O Rio Branco Atlético Clube, de Vitória (ES) completou neste dia 21 de junho, 100 anos de atividades. O clube foi fundado no dia 21 de junho de 1913. Mas a história do clube teve inicio em maio daquele ano, depois que alunos do Colégio Estadual e da Escola Normal, instituições de ensino tradicionais, criaram seus clubes de futebol, Sul América e XV de Novembro, respectivamente.
Naquela época já haviam outros dois clubes na cidade, o Rui Barbosa, que teve vida efêmera e o Victoria Foot-Ball Club, fundado por meninos brancos e ricos. Essas equipes já pensavam em promover competições entre elas.
Foi quando os meninos pobres das vilas, que também gostavam de futebol, resolveram fundar um time. A ideia partiu de José Batista Pavão e Antônio Miguez, balconistas em uma casa de ferragens. A eles se juntou o também balconista, Edmundo Martins.
Uma primeira reunião foi marcada para o segundo domingo de junho, com a presença de Nestor Ferreira Lima, que mesmo sendo estudante do Colégio Estadual, não jogava no Sul América. Os meninos presentes, todos entre 14 e 16 anos, trocaram ideias e discutiram sobre tudo, da bola inglesa aos gorros.
Uma segunda reunião aconteceu no dia 21 de Junho de 1913, já para a fundação do clube. Ela aconteceu na casa de Nestor Ferreira Filho, na rua 7 de Setembro, num cômodo cedido pelo seu pai, junto ao Escritório de Contabilidade de propriedade deste.
Os meninos compareceram vestindo suas melhores roupas. A reunião teria sido rápida, se não fosse a dificuldade em encontrar um nome para a nova agremiação, que agradasse a todos. Entre as sugestões apresentadas estavam nomes de personalidades da história do Brasil e datas comemorativas, como também de heróis portugueses, como Saldanha da Gama e Álvares Cabral. Mas estes nem foram levados em consideração, por já existirem na cidade entidades com essas denominações.
Quando as alternativas estavam se esgotando, sem que nenhum nome fosse aprovado, um dos jovens, cujo nome não é citado no histórico do clube, sugeriu que se homenageasse os próprios jovens que idealizaram a entidade, “todos jovens e vigorosos”. Assim surgiu o "Juventude e Vigor", com as cores verde e amarela. Nestor Ferreira Lima Filho foi escolhido o primeiro presidente do clube.
Os fundadores do clube foram Antonio Miguez, José Batista Pavão, Edmundo Martins, Nestor Ferreira Lima Filho, Gervásio Pimentel, José Fiel, Cláudio Daumas, Otávio Alves de Araújo, Hermenegildo Conde, Adriano Macedo, Antônio Gonçalves de Souza e Cleto Santos.
Somente em 10 de fevereiro de 1914 passou a chamar-se Rio Branco A.C., em homenagem ao então chanceler José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão de Rio Branco. A mudança ocorreu porque alguns outros convidados, entre os quais ex-jogadores do Rui Barbosa, que chegaram depois, não se sentiram bem com o nome.
A mudança das cores de clube para preto e branco, aconteceu em 20 de maio de 1917, porque o verde e amarelo desbotavam muito. O problema com cores não foi exclusividade do Rio Branco. No Rio de Janeiro o Flamengo, que outrora tinha as cores azul e amarela, mudou para vermelho e preto. Em outros clubes do país também ocorreu o mesmo.
A sugestão de preto e branco foi dada por Gilberto Paixão, que aderira ao clube em companhia da maioria dos ex-jogadores do Sul América. Ele era muito querido e respeitado pelos companheiros, pois se tratava de um moço bastante educado e considerado o melhor jogador do time e da cidade de Vitória.
O clube adotava, assim, as cores que foram do extinto Sul América e também do Botafogo, do Rio de Janeiro, clube pelo qual outros meninos torciam. O clube carioca, por sua vez, adotara o preto e branco, em sua fundação, numa imitação ao Juventus da Itália.
As primeiras partidas do Rio Branco foram disputadas em campos existentes em áreas descobertas, usando bolas de meia ou enchendo bexigas de boi. Em Jucutuquara, havia uma salina abandonada, que transformara-se em um terreno reto, sem grama mas muito bom para a prática do futebol. Foi ali que os meninos do “Juventude e Vigor” tiveram os primeiros contatos com a bola.
Depois eles foram parar no Bairro de Lourdes, em área utilizada pelo “Tiro de Guerra", do Exército Brasileiro. Ficaram pouco tempo por lá, pois o time do Victória conseguiu a área para si, com o beneplácito do Barão de Monjardim.
Nova mudança, dessa vez para o campo do Bom retiro em Vila Velha, área que pertencia a família Araújo, localizada próximo a Maternidade. Em 1916 o retorno ao Jucutuquara. Foi preciso aterrar o local, o que não foi tarefa difícil tendo em vista a localização do terreno ao pé do morro. Tocos foram arrancados e a “salina” fiou maior e melhor.
