, somente se ouvia a sirene do caminhão que se movia em câmera lenta, com uma multidão que não desistia de correr atrás gritando. O suor se misturava as lágrimas, e as lágrimas se misturavam com as cores da dor em cada esquina. Pois naquele dia Pelotas chorava lágrimas em vermelho e preto. Os torcedores rubro-negro invadiram o cemitério de Pelotas, a família pediu um momento de intimidade, que foi aceito, mas não compreendido, pois todos que estavam ali eram da família de Régis e Giovani, da família xavante.

Às 19h, os caixões foram depositados nos túmulos. Na mesma hora suas almas alçaram voo, e já foram treinar em um gramado encantado de um estádio que tem lá no céu, onde só quem tem um amor inexplicável como a paixão que os xavantes sentem conseguem o ingresso para entrar. Depois chegou o Milar e se juntou a eles, com a xavantada que mora lá em cima há muito tempo. Para amar como os xavantes amam, não basta uma vida."

Torcida do Brasil de Pelotas transformou cemitério em estádio. (Foto: Globoesporte.com)

O técnico Cuca, do Flamengo, que já treinou o Brasil de Pelotas, colocou uma camisa especial no amitoso contra o Tupi, de Juiz de Fora (MG), para homenagear clube gaúcho. (Foto: Globoesporte.com)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tragédia no Sul

Um acidente de graves proporções aconteceu por volta de 23 horas da noite de ontem (15) envolvendo um ônibus da empresa Bosembecker, que transportava a delegação do G.E. Brasil, de Pelotas, que a tarde jogara e vencera por 2 X 1 uma partida amistosa na cidade de Vale do Sol, contra o F.C. Santa Cruz. O veículo seguia pela alça de acesso da RS-471 para rodovia BR-392, mas não conseguiu vencer uma curva acentuada, capotou na pista, passou sobre um guard rail e caiu em um barranco numa altura entre 40 a 50 metros, o equivalente a um prédio de 15 andares, ficando com as rodas para cima. O motorista não soube explicar como o acidente aconteceu.

O acidente deixou um saldo de três mortes: os jogadores Cláudio Milar, atacante,que marcou o primeiro gol do jogo realizado a tarde, e Régis, zagueiro e ainda o preparador de goleiros Giovani Guimarães. O goleiro Danrlei, ex-Grêmio, machucou um braço, foi socorrido e passa bem. O pronto-socorro de Pelotas atendeu 11 vítimas e três delas tiveram de ser operadas: os jogadores Edu e Xuxa e o auxiliar técnico Paulo Roberto, mas nenhuma corre risco de morte. No Hospital de Caridade de Canguçu, foram atendidas e liberadas 13 pessoas.

O velório será no Estádio Bento Freitas. O zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani Guimarães serão sepultados no Cemitério de Pelotas hoje a noite. Já o corpo do atacante Claudio Milar será levado às 14 horas para ser sepultado em sua cidade natal, Chuy, no Uruguai, amanhã (sábado) as 10 horas.

O jogador uruguaio Claudio Milar era o principal jogador da equipe e maior ídolo da história recente do Brasil de Pelotas, tendo jogado mais de 200 partidas e marcado mais de 100 gols com a camisa rubro-negra. A forma como comemorava os gols se tornou marca registrada, ao imitar o mascote do clube – o índio xavante – como se jogasse uma flecha em direção às arquibancadas.

Milar era dono de uma habilidade fora do comum. Sua principal jogada consistia em avançar pela lateral do campo, chegar a linha de fundo e, com dribles curtos se aproximar do gol. Se não finalizava, deixava um companheiro na feição para marcar. Ele chegou ao G.E. Brasil em 2002. Depois, em 2004, quando de nova passagem pelo clube foi o artilheiro da segundona gaúcha, na campanha que levou o “xavante” de volta à primeira divisão.

Desde que vestiu a camisa vermelha e preta pela primeira vez, ganhou a admiração da torcida, que sentiu muito sua falta nas duas oportunidades em que deixou o Brasil para jogar em Israel e na Polônia. Foram ausências curtas e poucos meses depois estava de volta ao Bento Freitas, para ver seu rosto pintado em uma bandeira sempre pendurada no alambrado do estádio.

