Sidney Colônia Cunha, o “Chinesinho” foi um dos melhores atacantes que o futebol brasileiro conheceu em todos os tempos. Apesar de baixinho e troncudo, era um jogador técnico que encantava os torcedores por sua habilidade com a bola. Tanto jogava de ponta esquerda como meia-esquerda.
Chinesinho nasceu em Rio Grande (RS) no dia 15 de setembro de 1935. Começou a carreira futebolística no F.B.C. Rio-Grandense de sua cidade natal. Fez tanto sucesso com a camisa colorada riograndina, que logo chamou a atenção dos dirigentes do Internacional, que o levaram para Porto Alegre em 1955.
Entrou logo de cara no time titular, num ataque que tinha Larry, Bodinho e outros grandes jogadores. O time colorado era tão bom que, em 1956, foi a base da seleção gaúcha que representou o Brasil e conquistou o Campeonato Pan-Americano realizado naquele ano no México.
Chinesinho jogou no Internacional até 1958, quando foi contratado pelo Palmeiras. Na época, a transação foi uma das mais caras do futebol brasileiro. Em 1959, formou junto com Valdir, Djalma Santos, Carabina, Aldemar, Geraldo, Zequinha, Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romeiro um time inesquecível.
Esse Palmeiras conquistou o campeonato paulista, contra o Santos de Pelé e companhia em 1959, depois de uma final que se transformou em um verdadeiro "supercampeonato", já que foram necessários três jogos emocionantes, sendo decidido somente no terceiro quando o Palmeiras derrotou o Santos por 2 X 1, de virada, no Pacaembu.
O meia-esquerda jogou no Palestra Itália de 1958 a 1962, fez 241 jogos, com 147 vitórias, 46 empates e 48 derrotas. Marcou 55 gols e foi campeão paulista em 1959 e da Taça Brasil, em 1960.
Como jogador do Internacional, e depois do Palmeiras, Chinesinho defendeu várias vezes a Seleção Brasileira. Mas não foi à Copa do Mundo de 1962 no Chile, preterido em favor de Mengálvio, o que para muitos foi uma injustiça. Pelo Brasil, Chinesinho fez 20 jogos, com 15 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, tendo assinalado três gols. Foi campeão Pan-Americano, em 1956, da Copa Roca e da Taça do Atlântico, em 1960.
Do Palmeiras, Chinesinho foi para a Itália comprado pelo Modena. Com o dinheiro de sua venda o Palmeiras contratou 13 jogadores formando a base da chamada primeira Academia, nome como ficou conhecido o time pela beleza do futebol que apresentava. E ainda sobrou para reformar o Parque Antártica e construir o Jardim Suspenso no estádio. Depois jogou no Lanerosi em 1962 e vestiu ainda as camisas do Catânia e da Juventus. Ficou no futebol italiano até 1971 quando encerrou a carreira. Em 1985, voltou para o Palmeiras para atuar como técnico, dirigindo a equipe por 14 partidas.
Foi campeão gaucho pelo Internacional em 1955, pan-americano pela seleção brasileira em 1956, campeão da Taça Brasil pelo Palmeiras em 1960 e campeão italiano pela Juventus em 1966.
O ex-craque viveu por vários anos na Praia Grande (SP), mas voltou para seu estado natal, onde mora atualmente na Praia do Cassino, bem perto de sua terra natal, Rio Grande. Quando residia no litoral sul de São Paulo, costumava passar o tempo jogando tranca e dominó com os amigos no calçadão da praia. Após algumas "loiras geladas", corria para um orelhão, ligava, ou apenas fingia que ligava para a Itália e bradava, em alto e bom italiano: "Mi pensione, mi pensione, mi pensione..."
Roberto Baggio, um dos grandes jogadores do futebol italiano contou durante entrevista em seu país, que em 1973 seu pai o levou pela primeira vez, a um estádio de futebol. Era o Estádio Menti, em Vicenza, e fazia muito frio. Era inverno. Um inverno tão rigoroso que quase proibia uma criança de apenas seis anos sair de casa. Mas, para a criança Roberto Baggio, era um sonho poder ver seu ídolo, o craque Chinesinho, jogar, um dos primeiros futebolistas brasileiros a fazer carreira na Itália.
Chinesinho, hoje com 75 anos não é mais nem sombra daquele jogador habilidoso que encantava multidões. Apesar de ter ganho muito dinheiro em sua vitoriosa carreira, neste momento passa por serias dificuldades, tanto econômicas, como de saúde. É portador de uma doença degenerativa e sem cura. Seus amigos na Praia do Cassino fazem bingos e vaquinhas para ajudarem na compra de remédios. Sua situação é parecida com a do clube que o revelou, o F.B.C. Rio-Grandense, que enrolou a bandeira há alguns anos e não consegue retornar à atividade.
