quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O homem que não quis Pelé no seu time


Na do Mundo de 1958 na Suécia, a primeira vencida pelo Brasil, duas músicas foram criadas para comemorar a vitória do Brasil, caso a seleção saísse vitoriosa no confronto contra a Suécia. As composições tinham por títulos “Escola de Feola, de Luís Queiroga, interpretada pelo grupo os 3 Boêmios, e “Brasil campeão do mundo”, de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva, com a Orquestra e Coro Mocambo.

A responsável pelas gravações foi a “Rozenblit”, uma das mais importantes gravadoras nacionais, que existiu entre as décadas de 1950 e 1980, em Recife. Fundada no começo dos anos 1950 por José Rozenblit, a gravadora que levava seu sobrenome também era uma fabrica de discos e teve filiais no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Rosemblit ganhou notoriedade nos anos 50, quando era diretor do Sport Club Recife e não quis contratar Pelé por empréstimo.

José Rozenblit nasceu em 1927, no bairro da Boa Vista, em Recife. Seu sobrenome, assim como sua origem judaica, provém da Romênia. Rozeblit significa, num dialeto romeno, “Rosa de Sangue”.

Depois de uma viagem aos Estados Unidos, Rozenblit decidiu ingressar no mercado musical. Tudo aconteceu após conhecer Mr. Siegel, dono da pequena gravadora Mercury, que o incentivou a entrar no ramo do disco. Dois anos depois ele estaria distribuindo no Brasil o catálogo da Mercury.

A loja do pai, localizada na Rua da Palma, no centro do Recife, serviu, a princípio, de vitrine para expor seus discos. Sua viajem aos EUA havia lhe rendido à bagagem cerca de dois mil dólares em álbuns, que em pouco tempo ele passaria a importá-los regularmente.

A primeira casa de Rosemblit, “Lojas bom Gosto”, era um estabelecimento moderno, localizado próximo a ponte que liga os bairros de Santo Antônio e Boa Vista. Lá, o cliente dispunha de seis cabinas, onde podia ouvir os álbuns antes de comprá-los ou não. Havia ainda uma cabina especial de gravação, onde o cliente podia gravar jingles ou sua voz em acetato – algo raro no país.

A Loja não se limitava apenas a venda de discos, também comercializava eletrodomésticos e móveis modernos. Mas eram os vinis, os grandes responsáveis pela fama conquistada na cidade. O local ainda recebia artistas plásticos locais, que expunham seus trabalhos no espaço físico da loja.

Um fato no mínimo curioso aconteceu na campanha presidencial de 1950, que está publicado no livro “Do Frevo ao Manguebeat”, de José Teles, pela Editora 34, ocorrido na cabina de gravação da “Lojas Bom Gosto”. O ex-presidente Getúlio Vargas foi a Pernambuco, onde pretendia realizar intensa programação de comícios pelo interior do Estado.

Mas como foi surpreendido com uma forte gripe, teve de ficar acamado no Recife. Foi quando alguém teve a idéia de instalar no Grande Hotel, onde a comitiva de Vargas estava hospedada, o mini estúdio da loja de Rosemblit, possibilitando ao candidato gravar seus discursos em 160 “bolachões” de acetato, imediatamente enviados às emissoras de rádio do interior de pernambucano. Getúlio Vargas se constituiu no primeiro nome nacional lançado por Rozenblit.

Em 1953 começou a se delinear o que seria a primeira gravadora pernambucana, e a mais importante que já funcionou fora do Sudeste: a Fábrica de Discos Rozenblit, mais lembrada pelo seu principal selo, o “Mocambo”. O surgimento da “Rozenblit” aconteceu quando José Rozenblit decidiu lançar um disco com uma música que lhe agradou, o frevo-canção “Boneca”, de José Menezes e Aldemar Paiva.

Ele bancou o disco, gravado no precário estúdio da Rádio Clube de Pernambuco, com Claudionor Germano acompanhado pela Jazz PRA-8, regida por Nelson Ferreira, autor de “Come e dorme”, frevo-de-rua que está no lado B do disco pioneiro. Prensado na Sinter, no Rio, esse 78 rpm inaugural vendeu o suficiente para José Rozenblit acalentar o sonho de construir uma fábrica de discos no Recife

Foi em 1954 que José Rozenblit criou com seus irmãos, no Recife, uma das mais importantes fábricas de discos do Brasil: a Fábrica de Discos Rozenblit. Até então, o frevo pernambucano era gravado pela RCA-Victor. A partir deste momento, a fábrica dos Rozenblit assumiu este papel e passou a cuidar da produção local e regional, inclusive, vez por outra, também produzia alguma coisa do eixo Rio-São Paulo.