O uruguaio também se afeiçoou ao rubro-negro pelotense e a cidade. Levou seu pai para ser preparador físico do time. Tinha até cidadania brasileira. Nos anos de 2006 e 2008 participou das campanhas do clube na Série C do Campeonato Brasileiro e lamentava não ter conseguido realizar o sonho de subir à Série B. Aos 34 anos, deixou a mulher, Caroline, e um filho de três anos, Agustín.

Roberto Claudio Milar Decuadra, nasceu em 6 de abril de 1974, na cidade de Chuy, no Uruguai. Jogou de 1991 a 1997 no Nacional de seu país. Em 1997, transferiu-se para o Godoy Cruz, da Argentina. No ano seguinte foi contratado pelo Caxias, de Caxias do Sul. Em 1999 defendeu a Portuguesa Santista e depois o Santa Cruz, de Recife. No ano de 2000 vestiu a camisa do Náutico, de Recife. Em 2001 foi jogar no Club Africain, da Tunísia e na volta vestiu a camisa do Botafogo, do Rio de Janeiro.

Esse verdadeiro cigano do futebol em 2002 foi parar no LKS PTAK, da Polônia e no retorno ao Brasil foi contratado pelo Brasil, de Pelotas. Em 2003 aceitou convite para jogar no Hapoel Far Saba, de Israel. Em 2004 voltou ao Brasil, para sair em 2005 e jogar no Pogon, da Polônia. Em 2006 estava de volta a “taba xavante”, onde ficou até a morte.

Muitas tragédias já aconteceram pelo mundo envolvendo clubes de futebol. Em 4 de maio de 1949, após disputar um amistoso contra o Benfica, em Lisboa, o avião Fiat G212 que trazia a delegação da equipe italiana do Torino Calcio chocou-se contra a fachada da Basílica de Superga, próximo a Turin. Não houve sobreviventes. Nos funerais dos jogadores compareceram cerca de 500 mil pessoas.

Em 6 de fevereiro de 1958, o Manchester United, da Inglaterra, voltava de avião, da extinta Iugoslávia, onde havia feito um jogo pela Copa dos Campeões da Europa. O aparelho, um Bea Elizabethan G-ALZU, movido a hélice, não tinha capacidade suficiente de combustível para fazer o vôo direto entre Belgrado e Manchester, por isso aterrissou em Munique, na região da Baviera para reabastecimento. Havia mau tempo.

Duas tentativas de decolagem foram abortadas. Na terceira, um dos motores perdeu subitamente potência e o avião deslizou sem controle ao longo da pista, atravessando a rede do perímetro do aeroporto até parar, depois de bater numa casa abandonada e em várias árvores. Os bombeiros não demoraram mais que alguns segundos a chegar, mas já era tarde. No acidente morreram 28 pessoas entre passageiros e moradores do local da queda do avião. Oito jogadores estavam entre os mortos.

Em 03 de abril de 1961 o avião Douglas DC-3 da LAN Chile, prefixo CC-CLD-P210, realizava o vôo 210 trazendo de volta a equipe do Chile Green Cross (hoje Deportes Temuco) de uma partida em Osorno, pelo Torneio Apertura da Copa Chile. Voando com visibilidade ruim, chocou-se contra a Serra de Las Animas, na Cordilheira de Linares, matando todos os seus 20 passageiros e quatro tripulantes.

No dia 11 de agosto de 1979, uma colisão aérea entre dois aviões russos Tupolev 134As da Aeroflot, vitimou a equipe de futebol do Pakhtakor Tashkent, do Uzbequistão, que fazia o vôo 7880, rota Tashkent - Donetsk - Minsk sobre a antiga União Soviética. Uma falha do controle de tráfego aéreo da Rússia na separação aérea das aeronaves causou o choque entre elas, a 27,2 mil pés de altitude, que vieram a cair sobre a cidade de Dneprodzerzhinsk, na Ucrânia.

