Morreu na última sexta-feira (31), aos 86 anos de idade, o ex-zagueiro Juvenal, um dos três últimos remanescentes do grupo de jogadores que formou a Seleção Brasileira que disputou e perdeu a Copa do mundo de 1950, realizada no Brasil. Os outros dois são Nilton Santos e Nena. Olavo Rodrigues Batista, o Nena, jogou pelo Internacional de Porto Alegre, Portuguesa de Desportos, de São Paulo e Seleção Brasileira. Hoje, com 86 anos e aposentado, mora em Goiânia. Nilton Santos, só jogou pelo Botafogo do Rio de Janeiro e Seleção Brasileira. Mora no Rio de Janeiro e está 88 anos. Juvenal Amarijo estava internado há 15 dias no Hospital Geral de Camaçari, região metropolitana de Salvador devido a uma artrose no joelho direito. A causa da morte ainda não foi revelada.
Juvenal nasceu na cidade gaúcha de Santa Vitória do Palmar, no dia 27 de outubro de 1923. Começou a carreira de jogador profissional no G.E. Brasil de Pelotas (RS), onde atuou entre 1943 e 1949, ano em que se transferiu para o Flamengo do Rio de Janeiro. No clube carioca jogou de 1949 a 1951. Seu primeiro jogo pelo rubro-negro foi no dia 20 de fevereiro de 1949, com uma goleada de 4 X 1 sobre o Olaria. No Flamengo ele participou de 82 partidas e marcou 1 gol.
Em 1950 disputou a Copa do Mundo, tendo jogado seis partidas. Ao sair do Flamengo defendeu o Palmeiras (1951 a 1954), Bahia (1954 a 1958) e Ypiranga (BA) (1958 a 1959), quando encerrou a carreira. Pela Seleção, ele disputou 11 partidas, a última no “Maracanazzo” de 1950. Foram oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota, exatamente contra o Uruguai, no Maracanã.
Nos 16 anos de carreira profissional conquistou os seguintes títulos: pelo Flamengo: Troféu Embaixada Brasileira, na Guatemala (1949); Troféu El Comite Nacional Olímpico da Guatemala (1949); Palmeiras: Campeonato Paulista (1950); Copa Rio (1951); Bahia: Campeonato Baiano (1954 e 1956) Seleção Brasileira: Copa Oswaldo Cruz (1950) e Copa Roca (1950).
Mesmo tendo conquistado títulos importantes e defendido grandes clubes, Juvenal teve que carregar pelo resto da vida o peso de ter participado da maior tragédia do futebol brasileiro em todos os tempos, a derrota de 2 X 1 para o Uruguai na decisão do Mundial de 1950. Ele era titular absoluto da seleção, e ao lado do goleiro Barbosa e do lateral Bigode foi apontado como um dos culpados diretos pelo fracasso. Jamais conseguiu se livrar do fantasma de 50. A exemplo de Barbosa recebeu uma espécie de punição perpétua. Até morrer se sentiu como um eterno condenado.
Em 2007, a Rede Globo revelou o drama vivido pelo ex-jogador, que, pobre e doente se movimentava numa cadeira de rodas, morando num barraco em péssimas condições na praia do Jauá, na região litorânea de Camaçari (BA). Nem televisão tinha para ver partidas de futebol. O drama de Juvenal mobilizou várias pessoas pelo país, inclusive dirigentes do clube onde começou a jogar, o Brasil de Pelotas, que lhe garantiram todo o tipo de assistência. Ele ganhou uma TV, casa nova e recebeu tratamento médico. Mas uma ferida jamais foi cicatrizada, aquela que cortou definitivamente a alma do zagueiro naquela tarde de julho no Rio de Janeiro.
A Rede Globo promoveu no início de 2008 a ida de Juvenal ao Rio de Janeiro e ao Maracanã depois de 50 anos. No maior estádio do mundo o ex-zagueiro relembrou um dos dias mais tristes de sua carreira. Mas a emissora também lhe proporcionou um momento de grande emoção: o reencontro com a filha que ele havia abandonado na década de 1950.
Juvenal jogou numa época em que o futebol não proporcionava as grandes fortunas de hoje, mas permitia que se vivesse confortavelmente. Isso, para quem soube administrar o sucesso e o dinheiro. O ex-zagueiro da seleção, por razões que não cabem ao articulista comentar, não fez isso e morreu pobre, sozinho e numa cadeira de rodas. Ainda bem que nos últimos meses de vida conseguiu, pelo menos, recuperar a dignidade perdida. (Pesquisa: Nilo Dias)
Juvenal com a camisa do Flamengo (Foto: Flapedia)
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