Reginaldo Castro, o “Bimbinha” foi um dos melhores jogadores que o futebol maranhense conheceu em todos os tempos. Ninguém jamais assistiu a uma partida em que ele tivesse jogado mal. Sempre atuou regular, ou brilhantemente. Nunca medíocre. Por isso era chamado de “Xodó da Vovo” e “Alegria do Povo”. “Bimbinha” nasceu no dia 10 de junho de 1956, no bairro do “Tamancão”, vizinho do famoso bairro do “Bacanga”, em São Luiz do Maranhão. Fazia parte de uma família de oito irmãos, quatro mulheres e quatro homens.
Quem o visse com seu 1m47 de altura, 51 quilos e calçando número 35, não acreditaria jamais que estava frente a um jogador endiabrado que na frente do gol adversário era fatal. Marcou mais de 250 gols na carreira. Quando recebia uma bola esticada pela esquerda, o marcador já sabia que seria desconjuntado e a galera iria gritar: “ripa na chulipa”. Para fazê-lo parar, só no tranco.
A primeira camisa que vestiu foi a do Atlântico, time amador do “Tamancão”, onde jogavam seus irmãos Egui e Reinaldo. Um dia Egui faltou a um jogo, e o treinador sem outra alternativa e só para “quebrar o galho” completou o time com “Bimbinha”, ainda um pirralho. E não teve motivo para se arrepender. O garoto encheu os olhos de quem estava assistindo o jogo e ninguém se lembrou do irmão titular. A partir daquele momento não seria fácil retirar “Bimbinha” do time.
Mas foi no “Pedrinhas”, um time interno do famoso presídio da Zona Rural de São Luís, que “Bimbinha” surgiu de vez para o futebol maranhense. Num jogo contra o Onze Irmãos, equipe formada por presidiários, ele deu um verdadeiro show de técnica e habilidade, que o diretor do presídio José Carlos Viana Mendes, que também era dirigente do Maranhão Atlético Clube falou em alto e bom som: “Moleque, você só vai sair daqui do presídio se der bode”.
Na verdade ele queria dizer que “Bimbinha” estava intimado a vestir a camisa do Maranhão, também conhecido por “Bode Gregório”. Para se ver livre do diretor do presídio, “Bimbinha” disse sim. Mas acabou indo jogar no time juvenil do Sampaio Corrêa, levado pelas mãos do ex-craque Djalma Campos (já felecido), um genial armador maranhense, que ficou encantado ao vê-lo “pintar os canecos” numa pelada na salina do “Tamancão”. Em dois anos passou dos juvenis, para o time principal, ganhando o titulo de “Pequeno Prodígio”.
Um dos lances mais lembrados da passagem de “Bimbinha” pelo Sampaio Corrêa aconteceu num clássico contra o Moto Clube, quando ele marcou um gol antológico. Depois de alguns dribles em outros jogadores da defesa motense, Bimbinha deu um “drible da vaca” passando por debaixo das pernas do zagueiro e entrando com bola e tudo. Outra vez aplicou um drible passando debaixo das pernas de Maria do Corinthians, e o estádio foi a loucura.
Em 1983, foi emprestado à Izabelense, do Pará, e o Moto Clube foi o campeão maranhense. Na sua volta, em 1984, o Sampaio Corrêa recuperou o titulo, com um gol seu, na final contra o Maranhão.
Em 1988, “Bimbinha” queria concorrer a Câmara de Vereadores de São Luiz. Mas teve de retirar a candidatura, para não prejudicar o presidente do Sampaio Corrêa, que já era vereador e precisava se reeleger. Mas esse seu ato de grandeza foi esquecido pelo dirigente, meses depois.
“Bimbinha” terminou sua história no Sampaio Corrêa naquele mesmo ano de 1988. Por lá conquistou dois títulos estaduais como juvenil, e mais nove, como profissional, tendo participado do pentacampeonato estadual na década de 1980 (1984, 1985, 1986, 1987 e 1988).
Ele pretendia “pendurar as chuteiras” jogando pelo time “boliviano” (o Sampaio era chamado assim por causa das cores da camisa, iguais a da bandeira boliviana) e depois ser aproveitado, como treinador de escolinhas. Mas seus planos deram errado. O clube o dispensou, sem ao menos dar baixa na sua carteira de trabalho e sem receber dinheiro algum, nem mesmo o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Mesmo com toda essa ingratidão, “Bimbinha” não quis brigar com o clube. Nunca fez bons contratos. O salário era sempre proporcional ao seu tamanho. Sempre que ia renovar o contrato, o clube estava em crise. Mesmo assim ele acreditava nos dirigentes, assinava fiado, para receber amanhã, e o tal amanhã nunca chegava. Era o menor jogador do futebol mundial em atividade na época, e talvez até hoje ninguém tenha batido este curioso recorde.
Tem um ditado que diz: a vingança tarda, mas não falha. Em 1989 ele foi jogar no rival Moto Clube, que se sagrou campeão maranhense, título que não conquistava desde 1984. Mas “Bimbinha” não estava feliz. No rubro-negro não conseguiu ser titular absoluto, indo para o banco de reservas e Lamartine, em melhor forma lhe tirar o titulo de melhor ponta esquerda do Maranhão. Não lhe restou alternativa a não ser deixar o Moto Clube. Antes de encerrar a carreira jogou ainda pelo Expressinho e o Tupã, também clubes maranhenses.
“Bimbinha” é casado com dona Silvana, e é pai de dois filhos Regis e Silvano. Anos atrás, com a perda do emprego, passou por inúmeras dificuldades financeiras e ganhava a vida com as cotas das peladas e Campeonatos de Masters pelo time de veteranos do Sampaio. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time de Veteranos do Sampaio Corrêa. "Bimbinha" é o penultimo dos "meio-agachados", a contar da esquerda para a direita.
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