No avião prefixo CCCP-65735 da delegação do Pakhtakor Tashkent morreram todos os 84 ocupantes, entre eles os 14 jogadores e os três membros da comissão técnica. Na outra aeronave, a de prefixo CCCP-65816, morreram os 94 ocupantes. Computando as duas aeronaves o saldo foi de 178 mortos.

Em 24 de setembro de 1969, feriado local, a equipe do The Strongest foi convidada para participar de um jogo amistoso organizado pela Associação de Futebol de Santa Cruz de La Sierra. Na noite do dia 26 de setembro, soube-se que o avião, um DC-6 da Lloyd Aéreo Boliviano havia desaparecido. Passadas vinte e quatro horas do desaparecimento, e já sem muita esperança, o país recebeu a notícia: o avião havia se precipitado contra uma região montanhosa chamada La Cancha, na região mineira de Viloco, a cerca de 100 km de La Paz. Todos os 9 tripulantes e os 69 passageiros, entre os quais 16 jogadores, morreram.

Em 8 de dezembro de 1987 o time de futebol do Alianza Lima voltava, de avião, de uma partida na cidade de Pucallpa. Foi quando aconteceu a tragédia que matou toda a equipe e o corpo técnico do popular clube peruano. O acidente ocorreu de maneira estúpida. O Fokker F-27 da Marinha de Guerra do Peru, fretado pelo Alianza, chegou a sobrevoar o aeroporto Jorge Chávez, de Lima, para depois cair no mar, vitimando um total de 43 pessoas: 16 jogadores, seis integrantes da comissão técnica, quatro auxiliares, oito torcedores, três árbitros e seis tripulantes do avião. O único sobrevivente foi o próprio piloto, Edilberto Villar Molina, que depois viveria oculto, em outro país.

No dia 28 de abril de 1993 uma aeronave De Havilland DHC-5 da Força Aérea da Zâmbia, prefixo AF-319, que levava a Seleção do país para uma partida das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, explodiu logo após decolar de um aeroporto em Libreville, no Gabão, onde havia sido reabastecido. Dezoito jogadores, três dirigentes da Associação de Futebol da Zâmbia (FAZ) e cinco militares morreram. ((Pesquisa: Nilo Dias)

O uruguaio Millar era o maior ídolo da torcida "xavante" (Foto: Blog Xavante)
O ônibus caiu de uma altura equivalente a um prédio de 15 andares (Foto: Divulgação)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Morre mais um personagem da tragédia de 1950

Morreu ontem (12-1-2009) aos 84 anos de idade, o ex-futebolista Albino FRIAÇA Cardoso, vítima de falência múltipla de órgãos. Ele estava internado há 45 dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI), do Hospital São José do Avaí, em Itaperuna, interior do Rio, por causa de uma pneumonia e teve morte confirmada às 9h10min. O corpo foi velado no salão nobre da Câmara Municipal de Porciúncula, sua cidade natal, e o sepultamento aconteceu na tarde de hoje no cemitério da cidade. O prefeito Antonio Jogaib decretou três dias de luto no município.

Friaça era um dos dois únicos titulares daquela equipe ainda vivos. O outro é o zagueiro Juvenal, que vive em Salvador, doente aos 83 anos, com artrose que o impede de caminhar. Outros três jogadores que fizeram parte do grupo, Olavo Rodrigues Barbosa, o Nena (85 anos), reside em Goiânia, Nilton Santos (83 anos), no Rio de Janeiro e Alfredo Ramos dos Santos, o Alfredo II (89 anos), também no Rio de Janeiro, estão vivos.

Mesmo com a derrota para o Uruguai por 2 X 1 na partida final, que frustrou 200 mil torcedores presentes ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, Friaça entrou definitivamente para a história do futebol brasileiro por ter marcado a 1m18s da segunda etapa, o gol que chegou a dar esperanças de uma conquista até então inédita para o Brasil. O curioso é que ele nem deveria ter jogado a Copa do Mundo. Isso só aconteceu porque o ponteiro titular, Tesourinha se lesionou seriamente e teve de ser cortado da Seleção.

