O
futebol começou em Goiás (originalmente Vila Boa) na primeira década do século
passado, mais precisamente em 1907. Seu introdutor teria sido o estudante de 15
anos de idade, Valter Sócrates do Nascimento, que retornara de São Paulo onde
fez um período de estudos e conheceu o novo esporte. Valter nasceu no dia 23 de
agosto de 1892, e era filho de pai capixaba e mãe goiana.
Seu
retorno a Goiás (hoje Goiás Velho), na época capital do Estado, acabou com a
tranquilidade até então existente no velho “Largo do Chafariz”, que hoje se
localiza na Praça Doutor Brasil Caiado, próximo do Colégio Sant’Ana. Valter
reuniu um grupo de estudantes do Lyceu de Goiás, organizando ali partidas de
futebol, geralmente nos períodos da tarde e em qualquer dia da semana.
Valter
contou com a colaboração de Renato Marcondes de Lacerda, que a exemplo dele
também estudara em São Paulo, mais Odilon de Amorim, Alberico Camargo e João
Monteiro, para que convidassem outros jovens a participarrm dos jogos de
futebol. Foi dessa maneira que teve início o futebol em Goiás.
O
terreno íngreme não era o mais apropriado para a prática do futebol, pois não
tinha grama e era coberto por um cascalho fino e não obedecia às regras. Tudo
era improvisado, desde as traves que não passavam de duas varas fincadas ao
chão até as marcações do campo, que eram feitas com riscos no solo.
Como
o campo era pequeno, os primeiros jogos contavam com apenas seis jogadores de
cada lado. Não havia uniformes e muito menos chuteiras, todos usavam a roupa do
corpo. A bola era de “mangaba”. O processo de fabricação era simples.
Envolvia-se uma bexiga de bode no leite da “mangaba”, que funcionava como uma
borracha.
Mas
existe outra versão que contempla o pastor protestante inglês, Archie Rua
Mancintyre, como o verdadeiro introdutor do futebol em Goiás, isso em 1908,
portanto um ano depois que Valter Sócrates do Nascimento organizou as “peladas”
no “Largo do Chafariz”.
No
livro "Do meu Tempo", escrito por Albatenio de Godoi, consta que
Archie trouxe o futebol a Goiás durante uma visita que fez a cidade, quando em
missão de catequese de índios do rio Araguaia. Dos primeiros jogos teriam
participado, entre outros, Brasil Caiado, o próprio Albatenio, Claro Godoi,
Alcenor Cupertino e Francisco Cardoso.
Mas essa versão não ganha força.
Ao
que se sabe em 1908 os jogos já contavam com o número oficial de 11 jogadores
para cada lado. As traves passaram a ser de sarrafo, o campo de terra
demarcado, os times com camisetas diferenciadas e a presença de árbitros.
Em
1920, o futebol ganhou destaque na cidade de Goiás, quando muitos dos
participantes das “peladas” do “Largo do Chafariz”, foram para São Paulo e Rio
de Janeiro concluírem seus estudos em Engenharia, Direito ou Medicina, como era
comum.
Em
meados de 1920. Noticiava-se na capital a existência do União Operária Sport
Club, que marcara um jogo contra um time de sargentos. O clube operário
provavelmente articulava-se com ações como a criação da “Sociedade Santa Luzia
Classe Operária”, organizada em 1930.
Entre
1920 e 1940, Goiás teve um significativo aumento no número de estabelecimentos
industriais existentes na cidade. De acordo com dados do censo de 1920, Goiás
contava, naquele ano com 16 indústrias e 244 operários. Em 1940, esses números
já somavam 260 indústrias e 1.487 operários, num aumento de mais de 1.500 %.
De
grande importância para o desenvolvimento do futebol em Goiás, também foi a
verdadeira “febre” pelo novo esporte, que tomou conta da cidade de Uberaba
(MG). Uberabenses que haviam estudado em São Paulo, especialmente no Colégio
São Luis, em Campinas, voltavam trazendo consigo mais noções de regras,
técnicas e táticas. Em 1906, um grupo de uberabenses cotizou-se para comprar
uma bola de futebol em São Paulo.
Foi
o que bastou para que o futebol se tornasse popular na cidade e conhecesse um
desenvolvimento muito grande. A fama do Ginásio Diocesano como um brilhante
estabelecimento de ensino e o melhor do Brasil Central, se espalhou
rapidamente, chamando a atenção de famílias goianas, especialmente das cidades
de Itaberaí, Itumbiara, Catalão e Morrinhos, que mandavam seus filhos estudarem
lá.
Foi
no Ginásio Diocesano que muitos jovens goianos aprenderam a jogar futebol. De
volta a Goiás, alguns desses jovens acabaram tendo atuações determinantes no
esporte do Estado, caso de Edmundo Pinheiro de Abreu, que jogou no ataque do
time da escola. Depois esteve entre os primeiros jogadores de futebol de sua
cidade natal, Itumbiara.
Já
na nova capital de Goiás, Goiânia, teve intensa participação nas administrações
do Goiás Esporte Clube e da Federação Goiana de Futebol, criada em 1944.
Em
1913, as primeiras locomotivas da Estrada de Ferro Goiás atravessavam a ponte
sobre o Rio Paranaíba, estabelecendo, finalmente, ligação férrea entre Goiás e
Minas Gerais.
No
mesmo ano foi fundado o Catalão Futebol Clube, que depois se tornou uma
potência futebolística da região. Até o fim da década de 1910, a organização de
times e a realização de partidas foram registradas, pelo menos, em Anápolis,
Pirenópolis e Catalão.
