Algisto Lorenzato Domingos, mais conhecido por Batatais foi um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro. O apelido lembra sua cidade natal, Batatais (SP), onde nasceu no dia 20 de maio de 1910. Com seus 1.82 m e 76 kg, começou a carreira no time do Frigorífico Anglo, onde foi trabalhar ainda jovem, para ajudar nas despesas de casa, já que sua família era muito pobre. Sua primeira posição foi ponta-esquerda. Entrou para o gol, quando o titular se machucou, e nunca mais saiu.
Depois foi parar no Comercial F.C., de Ribeirão Preto. Em 1933 foi contratado pela Portuguesa de Desportos, onde estreou no dia 22 de maio com uma vitória sobre o Santos F.C. por 4 X 2. No seu jogo de despedida da “Lusa”, dia 26 de novembro de 1934, uma derrota de 1 X 0 para o Corinthians.
Em janeiro de 1935 Batatais foi para o Palestra Itália, onde ficou por seis meses. Jogou 11 partidas, com 8 vitórias, 2 empates, 1 derrota e 9 gols sofridos. Em junho de 1935 foi para o Fluminense F.B.C, do Rio de Janeiro, junto com vários outros jogadores que defendiam a Seleção Paulista, tricampeã brasileira de seleções estaduais.
No ano seguinte foi titular de todas as 18 partidas da vitoriosa campanha do Fluminense no Campeonato Carioca. O Fla-Flu voltou a decidir o campeonato de 1936, já no profissionalismo. Melhor de três em Laranjeiras: 2 X 2, 4 X 1 e 1 x 1. Novamente o Fluminense levantou a taça. O time campeão foi: Batatais - Guimarães e Machado – Marcial - Brant e Orozimbo - Mendes – Lara – Russo - Romeu e Hércules.
Em 1937 e 1938, lá estava Batatais novamente, tornando-se o goleiro do segundo tricampeonato da história do Fluminense. O goleiro vestiu a camisa tricolor até 1945, conquistando ainda mais dois títulos cariocas, em 1940 e 1941, e participando do confuso Torneio Rio-São Paulo em que o Fluminense foi declarado campeão, junto com o Flamengo, em 1940.
O Fluminense ficou famoso por uma tradição de possuir grandes goleiros. E se Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro desta linhagem, o segundo foi com certeza Batatais. Pelo Fluminense disputou 309 partidas e sofreu 458 gols. Em 79 jogos não foi vazado.
A decisão do Campeonato Carioca de 1941, na Gávea, o famoso “Fla-Flu da Lagoa” ganhou ares de tira-teima, uma vez que o tricolor ganhara os campeonatos de 1936, 1937 e 1938, além do de 1940, enquanto o Flamengo, com uma equipe forte, sagrara-se campeão de 1939.
Nesse jogo Batatais foi o grande herói. Mesmo contundido - teve um braço pisoteado por Pirilo - manteve-se firme e garantiu o empate heróico de 2 X 2, que deu o bicampeonato ao tricolor. O Fluminense estava “rebentado” em campo. Naquela época não eram previstas substituições. Além do goleiro machucado, Brant estava fisicamente esgotado. E para piorar, Carreiro havia sido expulso.
O clássico foi eletrizante. O Fluminense começou melhor a partida, marcando dois gols, com Pedro Amorim e Russo. No fim do primeiro tempo, Pirilo diminuiu para o rubro-negro. No segundo tempo, depois de muito pressionar, o Flamengo empatou, novamente com Pirilo, aos 38 minutos.
A partir daí, o Flamengo – precisando da vitória – se lançou todo ao ataque, enquanto o Fluminense, encolhido na defesa, se valia dos chutões para a Lagoa Rodrigo de Freitas para aliviar a pressão. Quando as bolas sumiam, os dirigentes rubro-negros recorriam aos remadores do clube, a fim de que resgatassem as bolas com maior rapidez. Por isso o jogo ficou conhecido como o “Fla-Flu da Lagoa”.
Foi na temporada de 1938 que chegou à Seleção Brasileira. Na Copa da França, no mesmo ano, Batatais jogou em duas, das cinco partidas da equipe que terminou na terceira colocação. Após sofrer 5 gols na partida contra a Polônia, perdeu o posto de titular.
O técnico Ademar Pimenta passou a escalar Walter, goleiro do Flamengo que, como incentivo, recebeu a oferta de um prêmio de 30 mil francos do chefe da delegação brasileira, José Maria Castelo Branco, para cada jogo que ficasse sem sofrer gols.
Batatais ainda participou de um jogo amistoso da Seleção. Os companheiros diziam que ele passava muita segurança à equipe. Era tão bom, que para sofrer um gol o adversário precisava pegar mal na bola e enganá-lo, pois estava sempre bem colocado.
Batatais encerrou a sua carreira em 1946 defendendo o América F.B.C., do Rio de Janeiro. Sua carreira de futebolista valeu tanto pela qualidade, quanto pelo seu comportamento exemplar, que lhe garantiu o “Prêmio Belfort Duarte”, por nunca ter sido expulso de campo.
Outra honraria para Batatais, encontra-se presente em uma das três estrelas que se destacam no escudo do Batatais F.C., equipe de sua terra natal. O clube homenageia todos os jogadores nascidos na cidade e que participaram de alguma Copa do Mundo, pela seleção Brasileira. Até hoje foram três: Batatais, Zeca Lopes, ex-Corinthians Paulista e Baldocchi, ex-zagueiro do Palmeiras.
Os títulos conquistados por Batatais, todos pelo Fluminense: “Campeão Carioca” (1936, 1937, 1938, 1940 e 1941); “Campeão do Torneio Aberto da Liga Carioca” (1935); “Torneio Municipal” (1938); “Campeonato Extra” (1941); “Torneio Início” (1940, 1941 e 1943) e o inacabado “Torneio Rio-São Paulo” (1940).
Entre as centenas de milhares de admiradores de sua técnica e seu arrojo, Batatais se orgulhava de um deles: o presidente Getúlio Vargas. Certa vez, na cidade mineira de São Lourenço, no ano de 1938, estando lá concentrada a Seleção carioca, o chefe da Nação manifestou o desejo de cumprimentar o arqueiro. O governador Valadares foi o intermediário e Batatais recebeu a saudação do Presidente.
Pena que os últimos dias de Batatais não tenham sido iguais aqueles vividos no auge de sua carreira. Sem apoio do ex-clube, o Fluminense, o ex-goleiro conseguiu sobreviver graças ao emprego de porteiro da Tribuna do Honra do Maracanã, que lhe foi conseguido pelo ex-superintendente do estádio, Arno Frank. Batatais morreu pobre e esquecido, no dia 16 de junho de 1960, no Rio de Janeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)
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