Friaça nasceu no dia 21 de outubro de 1924, na pequena cidade de Porciúncula (343 km do Rio de Janeiro), na região Noroeste fluminense, divisa entre Rio e Minas Gerais. Com 21 anos de idade, em 1943, deu início à carreira de futebolista profissional, defendendo o C.R. Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, aos tempos do famoso “Expresso da Vitória". Foi lá que viveu os melhores momentos como jogador. A velocidade e o chute forte e certeiro logo chamaram a atenção da imprensa e da direção da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), sendo convocado para a Seleção Brasileira. Também batia faltas com maestria e era emérito cruzador de bolas.

Sua carreira foi marcada pela instabilidade. Em 1949, resolveu trocar o Vasco pelo São Paulo F.C. No clube paulista teve uma passagem curta e vitoriosa. Em 1950 foi para a Ponte Preta de Campinas, onde jogou por uma temporada. Estava no clube campineiro quando foi chamado para a Copa do Mundo. Em 1951, retornou ao Vasco da Gama. Em 1953 estava de volta a Ponte Preta. Em 1954, outra vez no Vasco. Em 1955, retornou a Ponte Preta. No final de 1957 trocou a Ponte Preta pelo rival Guarani.

No time bugrino jogou apenas quatro meses, quando resolveu encerrar a carreira de jogador de futebol e se dedicar a treinar as categorias de base do clube esmeraldino, o que fez por curto período. Ao deixar completamente o futebol, Friaça continuou morando por algum tempo em Campinas, chegando a abrir uma quitanda no centro da cidade, que funcionou por pouco tempo. Friaça foi chamado ao Rio de Janeiro para administrar uma loja de materiais de construção, de propriedade da família. Depois, Friaça entregou a loja aos filhos. Ele, que sempre fora um homem alegre, ficou debilitado principalmente por causa da morte de um dos filhos em acidente de asa delta, na metade dos anos 1990. Depois da tragédia, começou a abusar do uso de cigarro e bebida alcoólica, que prejudicaram sua saúde.

Durante o tempo que jogou bola, Friaça conquistou os títulos de campeão do Torneio Relâmpago em 1946, pelo Vasco da Gama; campeão do Torneio Municipal em 1946 e 1947, pelo Vasco da Gama; campeão carioca em 1945, 1947 e 1952, pelo Vasco da Gama; campeão da Copa Rio Branco em 1947 e 1950, pela Seleção Brasileira; Campeão Sul Americano de clubes em 1948 pelo Vasco da Gama; Campeão Paulista de 1949, pelo São Paulo, ano em que também foi o artilheiro da competição com 24 gols; campeão da Copa América de 1949, pela Seleção Brasileira; campeão da Taça Oswaldo Cruz em 1950, pela Seleção Brasileira; campeão Pan-Americano em 1952, pela Seleção Brasileira; campeão do Torneio Quadrangular do Rio em 1953, pelo Vasco da Gama, e campeão do Torneio Rivadávia Corrêa Meyer em 1953, pelo Vasco da Gama.

Vestiu a camisa da Seleção brasileira (que naquele tempo era branca) em 13 jogos, conseguindo 8 vitórias, 3 empates, 2 derrotas e marcando 1 gol, aquele contra o Uruguai na decisão da Copa de 1950. Em Copas do Mundo foram 4 jogos, 2 vitórias, 1 empate, 1 derrota e 1 gol. Contra seleções nacionais 12 jogos, 7 vitórias, 3 empates, 2 derrotas e 1 gol. E contra clubes e combinados 1 jogo e 1 vitória.

No livro “Dossiê 50”, o jornalista Geneton Moraes Neto entrevistou todos os titulares daquela decisão. Eles falaram de seus dramas. O texto a seguir é um trecho do depoimento de Friaça, da alegria quase incontrolável ao marcar o gol que poderia dar o título ao Brasil ao desespero da derrota:

"Fiquei andando de noite em volta do campo"

(...) Albino Friaça Cardoso tinha 25 anos, oito meses e 26 dias quando realizou o sonho dos jogadores brasileiros de todas as épocas: fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro do Maracanã superlotado. O gol sai logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouquece. Friaça também.

