O F.C. Santa Cruz, da cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, completou 100 anos de atividades no último dia 26 de março. O clube foi idealizado em 1913 por um grupo de jovens liderados por André Klarmann. A reunião que definiu a fundação do clube aconteceu no Hotel Schmidt, no centro da cidade.
O primeiro jogo do novo time ocorreu no dia 3 de abril, contra o Clube Concórdia, também da cidade de Santa Cruz do Sul. O resultado não consta nos registros do clube. O local do jogo foi o campo de várzea, que se localizava onde hoje se encontra o Estádio Municipal, junto ao Parque da Oktoberfest.
Em julho de 1913, o clube realizou sua primeira partida fora de Santa Cruz do Sul. O confronto foi em Candelária, contra uma equipe local. A delegação viajou em carroças, deslocando-se no sábado à tarde para a cidade vizinha, onde pernoitou num hotel e no outro dia aconteceu o jogo. À noite, os jogadores participaram de um baile e regressaram somente na segunda-feira.
Nos anos que se seguiram foram muitos jogos contra equipes amadoras. Entre as décadas de 20 e 30 o time já participava de campeonatos estaduais, nas fases regionais. Na década de 20, quando deixou de jogar na várzea para ocupar sua casa própria, venceu o maior rival da época, o Grêmio Esportivo Santa Cruz, por 2 X 0, quando ganhou o apelido de “Galo Carijó”, ou “Esporão de Ouro”, como canta seu hino. Com direito a passeata com carros enfeitados com ramos de bambu e chuchus pendurados.
Nos anos de1932 e 1933, fez boas campanhas, sagrando-se vice-campeão do interior, perdendo o título para o Pelotas que venceu por 5 X 2, em jogo realizado no antigo estágio do Grêmio, em Porto Alegre. Em 1930, aderiu ao profissionalismo e dois anos depois, chegou a ser vice-campeão do interior. Naquele tempo a torcida era um show à parte. Chegava ao estádio em passeata, com uma banda de música. Havia torcida organizada de senhoras, com fardamento e tudo, e um bloco dos homens.
Na década de 60 o Santa Cruz começou a disputar os certames organizados pela Federação Gaúcha de Futebol, que envolviam equipes regionais. Entre 1974 e 1978, os dois times da cidade – Santa Cruz e Avenida – fizeram uma fusão, quando foi criada a Associação Santa Cruz de Futebol.
A fusão até que deu bom resultado. Orientado pelo técnico Daltro Menezes, o time conseguiu classificar-se entre os quatro melhores do Estado. Mas a fusão acabou quando aconteceu a briga provocada por dirigentes do antigo Avenida, insatisfeitos pela divulgação do clube como Santa Cruz, em vez de Associação Santa Cruz. Por isso o Avenida deixou a fusão, voltando a ter vida própria.
As boas campanhas do Santa Cruz seguiram até a metade da década de 1990. Até que em 1995 conheceu o rebaixamento para a Segunda Divisão, após enfrentar grave crise financeira. Em 1997 o clube retornou a elite do futebol gaúcho.
Mas foi em 1999 que o Santa Cruz buscou a modernização. Contratou um grupo de bons jogadores e voltou a realizar boas campanhas, tendo nessa época deixado de ganhar o título do interior, que foi perdido dentro de casa. Para ajudar nas finanças, o clube inaugurou um Posto de Gasolina junto ao Estádio dos Plátanos, a casa própria do clube.
Em 1934 o Estádio dos Plátanos era muito diferente do que é hoje, quando tem capacidade para receber 6 mil torcedores. Foi a época em que o jogador encruzilhadense Dario dos Santos, o “Caco Véio”, recém-casado com Dona Alzira, foi contratado para cuidar do estádio e morar lá, em um chalezinho. A área se estendia até o Expresso Albatroz. Dario jogava no time desde os 16 anos e entre os treinos cuidava dos fardamentos listrados de preto e branco e da copa de salgados que mantinha. Mais tarde se tornou treinador da equipe, totalizando 23 anos no clube.
