Osório Cardoso Villas Boas, foi o presidente mais popular de toda a história do E.C. Bahia. Nasceu em Salvador, a 7 de outubro de 1914, filho de Cícero Lopes Villas Boas e Maria Júlia Rodrigues Cardoso Villas Boas. Foi casado com a senhora Lúcia Mendonça Villas Boas, de cuja união não deixou descendentes. Faleceu em Salvador no dia 7 de janeiro de 1999, aos 85 anos de idade.
Cursou o Ginasial nos Colégio Marista e Antônio Vieira, ambos em Salvador. Foi jogador do E.C. Bahia, ingressou na Polícia Civil como inspetor de polícia em 1935, permanecendo até 1963. Depois foi secretário de Segurança.
Iniciou na política como vereador pela Câmara Municipal de Salvador em 1950. Repetiu tal façanha nas eleições de 1954, 1958, 1982 e de 1988. Foi presidente da Câmara de 1989 a 1990 e de 1991 a 1992. E prefeito interino de Salvador em 1991.
Eleito deputado estadual, esteve no cargo de 1967 a 1969, quando no dia 1º de julho foi cassado após a implantação do AI 5. Na Assembléia Legislativa da Bahia foi o 3º secretário nos anos de 1967 e 1968, e titular da Comissão de Finanças, Orçamento e Contas, em 1969 e suplente das Comissões de Economia e Finanças, em 1967 e de Constituição e Justiça, em 1969.
No E.C. Bahia foi conselheiro, vice-presidente e presidente, nos anos de 1958 a 1960 e 1961 a 1969. Foi ele que dirigiu o clube quando da conquista do Campeonato Brasileiro de 1959, primeiro torneio nacional a indicar um representante do país à Taça Libertadores da América.
Ainda trabalhou como gerente do Lloyd Brasileiro, em Salvador, no ano de 1964; subgerente do Grupo Univest, em 1970 e gerente geral da Aplitec, nos Estados da Bahia e Sergipe e assessor legislativo na Câmara Municipal de Salvador.
O nome de Villas Boas até hoje é amaldiçoado entre os torcedores do E.C. Vitória, o grande rival do Bahia, porque ele foi o responsável por colocar o futebol baiano além das fronteiras do Estado, para ser reverenciado por todo o país. O título do clube baiano foi definitivo, inquestionável, aflitivo para os rivais, que jamais poderão lhe tirar esta marca.
O livro que o ex-presidente do tricolor baiano escreveu, “Futebol, paixão e catimba”, publicado em 1973, é tido pelos torcedores rubro-negros como uma real confissão de que tenha subornado e praticado vários delitos que depõem contra o futebol baiano.
O livro de Osório conta episódios que marcaram o imaginário do povo de sua época. Como nem todas as histórias mostravam um lado positivo do Bahia, o livro foi censurado durante muito tempo pela direção do clube.
Teve um "causo" em que um presidente do Vitória mandou desenhar e fixar na parede do vestiário do seu time, um cartaz com os jogadores rubro-negros vestidos de mulher. Depois atribuiu a autoria disso ao presidente do Bahia, Osório Villas Boas, na tentativa de provocar o brio dos atletas de seu time. Esses "causos" e muitos outros estão no livro.
Algumas pessoas, mesmo sem ao menos ter visto a capa do livro, acusam o velho Osório de praticas como se tivesse feito uma confissão efetiva.
Em um dos episódios mais curiosos do livro, o “cartola” explica o “mata-mata” contra o Sport, no caminho para o título da Taça Brasil. Era uma melhor de três jogos. No primeiro confronto, em Salvador, o Bahia venceu por 3 X 2. No segundo, na Ilha do Retiro, com João Havelange na tribuna de honra, o “Leão” aplicou 6 X 0. Aí, ele narra a história até a vitória na “negra”, por 2 X 0, na Ilha. Basta dizer que, na véspera do jogo, o dirigente pagou várias rodadas de cerveja para os jogadores do Sport. O time entrou em campo cambaleando e deu no que deu.
