Francisco
Barbosa Gomes, o “Caiçara”, foi jogador e técnico de futebol. Começou a
carreira no Íbis, de Pernambuco,em 1948, e depois se transferiu para o Náutico,
onde jogou até 1959, sendo depois contratado pelo Vitória, de Guimarães,
Portugal.
O
apelido ele ganhou quando ainda jogava como amador. O dono de um time chegou
num caminhão cheio de garotos escurinhos para levá-lo a um torneio. Era
conhecido por Gomes, e tinha um cabelo alourado. Ao subir no caminhão, a
molecada gritou: "Esse sarará é caiçara?” Era uma gíria para designar
alguém branco. E aí pegou o apelido com o qual se destacou em sua carreira.
“Caiçara”
vestiu a camisa vermelha e branca pernambucana por quase nove anos, tendo conquistado
vários títulos. Entrou para a história do clube, ao formar zaga com “Lula”. Os
dois também atuaram juntos na Seleção Pernambucana.
O
prestigio de “Caiçara” era tão grande, que uma ocasião ele precisou ser
atendido em um hospital de referência em Recife. O atendente passou sua ficha
para o médico, que leu: paciente Francisco Barbosa Gomes. "Diga que pode
esperar". Ao que retrucou o atendente: "Vou falar para o "Caiçara" que
tenha mais paciência”. E o médico, ao ouvir o apelido do cliente mudou rápido
de idéia: "É o "Caiçara"?. Por que não me disse logo. Mande-o entrar
imediatamente.”
“Caiçara”
jogou 260 partidas pelo Náutico e fez 25 gols. Pela Seleção Pernambucana foram
29 jogos. Além de um defensor firme, que jogava duro, mas era leal, tinha um
chute muito forte e fez muitos gols de falta. Seu primeiro gol foi marcado num
jogo contra a Seleção da África do Sul, num torneio em Johanesburgo, quando
atuava pelo Vitória, de Guimarães.
Depois
de encerrar a carreira, ele foi treinador e dirigiu equipes como o Botafogo
(PB), ABC (RN), Fortaleza, Ceará, Flamengo (PI) e Santa Cruz (PE). Fez o curso
de treinador em Portugal e
assumiu o clube Felgueiras, onde foi bi-campeão distrital em 1978 e 1979. Tinha
trânsito livre na Europa, quando pouco se falava na exportação de talentos
brasileiros para lá.
“Caiçara”,
na condição de treinador alcançou um feito que só ele e o ex-treinador Moésio
Gomes, já falecido, conseguiram em solo cearense: são os únicos que conquistaram
títulos estaduais comandando as equipes rivais do Fortaleza e Ceará. No
Fortaleza conseguiu que o time ficasse 12 jogos invictos, feito superado apenas
em 2012, pelo técnico José Luiz Mauro, o “Vica”.
Na
Paraíba fez história dirigindo o Botafogo. Em 1986, conseguiu quebrar um jejum
de 11 anos sem títulos. Em todos esses anos foram todos ganhos por times de
Campina Grande.
Mas
o seu grande feito no Botafogo foi uma improvável vitória sobre o Flamengo, do
Rio de Janeiro, pelo Campeonato Brasileiro, em pleno Maracanã, no dia 6 de
março de 1980, que derrubou milhões de apostadores da Loteria Esportiva, em uma
das maiores “zebras” de todos os tempos.
O
Flamengo era um time forte, com jogadores categorizados como Raul Plassmasn,
Júnior, Adílio, Tita, Andrade, Zico e Paulo César Carpegiani. A vitória
flamenguista era favas contadas. O Botafogo tinha um time bom, mas era
totalmente desconhecido no país inteiro.
O
treinador “Caiçara” até ousou na escalação, com quatro atacantes e foi para
cima do rubro-negro. O primeiro tempo terminou 0 X 0. Na fase final os gols
saíram. Soares fez 1 X 0 para o time paraibano. Tita empatou e Zé Eduardo, aos
36 minutos decretou a “zebra”. Esse jogo é considerado até hoje como a mais
espetacular façanha do clube em sua história.
O
professor Raimundo Nóbrega, que já foi dirigente do Botafogo paraibano e é dono
de um imenso acervo histórico do clube, conta uma curiosidade sobre aquele
jogo. O Botafogo ia jogar de branco, mas João Saldanha, que era técnico do
Botafogo, do Rio de Janeiro, conversou com o presidente do time paraibano, Álvaro
Magliano, e pediu para que jogassem de listrado.
A
intenção era conseguir o apoio dos torcedores do alvinegro carioca. O
presidente comprou estas camisas às pressas, e o time acabou jogando aquela
partida com um uniforme sem escudos.
Ainda
naquele “Brasileirão”, o time orientado por “Caiçara” conseguiu mais duas vitórias
históricas, 1 X 0 em cima do Náutico, em pleno Estádio dos Aflitos e 2 X 1 frente
o então campeão brasileiro invicto, o Internacional, no Estádio Almeidão, em
João Pessoa. A partir daí o time passou
a ser chamado de “demolidor de campeões", apelido que foi também estendido
ao treinador.
Depois
de 1980, “Caiçara” ainda comandou o Botafogo em 1995, quando o presidente era
de novo Álvaro Magliano. Como o clube paraibano atravessava uma grande crise, o
treinador não conseguiu ganhar o campeonato estadual daquele ano.
Caiçara”
morreu no dia 9 de janeiro deste ano, aos 80 anos de idade, no Hospital
Português, em Recife, onde estava
internado. O Fortaleza emitiu “Nota Oficial”, lamentando a morte de um dos
técnicos mais vitoriosos da história do clube.
Os
principais títulos de Caiçara, como treinador. Bi-Campeão Distrital pelo
Felgueiras, de Portugal (1965 e 1966); Bi-Campeão Estadual pelo Botafogo, da
Paraíba (1978 e 1979); Campeão Estadual pelo Fortaleza, do Ceará (1969 e 1973);
Campeão Estadual pelo Ceará (1975, 1976, 1980, 1981 e 1986); Campeão estadual
pelo ABC, de Natal (1970); Campeão Estadual pelo América, de Natal (1979, 1982
e 1987). (Pesquisa: Nilo Dias)