Após concluir os amistosos, encantado com o profissionalismo dos clubes europeus, Jaguaré foi para o Barcelona, junto com Fausto, a “Maravilha Negra”, onde sentiu na pele o preconceito por parte da torcida e dos dirigentes. Mas, como o time catalão contava no gol com o mito Ricardo Zamora, em maio de 1932, após uma discussão, ele voltou ao Brasil e, em 1934, passou a defender o Corinthians.
A diretoria resolveu substituí-lo pelo goleiro José Hungarez, o primeiro estrangeiro a vestir a camisa corinthiana. Em 1937, Jaguaré embarcou para a França, contratado pelo Olympique de Marseille, onde fez grande sucesso, ganhando o apelido de “Le Jaguar”. Com ele o clube conquistou o campeonato nacional no mesmo ano e no ano seguinte pela primeira vez a Taça da França.
Diz a lenda que tomou apenas um gol na temporada do título nacional e, no último e decisivo jogo, contra o Metz, vencido por 2 X 1 bateu um pênalti e marcou o primeiro gol de sua equipe, tornando-se o primeiro goleiro a marcar um gol em todo o mundo. Cerca de 32 mil torcedores viram o histórico momento.
O lance foi assim descrito pela revista "Sport IIustrado", em sua edição de 22 de junho de 1938. "Aos 22 minutos, Laurent, back do Metz, fez um penalty. Com surpresa de todos os assistentes, Jaguaré abandonou o seu posto e encaminhou-se para o goal adversário. Jaguaré collocou-se diante da bola , e quando o árbitro apitou, bateu o penalty.
"Ouviu-se uma exclamação da assistência. Jaguaré enviou a bola a um canto e marcou o goal de empate. Foi um lance sensacional. Um arqueiro fazer um goal contra o adversário! Em nossa capital, jamais houve um caso, em partida official, de um arqueiro executar um penalty."
Mas Jaguaré não se tornou o heróí do jogo apenas pelo gol que marcou. Fez mais: aos 28 minutos do segundo tempo, garantiu a vitória do Olympique ao defender "com um salto formidável" a cobrança de pênalti feita pelo jogador Donzelle. Pela sua atuação na decisão Jaguaré recebeu as felicitações do presidente da França.
Na Europa, as "brincadeiras" que Jaguaré fazia no Brasil não eram aceitas. Num jogo pela Copa da França, contra o Racing, fez uma defesa de bicicleta. Não foi mandado embora porque o Olympique venceu. Na Inglaterra, depois de uma defesa, atirou a bola na cabeça do adversário. O juiz parou o jogo, chamou o capitão do Olympique para adverti-lo que não iria admitir outra jogada como aquela, e puniu o time francês com um tiro livre indireto.
De vez em quando, aparecia no Brasil e era um sucesso. Um dia, anunciou que iria treinar no Vasco. São Januário encheu. Jaguaré apareceu de terno branco e chapéu chile pendido de lado. Trocou de roupa e ficou igualzinho a um goleiro europeu, de boné e luvas. Foi o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas, pretas por fora e vermelhas por dentro.
Com a proximidade da II Guerra, o medo falou mais alto e ele retornou ao Brasil, caindo em decadência e entregando-se ao vício da bebida. E novamente sem dinheiro, porque gastou tudo o que ganhou. Sem conseguir vaga nos times de ponta, jogou no São Cristóvão, voltou à estiva e ao anonimato.
Depois, desapareceu. Sabe-se que foi para a cidade de Santo Anastácio no Oeste paulista. Em 27 de outubro de 1946, Jaguaré voltou a ser noticia dos jornais. Em um canto de página policial, estava registrado que o antigo goleiro do Vasco, tinha se envolvido em uma briga com policiais, que o espancaram até a morte. Triste fim para quem levou tanta alegria aos gramados. Jaguaré foi enterrado como indigente.
Jaguaré jogou por estes clubes: Atlético Santista (amador, de 1926 a 1927); Vasco da Gama (1928 a 1931); Barcelona (1932 a 1933); Corínthians Paulista (1934 a 1935); Olympique de Marseille, França (1936 a 1939). Foi campeão carioca pelo Vasco (1929); campeão francês pelo Olympique (1937) e campeão da Copa da França pelo Olympique (1938). Jogou três partidas pela Seleção Brasileira, vencendo todas (1928/1929).
O Vasco da Gama teve um outro “Jaguaré” em sua história, mas este não era jogador e sim o locutor oficial do clube. Walter Micelli ganhou o apelido por causa do goleiro Jaguaré. Aos seis anos de idade, foi levado à São Januário e viu o goleiro em ação. Como também atuava na posição em peladas em São Cristóvão, acabou ganhando o nome pelo qual ficou conhecido durante toda a sua carreira.
Walter Micelli, o outro “Jaguaré” morreu no dia 17 de outubro de 2001, aos 79 anos, vitimado por um infarto. Reconhecido pelo “Guinness Book” como o mais antigo locutor de estádio do mundo, “Jaguaré” começou a trabalhar no Vasco em 1947. Ele esteve presente em mais de quatro mil jogos. Teve contato com os maiores ídolos da história do clube, entre eles Roberto Dinamite, Romário e Edmundo, além de acompanhar de perto o famoso “Expresso da Vitória” com Ademir, Barbosa, Chico e outros. (Pesquisa: Nilo Dias)
Jaguaré no início de carreira.
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