quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os 100 anos do "Arroz com Couve"

O Clube Atlético Santista foi fundado na cidade praiana de Santos (SP) no dia 7 de setembro de 1913, por alunos da Academia de Comércio José Bonifácio - hoje, Associação Instrutiva José Bonifácio - situada na Rua da Constituição, 56. A reunião aconteceu na sala do Museu de História Natural e Física da Academia e durou apenas uma hora e 18 minutos.

Os fundadores foram: Abelardo Gonçalves Torres, Adolfo Porchat de Assis (diretor da Academia de Comércio José Bonifácio), Alfredo João Pabts, Álvaro Monteiro Morgado, Antônio Bonilha da Cunha, Casimiro Reis de Vasconcelos, Djalma Guajarino Maia, Edgard Galvão Bueno, Eugênio Guilherme Pabts, Geraldo Maestre Alvarez, Hércules Galvanese, José Peres Ferreira, Lauro Maia, Lauro de Sousa e Silva, Marçal Castelões, Marino Lima, Nélson Buarque de Gusmão, Nélson Espíndola Lobato, Nicanor Behn Franco, Nicolino Ipólito, Nilo Silva, Odair Delamare Porchat de Assis, Otávio Gardner Hayden, Osmar Buarque de Gusmão, Robert Alex Sandall, Salvador De Maria, Santo Estêvão Caruso, Sócrates Aranha de Meneses e Tales de Melo, a que se juntaram, por direito, Poly Serpa Pinto e José Pinto Blandy.

A primeira Diretoria do novo clube ficou assim constituída: presidente, Odair Delamare Porchat de Assis; vice-presidente, Tales de Melo; 1º secretário, Nicolino Ipólito; 2º secretário, Geraldo Maestre Alvarez; 1º tesoureiro, Nélson Espíndola Lobato e 2º tesoureiro, Lauro Maia.

O prédio, que pertencera anteriormente ao senhor João Otávio dos Santos, criador do Instituto Profissional Dona Escolástica Rosa, era um palacete de amplas dimensões, com as paredes externas revestidas de azulejos portugueses, salas enormes, vastos corredores e 40 janelas.

Quando da fundação o clube se chamava José Bonifácio. A mudança para a denominação atual de Clube Atlético Santista só aconteceu em 1914, com a manutenção das cores verde e branco, que se mantém até hoje. Por causa das cores, o clube foi apelidado de “Arroz com Couve”.

O Atlético foi fundado para a prática do futebol, sendo até a sua desistência desse esporte, devido a profissionalização, o principal clube futebolístico da cidade, desbancando o então principal rival praiano Santos Futebol Clube, que naquela época ainda não havia se consolidado como grande clube. Os dois rivalizavam na preferência do torcedor.

A primeira partida do Clube Atlético Santista foi contra o Britânia F.C. no dia 4 de dezembro de 1916, com vitória de 3 x 1. Os gols foram marcados por Manoel Henrique, Leandro Jonas e Jair.

O Santista começou como filiado da Associação Santista de Esportes Atléticos (ASEA), de onde saiu  para ingressar na Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). Não durou muito por lá, visto que sofreu graves prejuízos financeiros, o que o levou a demandar contra a entidade então dirigente do futebol paulista, que não viu com bons olhos a conquista atleticana de três títulos municipais em Santos.

Depois, mudou-se para a Liga Amadora de Futebol (LAF), junto de outros clubes dissidentes. Nas três entidades a que esteve filiado sempre alcançou esplêndidos triunfos, graças a organização, que foi sempre sua marca registrada e as boas equipes que formava.

Tanto é verdade, que em 1918, o campeão foi o Santista e de maneira invicta.  A equipe base era a seguinte:  Bland - Aldo e Adão – Décio -  Américo e Poly – Vitorino – Jadel – Pinheirinho - Milton e Lima. A campanha para a conquista do título foi esta:

Atlético X Brasil (3 X 1 e 4 X 1); Atlético X São Paulo (4 X 1 e 6 X 0; Atlético X Americana ( 1 X 1 e 4 x 1); Atlético X São Vicente (1 x 1 e 8 X 1); Atlético X S.P.R. (3 X 0 e 5 X 3). Foram 10 jogos, com oito vitórias e dois empates, 39 gols a favor e 10 contra, com um saldo positivo de 29 gols.

Embora a rivalidade entre Santista e Santos o primeiro confronto entre ambos no Campeonato Paulista, ocorreu somente no dia 8 de junho de 1930, com vitória do “Peixe” por 3 X 0, com dois gols de Feitiço e um de Mário Seixas. Ao término do campeonato o Santos ficou na terceira posição e o Atlético Santista na oitava, ao lado do S.C. Sírio, da Capital.

Antes dessa partida, os dois não se enfrentavam porque o Santos, que na época era presidido pelo Dr. Antônio Guilherme Gonçalves, em razão de uma determinação da APEA, não aceitava jogar no campo do Santista e por isso perdia sempre por WO.

