domingo, 29 de dezembro de 2013

O demolidor de campeões

Francisco Barbosa Gomes, o “Caiçara”, foi jogador e técnico de futebol. Começou a carreira no Íbis, de Pernambuco,em 1948, e depois se transferiu para o Náutico, onde jogou até 1959, sendo depois contratado pelo Vitória, de Guimarães, Portugal.

O apelido ele ganhou quando ainda jogava como amador. O dono de um time chegou num caminhão cheio de garotos escurinhos para levá-lo a um torneio. Era conhecido por Gomes, e tinha um cabelo alourado. Ao subir no caminhão, a molecada gritou: "Esse sarará é caiçara?” Era uma gíria para designar alguém branco. E aí pegou o apelido com o qual se destacou em sua carreira.

“Caiçara” vestiu a camisa vermelha e branca pernambucana por quase nove anos, tendo conquistado vários títulos. Entrou para a história do clube, ao formar zaga com “Lula”. Os dois também atuaram juntos na Seleção Pernambucana.

O prestigio de “Caiçara” era tão grande, que uma ocasião ele precisou ser atendido em um hospital de referência em Recife. O atendente passou sua ficha para o médico, que leu: paciente Francisco Barbosa Gomes. "Diga que pode esperar". Ao que retrucou o atendente: "Vou falar para o "Caiçara" que tenha mais paciência”. E o médico, ao ouvir o apelido do cliente mudou rápido de idéia: "É o "Caiçara"?. Por que não me disse logo. Mande-o entrar imediatamente.”

“Caiçara” jogou 260 partidas pelo Náutico e fez 25 gols. Pela Seleção Pernambucana foram 29 jogos. Além de um defensor firme, que jogava duro, mas era leal, tinha um chute muito forte e fez muitos gols de falta. Seu primeiro gol foi marcado num jogo contra a Seleção da África do Sul, num torneio em Johanesburgo, quando atuava pelo Vitória, de Guimarães.

Depois de encerrar a carreira, ele foi treinador e dirigiu equipes como o Botafogo (PB), ABC (RN), Fortaleza, Ceará, Flamengo (PI) e Santa Cruz (PE). Fez o curso de treinador em Portugal e assumiu o clube Felgueiras, onde foi bi-campeão distrital em 1978 e 1979. Tinha trânsito livre na Europa, quando pouco se falava na exportação de talentos brasileiros para lá.

“Caiçara”, na condição de treinador alcançou um feito que só ele e o ex-treinador Moésio Gomes, já falecido, conseguiram em solo cearense: são os únicos que conquistaram títulos estaduais comandando as equipes rivais do Fortaleza e Ceará. No Fortaleza conseguiu que o time ficasse 12 jogos invictos, feito superado apenas em 2012, pelo técnico José Luiz Mauro, o “Vica”.

Na Paraíba fez história dirigindo o Botafogo. Em 1986, conseguiu quebrar um jejum de 11 anos sem títulos. Em todos esses anos foram todos ganhos por times de Campina Grande.

Mas o seu grande feito no Botafogo foi uma improvável vitória sobre o Flamengo, do Rio de Janeiro, pelo Campeonato Brasileiro, em pleno Maracanã, no dia 6 de março de 1980, que derrubou milhões de apostadores da Loteria Esportiva, em uma das maiores “zebras” de todos os tempos.

O Flamengo era um time forte, com jogadores categorizados como Raul Plassmasn, Júnior, Adílio, Tita, Andrade, Zico e Paulo César Carpegiani. A vitória flamenguista era favas contadas. O Botafogo tinha um time bom, mas era totalmente desconhecido no país inteiro.

O treinador “Caiçara” até ousou na escalação, com quatro atacantes e foi para cima do rubro-negro. O primeiro tempo terminou 0 X 0. Na fase final os gols saíram. Soares fez 1 X 0 para o time paraibano. Tita empatou e Zé Eduardo, aos 36 minutos decretou a “zebra”. Esse jogo é considerado até hoje como a mais espetacular façanha do clube em sua história.

O professor Raimundo Nóbrega, que já foi dirigente do Botafogo paraibano e é dono de um imenso acervo histórico do clube, conta uma curiosidade sobre aquele jogo. O Botafogo ia jogar de branco, mas João Saldanha, que era técnico do Botafogo, do Rio de Janeiro, conversou com o presidente do time paraibano, Álvaro Magliano, e pediu para que jogassem de listrado.

A intenção era conseguir o apoio dos torcedores do alvinegro carioca. O presidente comprou estas camisas às pressas, e o time acabou jogando aquela partida com um uniforme sem escudos.

Ainda naquele “Brasileirão”, o time orientado por “Caiçara” conseguiu mais duas vitórias históricas, 1 X 0 em cima do Náutico, em pleno Estádio dos Aflitos e 2 X 1 frente o então campeão brasileiro invicto, o Internacional, no Estádio Almeidão, em João Pessoa. A partir daí o time passou a ser chamado de “demolidor de campeões", apelido que foi também estendido ao treinador.

Depois de 1980, “Caiçara” ainda comandou o Botafogo em 1995, quando o presidente era de novo Álvaro Magliano. Como o clube paraibano atravessava uma grande crise, o treinador não conseguiu ganhar o campeonato estadual daquele ano.

Caiçara” morreu no dia 9 de janeiro deste ano, aos 80 anos de idade, no Hospital Português, em  Recife, onde estava internado. O Fortaleza emitiu “Nota Oficial”, lamentando a morte de um dos técnicos mais vitoriosos da história do clube.

Os principais títulos de Caiçara, como treinador. Bi-Campeão Distrital pelo Felgueiras, de Portugal (1965 e 1966); Bi-Campeão Estadual pelo Botafogo, da Paraíba (1978 e 1979); Campeão Estadual pelo Fortaleza, do Ceará (1969 e 1973); Campeão Estadual pelo Ceará (1975, 1976, 1980, 1981 e 1986); Campeão estadual pelo ABC, de Natal (1970); Campeão Estadual pelo América, de Natal (1979, 1982 e 1987). (Pesquisa: Nilo Dias)


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A.A. Francana, a "Veterana"

Os desportistas David Carneiro Ewbank, Homero Pacheco Alves e Beneglides Saraiva foram os responsáveis pela fundação da Associação Atlética Francana, no distante dia 12 de outubro de 1912. Apelidada de “Veterana” a agremiação centenária, cujas cores são o verde e branco, se constitui em um verdadeiro patrimônio social, cultural e esportivo da cidade de Franca, interior de São Paulo.

Em 1910 o clube ganhou do coronel Francisco de Andrade Junqueira, o “Nhô Chico”, a área onde até hoje se localiza a sede social. O “Estádio da Bela Vista” foi inaugurado em 1922 e ali a Francana sediou seus jogos até 1969, quando foi construído o “Estádio Municipal José Lancha Filho”, com capacidade para 15.100 expectadores. O nome do estádio, que foi inaugurado em 9 de julho de 1969, é uma homenagem ao então prefeito de Franca, que em 2005 chegou a presidir o clube.

O “Estádio da Bela Vista”, também conhecido por "Nhô Chico", teve as suas arquibancadas inauguradas em 21 de abril de 1947, em jogo amistoso contra o São Paulo, vencido pelo clube da Capital por 5 X 4. Atualmente o “Nho Chico” não recebe mais jogos da Francana, em razão da sua estrutura arcaica. No local são realizados treinos das categorias de base. A fachada do estádio faz parte do patrimônio histórico da cidade de Franca e não pode ser modificada.

O primeiro título conquistado pela Francana foi em 1923, quando ganhou o "Torneio Alta Mogiana", vencendo ao Botafogo, de Ribeirão Preto, nos dois jogos finais, 2 X 1 em Franca e 3 X 2 em pleno Estádio Luis Pereira, casa do adversário.

O time de Franca aderiu ao profissionalismo em 1948, quando disputou o primeiro campeonato da “Divisão de Acesso”, organizado pela Federação Paulista de Futebol, ficando na terceira posição. O time tinha Marreco – Antero e Amauri – Tutti – Gonçalves e Eca – Tim – Tidão - Tonho Rosa – Luisinho e Canhotinho. O campeão foi o XV de Piracicaba.

Em 1977, depois de várias tentativas sem êxito, finalmente o time chegou a chamada “elite” do futebol paulista. No dia 4 de dezembro daquele ano, derrotou o Araçatuba no jogo final por 2 X 0, gols de Zé Antônio e Antenor. O time campeão formou com Geninho – Gasparzinho – Boca - Zé Mauro e Eraldo - Renê - Zé Antônio e Marinho – Antenor - Assis e Delém.

