A brasileira Marta Vieira da Silva, que este ano trocou o Umeå IK, da Suécia pelo Los Angeles Sol, dos Estados Unidos, foi eleita pelo terceiro ano seguido a melhor jogadora de futebol feminino do mundo. O anúncio foi feito hoje na festa anual da Fédération Internationale de Football Association, o “FIFA World Player Gala 2008”, realizada no Opera House, em Zurich, na Suíça. Ela já havia sido escolhida melhor do mundo em 2006 e 2007.
A “rainha” Marta, uma legitima mulher nordestina nasceu no dia 19 de fevereiro de 1986, em Dois Riachos, um pequeno e pobre município de 12 mil habitantes, no sertão alagoano, distante 193 quilômetros da capital Maceió. Hoje, ela é a grande celebridade local. Os primeiros chutes, Marta começou a dar aos 7 anos de idade, num pequeno campinho de terra, embaixo de uma ponte. “Aos 10 ou 12 anos ela já jogava futebol no meio dos homens, aplicava dribles, fazia gols, e mostrava muita habilidade", conta José Julio de Freitas, o Tota, 66 anos, primeiro técnico da jogadora e uma espécie de fã número um.
O irmão mais velho de Marta e arrimo da família, José Vieira, não gostava que ela jogasse. "Os colegas mexiam comigo, diziam que minha irmã era mulher e jogava melhor do que eu.” Apesar das dificuldades Marta passou por cima da discriminação e foi ao encontro de seu sonho. Com 12 anos, já jogava no CSA, um dos grandes de Alagoas - a única menina e craque do time.
Em 2000 surgiu uma proposta para jogar no time feminino do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. A notícia de que ia mudar para uma cidade grande, a mais de 2 mil km de casa, num primeiro momento não agradou à família de Marta. Depois de um tempo, os familiares perceberam que era realmente o que ela queria e aceitaram numa boa. Faltava só arranjar o dinheiro da passagem. Foi o primo Roberto e alguns amigos de Dois Riachos que fizeram uma “vaquinha”.
No Vasco, Marta jogou tão bem que ganhou o apelido de “Pelé de Saia”. Não demorou a chegar na Seleção Brasileira e hoje é a maior estrela do futebol feminino mundial. Marta ganhou fama mundial como a jogadora que “entortava” as adversárias e foi convidada para jogar em um time da Suécia, uma potência do futebol feminino. Tudo isso aconteceu quando ela nem tinha completado 18 anos.
Quando chegou sozinha à Suécia, em pleno inverno levou um susto, o país tem um dos climas mais rigorosos do planeta, com temperaturas que podem atingir 15 graus abaixo de zero. Para poder jogar era preciso usar luvas, gorro e proteções para pernas e braços. Fora o frio, a vida na Suécia foi boa para Marta: que morou num apartamento pago pelo time, ganhou um bom dinheiro e de sobra ainda viajou pelo mundo todo. A jogadora nem sabe dizer ao certo quantos países conheceu.
Em sua vitoriosa carreira Marta conquistou pela Seleção Brasileira títulos de grande expressão, como as medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de 2003 realizados em Santo Domingo, na República Dominicana, quando tinha apenas 17 anos, e de 2007 no Brasil, quando foi artilheira com 12 gols e mais uma vez comparada a Pelé.
Também ajudou o Brasil a ganhar a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 e o vice-campeonato mundial em 2007, na China, onde conquistou a artilharia com 7 gols. Na semifinal da competição, contra os EUA, Marta marcou o gol mais bonito de toda a história do torneio e foi escolhida melhor jogadora, recebendo o prêmio “Bola de Ouro.
Marta foi a primeira e até agora única mulher a deixar a marca de seus pés na “Calçada da Fama”, do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Além disso, integra o “Hall da Fama”, do Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL) e detentora da “Comenda Nise da Silveira“, a maior homenagem pública conferida pelo governo de Alagoas.
A fama não lhe tirou a humildade e continua a valorizar e prestigiar sua terra e os amigos. Toda a vez que tem oportunidade vai para Dois Riachos onde participa de animadas rodas de samba e de “peladas” nos campinhos da cidade.
O prestigio da jogadora é tão grande em todo o Estado, que até a Assembléia Leguslativa de Alagoas aprovou um projeto que muda o nome do tradicional estádio “Rei Pelé”, em Maceió, para estádio “Rainha Marta”, o que vem gerando muita polêmica em todo o Brasil.
Em Dois Riachos, o Governo do Estado construiu um ginásio poliesportivo que custou R$ 800 mil e que homenageia a jogadora. O espaço possui capacidade para cerca de mil pessoas e conta com arquibancadas, bateria de banheiros e piso paviflex, o que se constitui num grande avanço para um município onde falta quase tudo.
O jornalista argentino radicado em São Paulo, Diego Graciano escreveu o livro “Marta, você é mulher”, que conta toda a vida da grande jogadora. Por enquanto o livro não chegou às livrarias, o que deve acontecer nas próximas semanas e tem tudo para ser um sucesso de vendas. (Pesquisa: Nilo Dias)
(Foto: Site da Fifa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário