João Baptista Ferrareto, o “Carruíra”, foi um dos mais habilidosos atacantes surgidos no futebol do Rio Grande do Sul. Era um artilheiro nato e exímio cobrador de pênaltis. Ele nasceu na cidade portuária de Rio Grande (RS), em 1913.
Começou a carreira futebolística no extinto General Osório, de sua terra natal. Em 1934, com 21 anos, foi jogar no S.C. Rio Grande.
Em 1935 foi contratado pelo F.B.C. Rio-Grandense, mas se deu mal. Meteu-se numa briga, em jogo válido pelo Campeonato da Cidade e foi punido com a suspensão dos campos de futebol, por um ano. Em 1936 retornou ao S.C. Rio Grande, para se sagrar campeão gaúcho.
As finais do campeonato reuniram o Botafogo F.B.C., de São Gabriel, campeão da região Fronteira, S.C. Novo Hamburgo, campeão da região Sudeste, Riograndense F.C., de Santa Maria, campeão da região Serra, S.C. Internacional, de Porto Alegre, campeão da região Metropolitana e S.C. Rio Grande, campeão da região Litoral.
O tricolor riograndino chegou ao título estadual derrotando o Novo Hamburgo, por 5 X 2 e no jogo final ao Internacional, por 3 x 2. O time campeão jogou com Munheco – Fruto e Cazuza – Juvêncio – Chinês e Roberto – Ernestinho – Darinho – Souza (Carruíra) – Marzol e Pecce. Técnico, Gustavo Kraemer Filho.
Em 1937 voltou ao F.B.C. Rio-Grandense, onde foi treinado pelo folclórico Gentil Cardoso. No colorado riograndino foi vice-campeão gaúcho em 1937 e 1938. Em 1939, finalmente o Rio-Grandense se sagrou campeão estadual e Carruíra ganhou o seu segundo título gaúcho, e também foi o artilheiro da competição.
O Rio-Grandense foi campeão derrotando o Grêmio Santanense numa final de "melhor de três", com uma vitória e dois empates. O time campeão jogou com Brandão – Cazuza e Armando – Martinez – Pacheco e Mariano – Osquinha – Carruíra – Cardeal – Chinês e Plá. Técnico: Aires Torres.
Carruíra faleceu em Rio Grande, no dia 26 de junho de 1982, aos 69 anos de idade, e não ficou no esquecimento. No Bairro Zona Portuária, em sua terra natal, existe a Travessa João Batista Ferrareto, homenagem da comunidade riograndina a um dos principais jogadores que pisou nos gramados da cidade.
Para que se tenha uma idéia do que Carruíra representou no futebol de Rio Grande, criou-se uma lenda envolvendo seu nome.
O famoso crônista Amaro Junior, que trabalhava para os jornais da Caldas Júnior, contava essa história e jurava ser verdade, garantindo que estava em Rio Grande e testemunhou tudo. La na "Cidade Maritima" só um jogador jogava na seleção gaúcha, era Carruíra, do S.C. Rio Grande, um esplêndido jogador.
E aí o Botafogo ia excursionar para a Argentina, mas havia uma epidemia de febre amarela no Rio e um jogador do clube alvi-negro carioca tinha morrido da doença. As autoridades sanitárias da Argentina mandaram que o navio que estava levando o Botafogo para jogar com o Boca Juniors, aportasse na cidade de Rio Grande, que eles iriam mandar seus representantes para fazer um exame no pessoal da delegação.
E demorava… um navio levava mais ou menos um mês para ir do Rio a Buenos Aires. E então, o Botafogo resolveu treinar lá e convidou para um jogo amistoso o S.C. Rio Grande, o "vovô dio futebol brasileiro", que era o clube de Carruíra. Foi o primeiro a ser fundado especificamente para o futebol, em 19 de julho de 1900.
Começou o jogo e o Botafogo fez um gol, com Carvalho Leite. Seguiu a partida e o Rio Grande tinha um ponta-esquerda chamado Chinês, pai do Chinesinho, que depois jogou no Inter, na seleção brasileira e no Milan, da Itália, jogava na meia-esquerda e na ponta-esquerda. Ele empatou o jogo.
Minutos depois, Benedito, que era um jogador gaúcho que atuava no Botafogo, fez o gol que deixou a partida em 2 X 1. Daí a pouco Carruíra pegou uma bola e driblou todo o time do Botafogo. Chegou na pequena área e botou a bola para fora do campo.
Quando ela voltou, naquele tempo se jogava com uma bola só, a FIFA é que determinava isso, o juiz mandou dar a saída do centro do campo. O capitão do Botafogo chegou para ele e disse: “Como? O jogador chutou a bola lá no meio da rua! Como o senhor quer dar a saída aí? Tem que dar tiro de meta”.
O juiz olhou para o capitão do Botafogo, botou a mão no ombro dele e com um sotaque bem de fronteira disse: “Bem se vê, moço, que você não é daqui. Se o senhor fosse daqui, nem vendo ia acreditar que o Carruíra, chegando na risca da pequena área fosse chutar pra fora. Eu não acredito! É gol!”.
Esse fato é comprovado, tem até a súmula no jornal "Correio da Manhã", do Rio de Janeiro. O Iata Anderson, que é um repórter de campo achou que isso era mentira e foi consultar os jornais da época e encontrou lá esse jogo e o famoso gol do Carruíra, sem dizer que não tinha sido gol.
Em 1944, Carruíra retirou-se dos gramados, voltando em 1946 como técnico do Rio-Grandense. Sua atuação como treinador foi a mais proveitosa, pois conseguiu levar o Rio-Grandense ao vice-campeonato estadual, com um time formado em parte com jogadores que foi buscar nas várzeas.
O Rio-Grandense abateu o Brasil, de Pelotas, o Floriano, de Novo Hamburgo e o Grêmio Santanense. Faltava o Grêmio Portoalegrense, mas como os tricolores constituíam a base do selecionado gaúcho em organização, a decisão do estadual foi deixada para depois do Campeonato Brasileiro, em 1947. Entrementes, Carruíra foi dispensado da direção técnica: “Essa foi a gratidão que demonstraram pelo meu trabalho”, disse ele.
Os melhores jogadores que conheceu foram Fruto, em Rio Grande, Mário Reis, em Pelotas e Lara, em Porto Alegre. Esse foi Carruíra, que atuou 25 anos em equipes principais da primeira divisão.
Foi encontrada uma legenda de fotografia publicada no jornal “O Tempo”, edição de 30-12-1949, que dizia: “Eis o maior de todos! A maior glória do E.C. Rio Grande, no tempo do esplendor do futebol papa-areia. Quando Carruíra aparecia em campo, milhares de olhos convergiam para a sua figura, que durante o jogo era um astro brilhando demais que os outros”.
Em Rio Grande quase ninguém sabe quem é João Batista Ferrareto. Mas basta falar no apelido deste homem, basta perguntar por Carruíra, que todos se prontificarão a informar, porém indagando antes? ”Quem, o novo ou o velho?” Carruíra tinha um filho que também desenvolvia um grande futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)
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