O grande feito da equipe esmeraldina foi muito festejado pela população de Franca. O prefeito da época, Mauricio Sandoval Ribeiro chegou a decretar feriado municipal no dia seguinte ao acesso a Divisão principal do futebol paulista, para que a população pudesse comemorar a inédita conquista.

A Francana se manteve na “elite” até 1982, quando conheceu o rebaixamento. No período em que esteve no principal campeonato da Federação Paulista de Futebol, conseguiu alguns resultados importantes, como uma vitória de 2 X 0 sobre o São Paulo, em pleno Pacaembu, em 1978.

Em 22 de agosto de 1979, diante de mais de 40 mil torcedores que lotaram o Pacaembu, a “Veterana” derrotou o Corinthians por 1 X 0. No dia 8 de dezembro de 1982, na sua última participação no “Paulistão”, venceu ao Santos por 3 X 1, em plena Vila Belmiro.

Depois de rebaixada, a Francana se licenciou em 1983, só voltando a campo em 1984 participando da Série A2 até 2005, quando caiu para a Série A3, onde se encontra até hoje. Longe daquela equipe que disputou a “elite”, não consegue fazer boas campanhas. Tanto é verdade que seu melhor desempenho foi em 2009, quando chegou ao quadrangular semifinal. Nas Copas Paulistas de 2010 e 2011 apenas passou da primeira fase.

Em competições nacionais o melhor desempenho da Francana foi em 1997, quando disputou a Série C do Campeonato Brasileiro, terminando em terceiro lugar. Perdeu o acesso para a Série B do ano seguinte na última rodada, quando foi derrotada pelo Sampaio Corrêa, do Maranhão, por 3 X 1. Antes, já havia participado do “Brasileirão” da Série C, em 1979, quando foi eliminada na primeira fase.

O jogador Tonho Rosa, que participou em 1948 da primeira disputa profissional da Francana é considerado o maior ídolo da história do clube. Pelo time alviverde passaram outros bons jogadores, casos de Assis, que brilhou no Fluminense, do Rio de Janeiro, William, ex-zagueiro do Corinthians Paulista e Geninho, ex-goleiro e atual técnico de futebol.

Títulos conquistados. Torneio Alta Mogiana (1923); Campeonato Paulista - Série A2 (1977); Vice-Campeonato Paulista A2 (2002) e Vice-Campeonato Paulista A3 (1996).

A mascote da A.A. Francana é a “Feiticeira”. Ela surgiu depois de uma vitória contra a equipe rival da Catanduvense, da cidade de Catanduva, que é conhecida como “Cidade Feitiço”. O resultado do marcou tanto que a mascote do clube passou a ser uma “Feiticeira”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time da Francana, em 1925. (Foto: Acervo fotográfico da A.A. Francana)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O meio-campo dos sonhos

Eu lembro bem da dupla Caçapava e Birinha, no meio-campo do G.E. Brasil, de Pelotas, com certeza a melhor que foi formada em toda a história do clube e do futebol gaúcho. Era, por assim dizer, a dupla dos sonhos de qualquer time. Naquele tempo às meias-canchas eram compostas por somente dois jogadores, ao contrário de hoje quando as equipes colocam até cinco jogadores no setor.

Ubirajara Machado Ferreira, o “Birinha”, é natural de Passo Fundo onde nasceu em 21 de julho de 1941. Começou a carreira nas categorias de base do Brasil. Mesmo baixinho e franzino, conseguiu um lugar no time profissional em 1958, estreando num clássico Bra-Pel, o mais importante do interior do Estado.

O time que o Brasil montou naqueles anos era quase imbatível: Geóvio – Adílson – Osvaldo - Joceli e Bahia - Caçapava e Birinha – Edi – Raimundo - Ênio Souza e João Borges. Tinha ainda Canário, Pintinho, Patucci, Naninho e Cói. Sem dúvida um elenco de respeito.

O goleiro Geóvio tinha mãos enormes. Ênio Souza um artilheiro nato, sempre certeiro nos cabeceios. Joceli, o “Pão de Milho”, zagueiro que dizia: "Jogo é jogo e treino é jogo também". Mas o motor do time era mesmo o meio-campo formado por Caçapava e Birinha. E o técnico era Paulo de Souza Lobo o “Galego”. Precisa dizer mais alguma coisa?

Eu vi muitas partidas dessa verdadeira máquina de jogar futebol. Na época eu era narrador de futebol na Rádio Tupancy, ao lado do inesquecível amigo Antônio Carlos Alves. Os repórteres eram Sérgio Oliveira e Dinei Avelar, que depois se tornou o melhor plantão esportivo que Pelotas já teve. Sérgio e Dinei foram "crias" minhas no rádio.

Em 1967, depois de grandes atuações no “xavante” pelotense, “Birinha” foi vendido para o Juventude, de Caxias do Sul, onde ficou até 1970 e formou outra grande meia-cancha com Nezito, que também jogou no Pelotas ao lado de seu conterrâneo Puccinelli.

Nesse mesmo ano treinou no Corinthians, de São Paulo, Flamengo, do Rio de Janeiro e Cruzeiro, de Porto Alegre, sendo contratado pelo Metropol, de Criciúma (SC), onde ficou por pouco tempo.

Em 1970 “Birinha” voltou a Pelotas para defender o G.A. Farroupilha. Em 1972, estava de volta ao Bento Freitas, onde havia começado a carreira de futebolista, para jogar mais três temporadas e pendurar as chuteiras. A formação “xavante” era bem diferente daquela de quando saiu do clube em 1967.

Coincidentemente, seu último jogo com a camisa rubro-negra foi um clássico Bra-Pel. Birinha jogou mais de 300 partidas pelo Brasil, marcou 64 gols e ganhou 14 títulos. Depois de deixar os gramados, não se afastou do futebol, sua grande paixão. Em 1976 iniciou uma carreira de treinador, comandando o elenco “xavante” em 26 jogos. Foi a sua única experiência como técnico.

Birinha elegeu Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, como o melhor técnico que conheceu. Na sua posição gostava muito de João Severiano, o “Joãozinho”, do Grêmio e Tupanzinho, ex-Bagé, Guarany, e Palmeiras. O jogador que melhor lhe marcou foi Cléo, que jogou no Pelotas e Grêmio.

O seu gol inesquecível foi marcado na partida Internacional 1 X 2 Brasil, quando da primeira vitória rubro-negra no Beira Rio, em Porto Alegre. Quando garoto o seu ídolo nos gramados era Negrito.

Sérgio do Amaral Meirelles, o “Caçapava”, companheiro de “Birinha” no meio-campo do Brasil, nasceu em Caçapava do Sul, no dia 8 de fevereiro de 1939, e faleceu em 1 de março de 1995, em Porto Alegre. Era um centro-médio de técnica apurada e passe perfeito, daqueles que podia chamar a bola de “tu”.

Começou a carreira profissional no E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento, onde foi campeão da cidade. Em 1961 foi contratado pelo G.E. Brasil, de Pelotas, onde ficou até 1966, ano em que foi para o Grêmio Portoalegrense.

No ano seguinte sagrou-se hexacampeão gaúcho pelo tricolor do Olímpico. Depois voltou a Pelotas, dessa feita para vestir a camisa do grande rival do Brasil, o E.C. Pelotas, onde jogou por quatro temporadas, encerrando a carreira. Era irmão de Darlam, meia-atacante que jogou no Internacional e Flamengo, de Caxias do Sul. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ubirajara Machado Ferreira, o “Birinha”.  (Foto: Arquivo do atleta)

sábado, 21 de dezembro de 2013

O "Leão" da zona norte paulistana

A cidade de São Paulo conta hoje com sete clubes profissionais de futebol: S.E. Palmeiras, S.C. Corinthians Paulista, São Paulo F.C., Associação Portuguesa de Desportos, Clube Atlético Juventus, Nacional A.C. e Pão de Açúcar E.C. Mas a cidade já teve no passado mais de 50 equipes, que com o tempo foram desaparecendo ou ficando só na várzea.  

O bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo abriga um sobrevivente do futebol paulistano de antigamente, o Clube de Campo Associação Atlética Guapira, fundado em 20 de outubro de 1918. A agremiação foi organizada por um grupo de moradores do bairro, então chamado de Guapira, e de funcionários da Vidraçaria Lupatelli, a maior empresa da localidade na época.