Em 1955 a “Rozenblit” já estava funcionando com a carga toda. Embora tivesse um variado catálogo, com música nacional e estrangeira, o frevo era privilegiado em seus suplementos. Os discos eram lançados em pelo menos três meses antes do Carnaval e boa parte da tiragem era distribuída para divulgação, nos jornais e principais emissoras brasileiras.

O frevo teve o seu apogeu durante os tempos da “Rozenblit”. Claudionor Germano, que até então era intérprete de músicas românticas, tornou-se o mais conhecido cantor de frevo, ao lado de Expedito Baracho, que saiu da seresta. Depois da “Rozemblit” o frevo passou a ser menos tocado nas emissoras de rádio de Pernambuco.

Naquela época o “bolachão” em 78 rpm rendia uma tiragem modesta, de apenas 2.500 cópias. Ainda assim a “Rozenblit” abriu filiais no Rio, São Paulo e Porto Alegre e lançou artistas como Zé Ramalho e Tom Zé e sucessos de grandes compositores como Pixinguinha, Tom Jobim e Ary Barroso.

A indústria também foi responsável por muitos sucessos internacionais, graças as parcerias com gravadoras estrangeiras como Mercury, Barclay e Kapp entre outras. As matrizes de discos estrangeiros eram compradas, prensadas e embaladas e, dessa forma, a “Rozenblit” lançou no Brasil artistas como Steve Wonder, Diana Ross e Louis Armstrong.

A fábrica de discos ainda se dedicou a gravar vozes de escritores pernambucanos, ora em prosa ora em versos, a exemplo de Gilberto Freyre, Ascenso Ferreira e Mauro Mota. A marca visual dos discos da “Rozenblit “ teve vários selos de identificação. O mais conhecido foi o “Mocambo”, utilizado desde 1953. Outros selos utilizados foram: “Passarela”, “AU” (Artistas Unidos), “Arquivo” e “Solar”.

Rozenblit, junto de seus irmãos, investiu pesado nos artistas da cena musical recifense, pernambucana e nordestina, contribuindo na difusão de estilos regionais como o samba-enredo, a ciranda, o maracatu, o carimbó e principalmente o frevo. O estádio da gravadora era capaz de comportar orquestras sinfônicas inteiras e seu parque gráfico era tido como um dos mais bem equipados da região.

Era tido como empreendedor cultural, um empresário bem articulado e com boa visão de mercado. Conseguiu enxergar as riquezas culturais que temos em nosso quintal e transformou-as em produtos de mercado, lançando artistas por todo o Brasil, principalmente na região nordeste.

Coube a “Fábrica Rozenblit” o pioneirismo de gravar um disco do bloco “O Bafo da Onça”, um dos mais conhecidos do carnaval carioca. No fim da década de 1960, gravou ao vivo as 12 músicas classificadas do II Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record, São Paulo. Entre elas: “Disparada”, de Geraldo Vandré, e “A Banda”, de Chico Buarque.

O maior sucesso nacional da Rozenblit, entretanto, foi o frevo “Evocação nº 1”, de Nelson Ferreira, seguido da marcha-rancho “Máscara Negra”, de Zé Keti e Pereira Matos, e “Maria Betânia”, de Capiba.

"A Rozenblit” foi a primeira a ter uma máquina offset no Recife. As capas da gravadora não ficavam a dever nada para as concorrentes do Rio e São Paulo. Na história das capas de disco no Brasil, pouco se fala no pioneirismo da gravadora pernambucana que, entre outras novidades, foi a primeira a lançar álbuns duplos. O primeiro foi exatamente na série “Recife, capital do frevo”, com um LP contendo frevos-de- rua e de bloco, e o outro formado por frevos-canção.

Naquela época, o complexo fonográfico contava com 190 funcionários, o que dava uma agilidade maior no lançamento dos discos. Mas nada como o que aconteceu naquela Copa. Rozenblit tinha tanta confiança na Seleção Brasileira, que ordenou aos seus funcionários estarem na fábrica meia-hora depois do jogo, em caso de vitória frente os suecos.

