O Estádio dos Eucaliptos foi a casa colorada até o aparecimento do Beira-Rio, em 1969. No dia 26 de março de 1969, o Internacional realizou a sua última partida no Estádio dos Eucaliptos. No amistoso de despedida, o Colorado goleou o S.C. Rio Grande por 4 X 1, gols de Sérgio, Valdomiro, Gilson Porto e Marciano, marcando Motine para o visitante. Nesta partida, o ex-craque Tesourinha, então com 47 anos, voltou a jogar por alguns minutos com a camisa do Inter.
Após a criação do Estádio dos Eucaliptos, em 1931, o clube fez a sua primeira viagem fora do Rio Grande do Sul, e também a primeira fora do Brasil, para um amistoso contra o Oriental, no dia 25 de maio em Rivera, no Uruguai. O Internacional venceu por 4 X 2.
Na década de 1930 teve início uma grande mudança social no Internacional. Com o segundo título estadual ganho em 1934, os jogadores já recebiam alguma forma de remuneração. O time não era mais formado por tios, primos, filhos, e amigos da família. Estavam em campo jogadores das ligas periféricas, gente mais simples, alguns pobres, e negros. Também foi nesta época que se construiu a eterna rivalidade do futebol gaúcho.
A temporada de 1936 iniciou com duas polêmicas agitando os meios esportivos. Em uma delas a polícia gaúcha resolveu punir o jogo violento com autuação em flagrante por agressão. Instantes antes de uma partida entre Cruzeiro e Internacional, no dia 01 de maio, o delegado responsável pelo policiamento do jogo, Amantino Fagundes, ingressou no gramado e advertiu os jogadores, em frente ao juiz, do risco de prisão em caso de faltas violentas. O presidente da AMGEA reagiu, declarando através da imprensa que a polícia não tinha o direito de estender sua jurisdição para dentro do gramado.
Somente após um acordo entre a AMGEA e o chefe da Polícia do Estado, Poty Medeiros, a situação foi resolvida e os juízes puderam manter a autoridade durante as partidas. A outra polêmica foi em relação à visita ao Rio Grande do Sul, no mês de abril, de uma delegação das entidades esportivas “especializadas” (profissionais), buscando estender suas ramificações até o Estado.
A imprensa divulgou boatos de que a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) e a Liga Atlética do Rio Grande do Sul (LARGS) poderiam aderir às “especializadas”, porém as mesmas ignoraram os visitantes. Contudo, no ano seguinte os grandes clubes de Porto Alegre criariam a AMGEA “Especializada”, rompendo com a FRGD. Durante três anos a dupla Gre-Nal ficou afastada das competições estaduais, até a profissionalização completa do futebol gaúcho.
Nos anos 40 surgiu o “Rolo Compressor”, um time de craques extremamente ofensivo formado pelo dirigente Hoche de Almeida Barros (o Rocha), quando assumiu a presidência do clube em 1940. No Rolo, se consolidavam aos poucos as peças de um time de futebol que seria invencível.
Só havia uma maneira de fazer os jogadores do “Rolo Compressor”, brigarem entre si: acabar uma partida sem marcar gol. Nenhuma derrota irritava tanto quanto um confronto onde o time acabava com o placar em branco. A razão dessa fúria era a vocação ofensiva daquela equipe. Todos os movimentos tinham o objetivo do gol. E eles quase sempre surgiam aos montes.
Naquela época, os clubes atuavam com cinco atacantes. E o Rolo se dava ao luxo de contar com alguns dos mais extraordinários que passaram pelos gramados do Rio Grande do Sul, como Tesourinha, Carlitos e Villalba. O Rolo conquistou um hexacampeonato estadual entre 1940 e 1945, empilhou vitórias em Gre-Nais e se tornou em uma das melhores formações do futebol gaúcho em todos os tempos.
Mas o segredo do Rolo, não estava só na técnica formidável. Havia um companheirismo inabalável entre os jogadores. A maioria se criou no próprio Inter, desde os juvenis. Somaram-se ainda alguns valores garimpados nas ligas de "canela preta", como eram chamados os times formados por negros. E por tradição, o Inter foi o primeiro a incorporar negros na equipe.
Orientado em boa parte pelo técnico uruguaio Ricardo Diaz, o “Rolo Compressor” amassava seus adversários. Havia Assis, dono de um chute violentíssimo e de um fôlego raro para um homem de quase 100 quilos. Ou o zagueiro Nena, de habilidade incomum para um defensor. Ou ainda o ponteiro-direito Tesourinha, que muitos apontam como o melhor do Brasil, depois de Garrincha.
Sem contar com o meia Rui, apelidado de Motorzinho pala sua movimentação intensa. Ou ainda o centromédio Ávila, de grande Vigor. Impossível esquecer Carlitos, o maior artilheiro da história do clube. Foram 485 gols em 14 anos de Inter. Com tantos craques em um mesmo time nada mais natural que uma revolta fosse armada a cada partida sem gols. Nada mais natural.
Carlitos, adorava aprontar confusões em campo, tanto que ganhou o apelido de “Sujeira”. Certa vez, antes de uma cobrança de escanteio, ele prendeu o calção do goleiro gremista Júlio em um prego solto na trave. Quando o jogador saiu para fazer uma defesa, seu calção rasgou. Além de maior artilheiro do Inter, Carlitos também foi o autor do gol mais rápido do Rio Grande do Sul até hoje, 10 segundos.