À luz de um lampião, a fundação oficial se deu na Escola Mista Guapira. O bairro mudou de nome e hoje o clube é orgulho do Jaçanã. Dedicado ao futebol desde a fundação, o Guapira escolheu para seu uniforme as cores azul e branca. O futebol faz parte da história da entidade, desde o seu início. Tornou-se tradicional nesse esporte.

Os fundadores da A.A. Guapira foram Cândido José Rodrigues, João Favari, Valentim Mutschelli, Mario Pinheiro, Antonio Romeu Soares, Ernesto Buono, Elias Chistone, Alcíbio Pinto Barbosa, José Cursino da Cruz, Luiz da Costa, José da Costa, Primo Corsini, João Bento Rodrigues, Capitão Antonio Joaquim Nascimento, José Marcondes, Milton Morais Salgado, Damásio da Silva, Lúcio da Silva, João Teixeira de Barros, Antonio Matatudo, José Gonçalves e Francisco Pinto.

O primeiro campo utilizado pelo clube se localizava entre a Estrada do Guapira, a Rua Francisco Rodrigues e a Rua Elisa Ester de Barros. Como não havia sede e o lugar era pouco habitado, os jogadores se trocavam ao ar livre e penduravam as roupas nas cercas que delimitavam o campo.

Mais tarde, o campo do clube Guapira mudou para as proximidades da Rua Irmã Emerenciana e, embora o terreno fosse melhor, ainda não existiam acomodações. Posteriormente, passou para um terreno da Santa Casa de Misericórdia, à beira da antiga Rua Guaiacã, atualmente Paulo Lincoln do Valle Pontim.

Por este local pagaram aluguel e foi nessa época que registraram o
clube para poder negociar com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que era dona de boa parte do bairro.

A primeira sede do clube foi cedida por um deputado de nome Farah que deu o dinheiro para a construção de um vestiário, em troca da possibilidade de 400 votos no bairro. Depois foi construído um barracão para a “Malha” e um bar, que foi explorado por “seu” Zé Pequeno, personagem histórico do Guapira.

O clube teve cinco sedes alugadas na Avenida Guapira até adquirir um terreno na Avenida Luís Stamatis, por 4 mil réis. A sede social foi construída na gestão de José Marcondes, com material doado pela população local, através de campanhas feitas pelos dirigentes.

A terra usada para o aterro da área da sede foi tirada dos terrenos vizinhos. Dirigentes e associados construíram a sede carregando tijolos e latas de concreto com as próprias mãos.

Depois de pronto o salão foi palco de muitos e disputados bailes com música ao vivo, vitrola eletrônica, sanfona ou violão, além de sessões de cinema e teatro. As festas mais disputadas eram as que comemoravam o aniversário do Clube, a "Festa das Mães", os bailes da "Primavera", da "Chita", das "Bolas" – quando os casais dançavam com balões amarrados nos pés e o último casal que não tivesse estourado o balão, ganhava um prêmio.

Em 1964 o clube pagou à Santa Casa 35 milhões de cruzeiros por uma área de 50 mil metros quadrados, onde seria erguida uma nova sede. O bairro já tinha o nome de Jaçanã, desde 1928, em referência às pequenas aves que sobrevoavam o local. Mais tarde, a música de Adoniran Barbosa, “Trem das Onze”, eternizou o local.

Em 1964 o clube passou a chamar-se Clube de Campo, em lugar de A.A. Guapira, pois a intenção de seus dirigentes era levar a entidade para o sopé da "Serra da Cantareira", através da venda de títulos patrimoniais.

Voltando aos primeiros tempos do clube, como os recursos eram escassos, o transporte dos jogadores era feito em carrocerias de caminhões. Alguns jogos nos campos das mais variadas regiões de São Paulo, muitas vezes acabavam em grossa pancadaria. Entre as muitas histórias do futebol que marcaram o clube durante esses anos, algumas se destacam.

Certa ocasião o Guapira estava jogando no “Campo dos Eucaliptos”, a beira da estrada do Guaiacã, o terceiro utilizado pelo clube, contra o Corinthians, de Bom retiro e perdia por 2 X 0, quando passou um cortejo fúnebre. O jogo parou em respeito. Ao recomeçar, o Guapira goleou por 11 X 2.

Um outro jogo bastante lembrado foi disputado no estádio do Pacaembu, frente um dos mais tradicionais rivais, o Esperança, do Tucuruvi, que passava por um grande momento.

Mal o jogo começou e o Esperança fez 2 X 0, para desespero do pessoal do Guapira. O técnico era Américo Carmona, que fez algumas alterações no modo de jogar da equipe, como o centro-avante passando a atuar na meia-esquerda e o meia indo para o comando do ataque. E deu certo. Foi um gol atrás do outro, até o escore final de 6 X 2.

Bernardino dos Santos Augusto, o “Nardo”, praticamente nasceu no campo do Guapira e acompanhava tudo de muito perto, pois morava ao lado. Foi um jogador de chute forte, tendo marcado 56 gols de falta em um único ano. Ele jogou de 1945 a 1957, quando se machucou e teve que operar o menisco.

Um jogo que emocionou “Nardo” foi entre Guapira X Macedo, de Guarulhos, quando o seu time ganhou a “Taça Dr. Maurício Cardoso”. Depois que deixou os gramados foi Diretor de Futebol e responsável por buscar atletas de destaque para o clube, entre eles Jadir, que chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira.

Uma tragédia que até hoje é lembrada com tristeza pelo pessoal do Guapira, aconteceu num jogo contra o 12 de Outubro, no Pari, em 27 de janeiro de 1957, quando se registrou um temporal violento. Um raio atingiu o campo e dois jogadores – Roquinho, do Guapira, e Valter dos Santos, do 12 de Outubro foram atingidos. O segundo jogador morreu em campo no dia em que ficaria noivo.

Fracisco Rodrigues Castelli, o popular “Castelinho”, que veio de Ribeirão Preto e começou a frequentar o Guapira em 1937, quando tinha apenas 11 anos de idade, conta que antigamente havia muitas brigas. Após as partidas tinha sempre a hora da pancadaria.

Para ele, mesmo nessas ocasiões havia uma certa lealdade. Era tudo resolvido no tapa, quando muito surgia um pedaço de pau. E garante que hoje não dá nem para pensar em brigar. Naquele tempo não tinha torcida organizada, mas as esposas e parentes dos diretores e dos jogadores sempre assistiam aos jogos.

Os adversários mais lembrados foram: A. A. Açucena, do Bairro do Limão; Sampaio Moreira, do Tatuapé; Vila Esperança e Paulicéia, ambos do Tucuruvi; Paulista, de Guarulhos; E. C. Gopouva e Vila Augusta.

Antonio Alberto Cardoso, um português vindo de “Trás-os-Montes” em 1947, provou sua paixão pelo clube em 1951, quando se casou. No dia seguinte ao casório lá estava ele firme no campo para ver o seu Guapira jogar. Nas dificuldades do clube, nunca negou apoio, tendo muitas vezes garantido com dinheiro do próprio bolso a compra de fardamento, lanches e transporte em dias de jogos.

Alberto dos Santos Cordeiro, o “Chaminé” foi atleta do Guapira em duas modalidades esportivas, futebol e malha. Por algum tempo jogou futebol, mas acabou se dedicando somente a malha. Nesse esporte se deu bem, tendo sido convocado para jogar na Seleção de Malha de São Paulo, que foi campeã brasileira, em Volta Redonda (RJ).

Roque Maranhão, o “Roquinho”, foi um bom jogador do Guapira. Num jogo contra o Açucena passou por maus bocados. O jogo foi no campo adversário, no Bairro do Limão. Quando “Roquinho” ia para o vestiário, surgiram torcedores dispostos a agredi-lo.

Foi cercado por uns 10 brutamontes. ”Roquinho” não pesava mais do que 50 quilos. Mas ainda assim fechou os punhos como se fosse dar um soco e ameaçou um deles, que ao se  desviar abriu uma brecha por onde ele passou em desabalada carreira. Depois disso, entraram em campo escoltados pela Polícia.

O Guapira ganhou de 2 X 0 e suou frio para sair do campo sem apanhar. Mais uma vez a Policia teve de agir, inclusive com o auxilio de escolta a cavalo. O segundo jogo, que seria em Guapira não se realizou na data marcada, devido a uma proibição da Federação, para evitar novos tumultos.