A vida de Chinesinho deve ser contada em um livro que está sendo elaborado por dois jornalistas e pesquisadores do futebol de Rio Grande, Kike Fruet e Willy César, por influência do ex-jogador do F.B.C. Rio-Grandense, Paulo Édson, que é um dos diretores do site www.guaipeca.blogger.com.br, que publica fatos relacionados com a memória da cidade de Rio Grande.
Um extenso material já foi conseguido junto à esposa do jogador, na casa em que moram na praia do Cassino. E o próprio Chinesinho, mesmo com as dificuldades impostas pela doença, tem contado interessantes passagens de sua carreira como futebolista. Quem tiver algum material, como fotografias e matérias de jornais, pode encaminhar para o endereço eletrônico www.guaipeca.blogger.com.br/pauloedson. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
Foto recente de Chinesinho, em uma cadeira de rodas, aos cuidados de sua esposa. (Fonte: Jornal Diário Popular, de Pelotas-RS)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Como surgiu o “drible da vaca"
Vez por outra alguém lembra de indagar sobre como surgiu o termo “drible da vaca”, que denomina uma das jogadas mais bonitas do futebol. Ontem (4) a tarde ouvindo o jogo entre Linense X Osasco, pela Copa São Paulo de Futebol Júnior aconteceu o famoso lance, que originou comentários de parte do narrador e do comentarista do Canal 38 do Sportv.
A jogada também é conhecida por “meia-lua” e “gaúcha”, e sua origem remonta aos primórdios do futebol brasileiro, quando os primeiros campos eram improvisados em locais de pastagem. Era, pois, comum o jogador ter que driblar, não apenas o adversário, mas também a vaca que porventura entrasse nas quatro linhas à procura de grama para comer. O drible da vaca se caracteriza quando o jogador passa a bola por um lado do jogador adversário e vai pelo outro e consegue recuperá-la.
Nos tempos mais modernos a jogada se popularizou graças ao fenomenal ”Mané Garrincha”, que dentro da sua simplicidade de falar, contava que lá na sua terra natal, Pau Grande, no Estado do Rio de Janeiro perdeu a conta das vezes em que teve de driblar vacas, nos improvisados campos abertos de futebol, onde se misturavam os animais e os jogadores.
E isso não é nenhuma novidade. No primeiro jogo de futebol, de forma organizada que se tem notícia no país, disputado na manhã de 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo, no Brás, em São Paulo, entre os funcionários da Companhia de Gás de São Paulo (Gas Company of São Paulo) e da Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company), vencido pelo time da ferrovia por 4 X 2, burros a todo momento entravam no gramado para pastar. Se alguém naquele dia tivesse que driblar um burro, e a imaginação funcionasse, talvez hoje a jogada tivesse outro nome, em vez de “drible da vaca”, “drible do burro”.
Para alguns jornalistas o ex-jogador do Cruzeiro, de Belo Horizonte, Corinthians Paulista e Santo André, Eduardo Amorim, teria sido o inventor da jogada, o que não é verdade. Em quase todos os jogos ele buscava concretizar o lance. Os torcedores entravam em delírio quando Eduardo Amorim, de frente para o adversário lançava a bola pelo lado direito dele e corria na direção do esquerdo. Dava a volta no sujeito, pegava a bola do outro lado e avançava célere rumo ao gol. A imprensa mineira, por isso o apelidou de “Eduardo Rabo de Vaca”.
Eduardo, apesar de ter sido um expert em termos de “drible da vaca“, não foi um daqueles jogadores que se poderia chamar de craque. Ele até viveu um grande momento nos anos 70 e foi convocado uma vez para a Seleção Brasileira. Seu único jogo com a “amarelinha” foi num amistoso contra o Milan, na Itália. O Brasil venceu por 3 X 0.
Existem vários tipos de dribles, alguns até mais bonitos e difíceis que o da “vaca”, mas nenhum teve e tem a sua popularidade. O “drible da vaca” mais famoso que se tem noticia, foi aquele que Pelé aplicou em Mazurkievicz, goleiro do Uruguai, na Copa do Mundo de 1970, no México. Foi um “drible” com requinte especial, Pelé nem tocou na bola, enganou o goleiro com uma ginga de corpo e chutou. Pena que essa verdadeira “obra prima” não tenha sido transformada em gol. Caprichosa e injustamente, a bola se perdeu rente à trave. O lance é lembrado até hoje e costuma provocar assombro em quem o revê na TV.