“A emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: "Friaça, você fez o gol!" Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área.”

Louco de alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César de Alencar. “Passei uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol. Eu tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair. E logo eu é que fiz o gol.”

Se o Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a Seleção ia ser campeã do mundo. “Ali nós já éramos deuses”, admite Friaça.

Friaça só não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali - além da queda de César de Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria. Consumada a tragédia brasileira, diante da maior platéia até hoje reunida para um jogo de futebol, a dor da derrota desnorteou o autor do gol do Brasil.

“O trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros jogadores, andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um só: como é que a gente foi perder com um gol daqueles”.

Dos 22 jogadores convocados em 1950, 18 já faleceram: Barbosa (7-4-2000), Castilhos (2-12-1987), Augusto (1-2-2004), Bauer (4-2-2007), Eli do Amparo (9-3-1991), Danilo Alvim (16-5-1996), Rui (2-1-2002), João Ferreira, o Bigode (31-7-2003), Noronha (27-7-2003), Zizinho (8-2-2001), Maneca (28-6-1961), Baltazar (25-3-1997), Adãozinho (6-8-1991), Jair da Rosa Pinto (28-7-2005), Ademir de Menezes (11-5-1996), Francisco Aramburu, o Chico (1-10-1997) e Rodrigues (30-10-1998). O técnico Flávio Costa faleceu em 22-11-1999 e o massagista Mário Américo, em 9-4-1990. (Pesquisa: Nilo Dias)



Hagen disse...
Nilo, vc teria qualquer contato do Alfredo Ramos dos Santos? Sabe o estado de saude dele?
Estou trabalhando em um documentario e seria interessante um depoimento dele, caso ele ainda esteja em condicões...
20 de março de 2009 15:22

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Marta, a "Pelé" de saia

A brasileira Marta Vieira da Silva, que este ano trocou o Umeå IK, da Suécia pelo Los Angeles Sol, dos Estados Unidos, foi eleita pelo terceiro ano seguido a melhor jogadora de futebol feminino do mundo. O anúncio foi feito hoje na festa anual da Fédération Internationale de Football Association, o “FIFA World Player Gala 2008”, realizada no Opera House, em Zurich, na Suíça. Ela já havia sido escolhida melhor do mundo em 2006 e 2007.

A “rainha” Marta, uma legitima mulher nordestina nasceu no dia 19 de fevereiro de 1986, em Dois Riachos, um pequeno e pobre município de 12 mil habitantes, no sertão alagoano, distante 193 quilômetros da capital Maceió. Hoje, ela é a grande celebridade local. Os primeiros chutes, Marta começou a dar aos 7 anos de idade, num pequeno campinho de terra, embaixo de uma ponte. “Aos 10 ou 12 anos ela já jogava futebol no meio dos homens, aplicava dribles, fazia gols, e mostrava muita habilidade", conta José Julio de Freitas, o Tota, 66 anos, primeiro técnico da jogadora e uma espécie de fã número um.

O irmão mais velho de Marta e arrimo da família, José Vieira, não gostava que ela jogasse. "Os colegas mexiam comigo, diziam que minha irmã era mulher e jogava melhor do que eu.” Apesar das dificuldades Marta passou por cima da discriminação e foi ao encontro de seu sonho. Com 12 anos, já jogava no CSA, um dos grandes de Alagoas - a única menina e craque do time.

Em 2000 surgiu uma proposta para jogar no time feminino do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. A notícia de que ia mudar para uma cidade grande, a mais de 2 mil km de casa, num primeiro momento não agradou à família de Marta. Depois de um tempo, os familiares perceberam que era realmente o que ela queria e aceitaram numa boa. Faltava só arranjar o dinheiro da passagem. Foi o primo Roberto e alguns amigos de Dois Riachos que fizeram uma “vaquinha”.

No Vasco, Marta jogou tão bem que ganhou o apelido de “Pelé de Saia”. Não demorou a chegar na Seleção Brasileira e hoje é a maior estrela do futebol feminino mundial. Marta ganhou fama mundial como a jogadora que “entortava” as adversárias e foi convidada para jogar em um time da Suécia, uma potência do futebol feminino. Tudo isso aconteceu quando ela nem tinha completado 18 anos.

