Na do Mundo de 1958 na Suécia, a primeira vencida pelo Brasil, duas músicas
foram criadas para comemorar a vitória do Brasil, caso a seleção saísse
vitoriosa no confronto contra a Suécia. As composições tinham por títulos
“Escola de Feola, de Luís Queiroga, interpretada pelo grupo os 3 Boêmios, e
“Brasil campeão do mundo”, de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva, com a Orquestra
e Coro Mocambo.
A
responsável pelas gravações foi a “Rozenblit”, uma das mais importantes
gravadoras nacionais, que existiu entre as décadas de 1950 e 1980, em Recife.
Fundada no começo dos anos 1950 por José Rozenblit, a gravadora que levava seu
sobrenome também era uma fabrica de discos e teve filiais no Rio de Janeiro,
São Paulo e Rio Grande do Sul. Rosemblit ganhou notoriedade nos anos 50, quando
era diretor do Sport Club Recife e não quis contratar Pelé por empréstimo.
José
Rozenblit nasceu em 1927, no bairro da Boa Vista, em Recife. Seu sobrenome,
assim como sua origem judaica, provém da Romênia. Rozeblit significa, num
dialeto romeno, “Rosa de Sangue”.
Depois
de uma viagem aos Estados Unidos, Rozenblit decidiu ingressar no mercado
musical. Tudo aconteceu após conhecer Mr. Siegel, dono da pequena gravadora
Mercury, que o incentivou a entrar no ramo do disco. Dois anos depois ele
estaria distribuindo no Brasil o catálogo da Mercury.
A
loja do pai, localizada na Rua da Palma, no centro do Recife, serviu, a
princípio, de vitrine para expor seus discos. Sua viajem aos EUA havia lhe
rendido à bagagem cerca de dois mil dólares em álbuns, que em pouco tempo ele
passaria a importá-los regularmente.
A
primeira casa de Rosemblit, “Lojas bom Gosto”, era um estabelecimento moderno,
localizado próximo a ponte que liga os bairros de Santo Antônio e Boa Vista.
Lá, o cliente dispunha de seis cabinas, onde podia ouvir os álbuns antes de
comprá-los ou não. Havia ainda uma cabina especial de gravação, onde o cliente
podia gravar jingles ou sua voz em acetato – algo raro no país.
A
Loja não se limitava apenas a venda de discos, também comercializava
eletrodomésticos e móveis modernos. Mas eram os vinis, os grandes responsáveis
pela fama conquistada na cidade. O local ainda recebia artistas plásticos
locais, que expunham seus trabalhos no espaço físico da loja.
Um
fato no mínimo curioso aconteceu na campanha presidencial de 1950, que está
publicado no livro “Do Frevo ao Manguebeat”, de José Teles, pela Editora 34,
ocorrido na cabina de gravação da “Lojas Bom Gosto”. O ex-presidente Getúlio
Vargas foi a Pernambuco, onde pretendia realizar intensa programação de
comícios pelo interior do Estado.
Mas
como foi surpreendido com uma forte gripe, teve de ficar acamado no Recife. Foi
quando alguém teve a idéia de instalar no Grande Hotel, onde a comitiva de
Vargas estava hospedada, o mini estúdio da loja de Rosemblit, possibilitando ao
candidato gravar seus discursos em 160 “bolachões” de acetato, imediatamente
enviados às emissoras de rádio do interior de pernambucano. Getúlio Vargas se
constituiu no primeiro nome nacional lançado por Rozenblit.
Em
1953 começou a se delinear o que seria a primeira gravadora pernambucana, e a
mais importante que já funcionou fora do Sudeste: a Fábrica de Discos
Rozenblit, mais lembrada pelo seu principal selo, o “Mocambo”. O surgimento da
“Rozenblit” aconteceu quando José Rozenblit decidiu lançar um disco com uma
música que lhe agradou, o frevo-canção “Boneca”, de José Menezes e Aldemar
Paiva.
Ele
bancou o disco, gravado no precário estúdio da Rádio Clube de Pernambuco, com
Claudionor Germano acompanhado pela Jazz PRA-8, regida por Nelson Ferreira,
autor de “Come e dorme”, frevo-de-rua que está no lado B do disco pioneiro.