Com o título assegurado o pessoal pegou firme, trabalhando sem parar, o que possibilitou as rádios do Recife apresentarem as duas composições, a partir das 16h daquele dia 29 de junho de 1958.

Aproveitando o momento e numa excelente jogada de marketing, a “Rozenblit” ainda ofereceu um mimo aos jogadores, constando de compactos personalizados com a foto de cada um dos jogadores daquela seleção. Os brindes foram entregues aos jogadores e à comissão técnica, durante almoço realizado no Clube Português do Recife, na primeira parada da seleção no Brasil, na volta da Europa.

A primeira fábrica de discos existente no Brasil foi a Odeon, trazida pelo imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner, instalada no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ela foi líder na categoria até 1924, quando surgiu o processo de gravação elétrica,  criado pela “Victor Talking Machine”, que constituiu-se em uma revolução na história da indústria fonográfica.

Assim surgiram os discos de 78 rotações por minuto, que reinaram até a década de 1960, quando foram substituídos pelos long playing, que quer dizer longa gravação, contendo entre quatro e doze músicas. No período de 1930 a 1960, o número de fábricas fonográficas no Brasil passou de três, Odeon, Victor e Colúmbia, para 150.

Segundo o Jornal do Comércio, a fábrica pernambucana chegou a ter 22% do mercado nacional e 50 % do regional, entre 1959 a 1966. Mas fechou em 1966, não suportando os interesses das multinacionais e as seis enchentes que devoraram suas instalações, inclusive a sua gráfica.

Fora da música, José Rozemblit foi diretor do Sport Club Recife, seu time do coração, mas não teve um desempenho que merecsse elogios. Ele entrou definitivamente para a história do futebol pernambucano, brasileiro e mundial, porque foi o responsável pela
não ida de Pelé para o seu clube.

No dia 5 de novembro de 1957, ele recusou a oferta de empréstimo de quatro meses de um jogador do Santos, porque o atleta tinha apenas 17 anos de idade e era desconhecido. O garoto era nada mais, nada menos que Édson Arantes do Nascimento o Pelé. Neste dia, Rosemblit e o Sport cometeram um erro histórico. Tão surreal que acabou virando um “causo”.

Sorte do Santos e do próprio Pelé, pois sete meses depois ele conquistaria a Copa do Mundo de 1958 pela Seleção Brasileira. A história é comprovada por um telegrama guardado no museu do Sport com a oferta do Santos. Ninguém consegue imaginar que  algum time do mundo pudesse um dia recusar ter Pelé no seu elenco. O Sport Club Recife fez isso, pois queria o empréstimo do jogador Olavo, que estava em grande momento.

O Presidente Modesto Roma negou o empréstimo de Olavo e ofereceu o "garoto Pelé, de muito futuro". O Sport após algumas negociações recusou o jogador. Os telegramas históricos que marcaram os entendimentos integravam o arquivo do Clube, mas passaram de mãos em mãos, após a consagração de Pelé, e desapareceram. (Pesquisa: Nilo Dias)

 José Rozemblit, "agradeceu" e não quis Pelé no Sport.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Morreu o goleiro campeão mundial de 1958


O futebol brasileiro perdeu no último domingo um de seus maiores jogadores na história, Gylmar dos Santos Neves, ou simplesmente Gilmar, de 83 anos de idade, bi-campeão mundial pela Seleção Brasileira, em 1958, na Suécia e em 1962, no Chile. O ex-goleiro do Corinthians e do Santos, estava internado no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista, desde o dia 8 de agosto, devido a uma infecção urinária. No dia 23, sofreu um infarto.

Gilmar também tinha complicações resultantes de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido em 2000, que paralisou o lado direito de seu corpo, além de uma infecção sistêmica e um quadro de desidratação, que lhe agravaram o estado de saúde.

Mesmo estando numa cadeira de rodas desde 2000, não perdeu a lucidez. Apesar de falar com dificuldade, ele ainda tinha contato com o futebol. Via tudo quanto era partida pela TV, principalmente dos clubes que defendeu, Corinthians e Santos.

