Uma decisão da Justiça paulista pode tirar de sua sede, no bairro da Ponte Pequena, um dos mais tradicionais clubes esportivos de São Paulo e do Brasil, o Clube de Regatas Tietê, que completou 102 anos neste mês de junho. A prefeitura decidiu que o clube não terá renovado o contrato de comodato, e pretende transformar o local em um Clube Escola. O corpo conselheiro do Tietê se sente injustiçado e a direção da entidade tem esperanças de reverter a situação e para tal já entrou com recurso na Justiça.
Criado em 2007, o projeto Clube Escola consumiu 114 milhões de reais dos cofres municipais para a realização de obras em 320 espaços. Entram na lista campos de futebol de várzea e quadras poliesportivas. Em sua nova destinação, o complexo, que conta com sete quadras de tênis, cinco piscinas, cinco quadras externas, cinco ginásios fechados, um campo de futebol oficial e uma pista de atletismo, pode abrir as portas ao público já a partir do ano que vem.
No início do ano, o prefeito Kassab e o então ministro dos Esportes, Orlando Silva, pediram ao clube que aceitasse a instalação da Faculdade Zumbi dos Palmares no local, pois assim renovariam a concessão, o que acabou não acontecendo, sendo o clube enganado. A Faculdade mudou-se para um prédio que fica no Clube de Regatas Tietê. Acertou de repassar R$ 40 mil mensais ao clube para os custos de água, luz e manutenção, mas até hoje, passados 18 meses, não cumpriu o estipulado.
Outros clubes, como Palmeiras, Corinthians, Portuguesa e Espéria também ocupam áreas municipais, mas não correm riscos, o que causa estranheza nas hostes tietanas. A ameaça atinge somente ele. A alegação do município é de que não dá para um terreno gigante ficar na mão de tão poucos. A última renovação aconteceu em 1972, portanto há 40 anos.
O Tietê é um dos clubes mais antigos da cidade. O nome vem do rio vizinho, onde frequentadores praticavam remo até meados do século passado. O clube mais antigo da cidade é o São Paulo Athletic Club, conhecido como Clube dos Ingleses, fundado em 1888.
O Regatas Tietê já foi um clube frequentado pela nata da sociedade paulista, que ali praticava natação, esgrima, balé, judô e atletismo. João Senna, avô do saudoso piloto Ayrton Senna, costumava remar nas então límpidas águas do Tietê. João Havelange, presidente de honra da Fifa due suas primeiras braçadas no hoje poluído rio.
O mesmo fez Maria Lenk, a primeira atleta sul-americana a disputar os Jogos Olímpicos, em 1932, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, e a primeira a quebrar recordes mundiais nos 200 m e 400 m peito em 1939.
Outra campeã oriunda das quadras do Tietê foi Maria Esther Bueno, grande vencedora de Wimbledon em 1959, 1960 e 1964. Mas já houvera sido campeã de duplas mistas em Roland Garros e outros torneios de “Grand Slam”, tais como aberto da Austrália e do EUA.
Outro destacado atleta surgido no Tietê foi Abílio Couto, o primeiro nadador a se consagrar por realizar as maiores travessias do mundo em águas abertas: no Canal da Mancha, Estreito de Darnelos, Estreito de Bosphoro, Dover to Deal, Miramar a Mar del Plata, Canal de Suez, Santa Fé a Coronha, Lac Des Cygnes, Salton Sea, Baia de Tóquio, Capri/Nápoles, entre outros. No ano de 1965 Abílio realizou outro sonho, a travessia do Estreito de Gibraltar, que separa a África da Europa.
O Clube registrou sua importância também no futebol, que remonta o ano de 1935, quando comprou o São Paulo da Floresta, que havia sido campeão paulista em 1931. Contava com grandes jogadores, como Arthur Friedenreich, mas havia assumido mais dívidas do que poderia pagar. O Tietê passou a se chamar Tietê-São Paulo e tentou disputar o Campeonato Paulista de 1935, alterando seu nome para Independente Esporte Clube, mas acabou desistindo.
O clube abriga ainda o antigo Estádio da Floresta (Chácara da Floresta), onde houve no passado recente grandes e importantes jogos de futebol do Campeonato Paulista, inclusive seu primeiro jogo.
Os bons tempos do Tietê não resistiram ao tempo e as más administrações. Há cerca de 10 anos o clube contava com 30 mil associados. Hoje tem apenas 3.312, dos quais apenas 800 são pagantes regulares. A mensalidade cobrada é de míseros R$ 35 reais. Para aumentar a receita o clube aluga suas dependências para festas de casamentos, aniversários e baladas a preços que oscilam entre R$ 12 mil e R$ 30 mil.
A soma de tudo é insuficiente para cobrir as despesas. Hoje, o clube tem uma dívida de R$ 30 milhões, oriundas principalmente de ações trabalhistas e do IPTU, e patrimônio de R$ 80 milhões.
Mesmo que o Tietê seja despejado, ele não vai acabar, pois possui uma sede própria às margens da represa de Guarapiranga. Mas o clube não quer abrir mão de sua sede social, onde se encontra há 102 anos.
O Tietê contou, ainda, com muitos colaboradores na sua diretoria, destacando-s entre eles, na Presidência do Conselho Deliberativo e da Diretoria, respectivamente, Armando Simões Neto, ex-presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo e Durval Guimarães , atleta do tiro esportivo, que participou de nove Pan-americanos, onde conquistou duas medalhas de prata e seis de bronze, bem como participou de cinco olimpíadas consecutivas.
As gestões anteriores, mais recentes, contaram com os seguintes presidentes da diretoria: José Jorge de Oliveira Braga (advogado), Paulo Roberto Bonjorno (perito criminal), Evaldo Renato de Oliveira (advogado) e João da Silva Filho (procurador de Justiça).
O atual presidente do Clube de Regatas Tietê é Edson Oliveira Rocha, eleito ao cargo em 2 de novembro de 2006. Na atual diretoria administrativa participa também o vice-presidente Administrativo Fábio Sandin Damasceno, eleito ao cargo em 25 de novembro de 2007.
Atualmente o clube conta apenas com as atividades sociais e algumas modalidades amadoras. O Tietê possui sete quadras de tênis de campo de saibro, sendo uma coberta e cerca de 300 tenistas cadastrados. A atual diretora de tênis é a atleta Martinha Pêra. Tem ainda um amplo salão para a prática de esgrima.
É uma pena que um clube da tradição do Regatas Tietê, esteja passando por uma situação difícil, em que sua saída da sede atual, é aparente. Tendo em vista que estamos próximos de uma olimpíada, esperamos que a prefeitura de São Paulo e a Justiça, deem ao tradicional e centenário clube a oportunidade de se recuperar e continuar a formar atletas de nível para o nosso país. (Pesquisa: Nilo Dias)
Vista do Clube de Regatas São Paulo, situado nas imediações da Ponte Grande (atual Ponte das Bandeiras). Fundado em 1903 às margens do rio Tietê, foi um dos primeiros centros esportivos da cidade, sendo sucedido
em 1907 pelo Clube de Regatas Tietê.
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