Prensado na Sinter, no Rio, esse 78 rpm inaugural vendeu o suficiente para José
Rozenblit acalentar o sonho de construir uma fábrica de discos no Recife
Foi
em 1954 que José Rozenblit criou com seus irmãos, no Recife, uma das mais
importantes fábricas de discos do Brasil: a Fábrica de Discos Rozenblit. Até
então, o frevo pernambucano era gravado pela RCA-Victor. A partir deste
momento, a fábrica dos Rozenblit assumiu este papel e passou a cuidar da
produção local e regional, inclusive, vez por outra, também produzia alguma
coisa do eixo Rio-São Paulo.
Em
1955 a “Rozenblit” já estava funcionando com a carga toda. Embora tivesse um
variado catálogo, com música nacional e estrangeira, o frevo era privilegiado
em seus suplementos. Os discos eram lançados em pelo menos três meses antes do
Carnaval e boa parte da tiragem era distribuída para divulgação, nos jornais e
principais emissoras brasileiras.
O
frevo teve o seu apogeu durante os tempos da “Rozenblit”. Claudionor Germano,
que até então era intérprete de músicas românticas, tornou-se o mais conhecido
cantor de frevo, ao lado de Expedito Baracho, que saiu da seresta. Depois da
“Rozemblit” o frevo passou a ser menos tocado nas emissoras de rádio de
Pernambuco.
Naquela
época o “bolachão” em 78 rpm rendia uma tiragem modesta, de apenas 2.500
cópias. Ainda assim a “Rozenblit” abriu filiais no Rio, São Paulo e Porto
Alegre e lançou artistas como Zé Ramalho e Tom Zé e sucessos de grandes
compositores como Pixinguinha, Tom Jobim e Ary Barroso.
A
indústria também foi responsável por muitos sucessos internacionais, graças as
parcerias com gravadoras estrangeiras como Mercury, Barclay e Kapp entre
outras. As matrizes de discos estrangeiros eram compradas, prensadas e
embaladas e, dessa forma, a “Rozenblit” lançou no Brasil artistas como Steve
Wonder, Diana Ross e Louis Armstrong.
A
fábrica de discos ainda se dedicou a gravar vozes de escritores pernambucanos, ora
em prosa ora em versos, a exemplo de Gilberto Freyre, Ascenso Ferreira e Mauro
Mota. A marca visual dos discos da “Rozenblit “ teve vários selos de
identificação. O mais conhecido foi o “Mocambo”, utilizado desde 1953. Outros
selos utilizados foram: “Passarela”, “AU” (Artistas Unidos), “Arquivo” e
“Solar”.
Rozenblit,
junto de seus irmãos, investiu pesado nos artistas da cena musical recifense,
pernambucana e nordestina, contribuindo na difusão de estilos regionais como o
samba-enredo, a ciranda, o maracatu, o carimbó e principalmente o frevo. O
estádio da gravadora era capaz de comportar orquestras sinfônicas inteiras e
seu parque gráfico era tido como um dos mais bem equipados da região.
Era
tido como empreendedor cultural, um empresário bem articulado e com boa visão
de mercado. Conseguiu enxergar as riquezas culturais que temos em nosso quintal
e transformou-as em produtos de mercado, lançando artistas por todo o Brasil,
principalmente na região nordeste.
Coube
a “Fábrica Rozenblit” o pioneirismo de gravar um disco do bloco “O Bafo da
Onça”, um dos mais conhecidos do carnaval carioca. No fim da década de 1960,
gravou ao vivo as 12 músicas classificadas do II Festival de Música Popular
Brasileira promovido pela TV Record, São Paulo. Entre elas: “Disparada”, de
Geraldo Vandré, e “A Banda”, de Chico Buarque.
O
maior sucesso nacional da Rozenblit, entretanto, foi o frevo “Evocação nº 1”,
de Nelson Ferreira, seguido da marcha-rancho “Máscara Negra”, de Zé Keti e
Pereira Matos, e “Maria Betânia”, de Capiba.