Semanas depois o confronto foi confirmado. “Roquinho” não entrou em campo, mas assistiu o jogo sentado na arquibancada. Provocou, e muito, os adversários, mas eles não reagiram. O Guapira venceu de novo. As brigas entre os rivais eram comuns, faziam parte do dia a dia do futebol amador. Depois todos esqueciam e ninguém guardava rancor.

O Guapira, nascido no amadorismo da capital bandeirante aderiu ao profissionalismo em 1982, quando disputou o Campeonato Paulista da 3ª Divisão, atual Série A3, pela primeira vez.

O clube participou em 20 campeonatos estaduais até 2002, quando se afastou das competições. Nesse período, só não entrou em campo no ano de 1987. O maior feito do time na era profissional foi a conquista do Campeonato Paulista da 5ª Divisão, hoje extinta, em 1998.

A taça está exposta em destaque na sede do clube. Outro grande momento foi o Vice-Campeonato da Terceira Divisão em 1988, certame vencido pelo Jaboticabal Atlético.

Hoje, o Guapira disputa apenas competições amadoras, dedicando-se mais as atividades sociais e recreativas. A volta do futebol profissional e das categorias de base, não está descartada, desde que surja alguma parceria disposta a patrocinar os custos. Com recursos próprios, está fora de qualquer cogitação.

Títulos conquistados no futebol. Campeão da Liga Riachuelo, que reunia os principais times da zona norte da Capital paulista (1935); Campeão da Sub-Divisão Riachuelo (1945); Campeão da Divisão Principal de Amadores da Federação Paulista de Futebol – Segundos Quadros (1957); Campeão Amador da Capital (1958); Campeão Amador da Capital (1960); Campeão Amador da Capital (1964); Campeão de Juniores na 3ª Divisão Estadual (1985); Campeão do Estadual de Juniores (1986); Campeão da 3ª Divisão (1989) e Campeão Estadual de Juniores (1991).

Além desses campeonatos, o Guapira conquistou dezenas de taças e troféus, que podem ser vistos pelos associados na sede do clube. A equipe disputava seus jogos no Estádio Aníbal de Freitas, com capacidade para 7 mil torcedores. (Pesquisa: Nilo Dias)


A.A. Guapira, em foto de 2007, como time amador. (Foto: Fernando Martinez)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um time centenário em Piquete (SP)

O Esporte Clube Estrela, de Piquete (SP), é mais uma agremiação centenária no futebol brasileiro. Foi fundado em 14 de dezembro de 1913, depois de uma reunião realizada no armazém da "Estrada de Ferro Central do Brasil", na cidade. O nome do clube é uma referência a “Vila Militar da Estrela”, local onde se situa a sede do clube.

O E.C. Estrela tinha estreitas ligações com à "Fábrica Presidente Vargas", inaugurada em 1909, que produzia pólvora sem fumaça. Seu campo de futebol foi doado pelo coronel Achilles Veloso Pederneiras, fundador e diretor da empresa bélica e primeiro sócio benemérito do clube.

O militar foi homenageado ainda em vida pela municipalidade de Piquete, com seu nome dado a uma rua na Vila Operária São José, a "Rua Coronel Pederneiras".

O futebol era um programa familiar em Piquete.As pessoas gostavam de ir ao campo do Estrela nos finais de semana, para ver o time jogar contra vários adversários da região. A equipe era formada por operários que trabalhavam na fábrica e vinham de vários lugares.

Muitos vinham mais pela oportunidade de jogar futebol, mesmo tendo que trabalhar na fábrica. Quando o jogo era contra a Hepacaré, de Lorena, principal rival regional, o campo ficava totalmente lotado de torcedores. Durante quase 30 anos o E.C. Estrela representou a cidade em competições futebolísticas, tendo sido por algum tempo uma das forças do futebol do Vale do Paraíba.

Em 1957e 1958, e de 1960 a 1971 participou do Campeonato da 3ª Divisão Paulista de Futebol Profissional. Tomou parte, ainda, no Campeonato da 2ª Divisão Paulista nos anos de 1959, 1972, 1973 e 1975. Em 1977 disputou seu último campeonato como clube profissional, jogando a 4.ª Divisão. Hoje dedica-se ao futebol amador.

O grande feito da história centenária do E.C. Estrela aconteceu em 1959, quando derrotou a Seleção do Exército Brasileiro, que tinha Pélé em sua formação. O “Rei” chegou a marcar um gol, mas não conseguiu impedir a vitória adversária por 3 X 2.

O time do Exército ainda contou com Parada, que jogou no Bangu, Palmeiras e Botafogo, Clóvis Queiroz, que defendeu o Corinthians e Roberto Bataglia, ex-ponteiro do Corinthians, Guarani, de Campinas e Atalanta, da Itália.

Um dos mais destacados atletas a envergar a camisa do Estrela foi Eli Esdras. Ele chegou ao clube em 1957, para disputar a primeira edição do Campeonato Paulista da 3ª Divisão de Profissionais. O Estrela foi vice-campeão da competição, perdendo a final em jogo disputado no Estádio Moisés Lucarelli, campo da Ponte Preta, em Campinas, para a equipe dp Nevense, de Neves Paulista.

Mesmo assim, o clube conseguiu o acesso para a 2ª Divisão. Pelo clube de Piquete, Eli disputou sete campeonatos da 2ª Divisão, sempre se destacando como artilheiro do time. Em 2002 ele foi homenageado pela Prefeitura de Piquete com o título de “Maior Artilheiro da História do E.C. Estrela”. (Pesquisa: Nilo Dias)

E.C. Estrela, de Piquete (SP), em 1961. (Foto: Milton Neves)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os 100 anos da A.A. Caçapavense

No último dia 9 a Associação Atlética Caçapavense, da cidade paulista de Caçapava, completou 100 anos de fundação. Caçapava se situa próximo aos municípios de São José dos Campos e Taubaté e tem uma população perto de 100 mil habitantes. A primeira sede do clube se situava na rua Capitão João Ramos , onde hoje está localizada a agência local do Banco do Brasil, no Calçadão da cidade.

No início a sede tinha apenas um salão. Todos os acontecimentos sociais de Caçapava aconteciam lá, como formaturas, palestras, bailes, datas comemorativas, casamentos, aniversários e bailes de Carnaval. Em 1941 foi inaugurada uma nova sede, que resiste até os dias de hoje.

Ela tem salão nobre, piscinas, sauna, quadra, academia, salão de jogos, campo de futebol etc., mas está  com os dias contados.Com o advento do centenário a entidade está empenhada na construção de uma sede mais moderna com campos de futebol society, academia, restaurante, quiosques, salão de festas, entre outras atrações, em uma área situada na avenida Ney Gomes de Oliveira 303, no Jardim Maria Cândida.

Caçapava já teve também outro clube de futebol profissional, o Providro, que foi extinto. Fundado em 17 de agosto de 1964 por funcionários da empresa de mesmo nome, participou de uma edição do Campeonato Paulista da Terceira Divisão (atual Segunda Divisão) em 1966.

A A.A. Caçapavense, embora tenha 100 anos, só se profissionalizou em 1964, mas hoje participa apenas de competições amadoras. O uniforme tem as cores preta e branca. Seu estádio é o Capitão José Ludgero da Siqueira, que tem capacidade para 4.500 expectadores. (Pesquisa: Nilo Dias)

Associação Atlética Caçapavense, em 1925. (Foto:Acervo fotográfico do clube)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Um estádio mal assombrado no interior paulista

Tempos atrás eu contei neste espaço a história das assombrações que rondam o Estádio Alberto J. Armando, o famoso “La Bombonera”, do Boca Juniors, em Buenos Aires. Eu pensei que fosse caso único no futebol mundial, mas não é. Aqui no Brasil temos também um estádio mal assombrado, o “Stavros Papadopoulos”, em Jacareí, cidade do interior de São Paulo, onde o Jacareí Atlético Clube, equipe da 2ª Divisão Paulista, manda seus jogos.

O estádio, ao que se sabe, foi construído em cima de um antigo cemitério indigena, o que talvez explique a fama do lugar. O historiador e ex-prefeito da cidade, Benedicto Sérgio Lencioni, que já escreveu oito livros sobre o município, confirma essa versão, contando que o estádio foi erguido em uma região onde existiu, há muito tempo, um sítio arqueológico indígena.