O trabalho foi complementado com o campo de jogo separado dos torcedores por uma cerca de arame liso. Mas os fundadores da entidade ainda não se mostravam satisfeitos. Queriam mais, pois não desejavam ficar abaixo do Victória que já tinha um campo, cercado com folhas de zinco e local para torcedores com degraus de madeira cobertos, batizados de “arquibancadas”.
Em sua edição de 28 de setembro de 1915, o jornal "Diário da Manhã", anunciava que o então presidente, Otávio Araújo já recebera a planta do futuro “campo de sports”, que depois de pronto seria um dos melhores do Brasil. Idêntica matéria também foi publicada no jornal "O Curioso", datado de 12 de Setembro daquele ano.
Depois de muito trabalho, o Rio Branco conseguiu inaugurar em 1919 o "Estádio de Zinco", chamado pela imprensa local de "O Majestoso Ground de Jucutuquara". O jogo inaugural foi frente o Fluminense F.C., de Niterói, na época um time forte. E ainda veio reforçado por alguns jogadores do Fluminense e de outros times cariocas. Ainda assim o jogo terminou empatado em 2 X 2.
O “Estádio de Zinco” foi um marco no futebol capixaba. Todos os times do Rio de Janeiro queriam jogar lá. Foi o caso do Flamengo, já um time grande e popular, que jogou e perdeu para o Rio Branco por 2 X 1.
Mas nem tudo era tranquilidade. O fato de ocupar a área do estádio desde 1916, não garantia ao clube a sua posse. Quem administrava aquele local era a Liga de Esportes. Só depois de uma dura batalha judicial contra o Victória, que também reivindicava o local para si, o Rio Branco teve a posse definitiva do estádio.
O então presidente do clube, Carlos Marciano de Medeiros, o “capitão Carlito Medeiros”, conseguiu junto ao interventor federal do Estado, capitão João Punaro Bley, a doação da área, através o Decreto 4.969, publicado no Diário Oficial em 24 de Junho de 1934.
A partir daí o Rio Branco cresceu, tornando-se um verdadeiro patrimônio do Espírito Santo. O “Estádio de Zinco” se tornara pequeno e obsoleto, para abrigar o grande número de torcedores que o clube já possuía. Em 1934 começaram as obras do “Estádio Governador Bley”, em Jucutuquara. Seria o terceiro maior estádio do país, ficando atrás apenas do São Januário e das Laranjeiras, pertencentes ao Vasco da Gama e Fluminense, respectivamente.
A inauguração do novo estádio aconteceu no dia 30 de maio de 1936. No dia seguinte o primeiro jogo, um amistoso entre Rio Branco X Fluminense, do Rio de Janeiro, vencido pelo time carioca por 2 X 0.
O “Governador Bley” foi palco de grandes conquistas do Rio Branco, entre elas o hexacampeonato capixaba, de 1934 a 1939, além da boa campanha na Copa dos Campeões Estaduais de 1937, a primeira competição nacional de futebol realizada no Brasil, quando ficou em terceiro lugar.
Destaque naquele ano para a vitória em cima do Fluminense, do Rio de Janeiro, por 4 X 3. Em razão de más administrações, o estádio foi perdido para o pagamento de dívidas e hoje pertence ao Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).
Alguns anos depois, o Rio Branco procurou um novo local para erguer outro estádio. Encontrou o que procurava no município de Cariacica, na "Grande Vitória", onde construiu o “Estádio Kleber Andrade”. O nome foi uma homenagem a um ex-presidente do clube. O projeto inicial previa um estádio para 80 mil pessoas, que seria o maior e mais moderno do Estado.
Apesar da grandeza planejada, as obras nunca foram concluídas. Assim mesmo o estádio foi inaugurado em 1983, num jogo amistoso em que o Rio Branco derrotou o Guarapari por 3 X 2, com três gols de Arildo Ratão. O “Kleber Andrade” foi a casa do clube alvi-negro por muitos anos e também o principal estádio do Espírito Santo.
Em 2008, o Rio Branco vendeu o estádio para o Governo do Estado do Espírito Santo. O clube precisava de dinheiro para pagar algumas dívidas e começar a construção do seu Centro de Treinamento. Foi nesse ano que o Rio Branco voltou a ter sua sede administrativa em Vitória, localizada na Avenida Nossa Senhora da Penha, no bairro Santa Lúcia.
O Rio Branco ainda é dono de uma área com cerca de 60 mil m², que fica em Portal de Jacaraípe, na Região Metropolitana de Vitória. É nesse local que o clube pretende construir o “CT Capa Preta”. O Rio Branco também tem cerca de R$ 4 milhões depositados em juízo. Mas para por a mão nesse dinheiro, primeiro terá de eliminar oito pendências judiciais. Só assim terá condições de erguer o sonhado CT.
O Rio Branco é o clube com maior torcida no Estado e também o ganhador de mais títulos estaduais, 36 ao todo. Seus torcedores o chamam de “Capa Preta” e “Brancão”. Já disputou as séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro. É o 3º time de futebol profissional fundado no Estado.