O corpo do ex-jogador foi velado e sepultado no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Deixou a esposa Raquel e dois filhos, Marcelo Izar Neves e Rogério Izar Neves.

O ex-goleiro nasceu em Santos no dia 22 de agosto de 1930. A sua carreira profissional começou em 1951 no Jabaquara, da cidade praiana, de onde saiu para o Corinthians, onde atuou por 10 anos.

No alvi-negro foi campeão paulista por três vezes, 1951, 1952 e 1954, este último no ano do IV centenário da cidade de São Paulo, quando também ganhou o título de "supremo guardião do campeão do quarto centenário". Também foi campeão de dois Torneios Rio-São Paulo, 1953 e 1954 e da “Pequena Taça do Mundo”, em 1953.

A sua saída do “Jabuca” aconteceu depois de uma negociação envolvendo o meio-campista Ciciá, que era quem realmente interessava ao clube da capital. Mas o Jabaquara só o liberou, com a condição de Gilmar ir junto, o que acabou acontecendo.

Seu começo no Corinthians não foi nada animador. Ele foi considerado o culpado pela acachapante derrota de 7 X 3 sofrida para a Portuguesa de Desportos, dia 25 de novembro de 1951. Em razão disso ficou quatro meses fora do time, só retornando em março do ano seguinte, para se sagrar campeão paulista.

Em 1962 foi para o Santos de Pelé, depois de uma briga com o presidente Wadih Helou, que o acusou de fazer corpo mole em alguns jogos. No clube santista foi campeão paulista nos anos de 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968; duas Taças Libertadores da América, 1962 e 1963; duas Taças Intercontinentais, 1962 e 1963; três Torneios Rio-São Paulo, 1963, 1964, dividido com o Botafogo e 1966, dividido com Botafogo, Corinthians e Vasco da Gama; Torneio Roberto Gomes Pedrosa, 1968; Recopa dos Campeões Intercontinentais, 1968 e quatro Taças Brasil, 1962, 1963, 1964 e 1965, que equivalia ao Campeonato Brasileiro. E mais os dois títulos mundiais pela Seleção Canarinho.

Também participou do Mundial de 1966, disputado na Inglaterra, tendo atuado em duas partidas e depois substituído por Hailton Corrêa de Arruda, o “Manga”.

A estréia de Gilmar no gol da Seleção Brasileira aconteceu no dia 1 de março de 1953, na goleada de 8 X 1 sobre a Bolívia, em jogo válido pelo Campeonato Sul-Americano disputado no Peru, atual Copa América. Jogou pela Seleção Brasileira até 1969. Sua última partida com a camisa “canarinho” foi num amistoso contra a Inglaterra, dia 12 de junho, no Maracanã, vencido pelos brasileiros por 2 x 1.

Gilmar foi “campeão de tudo” na sua época, pois ganhou todos os títulos possíveis que foram disputados. Também ganhou notoriedade por ter usado durante a Copa de 1958, na Suécia, a camisa de número 3, em vez da tradicional número 1. Foi ele quem levou o primeiro gol da carreira vitoriosa do “Rei Pelé”, num jogo entre Corinthians X Santos.

Jogador disciplinado foi agraciado em 1966 com o “Prêmio Belfort Duarte”, que contemplava jogadores profissionais que passassem 10 anos sem sofrer nenhuma expulsão de campo.

De acordo com o "Almanaque do Corinthians", de Celso Unzelte, Gilmar disputou 395 jogos pelo alvinegro entre os anos de 1951 e 1961. Foram 243 vitórias, 75 empates e 77 derrotas, tendo sofrido 527 gols. Pela Seleção Brasileira realizou 103 partidas, com 73 vitórias, 15 empates e 15 derrotas, tendo sofrido 104 gols, como consta no livro "Seleção Brasileira 90 anos", de Antonio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.

Sabe-se que muitos suecos foram batizados com o nome de Gilmar, no fim da década de 1950. Uma justa homenagem ao goleiro que encantou o planeta e chegou a entrar para uma lista da Fifa dos 10 mais da posição ao lado de Yashin, o “Aranha Negra”.

Marcelo Neves, um dos filhos de Gilmar, fez um livro com algumas fotos de garotos suecos que ganharam o mesmo nome dele depois da Copa de 58. Trata-se de pessoas que eles nunca viram pessoalmente, mas que tinham um carinho por ele maior até do que a admiração dos brasileiros.