Muitos jogadores do clube relatam fatos misteriosos que acontecem por lá. O local onde moram os atletas fica debaixo de uma arquibancada. Luzes, só existem dentro dos alojamentos, no banheiro e na cozinha. No corredor, onde sombras se estendem pelas paredes, na arquibancada e no gramado, a escuridão é total durante a noite. O lugar se transforma em algo assustador.

Os jogadores usam lanternas para se locomoverem. Dividem os alojamentos com ratos, que circulam por todos os lados. Nas proximidades do estádio é comum a colocação de oferendas para rituais de magia negra, como bebidas, velas e pipocas. Até um vaso quebrado e uma carta já foram encontradas por lá.

Depois de chegarem aos alojamentos, ninguém se atreve mais a sair, só quando o dia amanhece. A história é conhecida em toda a cidade e alguns moradores consideram tudo uma lenda. Porém, os 22 jogadores com idade entre 17 e 24 anos que moram no estádio, garantem que tudo é verdade, que já escutaram barulhos estranhos e viram vultos andando pelos corredores.

Os relatos vão desde sons misteriosos até a aparição de espíritos nos quartos dos atletas. Éderson, um ex-zagueiro do Jacareí conta que uma noite, em meio à escuridão do estádio, dormia no alojamento dos fundos, junto do colega Douglas, quando viu um espírito. Eram três horas da madrugada, acordou e se deparou com um vulto branco ao lado do colchão do amigo.

Bastante assustado, forçou a visão, e o vulto se tornou nítido. Era uma mulher que estava lá. Levantou-se e saiu rapidamente do quarto. Dias depois, Douglas revelou que teve pesadelos e sentiu o corpo pesado. E falou sobre o episódio da madrugada, perguntando se Éverton havia levado alguma mulher para o alojamento. Mostrou um retrato, dizendo ser da sua ex-noiva. E o companheiro confirmou que fora ela que apareceu no quarto.

O zagueiro também disse que muitas vezes conversava pelo telefone com seus pais, por volta de meia-noite, na beira do gramado e sempre sentia que havia alguém atrás dele. Outros jogadores contam que sentavam nas arquibancadas durante a noite para conversar e viam vultos dentro do campo.

O Estádio Stravos Papadopoulos foi inaugurado no dia 27 de maio de 2001, com o jogo entre Jacareí A.C. X G.R. Osan, de Indaiatuba, que terminou empatado em 1 X 1. O primeiro gol no estádio foi obra do jogador Rosinaldo, do Osan. O nome é uma homenagem ao empresário grego Stravos Papadopoulos que chegou a fazer uma parceria com o clube. (Pesquisa: Nilo Dias)


Debaixo desse lance de arquibancadas fica o dormitório dos atletas. (Foto: Orlando Lacanna)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Um gringo na Seleção

Sidney Pullen foi um dos três únicos jogadores estrangeiros que vestiram a camisa da Seleção Brasileira principal, em todos os tempos. Além dele, apenas o goleiro português Casemiro Amaral, que jogou seis vezes pela Seleção, em 1916 (Sul-Americano) e 1917, e o italiano Francisco Police, que jogou somente uma partida pelo Brasil, na derrota de 1 X 0 para o Dublin, do Uruguai, em 27 de janeiro de 1918.

O boliviano Marcelo Moreno também vestiu a camisa “canarinho”, mas somente nas Seleções de categorias de base. Alguns pesquisadores incluem nessa lista o atacante Patesko, que jogou às Copas do Mundo de 1930 e 1938 pelo Brasil, como sendo polonês. Porém, sua certidão de nascimento é de Curitiba.

Sidney Pullen nasceu em Southampton, Inglaterra em 14 de julho de 1885. Ainda criança veio para o Brasil, já que seu pai fora transferido para uma fábrica no Rio de Janeiro. Nos primeiros tempos do futebol na então capital brasileira, muitos ingleses jogavam futebol por clubes de lá, casos de Edwin Cox e Welfare, no Fluminense e Harry Robinson, Sidney Pullen e Eustace Pullen, no Paysandu Cricket Club.

Em 1910, Sidney Pullen, com apenas 15 anos de idade já jogava futebol no time do Paysandu. E com 17 anos foi campeão carioca. O título foi conquistado em cima do Flamengo, que pela primeira vez disputava o Campeonato Carioca, depois de ter criado o seu Departamento de Futebol, iniciativa de oito jogadores que deixaram o Fluminense, que fora campeão de 2011.

O Flamengo de 2012 era praticamente o Fluminense de 2011. Mas foi vice, perdendo o título para o Paysandu, que tinha uma boa equipe com destaques para dois atacantes infernais: Sidney Pullen e Harry Robinson, este, autor de 26 dos 64 gols que o time marcou na competição.

O Paysandu tinha sua sede na rua de mesmo nome, em um terreno de propriedade do Conde d’Eu. Montou um time formado somente por jogadores ingleses, que se impunham pela força física e disciplina tática de seus atletas. Nas partidas decisivas contra o Flamengo, o Paysandu venceu por 2 X 1 e, no segundo turno, segurou o empate em 1 X 1 que lhe garantiu o título.

Nos dois jogos o atacante Sidney Pullen foi decisivo, marcando gols importantes e evitando que o Flamengo tivesse a glória de ser campeão já no seu "debut" no certame carioca.


Participaram do Campeonato Carioca de 1912 os seguintes clubes: América Football Club, Bangu Atlético Clube, Clube de Regatas do Flamengo, Fluminense Football Club, Paysandu Cricket Club, Rio Cricket and Athletic Association, São Cristóvão Athletic Club e Sport Club Mangueira. 

Sidney Pullen e seu irmão Eustace ficaram no Paysandu até 1914, ano em que se transferiram para o Flamengo. No rubro-negro, Sidney jogou até 1925. Era polivalente, tendo atuado em diversas posições, dentre elas de “center-half” (volante de hoje) e de “inside-foward” (meia, de hoje).

No rubro-negro carioca Sidney Pullen chegou a condição de capitão do time, de 1915 até 1923, substituindo Alberto Borgeth, que capitaneou o Fluminense de 1911 e o Flamengo nos anos de 1912, 1913 e 1914. O jogador nascido na Inglaterra foi o principal jogador do futebol carioca nesse período, tendo sido artilheiro no campeonato de 1919, com 12 gols. Jogou 116 partidas pelo Flamengo e marcou 40 gols.

Em 1910, o Corinthians, da Inglaterra, que inspirou a fundação do Corinthians Paulista, excursionou ao Brasil e ganhou todos os jogos que disputou, alguns com goleadas incríveis, caso do Fluminense que levou 10 X 1. Em 1913, o time inglês voltou ao Brasil. Dessa feita perdeu um jogo, foi para o Selecionado Carioca, por 2 x 1, no dia 23 de agosto.

O “Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro escreveu o seguinte sobre o jogo: “O ataque dos brasileiros, formado por Mimi, Welfare e Sidney excedeu a toda a expectativa. Estes elementos, quer collectiva, quer individualmente foram de uma actividade à toda prova”. Uma curiosidade: o goleiro do selecionado carioca nesse jogo foi Harry Robinson, o mesmo que fora artilheiro do “Campeonato Carioca” de 1912 pelo Paysandu.

Em 1914, o Paysandu fechou seu Departamento de Futebol, em razão da Diretoria estar incomodada com a má campanha do clube no certame de 1913 e também com a necessidade de trocar de sede. Todos os seus jogadores ficaram livres, entre os quais Sidney Pullen, que optou por defender o Flamengo.

O antigo estádio do Paysandu ficava na rua homônima, no bairro de Laranjeiras, bem perto do campo do Fluminense. O clube participou do Campeonato Carioca da 1ª divisão em 1906, 1907, 1908, 1911, 1912, 1913 e 1914, quando abandonou a prática do futebol, além de ter jogado a 2ª divisão em 1909 e 1910.

Seu jogo de estréia no Flamengo foi um empate em 1 X 1 com o Vila Isabel em 21 de Abril de 1915. Seu primeiro gol pelo Flamengo foi no dia 2 de maio de 1915, no jogo em que o rubro-negro empatou por dois gols com o Rio Cricket.

De cara foi campeão carioca, com o Flamengo conquistando o título de forma invicta, com goleadas de 5 X 0 no Fluminense e 4 X 2 no América, os principais rivais na época. Pullen e Riemer formaram uma dupla avassaladora nesse ano.

Hugh Pullen, pai de Sidney acompanhou o filho na ida para o Flamengo. Tempos depois foi tesoureiro do clube e também o responsável pela importação do uniforme com as cores vermelho, preto e branco e que ficou conhecido como “Cobra Coral”.

