Em 1985, o craque Zico enfrentava problemas financeiros com o fisco italiano e no início do ano revelou sua vontade de voltar a jogar no Brasil. Ele havia sido vendido em 1983 à Udinese da Itália. Aproveitando a presença do jogador no país, quando de um jogo da Seleção Brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo, o Flamengo cogitou trazê-lo de volta a Gávea.
E graças a uma parceria com a Petrobras e a Rede Globo, o que parecia impossível se concretizou. A noticia caiu como uma bomba no meio esportivo, e para comemorar tal proeza nada melhor do que preparar uma grande festa apara recepcionar o ídolo.
Ao mesmo tempo em Alagoas, o programa “Globo Esporte”, através do repórter Marcio Canuto trazia quase todos os dias imagens de um ponta esquerda baixinho (70 kg, altura 1,65 m), que jogava no Centro Sportivo Alagoano (CSA), chamado Jacozinho. O repórter Márcio Canuto, da TV-Gazeta-AL, hoje na Globo-SP, ficava forçando, em tom de gozação, sua entrada na Seleção Brasileira. Jacozinho engolia a corda, e com isso, ficou conhecido no Brasil, de ponta a ponta. Jacozinho era uma figura folclórica, embora habilidoso e autor de bonitos gols que eram vistos quase todos os domingos no “Fantástico”. Por ser muito pobre, várias vezes foi flagrado indo treinar montado em um jumento. E gostava de comer rapadura.
Quando os dirigentes rubros negros decidiram em fazer uma volta triunfal de Zico convidaram para jogar contra o Flamengo uma seleção de craques do mundo. Maradona, Edinho, Mário Kempes, Rumennigge, Falcão, Paolo Rossi, Altobelli, Resenbrink, Fernando Morena e o técnico Cesar Menotti foram alguns convidados para o evento e prontamente aceitaram o convite. Até que um dia alguém ligado a Globo sugeriu o nome de Jacozinho.
"Jacozinho, quem é ele no meio de tantos cobras?", foi a pergunta dos dirigentes do Flamengo. "Queremos Jacozinho porque ele nos traz um ibope tremendo", foi o que alegaram representantes da Globo. Como a emissora havia financiado a volta de Zico, todos tiveram que aceitar a idéia. E então, na noite de 12 de Julho em um Maracanã lotado lá estava o Flamengo contra a Seleção de Craques, com Jacozinho no banco de reservas.
Quando o jogo Flamengo x Amigos de Zico começou foi aquela festa: flores, placas de comemoração, coroas e muitos presentes. Foi a bola rolar e o que se viu foi uma verdadeira pelada, embora o Flamengo estivesse vencendo por 2 x 1. Nem Zico e nem Maradona estavam jogando bem. A torcida impaciente começou a gritar: "Jacozinho, Jacozinho", provando a audiência que a Globo possuia. Quando faltavam 20 minutos para acabar o jogo o técnico Menotti não teve outra alternativa e colocou Jacozinho para jogar.
Quando ele apareceu no gramado a torcida entrou em delirio e esqueceu de Zico, do Flamengo e de Maradona. E na primeira bola que pegou no meio-campo Don Diego viu Jacozinho livre na esquerda e fez o lançamento. O baixinho ganhou na corrida do lateral Leandro, ficou de cara com o goleiro Cantarelle, deu-lhe um drible e mandou a bola para as redes. A Globo ficou meses falando do lance. O único que não gostou do ocorrido foi Zico que ficou bastante contrariado com o gol de Jacozinho, a ponto de declarar no fim do jogo: "Infelizmente tem pessoas que querem aparecer mais que os homenageados".
O ex-atacante do CSA conta que foi um momento mágico da sua vida ter participado do amistoso, principalmente pelo gol que fez. “Eu recebi o passe do Maradona, driblei o Cantarelle, e marquei. Foi um dia de herói, apesar do Zico ter ficado um pouco chateado. Ele disse depois que eu não era amigo dele e havia outros jogadores que poderiam ter participado daquela partida”. Jacozinho disse que até hoje não sabe como foi parar lá no Maracanã. Conta que um empresário de nome Ronaldo ligou para fazer o convite. Ele teve de pagar a passagem do seu bolso e foi para o Rio. Nem sabia que ia jogar.