Outra magistral execução do “drible da vaca” foi feita por Dener, morto em acidente automobilístico em 1994, aos 23 anos. Em 1991, no seu primeiro ano como jogador profissional, jogando pela Portuguesa de Desportos humilhou toda a defesa da Internacional de Limeira (SP), em um jogo pelo Campeonato Paulista.
Ele recebeu a bola no meio-campo. Sem muito esforço, foi tirando um a um de seu caminho até encarar o último zagueiro. Aplicou-lhe um “drible da vaca” e então só sobrou o goleiro, que resolveu sair como um maluco na sua frente. Dener tocou por cobertura, e marcou um golaço.
A última lembrança de um gol assinalado após um “drible da vaca” foi do atacante Leandro Damião do Internacional, de Porto Alegre, no primeiro jogo da decisão da Copa Libertadores da América, ano passado no México. Ele recebeu a bola no meio do campo, deu o “drible da vaca” no zagueiro, deixando-o para trás e arrancou em grande velocidade. Entrou na área e bateu forte na bola. Ela ainda desviou, pela violência do chute e tentativa de defesa do goleiro, mas morreu no fundo da rede.
A vaca também tem seu nome ligado à premiação dada aos jogadores de futebol. Um dos primeiros clubes a premiar seus atletas foi o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. E como o carioca sempre se destacou pela criatividade, misturou futebol e jogo do bicho. Até o ano de 1920, os jogadores recebiam doações vindas de arrecadações voluntárias. Se o montante conseguido fosse cinco mil réis, por exemplo, o “bicho” era o cachorro. Agora, para conseguir 25 mil réis, correspondente ao grupo da vaca, não era fácil. Tinha que ter muita gente colocando a mão no bolso.
Era, então, necessário “fazer uma vaca”, no sentido de arrecadar mais dinheiro. E virou “fazer uma vaquinha”, pelo costume brasileiro de privilegiar o diminutivo. E não demorou para que a expressão se espalhasse e viesse a designar também outras coisas fora do futebol. Por exemplo, para ajudar alguém em necessidade, é comum se fazer “uma vaquinha”.
Depois que o futebol se profissionalizou, o “bicho” saiu da clandestinidade e tornou-se prêmio adicional dado aos jogadores, quando de vitórias importantes e títulos conquistados.
Por fim, a pergunta: quem denominou a jogada de “drible da vaca” e quem foi o primeiro a realizá-la? Não tem resposta. O termo se perde no tempo e certamente veio da inspiração popular, dos próprios “peladeiros” que se divertiam em campos abertos de futebol, dividindo-os com vacas e outros animais. E acabou se espalhando por todo o país e até fora dele.
Eu mesmo, quando de pesquisa em jornais para um livro que estou escrevendo sobre o futebol de São Gabriel (RS), encontrei citação ao lance, em jornais de 1931. Isso, sem falar que nos meus tempos de "guri", lá no Sul dei e levei muito "drible da vaca". Então, é impossível se determinar quem batizou a jogada com tão curioso nome. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
A jogada também é conhecida por “meia-lua” e “gaúcha”, e sua origem remonta aos primórdios do futebol brasileiro, quando os primeiros campos eram improvisados em locais de pastagem. Era, pois, comum o jogador ter que driblar, não apenas o adversário, mas também a vaca que porventura entrasse nas quatro linhas à procura de grama para comer. O drible da vaca se caracteriza quando o jogador passa a bola por um lado do jogador adversário e vai pelo outro e consegue recuperá-la.
Nos tempos mais modernos a jogada se popularizou graças ao fenomenal ”Mané Garrincha”, que dentro da sua simplicidade de falar, contava que lá na sua terra natal, Pau Grande, no Estado do Rio de Janeiro perdeu a conta das vezes em que teve de driblar vacas, nos improvisados campos abertos de futebol, onde se misturavam os animais e os jogadores.
E isso não é nenhuma novidade. No primeiro jogo de futebol, de forma organizada que se tem notícia no país, disputado na manhã de 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo, no Brás, em São Paulo, entre os funcionários da Companhia de Gás de São Paulo (Gas Company of São Paulo) e da Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company), vencido pelo time da ferrovia por 4 X 2, burros a todo momento entravam no gramado para pastar. Se alguém naquele dia tivesse que driblar um burro, e a imaginação funcionasse, talvez hoje a jogada tivesse outro nome, em vez de “drible da vaca”, “drible do burro”.