Com o advento da 1ª Guerra Mundial, o Flamengo teve que retirar o branco do uniforme, pois vermelho, preto e branco eram as cores da bandeira alemã.

De acordo com o livro “Um jogo inteiramente diferente”, o anglo-brasileiro Sidney Pullen (anglo por parte do pai e por ter nascido em Southampton e brasileiro por parte da mãe) foi de considerável influência para a retirada do branco do uniforme flamenguista. 

Até o ano de 1916, o uniforme preto e vermelho era exclusivo do remo do Flamengo, na época o esporte mais popular da cidade, mas de prática acessível apenas à elite.

Ainda em 1916, foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou o 1º Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), que foi realizado em Buenos Aires. De acordo com o livro “O negro no futebol brasileiro”, escrito pelo jornalista Mario Filho, a Seleção teve grandes dificuldades para poder inscrever Sidney Pulllen, pois ninguém acreditava que ele fosse brasileiro. Era naturalizado.

Solucionado o problema, Pullen jogou três partidas pela Seleção, que foi terceira colocada na competição: empates em 1 X 1 com Argentina e Chile e derrota para o Uruguai,que viria a ser o campeão, por 2 X 1. Nesse jogo havia sido acordado entre as duas equipes que poderia haver substituições.

O zagueiro brasileiro Orlando se contundiu e seria substituído, mas o capitão uruguaio, Jorge Germán Pacheco, não concordou com a alteração e o Brasil teve que ficar até o final do jogo com 10 atletas em campo. Nossa seleção vencia por 1 X 0, com magnifica atuação de Arthur Friedenreich. Mas com um jogador a menos, acabou sofrendo a virada.

A partida entre Argentina e Chile ia ser cancelada por falta de árbitro, mas as duas equipes concordaram que Sidney Pullen apitasse. A Argentina goleou por 6 X 1.

Sidney Pullen foi um dos principais jogadores do Flamengo em toda a sua história. Ficou no clube de 1915 a 1923, quando encerrou a carreira. Jogou 130 partidas pelo Flamengo e marcou 47 gols.

Em 1925, aceitou o desafio de integrar a Comissão Técnica do Flamengo, ajudando a montar aquele que talvez seja o primeiro grande esquadrão da história do clube, uma máquina de jogar futebol com vários jogadores de seleção, como Hélcio, Penaforte, Candiota, Nonô e Moderato. Era um timaço que não tomava conhecimento dos rivais, a ponto de conquistar o título carioca goleando o América por 4 X 0 no jogo decisivo.

Como jogador conquistou nada mais, nada menos que 16 títulos pelo Flamengo, sendo os principais os bi-campeonatos de 1914/1915 e 1920/1921. Em 1916 foi convocado pelo Exército inglês e lutou por seu país na 1ª Guerra Mundial. Dizem que também teve uma passagem pelo Fluminense, porém, não há registros do período em que atuou pelo tricolor.

Antes de ir para a Guerra, Sidney deixou as suas chuteiras com o jovem "Back", jogador do segundo quadro do Flamengo. Após voltar da guerra, em 1917, ainda conquistou os Campeonatos Cariocas de 1920 e de 1921 pelo Flamengo, sendo, ao lado de Junqueira em 1920 e de Nonô em 1921, um dos grandes destaques do time.

Títulos conquistados. Paysandu: Campeão Carioca (1912); Flamengo: Campeão Carioca (1914, 1915, 1920 e 1921; Troféu Artístico do Pará (1916); Taça Tricentenário de Belém (1916); Taça Madame Gaby Coelho Neto (1916); Troféu Asilo do Bom Pastor (1916); Taça Sport Club Juiz de Fora (1917); Torneio Triangular do Rio de Janeiro - Troféu América Fabril (1919, 1922 e 1923); Torneio Início do Campeonato Carioca (1920 e 1922); Taça Sport Club Mackenzie (1920); Taça Ypiranga (1921); Troféu Carioca Football Club (1923) e Troféu Petropolitano (1923).

Sem a giga e a malicia do jogador brasileiro, Pullen era dotado de extrema mobilidade, o que o tornava quase imarcável, e dono de uma mortífera perna esquerda. Possuia uma extraordinária capacidade de enxergar o jogo e colocar a bola onde quisesse, com assistências notáveis o que o diferenciava dos outros jogadores. Além disso, Pullen "cantava" o jogo o tempo todo, orientando, motivando e esbravejando, como um verdadeiro líder que era.

Até o final de sua vida nos anos 50, Sidney Pullen jamais se afastou do ambiente do futebol. Carismático, transitou livremente por vários clubes, sendo muito bem aceito em todos eles. Costumava jogar tênis nas Laranjeiras, reduto do Fluminense. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Paysandu, campeão carioca de 1912. Sidney Pullen é o segundo sentado.

sábado, 7 de dezembro de 2013

O bugre de Bagé

Tem muita gente da imprensa carioca e paulista, especialmente, que até hoje não se conforma que um clube do interior do Rio Grande do Sul seja de fato e de direito o mais velho em atividade no futebol brasileiro. Alguns comentaristas, desinformados pelo jeito, insistem em dizer que é a Ponte Preta, de Campinas (SP), o “vovô”, no caso a “vovó” do futebol em nosso país.

A antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF), confirmou em oficio datado de 28 de julho de 1975, a legitimidade do clube gaúcho de ser o mais velho time de futebol do Brasil. E em homenagem estabeleceu o 19 de julho, data de fundação do clube, como o "Dia do Futebol Brasileiro".

Outra coisa que deixa cariocas e flamenguistas loucos de raiva é saber que o rubro-negro mais velho do futebiol brasileiro não é o Flamengo, e sim o E.C. 14 de Julho, de Santana do Livramento, fundado em 14 de julho de 1902, que também o caracteriza como o terceiro clube mais velho do futebol brasileiro. O Fluminense foi fundado no mesmo ano, mas em 21 de julho, uma semana depois que o clube gaúcho. O futebol no Flamengo começou em 1912.

Outra coisa que teve origem em um clube gaúcho foi o de abolir o racismo no futebol. A CBF insiste em dar ao Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, o mérito por isso, quando na verdade o Guarany F.C., de Bagé, aceitou negros em sua equipe de futebol, antes do time da Cruz de Malta. Em 1920 o alvirubro de Bagé conquistou o título de campeão estadual, com uma equipe repleta de jogadores negros e mulatos. 

Talvez o Bangu, merecesse ser citado como o primeiro clube a aceitar negros em sua equipe. Sabe-se que em 1905, Francisco Carregal, um negro, jogava no time principal do Bangu, no Campeonato Carioca da 1ª Divisão daquele ano. Mas isso não era a prática comum da época.

Sabe-se que em 1914 o mulato Carlos Alberto, vindo do América jogou no Fluminense, um time de brancos. Foi quando surgiu a história do “pó de arroz”, que teria sido usado pelo atleta para esconder a cor da sua pele. E com o suor, acabou se desfazendo e mostrando que não era tão branco quanto parecia. A partir daí o Fluminense passou a ser chamado de “pó de arroz” pelas torcidas adversárias.

Mas deixando de lado fatos históricos e ainda polêmicos do nosso futebol, vamos contar um pouco da história do Guarany, de Bagé, o único clube do interior do Rio Grande do Sul a conquistar por duas vezes o Campeonato Estadual. O “bugre” bageense foi fundado no dia 19 de abril de 1907, por 11 rapazes que se encontravam na Praça de Matriz, no centro da cidade.

Seus fundadores foram: João Guttemberg Maciel, Viriato Bicca Nunes, Cervantes Perez, Secundino Maciel, Francisco Sá Antunes, Manoel Berruti, Carlos Martins Peixoto, Lucidio Garrastazu Gontan, Carlos Garrastazu e Gonzalo Perez. Foram sugeridos dois nomes para a novél agremiação, Internacional e Guarany, sendo este o escolhido pela maioria.

O curioso é que o Guarany não nasceu vermelho e branco, como é hoje. Suas primeiras camisas, em vermelho, azul e branco, pertenceram ao Nacional, de Montevidéu e foram levadas até Bagé pelo fundador alvirrubro Carlos Garrastazu, que havia atuado pelo clube uruguaio. Mas pouco tempo depois foi adquirido o fardamento tradicional do clube bageense.

