Nestor Pedroso, o “Fruto”, nasceu em Dom Pedrito, no ano de 1903, mas só começou a se dedicar ao futebol em 1918. Naquela época existia em Dom Pedrito o E.C. 15 de Novembro, fundado pelo doutor Oscar Fontoura, então jogador do E.C. Cruzeiro, que mais tarde foi eleito deputado estadual e membro do secretariado do Governo do Estado. O craque Fontoura passava as suas férias na cidade natal e não querendo perder a forma e nem o contato com a bola fundou o clube.
“Fruto” fazia sucesso e ganhava fama nas “peladas”. Seria um grande elemento para o 15 de Novembro. Apareceram logo associados interessados em aproveitar o seu concurso. Mas não foi nada fácil ingressar no 15, que era um clube de brancos. Foi preciso uma reunião de Assembléia Geral para Fruto ser aceito no quadro.
No 15 ficou dois anos, era um futebol pobre, de amadores. Depois foi aconselhado a ir para Bagé, onde teria maiores possibilidades de desenvolvimento. Aceitando a sugestão partiu para a “Rainha da Fronteira”, onde estreou pelo Guarany, em 1921, sempre na posição de centromédio.
No fim do campeonato de 1921 aconteceu com “Fruto” uma coisa muito desagradável. Faltavam dois minutos para terminar uma partida e os dois adversários estavam em condições de igualdade no marcador. Nisso uma bola passou por ele. O goleiro pensando que Fruto interromperia a passagem da bola, parou. Foi gol. A torcida do Guarany pensou que ele havia se vendido por dinheiro. Foi um abalo muito grande que sofreu. Naquela época nem se ouvia falar em suborno.
Aborrecido, “Fruto” deixou Bagé e foi para Rio Grande, disposto a nunca mais ouvir falar em futebol. Passeou uns dois anos sem jogar. Mas como trabalhava na Padaria Bento, atendendo à insistência de amigos, resolveu atuar pelo E.C. Padeiral, que congregava a classe dos padeiros.
“Fruto”, pelas suas qualidades de jogador e pela ascendência que possuía sobre os seus companheiros, passou a ser a figura máxima do clube, dentro e fora dos gramados. No Padeiral era chamado de “governador”.
Um sério conflito no qual foi assassinado um torcedor do clube dos padeiros, fez com que se pensasse na mudança de denominação do Padeiral, nome este que fazia recordar aquele acontecimento sangrento. “Fruto” foi contra, mas a maioria decidiu trocar o nome do clube para Americano, isso em 1927. Ele aproveitou a oportunidade e junto de Carruíra e outros jogadores ingressou no S.C. Rio Grande, que sempre foi o seu clube de coração.
Em 1929 foi para o Brasil, de Pelotas, onde atuou até 1934, ano em que foi para o Flamengo, do Rio de Janeiro. A torcida do Brasil sentiu imensamente a saída de seu grande jogador e lhe ofertou um retrato com os dizeres: “Por baixo as vezes passa, por cima nunca”.
No Flamengo, “Fruto” teve a má sorte de encontrar Flávio Costa, que era o centromédio do clube rubro-negro carioca. Mas já estava passando da idade, quando Fruto chegou. O dirigente Bastos Padilha então disse-lhe: “Flávio, o gaúcho a partir de hoje vai ocupar o seu lugar. Você nos prestará mais serviços cuidando do time como técnico”.
Foi a desgraça de “Fruto”. Flávio passou a persegui-lo de todos os modos, bem como antigos companheiros de time, a quem ele não apreciava. O treinador fazia “Fruto” treinar de zagueiro para jogar de centromédio. Quando reclamava treinava de centromédio e jogava como zagueiro. Um inferno. Por fim não suportou mais. Resolveu voltar para o Sul. Os diretores do Flamengo, todavia, queriam impedir a sua saída. Argumentaram, discutiram, mas “Fruto” não cedeu.
Chegaram ao ponto de desconfiar que era a sua esposa que estivesse influindo na decisão. Uma comitiva de dirigentes flamenguistas foi até a casa do jogador, numa hora em que ele se encontrava ausente, para saber da mulher se estava faltando alguma coisa em casa. Ela de pronto respondeu que estava tudo bem.
Ao saber da visita, “Fruto” disse que nunca na vida havia passado tão bem. Recebera de luvas Cr$ 5.000.00 de luvas, uma verdadeira fortuna para a época e ganhava um salário de Cr$ 800.00 por mês, mais casa e luz. Mas o certo é que seu desejo era ir embora.
Em 1935 estava de volta ao Brasil, de Pelotas, onde ficou por apenas um ano. Em 1936 foi para o S.C. Rio Grande, onde se sagrou campeão municipal por antecipação, o que lhe garantiu o direito de disputar o estadual.
Em novembro e dezembro, o Rio Grande enfrentou o Grêmio Atlético 9º R.I., de Pelotas, em dois jogos, realizados em Rio Grande e Pelotas. Tendo vencido ambos os confrontos, o tricolor riograndino se classificou para enfrentar em Porto Alegre ao E.C. Novo Hamburgo, depois Floriano e hoje novamente E.C. Novo Hamburgo, a quem venceu por 5 X 2.
