terça-feira, 30 de junho de 2009

O racismo no futebol (Final)

Mas a discriminação não se resume apenas ao campo de jogo. Ela é bem clara em muitas outras situações, como a distribuição salarial dos jogadores, segundo os aspectos cor/raça. Chama atenção a diferenciação nos percentuais de jogadores que recebem até 1 salário mínimo. Neste caso, 48,1% dos jogadores negros contra 33,6% dos pardos e 26,6% dos brancos. Torna-se nítido que são os negros que têm a maior tendência a ocuparem a base da distribuição salarial no futebol.

Na faixa salarial de 10 a 20 salários mínimos, encontramos 8,3 dos jogadores brancos contra 6,2% dos jogadores negros e 6,1% dos jogadores pardos. Esta diferença aumenta, ao observarmos os rendimentos acima de 20 salários mínimos. Neste temos 24,8% dos jogadores brancos contra 14,8% dos negros e 12,2% dos pardos. Diante disto fica nítido que os jogadores brancos estão situados nos estratos mais elevados da distribuição salarial.

O jornal “Folha de São Paulo” publicou em novembro do ano passado uma pesquisa que mostra com números impressionantes o tamanho do racismo no Brasil. Temos no país auto declarados: 37% Brancos, 36% pardos, 14% pretos. Embora 91% da população diga que o brasileiro é racista, apenas 3% se assume como tal.
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Pretos e pardos possuem somente 6,3 anos de estudo. Apenas 31% das pessoas no ensino superior são pretas ou pardas. Nesta cifra, 51% estão em cursos destinados a formar professores e somente 12% estão em Medicina. No ensino de elite, de 369 aprovados para Medicina no vestibular da Fuvest, só um se dizia preto.

Negros recebem 62% do salário de um branco. A mulher negra recebe somente 56 %. Dentre os 10% mais ricos, somente 22% são pretos e pardos. Dentre os 10% mais pobres, 68% são pretos e pardos. Brancos recebem, em média, R$ 977 enquanto pretos e pardos recebem R$ 506. Brancos, no mesmo emprego, ganham 11% mais que pretos e pardos. A polícia e a justiça são mais rígidas e truculentas quando se trata de pretos e pardos.

Segundo a pesquisa, o Brasil possui um racismo velado em que a discriminação se dá mais pela impossibilidade de acesso e aceitação: recusa de empregos, de namoros, de casamentos, de amizade, de cordialidade, de confiança. Ao mesmo tempo, é se mais rápido e rígido nas cobranças e nas condenações quando se tratam de pretos e pardos.

Apenas 9,7% dos médicos são pretos ou pardos. Dentre os dentistas, somente 8,6% são pretos ou pardos e dentre os advogados somente 17%. Praticamente não há padres negros nem técnicos de futebol negros no Brasil.

Historicamente, as elites brancas pensavam que países com maiorias não brancas jamais progrediriam. Embora no Brasil somente de 7 a 11% dos brasileiros participem de sindicatos e partidos políticos, as várias minorias que formam o movimento negro tem conseguido diminuir a intensidade do racismo no Brasil.

E o que existe de prático no país, para combate a essa discriminação racial e étnica? A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no seu Artigo 5º que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Em 5 de janeiro de 1989, foi aprovada a Lei 7.716, conhecida como "Lei Anti-Racismo" ou "Lei Caó" que trata dos crimes resultantes do prejuízo de raça ou cor. Apesar do seu nome, essa lei não representou maior avanço no campo da discriminação racial por ser excessivamente evasiva e lacônica e exigir, para a tipificação do crime de racismo, o autor, após praticar o ato discriminatório racial, declarar expressamente que sua conduta foi motivada por razões de discriminação racial. Se não o fizer, será a sua palavra contra a do discriminado.

Em vista disso, conclui-se que nada acontecerá ao jogador do Grêmio, que nega ter ofendido o jogador Elicarlos do Cruzeiro, de Minas Gerais, chamando-o de “macaco”. Em síntese, parece que o final deste acaso ficará no tradicional “dito pelo não dito.” E de sobra um clima de “guerra” para o time mineiro, no decisivo jogo de Porto Alegre, na quinta-feira (2/07). (Pesquisa: Nilo Dias)

Elicarlos diz ser vitima de racismo.Maxi Lopez, nega.

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