Os netos de Dario Santos também fizeram história dentro do Santa Cruz e fora dele: Paulo Spall, já falecido foi jogador do clube. O irmão Luiz Fernando Spall, foi presidente da Associação de Árbitros de Santa Cruz e o primo Carlos Spall, jogador de Futsal. E o bisneto Luiz Carlos Walter Jr, infanto-juvenil do Internacional.
O atual grande rival do Santa Cruz, o Avenida, surgiu em 1947. No primeiro clássico disputado, houve empate em 2 X 2. A rivalidade já se fez presente de cara, pois houve uma pancadaria generalizada, pois o campo não tinha alambrado, o que facilitava a invasão deste. A velha rivalidade com o Avenida continua até hoje. Mas no passado, chegava a fechar o Quiosque e o Bar Polo Sul, em dia de jogo, para evitar confrontos das torcidas.
No primeiro clássico Ave-Cruz defenderam o Santa Cruz os jogadores: Julio – Ormond - Lindolfo Gerhardt – Cafuringa – Felicíssimo – Joãozinho – Fogareiro – Hanny – Mico - Dario Santos e Helio Almeida, que retornara à cidade em 1942, para jogar nos juvenis do clube. Depois passou para o time de cima, onde jogou até ser eleito presidente, cargo que ocupou por seis gestões intercaladas, até 1995.
Almeida acompanhou as muitas fases do Santa Cruz, inclusive quando da fusão na década de 70. Em 1952, ano em que assumiu pela primeira vez a presidência , o time foi vice- campeão do Interior, perdendo o título para o Sá Vianna, de Uruguaiana que sagrou-se campeão. O time do Santa Cruz contava nessa época com bons valores, como Amaro, Joãozinho, Paraguai, Paulo Cesar Tatu, Cuca, Calixto, Maninho, Betinho e Moacir. A melhor colocação do clube no Campeonato Gaúcho foi um quarto lugar em 1988.
Já vestiram a camisa alvinegra nomes como Betinho, Eduardo Heuser, Palito, Moa, Gabriel Porto, Everaldo, os selecionáveis paraguaios Sanabria e Sotelo, a dupla de atacantes Rogerinho e Paulo Roberto, além de Cuca, atual técnico do Atlético-MG, que jogou no clube na década de 1980. O F.C. Santa Cruz é atualmente presido por Léo Schqingel.
Títulos conquistados: Vice-Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão (1952, 1983 e 1997); Campeonato Citadino de Santa Cruz do Sul (1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952 e 1953); Campanhas de destaque no Campeonato Gaúcho ( 3º lugar em 1932 e 1959); Copa Centenário do Santa Cruz, disputada este ano, contra o maior rival, o Avenida. Depois de perder por 2 X 1 nos Eucaliptos, o Santa Cruz devolveu o placar nos Plátanos e venceu nos pênaltis. Artilheiros: Valduino, em 1983, com 10 gols no Campeonato Gaúcho da Série B.
O Santa Cruz, que desde 1997 se encontrava na elite do futebol gaúcho, não conseguiu escapar da “praga” que persegue os clubes de futebol nos anos de seus centenários e foi rebaixado no Campeonato Gaúcho, e terá que disputar a Divisão de Ascenso, o ano que vem. Torcedores, dirigentes e profissionais lamentaram a queda do clube justamente num ano que deveria ser só de comemorações. O Santa Cruz fez neste ano uma de suas piores campanhas, com cinco vitórias, um empate e 9 derrotas, em 15 partidas e o 14º lugar na classificação geral. (Pesquisa: Nilo Dias)
Na foto de 1914 um dos primeiros registros fotográficos do Futebol Clube Santa Cruz. (Foto: Acervo fotográfico do F.C. Santa Cruz)
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