Sport e Náutico jogam neste domingo no estádio da Ilha do Retiro, o clássico de número 513 de toda a história. Uma taça comemorativa estará em disputa. Quem vencer a partida, válida pela 14ª rodada do Campeonato Brasileiro, leva o troféu para casa. Se houver empate, cada um dos clubes receberá uma réplica. O primeiro clássico aconteceu no dia 25 de julho de 1909, no campo do British Country Club, da colônia inglesa em Recife, e se localizava onde hoje está o Museu do Estado, no bairro das Graças. O Náutico, fundado em 1901, para a prática de esportes aquáticos, foi o vencedor pelo escore de 3 X 1, perante cerca de 3 mil torcedores. O Sport foi fundado em 1905.
Para os jornais da época, uma surpreendente vitória alvirrubra, já que o Sport era considerado franco favorito. Quem marcou o primeiro gol da história foi Roland Maunsell, que também fez o segundo. A vantagem alvirrubra aumentou no segundo tempo, com D. Thomas. Em seguida, C. Chalmers diminuiu para os rubro-negros.
O Sport jogou com: L. Latham - N.D.T.Oliver e W.H.Muller - Frank Fellows - W.Pickwood e Willie Robinson - Alberto Amorim - S.T.Marsh - L.Griffith - C.Chamlmers e J.Amorim. Reservas: O. Von Shosten e A.Lundgren. O Náutico formou com: H. King - E. Montagne Smith e H.A.R. Ávila - R. Ramage - F.M. Ivatt e John Cook - A.Silva - H. Grant Anderson - R.Maunsell - D.Thomas e João Maia. Reserva: Mac Pherson. Ainda naquele ano os dois se enfrentaram mais uma vez, com nova vitória alvirrubra, por 2 x 0.
Tanto Náutico como Sport eram times formados por jogadores ingleses. O Sport jogou com calções brancos e camisas vermelhas e pretas em listras verticais, sem escudo. Tinha como vantagem a experiência de ter realizado outras dez partidas anteriormente. O Náutico, que fazia seu primeiro jogo de futebol atuou todo de branco, e na camisa havia um escudo com uma âncora, dois remos e as letras CNC. Após o jogo os atletas dos dois times confraternizaram no palacete do British Club, com discursos e muita champagne.
O primeiro jogo entre ambos valendo pontos foi realizado no dia 21 de maio de 1916, também no campo do British Country Club, com vitória do Náutico por 4 X 1. Quase quatro meses depois, veio a revanche. Num campo lotado, na Ponte d'Uchoa, os rubro-negros pagaram a dívida com juros e correção monetária e fizeram a maior diferença de gols entre os dois times nos 100 anos de história: 8x0. Motta fez 4, Vasconcelos 3, e Smith completou o marcador.
O Náutico levou 20 anos para devolver o vexame. A goleada começou em dezembro de 1934, num jogo bastante tumultuado. O Náutico vencia por 2 x 0 quando o Sport diminuiu e começou a pressionar. De acordo com o pesquisador Carlos Celso Cordeiro, o Náutico começou a fazer cera e provocar o juiz. Naquela época, quando o juiz era pressionado, era substituído, ao contrário de hoje quando os atletas indisciplinados são expulsos.
A demora foi tamanha que o jogo entrou pela noite. Como não havia refletores, a partida teve que ser suspensa. A prática previa que o tempo restante seria completado no dia seguinte. O Sport não aceitou e propôs uma nova partida começando do 0 X 0.
O novo confronto foi marcado para 31 de março, já em 1935 no campo da Avenida Malaquias. Aos dois minutos, Estácio fez 1 X 0 para o time vermelho e branco. Aos 15, Zezé aumentou para 2 X 0. Cinco minutos depois Fernando fez 3 X 0 em cobrança de pênalti. Mais três minutos e outro Carvalheira, Artur, marcou 4 X 0. Aos 37, Estácio fez 5 x 0, terminando o primeiro tempo.
Aos cinco da fase final, Fernando Carvalheira driblou quem apareceu pela frente e fez o sexto. O Sport conseguiu seu gol solitário aos 21, após Marcílio Aguiar aproveitar rebote de Osvaldo Salsa. Um minuto depois Fernando Carvalheira fez 7 X 1. Para fechar com chave de ouro, Artur Carvalheira fez o oitavo no minuto final.
Embora Náutico e Sport já tenham goleado um ao outro com oito gols, essas duas partidas não se constituíram como as maiores quantidades de gols marcados. O feito ocorreu no dia 14 de junho de 1947, quando o Náutico venceu por 7 X 3. O goleiro do Sport era o lendário Manuelzinho.