Para alguns jornalistas o ex-jogador do Cruzeiro, de Belo Horizonte, Corinthians Paulista e Santo André, Eduardo Amorim, teria sido o inventor da jogada, o que não é verdade. Em quase todos os jogos ele buscava concretizar o lance. Os torcedores entravam em delírio quando Eduardo Amorim, de frente para o adversário lançava a bola pelo lado direito dele e corria na direção do esquerdo. Dava a volta no sujeito, pegava a bola do outro lado e avançava célere rumo ao gol. A imprensa mineira, por isso o apelidou de “Eduardo Rabo de Vaca”.
Eduardo, apesar de ter sido um expert em termos de “drible da vaca“, não foi um daqueles jogadores que se poderia chamar de craque. Ele até viveu um grande momento nos anos 70 e foi convocado uma vez para a Seleção Brasileira. Seu único jogo com a “amarelinha” foi num amistoso contra o Milan, na Itália. O Brasil venceu por 3 X 0.
Existem vários tipos de dribles, alguns até mais bonitos e difíceis que o da “vaca”, mas nenhum teve e tem a sua popularidade. O “drible da vaca” mais famoso que se tem noticia, foi aquele que Pelé aplicou em Mazurkievicz, goleiro do Uruguai, na Copa do Mundo de 1970, no México. Foi um “drible” com requinte especial, Pelé nem tocou na bola, enganou o goleiro com uma ginga de corpo e chutou. Pena que essa verdadeira “obra prima” não tenha sido transformada em gol. Caprichosa e injustamente, a bola se perdeu rente à trave. O lance é lembrado até hoje e costuma provocar assombro em quem o revê na TV.
Outra magistral execução do “drible da vaca” foi feita por Dener, morto em acidente automobilístico em 1994, aos 23 anos. Em 1991, no seu primeiro ano como jogador profissional, jogando pela Portuguesa de Desportos humilhou toda a defesa da Internacional de Limeira (SP), em um jogo pelo Campeonato Paulista.
Ele recebeu a bola no meio-campo. Sem muito esforço, foi tirando um a um de seu caminho até encarar o último zagueiro. Aplicou-lhe um “drible da vaca” e então só sobrou o goleiro, que resolveu sair como um maluco na sua frente. Dener tocou por cobertura, e marcou um golaço.
A última lembrança de um gol assinalado após um “drible da vaca” foi do atacante Leandro Damião do Internacional, de Porto Alegre, no primeiro jogo da decisão da Copa Libertadores da América, ano passado no México. Ele recebeu a bola no meio do campo, deu o “drible da vaca” no zagueiro, deixando-o para trás e arrancou em grande velocidade. Entrou na área e bateu forte na bola. Ela ainda desviou, pela violência do chute e tentativa de defesa do goleiro, mas morreu no fundo da rede.
A vaca também tem seu nome ligado à premiação dada aos jogadores de futebol. Um dos primeiros clubes a premiar seus atletas foi o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. E como o carioca sempre se destacou pela criatividade, misturou futebol e jogo do bicho. Até o ano de 1920, os jogadores recebiam doações vindas de arrecadações voluntárias. Se o montante conseguido fosse cinco mil réis, por exemplo, o “bicho” era o cachorro. Agora, para conseguir 25 mil réis, correspondente ao grupo da vaca, não era fácil. Tinha que ter muita gente colocando a mão no bolso.
Era, então, necessário “fazer uma vaca”, no sentido de arrecadar mais dinheiro. E virou “fazer uma vaquinha”, pelo costume brasileiro de privilegiar o diminutivo. E não demorou para que a expressão se espalhasse e viesse a designar também outras coisas fora do futebol. Por exemplo, para ajudar alguém em necessidade, é comum se fazer “uma vaquinha”.
Depois que o futebol se profissionalizou, o “bicho” saiu da clandestinidade e tornou-se prêmio adicional dado aos jogadores, quando de vitórias importantes e títulos conquistados.
Por fim, a pergunta: quem denominou a jogada de “drible da vaca” e quem foi o primeiro a realizá-la? Não tem resposta. O termo se perde no tempo e certamente veio da inspiração popular, dos próprios “peladeiros” que se divertiam em campos abertos de futebol, dividindo-os com vacas e outros animais. E acabou se espalhando por todo o país e até fora dele.
Eu mesmo, quando de pesquisa em jornais para um livro que estou escrevendo sobre o futebol de São Gabriel (RS), encontrei citação ao lance, em jornais de 1931. Isso, sem falar que nos meus tempos de "guri", lá no Sul dei e levei muito "drible da vaca". Então, é impossível se determinar quem batizou a jogada com tão curioso nome. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)