Em 2006 Marcelo fundou a Associação dos Campeões Mundiais do Brasil, e começou a brigar pelos direitos dos ex-jogadores que fizeram do país uma potência no esporte.

Até bem pouco tempo Gilmar recebia cerca de 30 cartas por mês, praticamente uma mensagem de incentivo e agradecimento por dia. Os poloneses e tchecos são os fãs mais assíduos. Não raro, enviam fotos e pedem autógrafos pelo Correio. Como ele estava com problemas de saúde, seu filho Marcelo respondia todas as correspondências.

Depois de encerrar a carreira de jogador em 1969, ele teve uma grande agência de veículos, que ficava na zona leste da capital paulista.

Agora só restam oito campeões de 1958 ainda vivos. São eles: Bellini (83 anos), Nilton Santos (88 anos), Dino Sani (81 anos), Zito (81 anos), Moacir (79 anos), Zagallo (82 anos), Pepe (78 anos), Pelé (73 anos) e Mazzola (75 anos). Castilho, De Sordi, Djalma Santos, Oreco, Mauro, Orlando, Zózimo, Didi, Dida, Garrincha, Vavá e Joel já faleceram. (Pesquisa: Nilo Dias)


A morte de mais um campeão do mundo


No sábado, 24, morreu em Bandeirante (PR), onde residia, o ex-lateral direito Nilton De Sordi, campeão mundial de 1958, na Suécia, pela Seleção Brasileira, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Ele tinha a avançada idade de 82 anos e sofria de “Mal de Parkison” há mais de 20 anos.

Há pouco mais de um mês, havia sofrido um acidente, quando caiu em sua casa com o andador e bateu a cabeça. Em conseqüência ficou internado por 15 dias. Desde então ele parou de vez de andar, falar e passou a precisar de ajuda para se alimentar.

A saúde de De Sordi voltou a se agravar na última segunda-feira, quando ele voltou a ser internado, com suspeita de pneumonia. Ainda segundo a família, o ex-lateral teve complicações em outros órgãos até morrer às 16h30 deste sábado. Deixou a esposa Celina, quatro filhos, netos e bisnetos. De Sordi jogou no São Paulo nas décadas de 50 e 60.

De Sordi nasceu em Piracicaba em 1931, e começou a carreira no XV de Novembro, time local. Mas ganhou fama no São Paulo, onde chegou em 1952. Foi campeão paulista em 1953 e 1957, na última conquista, sob o comando de Vicente Feola, treinador campeão do mundo com seleção brasileira no Mundial da Suécia.

Ele fez parte de um dos maiores times do São Paulo, que deu muitas alegrias aos seus torcedores, como o time campeão paulista de 1957, que tinha Poy - De Sordi – Mauro – Vitor - Dino e Riberto – Maurinho – Amauri – Gino - Zizinho e  Canhoteiro.

Pelo tricolor paulista jogou 536 partidas entre 1953 e 1965. Segundo o "Almanaque do São Paulo", de Alexandre da Costa, foram 289 vitórias, 131 empates e 116 derrotas. Nunca marcou um gol, mesmo assim tornou-se ídolo no clube. Relatos dão conta que o jogador chutou apenas duas vezes ao gol: nas duas oportunidades, contra Fluminense e Corinthians, a bola bateu na trave.

De Sordi foi convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez, em 1955, sob o comando de Oswaldo Brandão. Seu jogo de estréia com a “amarelinha” foi 17 de novembro daquele ano.

Em 1958 foi chamado para disputar a Copa do Mundo na Suécia e foi titular em todos os jogos da Seleção Brasileira, mas na decisão contra a Suécia ficou de fora devido a uma lesão ocorrida na semi-final contra a França. Deu azar, Djalma Santos, que entrou em seu lugar, saiu na foto do título e ainda foi eleito o melhor jogador da competição, mesmo atuando uma única vez.

No total, De Sordi jogou 25 partidas pelo Brasil, com 17 vitórias, sete empates e apenas uma derrota. A última convocação deu-se em maio de 1961.

O lateral se destacou pelo desarme sempre certeiro e pela boa marcação, apesar da baixa estatura. De Sordi sabia marcar como poucos, tendo boa noção de cobertura, embora não apoiasse o ataque com frequência. Também era bom cabeceador, talvez por isso chegou a jogar de zagueiro-central no São Paulo e na Seleção Brasileira.

