quarta-feira, 31 de julho de 2013

O estádio mais antigo da Argentina

Um dos estádios mais antigos da Argentina, ainda em atividade, é o “Arquitecto Ricardo Etcheverri”, localizado no bairro de “Caballito”, em Buenos Aires e inaugurado em 2 de Janeiro de 1905, um ano após a fundação de seu proprietário, o Ferro Carril Oeste. Hoje tem capacidade para 24.442 torcedores. É um dos poucos estádios da Argentina que permanece no mesmo lugar desde o início do século XX. Foi construído nos fundos de um terreno da linha de trem "Ferro Carril Oeste".

O estádio ganhou oficialmente o nome de “Arquitecto Ricardo Etcheverri” em 1995. É uma homenagem para quem serviu o clube como seu vice-presidente por cerca de 30 anos.

Para erguer o estádio o Ferro Carril Oeste usava uma política de venda de jogadores em troca de materiais de construção, como madeira e chapas de zinco. Até hoje o “Ricardo Etcheverri” possui alguns lances de arquibancadas de madeira, por isso é conhecido como "El Templo de Madera" ou "El Monumental de Madera", numa referência ao Estádio Monumental de Nuñez do River Plate.

A bela tribuna semi-coberta, construída em 1976, foi a única inovação no estádio em mais de um século. Todo o restante permanece com a mesma estrutura dos tempos da fundação. Embora a capacidade atestada seja de 24 mil torcedores, era comum o clube jogar para mais de 35 mil pessoas nos anos 1980. Hoje, o Ferro joga para plateias de, no máximo, oito ou 10 mil pessoas

Devido a sua localização privilegiada, no centro geográfico de Buenos Aires, as principais equipes argentinas já o utilizaram em oportunidades em que não podiam usam seus próprios estádios. Entre eles River Plate, Boca Juniors, Vélez Sarfield, San Lorenzo de Almagro e, mais recentemente o Argentinos Juniors. A história registra incêndios que destruíram parcialmente o estádio, em longos períodos de empréstimo a outros clubes portenhos.

O Ferro Carril Oeste já foi uma das maiores potências futebolísticas da Argentina nos anos 80. Hoje vive uma situação de imensas dificuldades. Longe da elite, o Ferro experimentou dois descensos, uma falência e um sem número de fracassos dentro e fora de campo, sendo agora um mero figurante das divisões inferiores.

A torcida, antes enorme, agora resume-se aos moradores do bairro e frequentadores da sede social. Dos 50 mil sócios de antes, hoje não passam de 10 mil.

A responsabilidade de todo esse declínio se deve a seguidas más administrações. A história vitoriosa do clube começou com um dirigente chamado Santiago Leyden (1933-2002), que presidiu o Ferro por longos 30 anos (1963-1993), período em que foi por duas vezes campeão argentino (1982 e 1984) e três vices, além de conquistas no basquete (três Ligas Nacionais e três Sul-americanos) e no vôlei (12 torneios nacionais e três continentais).

Foi Leyden que ergueu a tribuna de cimento do antigo estádio de madeira – que ganhou o nome de “Arquitecto Ricardo Etcheverry”, seu vice e responsável pelo projeto do novo setor –, um ginásio poliesportivo para oito mil pessoas e todo o sistema de iluminação do complexo. Foi o homem que colocou o clube numa situação de grandeza, mas teve um pecado fatal: não soube a hora de entregar o cargo para outro.

Sem dúvida foi um dirigente extraordinário, mas ficou tempo demais à frente do clube. E quando isso acontece, tudo se contamina e se afasta da realidade”.

Quando finalmente Leyden deixou a presidência, a situação financeira do Ferro Carril Oeste já era dramática e se agravou nos anos seguintes. Torcedores e sócios abandonaram o clube aos milhares.

A maior renda vinha da sede social, mas como parte de uma nova realidade que também se verificou nas agremiações brasileiras, estas, a partir dos anos 90, perderam a importância de antigamente. As receitas com patrocínios também despencaram, e nem de longe justificam o emaranhado de desconhecidas marcas estampadas no uniforme verde com detalhes em roxo.

Dentro de campo, os resultados também não ajudaram. Diante de tudo isso foi um passo para a falência completa, no começo dos anos 2000. Antes mesmo de ter a insolvência decretada, o Ferro desceu para a segunda divisão – e para a terceira no ano seguinte. Acabou voltando para a B Nacional, mas nunca mais para a elite.

Tudo aconteceu num cenário agravado pela crise financeira que atingiu a Argentina. O país chegou a ter cinco presidentes em 12 dias no fim de 2001, o que também colaborou para levar à bancarrota o grande Racing Club.

“No me olvido ese día/ que una vieja chiflada decía/ Que Racing no existía/ que tenía que ser liquidado”, canta “La Guardia Imperial”, em referência ao episódio em que a torcida evitou que um dos clubes mais vitoriosos da história encerrasse as atividades. Ao contrário do Racing, no entanto, o Ferro nunca mais conseguiu se recuperar, e as gestões seguintes apenas agravaram a situação.