Por sua vez Osório mandou deixar no placar o resultado do jogo anterior, para mexer com os brios dos seus jogadores. A partir daquele momento o Bahia seguiu em frente para se tornar o primeiro campeão da Taça Brasil, em 1959.
No tempo em que Osório Villas Boas presidiu o Bahia, vivia-se uma época romântica do futebol brasileiro, que era mais apaixonante. Nossos dirigentes eram ingênuos, comparados aos de hoje. O Bahia ganhou dois campeonatos brasileiros, lutando contra tudo e contra todos. Mas tinha a sua frente um “presidente macho”, que enfrentava arbitragens e dava moral aos jogadores que atuavam com raça e responsabilidade.
O Bahia não esqueceu seu grande presidente, e lhe fez justiça dando ao moderno Centro de Treinamento o nome de Osório Villas Boas. O complexo esportivo, apelidado de “Fazendão” foi construído em 1979, na gestão do presidente Fernando Schimidt e ocupa uma área de 120.000 m². O CT dispõe de quatro campos de treinamentos, sendo três com medidas oficiais, além da sede administrativa do clube, hotelaria das divisões de base, sala de imprensa, etc.
Outra passagem bastante interessante aconteceu quando o Bahia excursionava pela Europa, em 1957. O “Tricolor de Aço” encontrava-se na Escócia, onde segundo Osório estão os juízes mais “ladrões” do mundo. O dirigente baiano contou que já tinha sido informado com antecedência sobre o comportamento desses árbitros. O Flamengo, quando jogou em Glasgow teve em 15 minutos de jogo quatro jogadores expulsos, e em conseqüência levou 9 X 2.
Também está no livro um diálogo que Osório teve com Vicente, um jogador de defesa, por vezes até desleal: “Presidente, se o Flamengo tomou nove gols, vamos levar 30”, disse Vicente. “Jogue manso”, limitou-se Osório a aconselhar. O mesmo conselho foi dado aos demais jogadores baianos: “Joguem manso, mas não acovardados”.
Foram dois jogos do Bahia na Escócia, ambos contra o Abderdeen, um em Glasgow, a capital escocesa, e outro em Aberdeen, cidade-sede dodversário. O Bahia perdeu os dois jogos, por 3 X 2 e 2 X 0.
Num desses amistosos, o árbitro roubou tanto, que Villas Boas chegou a correr ao seu encalço, a fim de dar-lhe um esculacho, no que foi acompanhado por Octávio, um membro da delegação que fazia as vezes de intérprete. O presidente teria dito: “Octávio, meu irmão, diga a esse ladrão que estou xingando ele, a mãe, o pai, o avô. Diga que se ele continuar a roubar eu tiro o time de campo”.
O intérprete não cumpriu a ordem, sob a alegação de que aprendera inglês na gramática, e nela não tem xingamentos. Osório, roxo de raiva revidou: “Se você não sabe xingar em inglês, pra que diabo veio pra cá?”
Em matéria publicada pela revista “Placar”, foi destacada a vivacidade do dirigente baiano Osório Villas Boas, contra a falsa malandragem do presidente do Santos F.C., Atiê Jorge Cury, antes da grande final.
O Santos, achando que o titulo seria decidido em dois jogos acertou uma excursão pelo exterior para após a decisão da Taça Brasil. O clube paulista era poderoso, tinha Pelé e surgia como o grande favorito da competição. Entretanto, já no primeiro jogo realizado na Vila Belmiro, o Bahia mostrou que não estava para brincadeiras.
O Santos fez 2 x 0 logo ao início do jogo. Foi quando veio a reação que ninguém esperava. O Bahia venceu por 3 X 2, com um gol de Alencar marcado em cima da hora. O segundo jogo foi em Salvador. E Pelé estava num dia de genialidade e estragou a festa baiana. O Santos venceu por 2 X 0.