Pepe, ex-jogador do Santos garante que De Sordi  foi um dos laterais mais difíceis que ele enfrentou. Era vigoroso, chegava duro, mas não era desleal. Ele era forte e não muito alto. Por isso, era chamado de “Tourito”. Foi um grande marcador.

No final de carreira jogou no União Bandeirante (PR), onde se aposentou em 1966. No mesmo ano, foi chamado para ser técnico da equipe paranaense, time que voltou a treinar outras vezes, a última delas em 1977.

Em junho de 2008, De Sordi, mais Zagallo, Djalma Santos, Zito, Mazzola, Moacir, Orlando e Dino Sani, participaram da solenidade inaugural de uma exposição de selos em Brasília, que comemorou os 50 anos do primeiro título mundial conquistado pelo Brasil no futebol.

O evento “Correios Selando o Futebol Arte”, organizado pelos Correios, teve o lançamento de um selo personalizado e carimbo comemorativo em homenagem à Copa da Suécia.

Naquela oportunidade, além dos brasileiros, o sueco Kurt Hamarin, vice-campeão em 1958, esteve presente na inauguração da exposição, que era composta por 23 lâminas contendo os selos originais e suas imagens ampliadas.

Um dos destaques da coleção exibida em Brasília foi um selo fabricado em 1950 em comemoração da construção do Maracanã para a Copa do Mundo daquele ano no Brasil.

Em abril deste ano cada um dos 51 jogadores campeões mundiais nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, pelo Brasil receberam R$ 100 mil cada, pagos pelo Ministério do Esporte, de acordo com a Lei Geral da Copa, sancionada em junho do ano passado. O ex-atacante Tostão recusou o prêmio.

A premiação incluiu os titulares e reservas que disputaram pelo menos um dos três mundiais pela seleção brasileira. Da lista divulgada na época, 15 jogadores já haviam morrido, mas seus sucessores tiveram direito ao prêmio.

Os jogadores que estavam sem recursos, ou com recursos limitados para sobreviverem, também estão recebendo o pagamento de uma pensão mensal vitalícia, que é vista como um pequeno reconhecimento por tudo que os campeões de 1958, 1962 e 1970 fizeram não só pelo futebol, mas pelo Brasil.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A marreta germânica

Um dos primeiros grandes jogadores a atuar no futebol brasileiro foi George Paul Hermann Frieser, um jovem alemão que nasceu em Hamburgo, no dia 30 de maio de 1882 e faleceu em São Paulo, em outubro de 1945, aos 66 anos. Ele foi aquilo que se poderia chamar de um verdadeiro atleta.

Já na Europa, em 1902, havia vencido os 1.500 metros no campeonato alemão de atletismo. E também já havia se sagrado campeão em corridas de curta e média distância. Participou de competições internacionais de esportes atléticos em Berlim, Praga e outras capitais européias.

Frieser emigrou para o Brasil em 1903, quando tinha 21 anos de idade. Logo que chegou na capital paulista disputou uma partida amistosa pelo São Paulo Athletic Club. Mas não demorou a se juntar aos seus compatriotas do Germânia, equipe que representava a colônia alemã radicada em São Paulo. Esse clube foi fundado por Hans Nobiling, um jovem alemão que chegou ao Brasil em meados de 1897.

Mesmo com a fama de campeão de corridas, Frieser se destacou mesmo foi no futebol, embora em maio de 1907 tenha sido o único atleta brasileiro nos "Juegos Olímpicos Internacionales", no Uruguai. Mesmo machucado, conquistou a vitória nas provas dos 800 e 1.500 metros e ficou em segundo nos 400 metros.

Alto, corpulento e forte não escolhia posição para jogar. Isso porque conjugava a arte do drible, a suavidade no trato da bola, com a dureza em relação aos adversários. Tanto é verdade que os jornais da época diziam que ele valia por um time inteiro.

Por conta de seu físico avantajado, foi considerado um dos precursores do futebol força no Brasil. Tinha facilidade para atuar tanto no ataque quanto na defesa.