Quando chegou sozinha à Suécia, em pleno inverno levou um susto, o país tem um dos climas mais rigorosos do planeta, com temperaturas que podem atingir 15 graus abaixo de zero. Para poder jogar era preciso usar luvas, gorro e proteções para pernas e braços. Fora o frio, a vida na Suécia foi boa para Marta: que morou num apartamento pago pelo time, ganhou um bom dinheiro e de sobra ainda viajou pelo mundo todo. A jogadora nem sabe dizer ao certo quantos países conheceu.

Em sua vitoriosa carreira Marta conquistou pela Seleção Brasileira títulos de grande expressão, como as medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de 2003 realizados em Santo Domingo, na República Dominicana, quando tinha apenas 17 anos, e de 2007 no Brasil, quando foi artilheira com 12 gols e mais uma vez comparada a Pelé.

Também ajudou o Brasil a ganhar a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 e o vice-campeonato mundial em 2007, na China, onde conquistou a artilharia com 7 gols. Na semifinal da competição, contra os EUA, Marta marcou o gol mais bonito de toda a história do torneio e foi escolhida melhor jogadora, recebendo o prêmio “Bola de Ouro.

Marta foi a primeira e até agora única mulher a deixar a marca de seus pés na “Calçada da Fama”, do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Além disso, integra o “Hall da Fama”, do Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL) e detentora da “Comenda Nise da Silveira“, a maior homenagem pública conferida pelo governo de Alagoas.

A fama não lhe tirou a humildade e continua a valorizar e prestigiar sua terra e os amigos. Toda a vez que tem oportunidade vai para Dois Riachos onde participa de animadas rodas de samba e de “peladas” nos campinhos da cidade.

O prestigio da jogadora é tão grande em todo o Estado, que até a Assembléia Leguslativa de Alagoas aprovou um projeto que muda o nome do tradicional estádio “Rei Pelé”, em Maceió, para estádio “Rainha Marta”, o que vem gerando muita polêmica em todo o Brasil.

Em Dois Riachos, o Governo do Estado construiu um ginásio poliesportivo que custou R$ 800 mil e que homenageia a jogadora. O espaço possui capacidade para cerca de mil pessoas e conta com arquibancadas, bateria de banheiros e piso paviflex, o que se constitui num grande avanço para um município onde falta quase tudo.

O jornalista argentino radicado em São Paulo, Diego Graciano escreveu o livro “Marta, você é mulher”, que conta toda a vida da grande jogadora. Por enquanto o livro não chegou às livrarias, o que deve acontecer nas próximas semanas e tem tudo para ser um sucesso de vendas. (Pesquisa: Nilo Dias)

(Foto: Site da Fifa)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Como surgiu o termo “gandula”

O meu amigo Horácio Gomes, lá da querida cidade de Rio Grande (RS), grande figura humana e o melhor repórter esportivo que conheci, continua atento como nos velhos tempos da Rádio Cultura Riograndina. Acompanhante assíduo do blog, o Horácio está sempre pronto a colaborar e dia desses sugeriu a publicação de matéria contando as origens do termo “gandula”, dado ao indivíduo que tem a função de buscar a bola quando esta sai pela linha de fundo ou de lado, durante um jogo de futebol.

Eu até lembro que em alguns lugares do Rio Grande do Sul, e aí eu incluo a minha terra natal, Dom Pedrito, o encarregado desse trabalho é chamado de “marrecão”. Porque, não me perguntem, que não sei. E lá em São Gabriel, quando eu era presidente da S.E.R. São Gabriel, a função era disputadíssima pela garotada que assim entrava de graça no jogo.

Existem várias versões para explicar como surgiu esse personagem que se tornou importante nos jogos de futebol. Alguns “estudiosos” afirmam que foi logo após a construção do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e por causa das bolas que caiam no fosso em volta do gramado e precisavam ser recolhidas. Lá em São Gabriel também colocávamos apanhadores de bolas no lado de fora do estádio, pois tinha gente que ficava só esperando que a “redonda” caisse na rua para pegá-la e dar no pé. Isso causou muitos prejuizos ao clube.