Estava o Rio Grande habilitado a decidir o título frente o Sport Club Internacional, de Porto Alegre. A final seria disputada em dois ou três jogos, todos marcados para o campo do Força e Luz, na capital gaúcha. O primeiro deles foi realizada no dia 17 de janeiro de 1937 e o S. C. Rio Grande venceu pelo placar de 3 X 2, com gols de Souza, Pecce e Ernestino. Os gols do Internacional foram marcados por Salvador e Sílvio.
O S. C. Rio Grande jogou com: Munheco – Fruto e Cazuza – Juvêncio – Chinês e Roberto - Ernestinho – Darinho – Souza (Carruíra) - Marzol e Pecce.
A segunda partida foi novamente vencida pelo Rio Grande, pelo placar de 2 X 0, sagrando-se Campeão Gaúcho. A escalação do Rio Grande foi a seguinte: Munheco - Cazuza e Juvêncio – Chinês – Sanguinha e Roberto – Ernestinho - Carruíra (Caringi) – Souza - Marzol e Pecce.
Na volta para Rio Grande, os jogadores foram recebidos com muita festa, tendo inclusive desfilado pelo centro da cidade em automóveis conversíveis.
Como lembrança dessa competição memorável, o S.C. Rio Grande guarda em sua sede a bola do jogo e a camiseta de “Fruto”, ambas manchadas de sangue. Tudo aconteceu quando “Fruto” pulou junto do jogador Salvador, do internacional, cabeceando a bola e o adversário. O choque foi tão violento que Salvador chegou a gritar: “Ô mãeeee” e foi de imediato levado de ambulância para um hospital. “Fruto”, mais resistente, continuou em campo, molhado de sangue.
Também a bola no final do jogo, se apresentava com os gomos pintados de vermelho. O pessoal do S.C. Rio Grande a guardam na sede, como exemplo de uma dedicação de atleta superior aos próprios sofrimentos físicos. Na época a bola era arrematada por fora, e recebia o nome de tento. Era uma costura de couro crú, e quem tinha a coragem de cabeceá-la, muitas vezes saia com um ferimento na cabeça.
Em 1936, o selecionado gaúcho eliminou o onze carioca, no Campeonato Brasileiro de Seleções, por isso teve tempo e aceitou jogar um amistoso em Rio Grande, frente o S.C. Rio Grande.
“Fruto” começou o jogo como zagueiro, mas minutos depois trocou de posição, com Chinês (pai de Chinesinho), passando para o centro da intermediária, pois na sua visão aquele setor da equipe não estava bem. Com isso, a linha atacante carioca, composta por Orlando, Leônidas, Carvalho Leite, Feitiço e Patesko, ficou paralisada.
Ao final do jogo, Feitiço, num lance desleal tirou “Fruto” do gramado. Terminada a partida com o placar igual em 2 x 2, “Fruto” lamentou que sua equipe não tivesse marcado o terceiro gol num pênalti. Devido o técnico carioca ter reclamado muito, “Fruto”, que era o capitão do time, ordenou que a falta fosse batida ostensivamente para fora. Pênalti, na época dele era considerado covardia, pois o goleiro não podia se mexer. Geralmente era batido para fora, só convertiam, se esse gol estivesse fazendo falta.
Na opinião de “Fruto”, esse foi o melhor time que o S.C. Rio Grande montou em toda a sua história de quase 113 anos. “Fruto” jogou no Rio Grande até 1943, atuando como zagueiro e centromédio.
A maior emoção de sua vida teve-a em 1936, quando na campanha vitoriosa do Estadual, o Rio Grande derrotou o então poderoso esquadrão do 9º RCB, atual Farroupilha, de Pelotas, que tinha em seu plantel jogadores altamente categorizados, como Cardeal, Cerrito, Selistre, Brandão e outros.
Os maiores jogadores que conheceu foram Luiz Carvalho, em Porto Alegre, Mário Reis, em Pelotas, o uruguaio Greco, em Bagé, Carruíra, em Rio Grande e Juvenal de Brito, em São Paulo.
“Fruto” foi sempre um jogador firme, mas leal, que geralmente levava vantagem pelo porte físico avantajado que possuía. Mal encostava e o adversário já caia. Ele e o atacante Luiz Carvalho, que também era muito forte, proporcionaram grandes duelos, mas nunca houve lesões nessas disputas entre eles.
Um filho de “Fruto”, que também levava o seu apelido, chegou a jogar nos aspirantes do S.C. Rio Grande. Outros clubes tentaram contratá-lo, mas o pai nunca deixou. E explicava porque: “Ou joga no Rio Grande ou não joga em ninguém mais”.
O grande jogador é até hoje lembrado em Rio Grande, onde virou nome de rua. Na Vila Maria José, existe a rua Nestor Pedroso. (Pesquisa: Nilo Dias)
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