O jogo valia pelo turno eliminatório do Estadual. O Náutico estava repleto de juvenis, enquanto o Sport apresentava um time mais experiente, com Chicão e Zago, além de Manuelzinho. Antes dos 30 minutos da etapa inicial o jogo já estava 3 X 0 para o Náutico. Alcidésio, Zeca e Idimiar foram os goleadores. Dega e Molina diminuíram o marcador para o rubro-negro, mas Idimar fez mais um pouco antes do fim do primeiro tempo, que terminou 4 X 2 para o Náutico. No segundo tempo, o Náutico marcou mais três vezes, com Zeca, Carlos Alberto e Genival. Aos 43 minutos, Alheiros descontou, ficando o placar final em 7 X 3.
O clássico Náutico X Sport é o terceiro mais antigo do Brasil, ficando atrás apenas do “Clássico Vovô, entre Botafogo X Fluminense (22/10/1905), no Rio de Janeiro e o Gre-Nal (18/07/1909), no Rio Grande do Sul.
Segundo alguns jornalistas e pesquisadores Náutico X Sport é verdadeiramente o segundo clássico mais antigo do Brasil, e não o terceiro, como se pensa. A polêmica sobre o clássico mais antigo tem justificativa. O “Clássico Vovô” entre Botafogo x Fluminense, datado de 1905 seria o mais antigo. Mas na época existiam dois Botafogos: o Club de Regatas, e o Football Club. Com a união em 1942, o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje, herdou os títulos do antigo Botafogo Football Club.
Há um grande equívoco sobre o “Clássico Vovô”, porque o Botafogo que jogou contra o Fluminense foi extinto. Só em 1942 que houve a fusão dos dois Botafogos, com outro estatuto. Já Internacional, Grêmio, Sport e Náutico são instituições centenárias de vidas perenes, sem interrupções, diz o jornalista e pesquisador Galvão Neto.
Por esta visão, o clássico gaúcho entre Internacional x Grêmio, iniciado em 18 de julho de 1909 passa a ser o mais antigo no Brasil, sendo seguido por Sport x Náutico de 25 de julho de 1909, seis dias depois do Grenal.
O jogo entre Sport X Náutico disputa em importância com o “Clássico das Multidões” envolvendo Santa Cruz X Sport e com o “Clássico das Emoções”, disputado entre Náutico X Santa Cruz. Bem antes, o jogo entre América Football Club e Sport Club do Recife era chamado de “Clássico dos Campeões”. A denominação surgiu por que até o inicio da década de 1930, eram os dois times que detinham a maior quantidade de títulos e também eram os dois principais clubes da cidade. O “Clássico dos Campeões” foi o primeiro clássico de expressão entre equipes da capital pernambucana.
A rivalidade entre alvirrubros e rubro-negros vai além da quantidade de vitórias. Isso, porque o Náutico é o único clube pernambucano que conquistou o hexacampeonato estadual, assumindo assim o slogan de que "Hexa é Luxo". Tal provocação mexe com o ânimo do Sport, que há alguns anos tenta derrubar o prestígio alheio. Em 2006, o rubro-negro iniciou uma caminhada que já soma quatro títulos no Campeonato Pernambucano.
Até os anos 40, o confronto entre Sport X Náutico era chamado de "Fla-Flu Pernambucano", uma referência ao maior clássico do país na época. Depois foi ganhando personalidade própria, até virar o "Clássico dos Clássicos".
Dos 512 jogos já disputados, o Sport venceu 197, o Náutico, 169 e se verificaram 145 empates. Até hoje não se sabe o resultado de um jogo, que valeu pelo “Torneio Terezinha de Jesus”, que completa a estatistica. Foram marcados 1.321 gols, 687 do Sport e 634 do Náutico. A Ilha do Retiro é o local onde se realizaram mais clássicos, 207 ao todo. O maior artilheiro é Fernando Carvalheira, atacante do Náutico nos anos 30, que fez 26 gols. O principal goleador do Sport no clássico é Traçaia, que jogou nos anos 50 e marcou 13 gols.
O maior público de todos os tempos foi no jogo Sport 2 X 0 Náutico, disputado no dia 15 de março de 1998, no Estádio do Arruda, com 80.203 torcedores. Os árbitros que mais apitaram o clássico foram Sebastião Rufino e Gilson Cordeiro, ambos em 35 oportunidades. O campeonato pernambucano é a competição onde mais se enfrentaram, 384 vezes. (Pesquisa: Nilo Dias)
Sport, bicampeão pernambucano, 1955/1956. (Foto: Acervo do Sport Club Recife).Náutico, campeão pernambucano de 1934. (Foto: Livro "A história do futebol em Pernambuco").
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