Em 1913 o Guarany jogou pela primeira vez no exterior, na cidade uruguaia de Melo, contra o Artigas e o Melense. Foi o primeiro clube gaúcho a jogar no “Monumental de Nuñez”, em Buenos Aires, contra o River Plate. Já enfrentou as seleções do Uruguai, Paraguai e Rússia.

Em Bagé o primeiro jogo internacional do Guarany foi em 1913, contra o Lavallejas, de Rivera. A primeira partida noturna em Bagé, ocorreu em 23 de novembro de 1952, no estádio Antônio Magalhães Rossel, também chamado de “Estrela D'alva”, contra o E.C. Pelotas.

Sabe-se que a dupla Internacional e Grêmio manda no futebol gaúcho. Mas o clube do interior que mais se destacou nos 94 anos de história do Campeonato Gaúcho foi o Guarany, única agremiação a conquistar dois títulos de campeao gaúcho, em 1920 e 1938. O alvirrubro bageense foi vice-campeão gaúcho em 1926 e 1929.

Outros clubes interioranos campeões foram: G.E. Brasil, E.C. Pelotas e G.A. Farroupilha, de Pelotas; G.E. Bagé, de Bagé; S.C. Rio Grande, S.C. São Paulo e F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande; Grêmio F.B. Santanense, de Santana do Livramento e S.E.R. Caxias e E.C. Juventude, de Caxias do Sul.

Em 1926, o Guarany foi vice-campeão gaúcho, perdendo à final para o Grêmio, por 4 X 3, em partida realizada em Porto Alegre. O onze bageense reclamou muito da arbitragem daquele jogo. Por exemplo, o gol da vitória gremista foi marcado na prorrogação. Em 1929, foi vice de novo, ao perder à final para o Cruzeiro, de Porto Alegre, por 1 X 0. Em 1958 mais um vice, quando perdeu os dois jogos finais para o Grêmio.

O Guarany sempre foi um verdadeiro celeiro de bons jogadores. Exemplos de Max, que jogou no futebol francês; Tupanzinho, que brilhou no Palmeiras, de São Paulo; Branco, tetra-campeão mundial pela Seleção Brasileira; Martin Silveira, que jogou as Copas do Mundo de 1934 e em 1938; Darci Menezes, que foi campeão da América e vice-campeão intercontinental, jogando pelo Cruzeiro, de Belo Horizonte e Raul Calvet, tetra-campeão paulista, bicampeão da América e intercontinental, pelo Santos F.C., entre outros.

Calvet era conhecido pela classe e elegância com que jogava. Foi um dos grandes nomes da história do Guarany. Jogou ainda pelo Grêmio, sendo campeão gaúcho em duas oportunidades (1956 e 1959).

Branco, iniciou a carreira nas divisões de base do time. Ainda como Júnior, jogou na base do Internacional, até se transferir para o Fluminense, onde foi campeão brasileiro (1984) e tricampeão estadual (1983, 1984 e 1985). Pela seleção brasileira, ganhou a Copa América de 1989 e a Copa do Mundo de 1994. Jogou também pelo Porto, de Portugal, onde venceu o Campeonato Português de 1989/1990.

Martim Silveira brilhou com a camisa do Guarany na década de 1930. Ele e Branco foram os dois únicos jogadores que passaram pelo clube a ter disputado Copas do Mundo.

Títulos. Campeonato Municipal de Bagé (1918, 1919, 1920, 1921, 1926, 1929, 1932, 1934, 1935, 1938, 1943, 1945, 1946, 1947, 1948, 1950, 1956, 1958, 1960, 1961, 1964, 1965, 1966, 1969, 1970, 1971, 2010 e 2012 e 2013); Vice-campeão citadino (1922, 1924, 1925, 1927, 1928, 1931, 1932, 1933, 1936, 1939, 1940, 1942, 1944, 1949, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1957, 1971, 1975, 1976 e 2009).

Não houve disputas nos anos de 1923, 1930, 1962, 1963, 1967, 1968, 1972, 1973 e 1974. Não se tem a informação de qual clube foi o campeão nos anos de 1912, 1913, 1914, 1915, 1916, 1917, 1941 e 1959.

Campeonato Estadual Série A (1920 e 1938); Campeonato Estadual Série B (1969 e 2006); Campeonato Estadual Série C (1999); Campeão do Acesso à Divisão Especial (1960); Taça 50 Anos Zero Hora (1977); Campeonato do Interior Gaúcho (1920, 1926, 1938, 1958 e 1962); Vice-campeão gaúcho da Série A (1926, 1929 e 1958).

Artilheiros do Campeonato Gaúcho Principal. Grecco, com 2 gols (1920); Picão (1938); Artilheiro do Campeonato Gaúcho - Série B, Alexandre Santos, com 12 gols (1997). Artilheiro do Campeonato Gaúcho - Série C, Alexandre Santos, com 18 gols (1999).

Os maiores goleadores da história do clube são: Max, 129 gols; Picão, 125 gols e Rubilar, 123 gols. Picão participou da campanha do título de 1938, tendo jogado no Guarany de 1933 até 1943. Chegou a jogar ao lado de Rubilar, artilheiro também muito reverenciado no ”índio bageense”.

Neste ano de 2013 esteve no Guarany o herói do Internacional, no Mundial de Clubes de 2006, Adriano Gabiru. Ele marcou o gol contra o Barcelona, na maior conquista do colorado em toda a sua história. Mas não deu sorte e acabou dispensado antes mesmo de terminar seu contrato.

O Guarany Futebol Clube tem como seu principal rival o Grêmio Esportivo Bagé, com quem realiza o clássico Ba-Gua, um dos mais tradicionais do Estado. Dede 1921 foram realizados 413 clássicos, com 150 vitórias do Guarany, 121 empates e 142 vitórias do Bagé. O Guarany marcou 496 gols, enquanto o Bagé anotou 477.

O primeiro clássico ocorreu no dia 31 de julho de 1921, válido pela “Taça A. Magalhães”, tendo o jogo terminado empatado em 2 X 2. O Bagé jogou com: Duarte - Fortunato e Gavino - Aníbal Machado - Guri e Estanislau – Leonardo – Argeu – Chico-  Lucídio e Marceló. O Guarany atuou com Balverdu - Avancini e Afonso - Souza Pinto - Seixas e Kluwe – Ratão – Saraiva – Greco - Lagarto e Cláudio.

O segundo confronto foi disputado no mesmo ano, no dia 14 de agosto, com vitória do Bagé por 2 X 1. O primeiro clássico a noite foi jogado em 1953, no “Estrela D’Alva”, com vitória do Bagé por 2 x 1. No final do jogo aconteceu uma briga entre os jogadores das duas equipes.

A denominação Ba-Gua foi dada anos mais tarde do primeiro confronto, pelo jornalista bageense Mário Nogueira Lopes, quando de um clássico de basquetebol, disputado pelos dois clubes, mas acabou transcendendo para o futebol.

O Guarany manda seus jogos no “Estádio Antônio Magalhães Rosel”, também conhecido por “Estrela D’Alva”, que tem capacidade para 10 mil expectadores. (Pesquisa: Nilo Dias)

Guarany F.B.C., campeão gaúcho de 1920. (Foto: Acervo fotográfico do Guarany F.C.)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Um estádio no meio do nada

No meio do deserto egípcio ergue-se o décimo maior estádio de futebol do planeta. Um recinto imponente, a meio caminho entre Alexandria e o Cairo que representa a evolução desportiva do Egito, um país onde o futebol é uma questão de vida ou morte.

O Estádio multi-uso de “Borg Al Arab”, situado em Alexandria, foi inaugurado em 2006, e tem capacidade para 80 mil expectadores. É o segundo maior estádio da África, atrás apenas do “Soccer City”, de Johannesburgo. Se encontra na autopista do deserto que une Alexandria ao Cairo, a 10 quilômetros do Aeroporto de "Borg el Arab" e a 15 do centro de Alexandria.

Conta com uma pista de atletismo em volta do campo de jogo. O estádio foi desenhado e construído pelo Corpo de Engenheiros das Forças Armadas do Egito. Foi projetado para a candidatura fracassada do país a Copa do Mundo de 2010. Junto com o Estádio Internacional do Cairo, é agora sede de jogos da Seleção Egípcia de Futebol e o principal estádio do Norte da África e Oriente Médio.

O Estádio de “Borg Al-Arab” está para o futebol egípcio como as pirâmides de “Keops”, “Kefren e “Mikerynios” estão para o reinado dos faraós. É gigantesco, é distinto de tudo o que se pode encontrar no continente africano. E está no meio do nada.