O que mais o destacava era sua capacidade de marcar gols. Foi artilheiro por três temporadas em São Paulo, em 1905 com 14 gols, e em 1906 e 1907, ambas com seis. A crônica do jornal “O Estado de São Paulo”, em 1903 lhe chamou de o "sensacional futebolista de todos os tempos".

Considerado um atleta completo e verdadeiro fenômeno, a ele é atribuída a criação da jogada de corpo chamada de “marreta”, lance que provocou muitos protestos dos adversários.

No currículo de Frieser consta que ele foi treinador do Germânia em 1909, e responsável pelo surgimento de Friedenreich, o primeiro gênio do futebol brasileiro, que depois foi chamado pela imprensa internacional de “El Tigre”.

Friedenreich era filho de um imigrante e comerciante de Hamburgo e uma negra brasileira. Como era mulato foi proibido de fazer parte do clube. Graças à intervenção de Frieser, tal medida racista foi revogada, o que permitiu ao jogador defender o Germânia por três anos, para depois conquistar o apogeu no Clube Paulistano.

Frieser, ao lado de Hans Nobiling e Charles Miler é reconhecido como um dos mais importantes pioneiros do futebol brasileiro, e o primeiro craque a atuar em nosso país. Durante os 11 anos que se seguiram à chegada de Hermann Friese, o Germânia teve um time de craques de primeiríssima qualidade, como Muus, Tommy Rittscher, Thiele Gerhardt e outros, que formavam um elenco marcado pela disciplina.

Frieser representou uma verdadeira revolução no Germânia. Sua figura predominava tanto no futebol quanto no atletismo, nos quais conquistou várias medalhas e empolgou o mundo esportivo de São Paulo.

Mas o cenário paulista dos grandes clubes era de tal forma competitivo, que às disputas não se restringiam ao campo de jogo. Verdadeiras batalhas políticas eram travadas entre entidades associativas, dividindo os clubes e os torneios.

De um lado, havia a Associação Paulista de Esportes Athléticos, que congregava clubes como o Paulistano, o Palestra Itália e outros mais. De outro, a Liga Paulista de Futebol integrada pelo Americano, Ypiranga, Internacional, Germânia e Corinthians.

Nos primeiros campeonatos o Germânia teve participações modestas, ficando sempre entre os últimos. Mas a partir de 1903, passou a contar com Hermann Friese, e devido à sua refinada técnica e surpreendente variedade de jogadas em campo, se tornou o primeiro craque da história do futebol brasileiro.

Com ele, o time começou a se destacar e em 1905 terminou como vice-campeão. Em 1906 conquistou seu primeiro título, com sete vitórias e uma única derrota e ainda deixando o desafeto Internacional com o vice. Em 1907 repetiu o feito.
 

O time acabou em 1926, entre outros motivos, por causa da profissionalização do futebol ocorrida em 1932. O Germânia depois mudou o nome para E.C. Pinheiros.

Frieser foi também o primeiro grande árbitro do futebol brasileiro, chegando a apitar as finais dos Campeonatos Paulistas de 1903, 1904, 1910 e 1920 e a final do Troféu Interestadual de 1910, vencido pelo Botafogo F.C., do Rio de Janeiro, que goleou por 7 X 2 a A.A. das Palmeiras, no Velódromo de São Paulo. Na época era comum jogadores atuarem como árbitros de futebol.

Foi Frieser que dirigiu o jogo em que o Palestra Itália, hoje Palmeiras, derrotou o Paulistano por 2 X 1 em 19 de dezembro de 1920, conquistando pela primeira vez um Campeonato Paulista. No dia 22 de outubro de 1916 apitou o jogo do “Paulistão” entre Santos F.C. X C.A. Ypiranga. Naquela naquele ocasião também foi inaugurado o estádio do Santos, na Vila Belmiro. O time santista ganhou a partida por 2 X 1.

Na sua carreira conduziu 53 ou mais jogos do Campeonato Paulista. Frieser é hoje um dos 10 patronos da “Academia Paulista de Árbitros de Futebol Charles Muller”, compartilhando essa honra, entre outros, com José Roberto Wright, Armando Marques, Arnaldo Cézar Coelho e Romualdo Arppi Filho, que apitaram em Mundiais.

Atualmente é disputada uma competição envolvendo escolas alemãs de São Paulo, denominada “Taça Frieser”, que homenageia o grande atleta que foi Hermann Frieser. (Pesquisa: Nilo Dias).