A fama meteórica de Jacozinho rendeu até uma homenagem feita por Fernando Collor de Mello, na época governador de Alagoas. “Nunca pensei que aquilo fosse acontecer. Até o Collor, que depois foi eleito presidente, me homenageou. O povo pedia para o Evaristo de Macedo (que era o técnico) me dar uma chance na seleção brasileira. Parecia até o Romário”, brinca o ex-atacante, que chegou a fazer testes no Santos Futebol Clube em 1983.
Givaldo Santos Vasconcelos, o “Jacozinho”, nasceu em 1956, na cidade de Gararu (SE). Hoje, aos 54 anos de idade reside em Vila Velha (ES). Ele tornou-se evangélico e comanda uma escolinha de futebol, núcleo do Vasco da Gama e como professor de Educação Física da Faculdade Batista. Mas ainda mantém o seu jeito folclórico e engraçado. No futebol viveu bons e maus momentos. Foi coroado rei em Alagoas e morou debaixo das arquibancadas no Maranhão.
Jacozinho Iniciou a carreira de jogador de futebol no Vasco Esporte Clube de Aracaju em 1975, nas categorias de base. Na época, o clube era dirigido por José Carivaldo de Souza que, atendendo solicitação do treinador Jaime de Souza Lima, assinou seu primeiro contrato em 21 de outubro, aos 20 anos de idade, percebendo o salário de Cr$ 800.00 cruzeiros.
Pelo bom desempenho apresentado no Campeonato Estadual daquele ano, Jacozinho foi contratado no ano seguinte, pelo Club Sportivo Sergipe, para as disputas dos campeonatos sergipano e brasileiro. Durante a temporada de 1977, atuou ao lado de jogadores como Raymundo Dória, Cabral, Orlando, Milano, Djalma Sales, Rubens e Peribaldo, entre outros. O primeiro jogo de Jacozinho no Maracanã foi contra o Fluminense que tinha um timaço, onde se destacava o craque Rivelino. O time sergipano perdeu por 2 X 1 e Jacozinho foi um dos grandes nomes da partida.
Ele ganhou fama e algum dinheiro, mas esbanjou tudo com farras e mulheres. Ele garante que, no apogeu da fama, chegou a possuir um sitio, uma mansão de cinco quartos em Jequié, na Bahia, uma casa em Aracajú, um apartamento em Maceió e três carros. Perdeu tudo. Hoje, vive em casa alugada.
Agora está longe da mulherada, mas tem um projeto na cabeça: se tornar pastor e levar a palavra do evangelho para a China. Faz parte de um grupo de pagode evangélico que já gravou um CD. Seu carro chefe é a musica que narra seu maior momento de glória. O refrão diz assim: “Maradona lançou, Jacozinho partiu, Figueiredo ficou, Cantarelle caiu... e a torcida gritou: é gol, é gol de Jacozinho”.
Um belo dia de 1988, Jacozinho apareceu no ABC de Natal e nas entrevistas garantia que vinha para ser campeão. Tarde de clássico-rei. Um domingo, estádio com mais de 15 mil pessoas. E entra no gramado Jacozinho, uniformizado e montado num jumento. Mas no final do jogo deu América 2 X 0. Depois disso Jacozinho teve seu nome lembrado para fazer parte da Seleção Brasileira e foi contratado para jogar no Santa Cruz do Recife. Não deu certo e acabou sumindo do mapa.
Quando jogava no Santa, Jacó, que também esteve no Ypiranga, andava num Fusca caindo aos pedaços, devagar, quase parando, como seu dono. "Esse coitado é a minha cara", brincava. O calhambeque tinha nome. Chamava-se Maestro. "É um conserto em cada esquina", dizia o jogador, fazendo trocadilho com concerto, que significa peça musical.
Na sua longa carreira passou por 22 clubes: Vasco (SE), Sergipe (SE), CSA (AL), Jequié (BA), Galícia (BA), Lêonico (BA), Corinthians de Presidente Prudente (SP), ABC (RN), Baraúnas (RN), Nacional (AM), Santa Cruz (PE), Ypiranga (PE) e outros tantos clubes pelo Brasil. (Pesquisa: Nilo Dias)
Jacozinho quase acabou com a festa de Zico.
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