E por que o termo “gandula”? A versão que parece mais condizente é de que o nome veio em homenagem ao meia-esquerda argentino Bernardo José Gandulla, que o C.R. Vasco da Gama, contratou do Ferro Carril Oeste, de Buenos Aires, no distante ano de 1939, junto com o ponteiro-esquerdo Emeal. Como não era dono do passe e a legislação esportiva da época não era muito clara sobre transferências internacionais, Gandulla ficou impedido de jogar.

Tremenda injustiça fazem alguns ditos ”pesquisadores” ao dizerem que o argentino era ruim de bola, por isso não era escalado, quando a verdade é outra. Para não se tornar inútil ao clube, Gandulla queria mostrar serviço e costumava correr em volta do gramado para devolver as bolas que saiam para fora. Esse costumeiro gesto do jogador foi bem recebido pelos torcedores, tanto que após retornar para a Argentina, em 1940, seu nome virou referência para a função de apanhador de bolas.

A segunda versão não é muito diferente da primeira. Ela procede da Argentina e também envolve o atacante Bernardo Gandulla, já quando defendia a equipe do Boca Juniors. Contam os colegas do vizinho país que em todos os jogos, ele mesmo corria atrás da bola para dar seqüência à partida. Dessa maneira Gandula conquistou a simpatia da massa torcedora, que via esse gesto como vontade de vencer e de jogar. Foi o que bastou para que a imprensa e os torcedores “porteños” passasem a chamar de “gandula” os pegadores de bola.

Mesmo não tendo boa sorte no Vasco da Gama, Bernardo José Gandulla foi destaque na Argentina como jogador e técnico. Sua carreira teve início no Ferro Carril Oeste em 1934. Fez parte de uma famosa linha atacante denominada “La Pandilla”, integrada por Además, Maril, Bornia, Sarlanga y Emeal. Cinco anos depois foi para o Vasco da Gama. Em 1940 transferiu-se para o Boca Juniors, onde teve oportunidade de mostrar todas as suas qualidades técnicas que o consagraram como verdadeiro craque. Era eximio armador de jogadas, além de grande capacidade para marcar gols. Só em 1940, seu primeiro ano no Boca, marcou 18 gols. Foi campeão argentino em 1940 e 1943, pelo clube de La Bombonera (Estádio Alberto J. Armando).

Em 1944, depois de se recuperar de uma grave contusão, Gandulla voltou ao seu clube de origem, o Ferro Carril Oeste, onde jogou por mais dois anos. Mesmo sendo considerado um “fora de série”, Gandulla vestiu a camisa da Seleção Argentina, em uma única oportunidade, em 1940. Em toda a carreira, disputou 249 partidas e anotou 123 gols. Além do Ferro Carril Oeste, Vasco da Gama e Boca Juniors, Gandula defendeu o River Plate, o Auxerre, da Suiça e o manchester City, da Inglaterra.

Gandula, após “pendurar as chuteiras”, se dedicou a treinar as categorias amadoras do Boca Juniors, ganhando o apelido de “Maestro”, pela capacidade de revelar bons valores para o futebol argentino, entre eles Rattin, Ponce e Mouzo. Como técnico de equipes profissionais, dirigiu o Boca Juniors nos anos de 1957 e 1958, e depois nas temporadas de 1967, 1971 e 1972.

Bernardo José Gandulla nasceu no dia 1 de março de 1916 e faleceu, vítima de problemas respiratórios em 7 de julho de 1999, aos 83 anos, em Buenos Aires, Argentina. Os restos mortais de Gandulla estão sepultados no Panteon do Boca Juniors, no cemitério de Chacarita. Sua importância para o futebol argentino é tão grande, que seu nome foi imortalizado no “Trofeo Gandulla”, que é dado ao melhor futebolista de cada ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

O craque Gandulla, quando jogava no Boca Juniors (Foto: www.informexeneize.com.ar)