A obra durou um ano e meio. Quando o “Berg Al Arab” ficou pronto, já se sabia que o Mundial seria na África do Sul e o estádio sede, o “Soccer City”, iria ultrapassá-lo em capacidade de público. Foi um duro golpe para as autoridades egípcias. Para piorar, os primeiros jogos realizados no gigantesco estádio, provaram que seria impossível que alcançasse sua lotação.

O fato de estar longe de qualquer zona urbana densamente habitada, fez com que nenhum clube se interessasse em jogar lá. Desde então tem recebido alguns jogos da Seleção, que ainda assim prefere jogar no Cairo, onde tem mais apoio da torcida.

Também foi palco da “Taça do Egíto” e do “Mundial Sub-20”, muito pouco para aquele que é o 10º maior estádio do mundo em dimensão e um dos projetos mais ousados da arquitetura desportiva na África. (Pesquisa: Nilo Dias)


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A bola perdeu um amigo

Primeiro foi Nilton Santos, agora Pedro Rocha que nos deixa. Em poucos dias o futebol perdeu dois de seus grandes nomes. Nilton Santos foi da “Seleção Brasileira” e Pedro Rocha da “Celeste Olímpica”. Dois grandes amigos da bola.

O ex-jogador uruguaio, que foi ídolo no São Paulo F.C. na década de 1970, morreu ontem (02/12) em sua casa, na capital paulista, um dia antes de completar 71 anos de idade. Ele padecia de atrofia do mesencéfalo, um mal que afetava seus movimentos e a fala, mas não a compreensão e a memória. Pedro Rocha passava os dias em casa, ao lado da mulher Mabel, fazendo fisioterapia e recebendo assistência médica.

Pedro Virgílio Rocha Franchetti nasceu no dia 3 de dezembro de 1942, na cidade de Salto, Uruguai e se consagrou como um dos melhores camisas 10 do mundo. Escreveu seu nome na galeria de craques de dois dos principais times do continente, o Peñarol e o São Paulo.

Era chamado de “El Verdugo”, apelido dado pelos torcedores do Peñarol, em razão da grande quantidade de gols que marcou contra o rival Nacional. Era o “matador”, com sua categoria, chute forte e cabeçadas arrasadoras.

Forte e elegante, chegou ao São Paulo no dia 15 de setembro de 1970, aos 28 anos de idade, depois de terem sido contratados Gerson “Canhotinha de Ouro” e Toninho "Guerreiro", para compor um dos mais fortes meios de campo da história são paulina.

O tricolor paulista não ganhava nada há 13 anos e a diretoria resolveu partir para a formação de um time forte, ao mesmo tempo que concluía as obras do estádio do Morumbi. Os primeiros jogos de Pedro Rocha com a camisa do São Paulo foram desanimadores. Até a saída de Gerson do clube, fez tão somente 13 gols em 59 partidas.

Em 1972 tudo foi diferente e o artilheiro uruguaio marcou 25 gols em 56 partidas, um desempenho notável que o consagrou como o primeiro jogador estrangeiro a ser o artilheiro de um Campeonato Brasileiro. Ele fez 17 gols, dividindo a artilharia com Dario, do Atlético Mineiro.

Seu companheiro de São Paulo, Peñarol e Seleção Uruguaia, Pablo Forlán, chegou a dizer que Pedro Rocha foi o melhor jogador uruguaio dos últimos 50 anos. Edson Arantes do Nascimento, o “Pelé”, também era fã de Pedro Rocha. Para o “rei”, ele foi um dos cinco melhores jogadores do mundo, na época.

A descrição de Rocha como jogador, beirava a perfeição. Ele caminhava com a bola, lançava o centroavante e continuava a correr, até recebê-la de volta. Aí tocava para um dos pontas e se deslocava em direção a área, confundindo os defensores que não sabiam a quem marcar, facilitando seu cabeceio.

Em outras ocasiões, quando não tinha como dar o passe, costumava segurar a bola até poder desferir um chute forte de 30 metros de distância. No final da Copa América de 1967, vencida pelo Brasil, era Pedro Rocha o cobrador de faltas pelo lado esquerdo de campo. Geralmente ele colocava a bola no canto esquerdo do goleiro adversário.

Pedro Rocha era uma pessoa educada, quieto, não se prestava para muitas brincadeiras e tinha como “hobby” jogar sinuca. No “pano verde” era praticamente invencível, jogava como ninguém. Diziam que ele era “um gênio da bola", dentro de campo ou numa mesa de sinuca.

Pedro Rocha vestiu a camisa do São Paulo 393 vezes e marcou 119 gols. Ficou no clube do Morumbi por longos sete anos, saindo em 1977 depois de se desentender com o técnico Rubens Minelli. No clube das três cores ganhou um Campeonato Brasileiro e dois estaduais.

No Peñarol, de Montevidéu, clube que o revelou para o futebol, Rocha foi três vezes campeão da “Taça Libertadores da América” e duas vezes da “Copa Intercontinental de Clubes”, antes de se transferir para o São Paulo. Cada vez que ele entrava em campo a torcida amarela e preta uruguaia cantava: “Rocha, meu bom amigo, esta campanha queremos estar contigo. Estaremos de coração. Essa torcida quer te ver campeão”.

Entre seus maiores feitos, destaca-se o fato de ser o único jogador uruguaio até hoje a disputar quatro Copas do Mundo, 1962, 1966, 1970 e 1974.

A carreira vitoriosa de “El verdugo” não lhe garantiu uma aposentadoria tranquila. Depois de deixar os gramados tentou a carreira de treinador, tendo dirigido o Internacional, Ponte Preta e Portuguesa de Desportos, sem obter sucesso. Aí partiu para outra aventura, ser dono de uma casa de Bingo, que também não deu certo.

Passou a viver com uma aposentadoria que não chegava a R$ 2 mil. E com os graves problemas de saúde que enfrentou nos últimos anos, a coisa só piorou. O São Paulo inicialmente ajudou no tratamento médico, mas tempos depois suspendeu o apoio. E o prometido amistoso em sua homenagem nunca saiu.

Segundo seu filho Pedrinho Rocha, ex-jogador de futebol (atuou nos juniores do Palmeiras e São Paulo, depois foi para o Uruguai, onde jogou no Peñarol e hoje é treinador), dois médicos amigos ajudavam Rocha. Um deles também se responsabilizava pela fisioterapia que o ex-jogador fazia. Queixa-se de que o São Paulo não fez por ele o que deveria ter feito. Ajudou um pouco, mandou um médico, e só.

Equipes que atuou: Peñarol (1959 - 1970), São Paulo (1970 - 1977), Coritiba (1978), Palmeiras (1979), Bangu, Deportivo Neza, do México, Monterrey, do México (1980) e Al-Nassr, da Arábia Saudita (1980).

Títulos conquistados. Campeonato Uruguaio (1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968); Taça Libertadores da América (1960, 1961 e 1966); Taça Intercontinental de Clubes (1961 e 1966); Recopa Sul-Americana (1969); Campeonato Paulista (1971 e 1975); Campeonato Brasileiro (1977) e Campeonato Paranaense (1978). Gols marcados. Peñarol (81 gols em 159 jogos); São Paulo (119 gols em 393 jogos) e seleção do Uruguai (17 gols em 52 partidas).

Prêmios individuais: Melhor jogador do Campeonato Sul-Americano, atual Copa América (1967); Bola de Prata, Revista Placar (1973) e 38º Melhor futebolista Sul-Americano do Século XX, escolhido pela International Federation of Football History & Statistics - IFFHS (1999).

Pedro Rocha virou parte de um livro, “Tricolor Celeste”, de autoria do jornalista Luis Augusto Simon, onde é descrita a trajetória de quatro jogadores uruguaios que vestiram a camisa do São Paulo F.C.: Pablo Forlán, Dario Pereyra, Diego Lugano e Pedro Rocha.

Pena que nunca tenha sido Campeão do Mundo pela “Celeste”, o que o equipararia a outros monstros sagrados do futebol uruguaio, como Juan Schiaffino, Obdulio Varela, Hector Scarone e José Leandro Andrade. Mas, a exemplo desses, foi um grande craque.

O jornalista Juca Kfouri, em seu blog, escreveu hoje uma frase que resume toda a carreira de Pedro Rocha: “A bola perdeu mais um de seus melhores amigos em todos os tempos”. (Pesquisa: Nilo Dias).

 Pedro Rocha e Pelé. (Foto: Divulgação)