O Santos negou-se a jogar a terceira partida em Salvador e exigiu campo neutro. A CBD atendeu. O confronto decisivo foi marcado para o dia 30 de dezembro, mas o clube paulista alegou que não tinha datas disponíveis. Mas a CBD manteve o jogo para a data programada. Foi então que o presidente do Bahia, Osório Vilas Boas entrou na jogada, mostrando toda a sua malandragem e sabedoria.
Psicologicamente, seu time não estava nada bem depois da derrota em Salvador. A temporada do Santos no exterior iria desgastar a equipe paulista. O Bahia teria tempo para se refazer. Por isso, concordou com o Santos e fez a CBD aceitar uma outra data: 29 de março, no Maracanã.
Enquanto o Santos se arrebentava na Europa, jogando um dia sim outro não, o Bahia se preparava para a decisão. Na volta do clube da Vila Belmiro, Pelé teve que ser operado das amígdalas e ficou de fora da final. Entre os baianos, o treinador Geninho teve que retornar ao Rio de Janeiro por problemas particulares. Assumiu Carlos Volante.
Na noite de 29 de março de 1960, o Maracanã recebeu um bom público, quase todo torcendo pelo Bahia que entrou em campo com Nadinho – Beto – Henrique - Vicente e Nezinho - Flavio e Mário – Marito – Alencar - Léo e Biriba. O Santos jogou com Lalá – Getulio – Mauro - Formiga e Zé Carlos - Zito e Mário – Dorval – Pagão - Coutinho e Pepe. O carioca Frederico Lopes foi o juiz.
O Santos fez X 0 através de Coutinho. O Bahia empatou com Vicente, em cobrança de falta da intermediária. Os baianos dominavam o jogo e os santistas demonstravam um cansaço, com pouca disposição para disputar as bolas divididas. No primeiro minuto do segundo tempo, Léo marcou o segundo gol do Bahia. O Santos entrou em desespero. Coutinho tentava romper a defensiva dos baianos, mas tinha a marcação de Vicente em todas as partes do campo.
O treinador Lula ainda tentou com Tite no lugar de Pagão, mas não deu certo. Aos 24 minutos, o juiz expulsou Getulio. Formiga reclamou exageradamente e também foi expulso. Aos 32 minutos, Coutinho agrediu Nezinho e foi colocado para fora. Vicente deu um soco em Coutinho e também foi obrigado a sair.
Perdido por dois, perdido por mil, os santistas resolveram parar os baianos no pau. A policia entrou em campo e esfriou os ânimos. O juiz Frederico Lopes expulsou outro santista. Dorval deu um tapa em Henrique e também saiu mais cedo. Aos 37 minutos, o Bahia sacramentou o titulo assinalando o terceiro gol.
A festa já tinha começado na Bahia de todos os Santos. Era também a vitória da malícia de Osório Vilas Boas que se impunha contra a pretensão de Atiê Jorge Cury. O dirigente do Santos, antes da decisão, havia enviado um telegrama ao San Lorenzo de Almagro, da Argentina, propondo datas e locais para os dois jogos pela Taça libertadores. Só que o San Lorenzo jogou mesmo foi contra o Esporte Clube Bahia, o campeão da primeira Taça Brasil.
Campanha do 1º campeão brasileiro: 14 jogos, 9 vitórias, 2 empates, 3 derrotas, 26 gols marcados, 17 sofridos : Bahia 5 X 0 CSA / Bahia 2 X 0 CSA / Bahia 0 X 0 Ceará / Bahia 2 X 2 Ceará / Bahia 2 X 1 Ceará / Bahia 3 X 1 Sport / Bahia 0 X 6 Sport / Bahia 2 X 0 Sport / Bahia 1 X 0 Vasco / Bahia 1 X 2 Vasco / Bahia 1 X 0 Vasco / Bahia 3 X 2 Santos / Bahia 1 X 2 Santos / Bahia 3 X 1 Santos. (Pesquisa: Nilo Dias)
O pol~emico livro de Osório Villas- Boas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário