O torcedor símbolo do S.C. Internacional, de Porto Alegre nas décadas de 1930 e 1940, era um negro forte e folclórico que fazia biscates nas docas do caís do porto, na capital gaúcha, onde carregava caixas de frutas, verduras e legumes e guardava chuchus estragados para no domingo lançá-los na torcida gremista.
Todos os torcedores que frequentavam o velho Estádio dos Eucaliptos o conheciam. Andava sempre com roupas puídas e seu estado normal era alcoolizado. Como nunca tinha dinheiro para comprar ingressos em dias de jogos, contava com a ajuda dos porteiros que o mandavam entrar, ou com algum torcedor que lhe pagava o ingresso e de lambuja algumas cervejinhas.
Como estava quase sempre bêbado, em algumas ocasiões era proibido de entrar no estádio. Mas como era malandro, entrava nas arquibancadas de costas, para fingir que estava saindo, ao invés de estar entrando no estádio. Costumava sentar sempre na primeira fila. Nos anos 1940 o Internacional tinha um elenco poderoso, que formou o inesquecível "Rolo Compressor”.
Não raras vezes “Charuto”, já devidamente “calibrado” dormia deitado nas arquibancadas, depois de ter andado de um lado e outro do estádio gritando “Co-ro-ra-do! Co-ro-ra-do!" O curioso é que ele não assistia os jogos, costumava ficar de costas para o gramado.
O hoje escritor e comentarista, Luis Fernando Verissimo, colorado desde criança, lembra muito bem de “Charuto”, um personagem que o fascinou em seus tempos de infância. Ele chegou a lembrar em uma de suas crônicas daquele torcedor único, que foi para ele um exemplo de amor perene e incondicional pelo Internacional.
No dia 7 de dezembro de 1952, houve um Gre-Nal e o Inter venceu por 5 X 1. Entre os milhares de torcedores que lotavam os Eucaliptos, faltava um. Três dias antes da partida, “Charuto” envolveu-se numa briga e foi morto com uma facada nas cercanias do Mercado Público. Morreu assim.
Viveu como pôde, mas foi enterrado como príncipe, quando seu ataúde foi carregado pelos jogadores colorados devidamente fardados. Para aqueles que o conheceram, ainda faz falta. Hoje em dia, quando a “Popular” canta a estrofe "com a cachaça na mão", lembra que lá nos primórdios deste Internacional, tinha um colorado que iniciou tudo isso. (Pesquisa: Nilo Dias)
"Charuto'" dormindo sentado em um banquinho, no velho estádio dos Eucaliptos. (Foto reprodução: Revista do Globo)
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