sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A marreta germânica

Um dos primeiros grandes jogadores a atuar no futebol brasileiro foi George Paul Hermann Frieser, um jovem alemão que nasceu em Hamburgo, no dia 30 de maio de 1882 e faleceu em São Paulo, em outubro de 1945, aos 66 anos. Ele foi aquilo que se poderia chamar de um verdadeiro atleta.

Já na Europa, em 1902, havia vencido os 1.500 metros no campeonato alemão de atletismo. E também já havia se sagrado campeão em corridas de curta e média distância. Participou de competições internacionais de esportes atléticos em Berlim, Praga e outras capitais européias.

Frieser emigrou para o Brasil em 1903, quando tinha 21 anos de idade. Logo que chegou na capital paulista disputou uma partida amistosa pelo São Paulo Athletic Club. Mas não demorou a se juntar aos seus compatriotas do Germânia, equipe que representava a colônia alemã radicada em São Paulo. Esse clube foi fundado por Hans Nobiling, um jovem alemão que chegou ao Brasil em meados de 1897.

Mesmo com a fama de campeão de corridas, Frieser se destacou mesmo foi no futebol, embora em maio de 1907 tenha sido o único atleta brasileiro nos "Juegos Olímpicos Internacionales", no Uruguai. Mesmo machucado, conquistou a vitória nas provas dos 800 e 1.500 metros e ficou em segundo nos 400 metros.

Alto, corpulento e forte não escolhia posição para jogar. Isso porque conjugava a arte do drible, a suavidade no trato da bola, com a dureza em relação aos adversários. Tanto é verdade que os jornais da época diziam que ele valia por um time inteiro.

Por conta de seu físico avantajado, foi considerado um dos precursores do futebol força no Brasil. Tinha facilidade para atuar tanto no ataque quanto na defesa.

O que mais o destacava era sua capacidade de marcar gols. Foi artilheiro por três temporadas em São Paulo, em 1905 com 14 gols, e em 1906 e 1907, ambas com seis. A crônica do jornal “O Estado de São Paulo”, em 1903 lhe chamou de o "sensacional futebolista de todos os tempos".

Considerado um atleta completo e verdadeiro fenômeno, a ele é atribuída a criação da jogada de corpo chamada de “marreta”, lance que provocou muitos protestos dos adversários.

No currículo de Frieser consta que ele foi treinador do Germânia em 1909, e responsável pelo surgimento de Friedenreich, o primeiro gênio do futebol brasileiro, que depois foi chamado pela imprensa internacional de “El Tigre”.

Friedenreich era filho de um imigrante e comerciante de Hamburgo e uma negra brasileira. Como era mulato foi proibido de fazer parte do clube. Graças à intervenção de Frieser, tal medida racista foi revogada, o que permitiu ao jogador defender o Germânia por três anos, para depois conquistar o apogeu no Clube Paulistano.

Frieser, ao lado de Hans Nobiling e Charles Miler é reconhecido como um dos mais importantes pioneiros do futebol brasileiro, e o primeiro craque a atuar em nosso país. Durante os 11 anos que se seguiram à chegada de Hermann Friese, o Germânia teve um time de craques de primeiríssima qualidade, como Muus, Tommy Rittscher, Thiele Gerhardt e outros, que formavam um elenco marcado pela disciplina.

Frieser representou uma verdadeira revolução no Germânia. Sua figura predominava tanto no futebol quanto no atletismo, nos quais conquistou várias medalhas e empolgou o mundo esportivo de São Paulo.

Mas o cenário paulista dos grandes clubes era de tal forma competitivo, que às disputas não se restringiam ao campo de jogo. Verdadeiras batalhas políticas eram travadas entre entidades associativas, dividindo os clubes e os torneios.

De um lado, havia a Associação Paulista de Esportes Athléticos, que congregava clubes como o Paulistano, o Palestra Itália e outros mais. De outro, a Liga Paulista de Futebol integrada pelo Americano, Ypiranga, Internacional, Germânia e Corinthians.

Nos primeiros campeonatos o Germânia teve participações modestas, ficando sempre entre os últimos. Mas a partir de 1903, passou a contar com Hermann Friese, e devido à sua refinada técnica e surpreendente variedade de jogadas em campo, se tornou o primeiro craque da história do futebol brasileiro.

Com ele, o time começou a se destacar e em 1905 terminou como vice-campeão. Em 1906 conquistou seu primeiro título, com sete vitórias e uma única derrota e ainda deixando o desafeto Internacional com o vice. Em 1907 repetiu o feito.
 

O time acabou em 1926, entre outros motivos, por causa da profissionalização do futebol ocorrida em 1932. O Germânia depois mudou o nome para E.C. Pinheiros.

Frieser foi também o primeiro grande árbitro do futebol brasileiro, chegando a apitar as finais dos Campeonatos Paulistas de 1903, 1904, 1910 e 1920 e a final do Troféu Interestadual de 1910, vencido pelo Botafogo F.C., do Rio de Janeiro, que goleou por 7 X 2 a A.A. das Palmeiras, no Velódromo de São Paulo. Na época era comum jogadores atuarem como árbitros de futebol.

Foi Frieser que dirigiu o jogo em que o Palestra Itália, hoje Palmeiras, derrotou o Paulistano por 2 X 1 em 19 de dezembro de 1920, conquistando pela primeira vez um Campeonato Paulista. No dia 22 de outubro de 1916 apitou o jogo do “Paulistão” entre Santos F.C. X C.A. Ypiranga. Naquela naquele ocasião também foi inaugurado o estádio do Santos, na Vila Belmiro. O time santista ganhou a partida por 2 X 1.

Na sua carreira conduziu 53 ou mais jogos do Campeonato Paulista. Frieser é hoje um dos 10 patronos da “Academia Paulista de Árbitros de Futebol Charles Muller”, compartilhando essa honra, entre outros, com José Roberto Wright, Armando Marques, Arnaldo Cézar Coelho e Romualdo Arppi Filho, que apitaram em Mundiais.

Atualmente é disputada uma competição envolvendo escolas alemãs de São Paulo, denominada “Taça Frieser”, que homenageia o grande atleta que foi Hermann Frieser. (Pesquisa: Nilo Dias).



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