O Ferro é atualmente o 14º classificado em um campeonato disputado por times desconhecidos como Aldosivi, Crucero del Norte, Douglas Haig e Patronato.

Os torcedores que ainda restam, não lamentam tanto a ausência de jogos contra os chamados ”grandes” do futebol argentino, Boca, River, San Lorenzo, Racing e Independiente. Mas a disputa do “Clássico do Oeste”, contra o Vélez Sarsfield, rival com quem compartilha o ramal ferroviário que cruza a cidade do centro até o limite Oeste, no bairro de Liniers.

A linha de trem, por sinal, tem importância destacada para estes dois e para grande parte dos times portenhos: enquanto o Ferro foi fundado em 1904 por um grupo de 95 funcionários da companhia inglesa “Buenos Aires Western Railway”, o Vélez emprestou seu nome a antiga “Estação Vélez Sarsfield”, hoje “Floresta”, o bairro onde se fixou outro clube, o All Boys.

Já o Vélez não encara mais a rivalidade com o Ferro, como antes. O clube está em outro patamar, tendo sido campeão da Libertadores e do Mundial em 1994. Embora não tenha deixado de ser um dos tantos clubes de bairros de Buenos Aires, como o próprio Ferro e mais All Boys, Nueva Chicago, Chacarita, Atlanta, Huracán, Argentinos Juniors, Barracas Central, Defensores de Belgrano, entre outros.

A diferença é que o Velez encara de igual para igual as equipes de maior torcida e tradição. Desde 1993, foram oito títulos argentinos – só o River ganhou mais – e cinco internacionais. Além de um estádio que pode ser considerado exemplar, o Vélez ostenta um dos elencos mais fortes e regulares do país.

Para o Ferro só resta o passado. Assistir a uma partida no antigo estádio de madeira é como voltar a tempos idos. O complexo esportivo vive um estado de abandono, o que reforça essa impressão. Fala-se que o velho estádio de “Caballito” vai passar por uma ampla e necessária reforma.

A curva do lado oposto à Platea Sur e a arquibancada central já foram parcialmente desmontadas. A promessa é que os dois setores serão reconstruídos, com cimento mesmo, a exemplo da tribuna principal. Mas o problema é a falta de dinheiro para levar adiante a obra.

Hoje o time joga para um público envelhecido e saudosista, muito distante da média de 20 mil torcedores dos tempos áureos. Os torcedores populares de antes não existem mais. O que se vê no estádio agora é uma torcida de classe média. Pobres não assistem mais os jogos do Ferro.

E isso tem uma razão de ser. O bairro de “Caballito” também mudou, está hoje repleto de novos condomínios de alto padrão, alguns dos quais cortando todo o horizonte que antes se tinha a partir do estádio.

É um cenário contrastante com o que se costuma observar na maior parte dos estádios argentinos: o “Arquitecto Ricardo Etcheverry” fica encravado em uma zona bastante populosa, mas tranquila ao extremo. É possível caminhar pelas avenidas paralelas, incluindo a Rivadavia, a maior do país, sem se dar conta da existência de um estádio ali perto.

Os argentinos herdaram dos ingleses o costume de apelidar os estádios que poucos são conhecidos pelos seus nomes oficiais, como mostro abaixo:


Alberto José Armando (Boca Juniors): “La Bombonera”; Monumental Antonio Vespucio Liberti (River Plate): “Monumental de Núñez”; Libertadores de América (Independiente): “Doble Visera”; Juan Domingo Perón (Racing): “Cilindro de Avellaneda”; Pedro Bidegain (San Lorenzo): “Nuevo Gasómetro”; José Amalfitani (Vélez Sársfield): “El Fortín” e “Liniers”; Tomás Adolfo Ducó (Huracán): “El Palacio” e “Parque Patricios”; Ciudad de La Plata (clubes de La Plata): “Único”; Juan Carlos Zerillo (Gimnasia y Esgrima La Plata): “Del Bosque”; Dr. Lisandro de la Torre (Rosario Central): “Gigante de Arroyito”; El Coloso del Parque (Newell’s Old Boys): “Parque Independencia”; Néstor Díaz Pérez (Lanús): “Ciudad de Lanús” e “La Fortaleza”; Chateau Carreras (clubes de Córdoba): “Olímpico”; Juan Domingo Perón (Instituto): “Monumental de Alta Córdoba”; Brigadier General Estanislao López (Colón): “Cementerio de Elefantes”; Arquitecto Ricardo Etcheverri (Ferro Carril Oeste): “Caballito”; Julio Humberto Grondona (Arsenal): “El Viaducto”; Centenário Dr. José Luis Meiszner (Quilmes): “Centenário”; Feliciano Gambarte (Godoy Cruz): “La Bodega” e José María Minella (Aldosivi): “Mundialista de Mar del Plata”. (Pesquisa: Nilo Dias)

O velho Estádio Arquitecto Ricardo Etcheverri. (Foto: Acervo fotográfico do Ferro Carril Oeste)

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