"A
Rozenblit” foi a primeira a ter uma máquina offset no Recife. As capas da
gravadora não ficavam a dever nada para as concorrentes do Rio e São Paulo. Na
história das capas de disco no Brasil, pouco se fala no pioneirismo da
gravadora pernambucana que, entre outras novidades, foi a primeira a lançar
álbuns duplos. O primeiro foi exatamente na série “Recife, capital do frevo”,
com um LP contendo frevos-de- rua e de bloco, e o outro formado por
frevos-canção.
Naquela
época, o complexo fonográfico contava com 190 funcionários, o que dava uma
agilidade maior no lançamento dos discos. Mas nada como o que aconteceu naquela
Copa. Rozenblit tinha tanta confiança na Seleção Brasileira, que ordenou aos
seus funcionários estarem na fábrica meia-hora depois do jogo, em caso de
vitória frente os suecos.
Com
o título assegurado o pessoal pegou firme, trabalhando sem parar, o que
possibilitou as rádios do Recife apresentarem as duas composições, a partir das
16h daquele dia 29 de junho de 1958.
Aproveitando
o momento e numa excelente jogada de marketing, a “Rozenblit” ainda ofereceu um
mimo aos jogadores, constando de compactos personalizados com a foto de cada um
dos jogadores daquela seleção. Os brindes foram entregues aos jogadores e à
comissão técnica, durante almoço realizado no Clube Português do Recife, na
primeira parada da seleção no Brasil, na volta da Europa.
A
primeira fábrica de discos existente no Brasil foi a Odeon, trazida pelo
imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner, instalada no
bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ela foi líder na categoria até 1924,
quando surgiu o processo de gravação elétrica, criado pela “Victor Talking Machine”, que
constituiu-se em uma revolução na história da indústria fonográfica.
Assim
surgiram os discos de 78 rotações por minuto, que reinaram até a década de 1960,
quando foram substituídos pelos long playing, que quer dizer longa gravação,
contendo entre quatro e doze músicas. No período de 1930 a 1960, o número de
fábricas fonográficas no Brasil passou de três, Odeon, Victor e Colúmbia, para
150.
Segundo
o Jornal do Comércio, a fábrica pernambucana chegou a ter 22% do mercado
nacional e 50 % do regional, entre 1959 a 1966. Mas fechou em 1966, não
suportando os interesses das multinacionais e as seis enchentes que devoraram
suas instalações, inclusive a sua gráfica.
Fora
da música, José Rozemblit foi diretor do Sport Club Recife, seu time do coração,
mas não teve um desempenho que merecsse elogios. Ele entrou definitivamente para
a história do futebol pernambucano, brasileiro e mundial, porque foi o
responsável pela
não
ida de Pelé para o seu clube.
No
dia 5 de novembro de 1957, ele recusou a oferta de empréstimo de quatro meses
de um jogador do Santos, porque o atleta tinha apenas 17 anos de idade e era
desconhecido. O garoto era nada mais, nada menos que Édson Arantes do
Nascimento o Pelé. Neste dia, Rosemblit e o Sport cometeram um erro histórico.
Tão surreal que acabou virando um “causo”.
Sorte
do Santos e do próprio Pelé, pois sete meses depois ele conquistaria a Copa do
Mundo de 1958 pela Seleção Brasileira. A história é comprovada por um telegrama
guardado no museu do Sport com a oferta do Santos. Ninguém consegue imaginar
que algum time do mundo pudesse um dia
recusar ter Pelé no seu elenco. O Sport Club Recife fez isso, pois queria o
empréstimo do jogador Olavo, que estava em grande momento.
O
Presidente Modesto Roma negou o empréstimo de Olavo e ofereceu o "garoto
Pelé, de muito futuro". O Sport após algumas negociações recusou o
jogador. Os telegramas históricos que marcaram os entendimentos integravam o
arquivo do Clube, mas passaram de mãos em mãos, após a consagração de Pelé, e
desapareceram. (Pesquisa: Nilo Dias)
José Rozemblit, "agradeceu" e não quis Pelé no Sport.