O alviverde praticou futebol em três campos distintos e não próprios, como o do Jóquei Clube, o da Vila Matias, na Avenida Ana Costa, onde hoje se levanta a Igreja do Coração de Maria, e o da Avenida Conselheiro Nébias, entre a Rua Dona Luísa Macuco e a linha férrea da Companhia Docas, que é atualmente uma das áreas da Companhia de Usinas Nacionais.

Lá o clube conquistou vitórias históricas contra grandes equipes como Palestra Itália, Corinthians e São Paulo da Floresta. O Santos F.C. por exemplo, não entrava em campo quando o jogo estava marcado na Conselheiro.

Em 1931 os dois se enfrentaram uma única vez, na Vila Belmiro, com empate de 2 X 2. Em 1932, o Santos ganhou por 4 X 2, jogando novamente em casa. O jogo foi válido pelo campeonato que teve um só turno, devido a Revolução Constitucionalista.

E foi também a última vez em que se enfrentaram, pois com a chegada do profissionalismo ao futebol brasileiro, o Clube Atlético Santista deixou em definitivo de participar do certame paulista.

Antes dessa partida, os dois não se enfrentavam porque o Santos, que na época era presidido pelo Dr. Antônio Guilherme Gonçalves, em razão de uma determinação da APEA, não aceitava jogar no campo do Santista e por isso perdia sempre por WO.

O Santista, em sua curta existência no futebol, participou do Campeonato Paulista da Primeira Divisão, atual A-1, em sete ocasiões: 1926, 1927, 1928, 1929, 1930, 1931 e 1932. Sagrou-se tricampeão santista em 1918, 1919 e 1920 e esteve sempre entre os primeiros do futebol paulista, sendo vice-campeão em 1926.

Grandes jogadores também vestiram a camisa atleticana, como o goleiro Jaguaré, formado no clube, que depois foi ser campeão e ídolo do Vasco da Gama-RJ. E o primeiro grande craque do futebol brasileiro, Arthur Friedenreich.

A decisão de parar com o futebol, quase fez com que o clube fechasse as portas. Isso só não aconteceu graças a competência de seus administradores, que souberam dar a volta por cima. A reviravolta começou com os bailes no salão da rua Dom Pedro II, passando depois para a Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio.

Reequilibrado financeiramente, em 1949 construiu um moderno ginásio de esportes na Rua Dr. Carvalho de Mendonça, onde funcionava também a sede social. Naquele local se realizaram memoráveis partidas de basquetebol, voleibol e grandes e concorridos bailes. Ao fim da década de 1960 o Santista comprou um terreno na Avenida Washington Luís, pagou-o, contratou a construção do ginásio suspenso, dos raros no país e inaugurou-o festivamente em 1949.

No "Salão de Cristal" se realizaram inesquecíveis bailes, shows, eventos e até importantes reuniões políticas, tratando do desenvolvimento da cidade de Santos. Na "Boate Red", os jovens se divertiam com as discotecas e domingueiras. Naquele terreno também foi construído um ginásio de "Tamboréu" coberto, único do Brasil. Nessa época, o Clube Atlético Santista chegou a ser considerado o maior clube social da América Latina.

Mas as crises voltaram e por isso o clube se viu obrigado a vender em 2008, metade do terreno de 15 mil metros quadrados, localizado na esquina das ruas Carvalho de Mendonça e Pérsio de Queiróz, na Encruzilhada, para a concessionária de veículos Comeri.

O “Salão de Cristal”, onde haviam bailes, shows e mais recentemente as feiras de malhas, a “Boite Red”, onde muitos se divertiram nas discotecas, a quadra de tênis e o mini-campo de areia, onde haviam os torneios internos, as famosas “Gurilândias”, agora não fazem mais parte do patrimônio do clube.

Ao contrário do Clube de Regatas Santista e do Caiçara Clube, o Atlético está ressurgindo das cinzas e tudo leva a crer que breve voltará a se reestruturar completamente. Quando a atual diretoria, presidida por José Antônio Pires assumiu, juridicamente o Atlético Santista não existia mais.

Todas as dívidas já foram praticamente pagas e novas áreas de lazer construídas, como dois campos de futebol society com coberturas e vestiários, churrasqueiras, uma nova secretaria e ainda uma cantina. Estão previstas as construções de uma academia de ginástica, um salão de jogos e reformas na área das piscinas e da sede social existente embaixo do parque aquático.

Tudo isso foi possível graças a quantia financeira recebida e das parcelas que ainda estão sendo pagas pela venda da área. Apenas o quadro de sócios não é mais o de antigamente. Hoje está reduzido a apenas 125 colaboradores. Mas ao contrário de antigamente, hoje a sede fica aberta para quem quiser dela usufruir, bastando pagar uma taxa diária. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time de futebol do Atlético tricampeão municipal 1917-1918-1920. (Foto: Acervo fotográfico do Clube Atlético Santista)

Um comentário:

  1. Sou neto de um dos fundadores, Nicanor behn Franco. Lastimo o fechamento deste histórico clube. Parabéns pela excelente narrativa.

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