Neste ano, em que completa o seu centenário, o Rio Branco foi eliminado do Campeonato Capixaba com uma rodada de antecedência, depois de uma péssima campanha. Durante o primeiro semestre o clube mandou embora três técnicos e conviveu com vários empates e derrotas inesperadas.
A década de 1990 o clube quer esquecer, pois algumas gestões fracassaram em tudo o que fizeram. Foi quando as dívidas aumentaram consideravelmente e o Rio Branco amargou 24 anos sem ganhar nada. A situação era desesperadora e o fechamento parecia ser questão de tempo.
Mas veio a tábua de salvação. Em outubro de 2003, alguns torcedores do Rio Branco deram inicio a um movimento para superar as dificuldades vividas. Em um escritório improvisado em um café do Praia Shopping, os abnegados doutor Paulo Marangoni, Rommel Rubim e Notier Menezes, começaram a planejar os caminhos a serem seguidos.
Nada foi fácil. O clube estava totalmente endividado, não tinha crédito em lugar nenhum e as cobranças vinham de todos os lados. A coisa estava tão feia, que os jogadores iam para os jogos de transporte público. Notier Menezes foi verificar de perto o que se passava. Para isso foi até Cachoeiro assistir um jogo do Rio Branco contra o Estrela, pela "Copa Espírito Santo".
Quando viu o ônibus que conduzia a delegação, ficou apavorado. O veículo tinha emendas por toda a lataria, os pneus estavam totalmente "carecas" e não tinha banheiro. Aí começou realmente o grande desafio de reerguer o clube.
Foi preciso muita persistência e trabalho, para que isso acontecesse. Primeiro, foi feita uma reestruturação administrativa em 2006, para que o clube voltasse a ter credibilidade. A venda do estádio ao governo, em 2008, abriu os caminhos. As dívidas foram pagas. Dentro de campo as coisas também melhoraram. Em três anos o time chegou à quatro finais, Copa Espírito Santo em 2008/2009 e “Capixabão”, em 2009/2010. Na última, o Rio Branco, depois de 24 anos, quebrou o jejum e conquistou o título estadual.
Títulos conquistados. Estaduais: (1918, 1919, 1921, 1924, 1929, 1930, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1941, 1942, 1945, 1946, 1947, 1949, 1951, 1957, 1958, 1959, 1962, 1963, 1966, 1968, 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1978, 1982, 1983, 1985 e 2010).
Campeonato Capixaba - 2ª Divisão: (2005); Torneio Início: (1918, 1920, 1921, 1924, 1925, 1928, 1929, 1930, 1931, 1932, 1934, 1935, 1936, 1940, 1942, 1947, 1956, 1957, 1959, 1962, 1964, 1968, 1969, 1970); Taça Cidade de Vitória: (1918, 1919, 1921, 1924, 1929, 1930, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1941, 1942, 1945, 1946, 1947, 1949, 1951, 1957, 1958, 1959, 1964, 1965, 1967, 1969, 1971).
Outras Conquistas. Torneio Centenário de Vitória (1951); Vice Campeão Taça Brasil Sudeste: (1959, 1963 e 1964); Troféu da Revolução 31 de Março: (1965); Taça Cidade de Vitória: (1969 e 1972); Taça Independência: (1972); Troféu Governador do Estado: (1975); Torneio dos Campeões Capixabas: (2001); Torneio Metropolitano Master de Futebol: (2002), além de dezenas de outros torneios e taças.
O título de 1985 foi ganho perante um público de 27 mil torcedores, quando o Rio Branco garantiu vaga no Campeonato Brasileiro da Série A de 1986. O Rio Branco disputou também o Campeonato Brasileiro da Série A em 1987, integrando o módulo amarelo.
O “Capa-Preta” até que teve bons resultados naquele campeonato, que foi o último em que participou na Série A. Venceu o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro por duas vezes, 2 X 1 em São Januário e 1 X 0 no Kleber Andrade. Ganhou do Ceará por 2 X 0 e do Internacional, por 2 X 1. Fez 4 X 0 no Piauí, 2 X 1 no Atlético Goianiense, 1 X 0 no Náutico, no Arruda em Recife, além de vitórias sobre times como Operário e Nacional.
Naquela época os adversários temiam jogar em Vitória, onde a pressão da torcida era enorme. Nos 12 jogos como mandante, o Rio Branco levou mais de 157 mil torcedores aos estádios Kleber Andrade e Engenheiro Araripe. No jogo contra o Vasco, por exemplo, o público foi de 50 mil expectadores.
A logomarca do ano do centenário mostra um número "100" estilizado nas cores preto, branco e dourado. Dentro de cada um dos “zeros”, encontram-se elementos de escudos já usados pelo clube em sua história. O primeiro faz alusão ao “Juventude e Vigor”, nome original do Rio Branco em 1913, seu ano de fundação. O segundo contem as iniciais RBAC com tipografia do escudo atual do clube. Também foi lançado o slogan do centenário: “100 anos guardados em meu coração”, frase que faz alusão a um trecho do hino do clube. (Pesquisa: Nilo Dias)
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