Quem criou a expressão "Rolo Compressor" foi Vicente Rao, Rei Momo e maior mito do Carnaval de Porto Alegre em todos os tempos, cujo reinado durou 22 anos, de 1950 a 1972. Ele foi um homem bondoso e ingênuo, um soberano cheio de alegria e magnetismo pessoal . Conhecido como "O Primeiro e Único", ele comandava o bloco "Tira o Dedo do Pudim", certamente o mais engraçado de todos.
Semanas antes do Carnaval, Vicente Rao escrevia "comunicados" no estilo dos comandos militares. Claro, era pura galhofa. A extinta "Folha da Tarde" costumava os publicar sempre com destaque, e com a assinatura "Vi-100-T Rao". Era a alma da festa, o Carlos Magno, o Júlio César, o Napoleão da folia.
Jogador do Internacional na década de 20, inclusive fazendo parte do grupo que conquistou o primeiro Campeonato Gaúcho do clube, em 1927, acabou escrevendo seu nome na história colorada como o insuperável animador de torcida. Gostava de futebol e da juventude, tanto que foi ele quem criou as primeiras escolinhas de futebol do Internacional.
Vicente Rao nasceu justamente em 4 de abril, data de aniversário do Internacional. Gostava de dizer que não havia nascido, “foi inaugurado”. Rao, que era um excelente e criativo desenhista fazia desenhos dos jogadores do Inter e do time todo, em forma de um rolo compressor, amassando todos os adversários. Depois, levava suas charges pessoalmente aos jornais.
Antes de fazer história na folia porto-alegrense, ele era colorado do bigodinho aos sapatos. Mais do que isso, era olheiro do clube. Foi o criador da primeira torcida organizada do país: a Camisa 12, que costumava receber o time com foguetes, serpentinas e barulho de sinos e sirenes. Na época, o time era considerado de negros e pobres desassistidos. A torcida era uma espécie de desforra à sua situação de classe, se comparadas ao chamado elitismo de cor do arqui-rival, o Grêmio. Rao também criou faixas e bandeiras, sempre provocando a gozação dos tricolores.
Porém, ele tanto insistiu na moda que ela acabou pegando entre os torcedores adversários. Em pouco tempo, eram os gremistas que criavam faixas e bandeiras. Ao ver o sucesso da sua idéia perante os azuis, Vicente Rao preparou o deboche. Num Gre-Nal na Timbaúva, o estádio do Força e Luz, o futuro Rei Momo esperou que os gremistas levantassem a primeira faixa para erguer a sua, onde se liam em letras garrafais a frase provocativa e zombeteira: “IMITANDO OS NEGRINHOS, HEIN?”.
Certa vez, encontrou uma cabrita que pastava no terreno de um certo Lothar, e pediu-a emprestada. Batizou-a de “Chica”. Desde então, a mascote era o talismã do Rolo, e freqüentava sempre as arquibancadas do velho estádio. Rao dizia que ela era o símbolo da sorte e da força do time.
Na final do Campeonato Citadino de 1943, disputado no Fortim da Baixada, a primeira sede do Grêmio, ele tentou entrar com “Chica” no campo gremista. Os dirigentes azuis, já acreditando na tal história da "sorte", acharam por bem impedi-la de entrar. Sem se dar por vencido, Rao arranjou auxílio de alguns torcedores, arrancou algumas tábuas da arquibancada e contrabandeou a cabrita pelo vão do muro.
Qual não foi a surpresa de todos os presentes ao Gre-Nal quando “Chica” apareceu, feliz da vida, no meio da torcida. Reza a lenda que, no fim do disputado jogo, brilhou a estrela do "talismã" colorado quando, na cobrança de falta de Rui, a bola que ia certa para a linha de fundo, desviou até cair na forquilha esquerda do gol do assombrado Júlio, que viu o Grêmio perder mais um título. No fim, “Chica” foi carregada nos ombros dos torcedores da Baixada até os Eucaliptos. Para quem viu, foi uma das cenas mais burlescas que a cidade já presenciara até então...
Vicente Rao morreu em 1973 e virou nome do museu do Internacional, que foi fundado em 1994 e que uma geração de desmemoriados condenou às traças. Até pouco tempo atrás, ele se reduzia a uns poucos adereços guardados em caixas de papelão, numa sala do ginásio Gigantinho. Em novembro de 2005, a diretoria do Inter finalmente fez um projeto de revitalização do antigo museu, que foi inaugurado em 2006.
Na década de 40, o Internacional teve um retrospecto avassalador contra o rival: em 28 Gre-Nais venceu dezenove, empatou cinco e perdeu apenas quatro. Nessa mesma época, conquistou o hexacampeonato estadual, de 1940 a 1945, sendo que em 1942, 1943 e 1945 foi de forma invicta. Em 18 de novembro de 1945, o Internacional ganhou o inédito título de hexacampeão gaúcho, na Timbaúva, estádio do Força e Luz, jogando contra o Pelotas. Pesquisa: Nilo Dias)
Vicente Rao foi um dos mais ardorosos torcedores do clube. Rei Momo de Porto Alegre, atleta colorado na década de 20 e fundador da primeira torcida organizada no Brasil. (Foto: Museu Vicente Rao)
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