Nessa
época, o Catalão Futebol Clube já possuía um terreno para a construção de uma
praça de esportes, onde outros times da cidade, como o Operário, o Americano e
o Brasil Futebol Clube debateram-se contra o chamado “Leão do Cerrado”.
Em
1923 o futebol já havia chegado também em cidades do norte de Goiás, atualmente
o Estado de Tocantins, especialmente em Natividade e Porto Nacional. A difusão
do futebol nessas localidades se deveu aos estudantes, que retornavam da Bahia
e o implantaram nos rincões goianos.
Em
dezembro de 1979, houve uma significativa melhora para o futebol local com a
inauguração do Estádio Lauro Assunção, sem arquibancadas, que reuniu na partida
inaugural as seleções de Araguaína e de Tocantinópolis.
O
jogo chamou a atenção de importantes autoridades políticas do Estado de Goiás e
do município de Tocantinópolis. A seleção de Tocantinópolis venceu por 3 X 1,
gols de Guinha, Emiliano e Ademir.
No
início da década de 1980, mesmo contando com o Estádio Lauro Assunção, o
futebol local não conseguia evoluir, em razão das cansativas viagens e da falta
de apoio.
O
poder público municipal destinava a seleção tocantinopolina, apenas um caminhão
caçamba, que comportava toda a delegação, e era parcialmente cheio de areia e
coberto por uma lona para dar mais "conforto" aos atletas.
O
estremo norte de Goiás era esquecido tanto em termos sociais quanto em termos
de futebol, pois os principais clubes goianos, Goiás, Vila Nova, Atlético
Goianiense e Goiânia, levavam vários anos para atuarem nos péssimos gramados da
região. Quando isso ocorria, em jogos amistosos, verdadeiras multidões lotavam
os estádios.
Em
1986, em Porto Nacional, aconteceu um jogo entre a Seleção Tocantinense e a
Seleção Brasileira de Novos, que tinha em seu elenco jogadores que depois
seriam verdadeiros astros do futebol brasileiro, casos de Cafu, Túlio,
Marcelinho Carioca e Márcio Santos. Também teve outro jogo contra a “Seleção de
Ouro”, que tinha como maior astro o artilheiro Dadá Maravilha.
A
Seleção Tocantinense venceu por 1 X 0.O futebol do norte de Goiás só evoluiu
quando as seleções das cidades se transformaram em clubes, como o Gurupi E.C.,
de Gurupi, Kaburé E.C., de Colina e,
Trastrevo E.C., de Araguaína, entre outros. Isso, depois da implantação do
Estado do Tocantins que ocorreu em 1989. (Pesquisa: Nilo Dias)
Em
1924, por exemplo, na cidade de Jaraguá eram disputadas partidas envolvendo os
moradores da “Rua Direita” contra o “Resto”. Em Pires do Rio era criada a
primeira equipe de futebol da cidade, que tinha nos times de Iparemi seus
principais adversários.
Belavistense,
Bonfim Esporte Clube, Leopoldo de Bulhões Futebol Clube, Vianápolis Esporte
Clube, Associação Atlética Rio Verde, Rio Bonito Futebol Clube, foram algumas
das equipes criadas no Estado, na ocasião.
Em
Goiás, que era a capital, foi fundada a Associação Athlética União Goyana, que
teve papel importante no futebol goiano até meados da década seguinte. Foi
nessa época que surgiram os times dos Sargentos, dos Operários, do Tiro 78, do
Ibsen Caiado, do Anhauguera, do América e do Brasil Central.
Foi
um tempo em que qualquer povoação do interior e até mesmo as diversas fazendas
existentes nas zonas rurais, praticavam o futebol, lotando os gramados nas
tardes de domingo.
A
presença das mulheres nos “grounds” começou a ganhar constância. No começo eram
apenas “senhorinhas”, madrinhas dos times. Depois a “moda” se espalhou e as
“damas”, de todas as idades, passaram a frequentar os campos de futebol.
Na
cidade de Goiás, a partir de 1925, já aconteciam jogos entre os times locais e
os de Itaberaí, Ipameri, Anápolis e Bela Vista. Em um desses jogos esteve
presente o então governador do Estado de Goiás, Brasil Caiado de Castro.
Em
1928 teve inicio a grande rivalidade entre equipes da capital e o Annapolis
Sport Clube. Por volta de 1928, já se verificavam jogos entre equipes de Goiás
e de fora do Estado. Os times de Catalão foram pioneiros nesse intercâmbio,
enfrentando, sobretudo, adversários do “Triângulo Mineiro”.
Teve
uma época que era difícil a realização de jogos, pois nem sempre as cidades
mantinham em atividade as suas equipes. Era comum uma estar em atividade e
outra inativa. Essa situação só foi melhorar depois do advento das estradas de
rodagem, cujo processo de construção começou a partir de 1917. Em 1920 já havia
1.200 quilômetros. Em 1921, mais de 28 estradas ligavam vários pontos do vasto
Estado.
Anápolis,
Curralinho, Roncador, Trindade, Goiabeira, Morrinhos, Caldas Novas, Goiás,
Capelinha, Pirenópolis, Santa Rita do Paranaíba, Pouso Alto, Cachoeira, São
José Mossamedes, Bela Vista, Ipameri, Cristalina, São José do Duro, Barreiras,
Rio Verde, Jataí, Mineiros, Barro Preto, Barro Branco, Pilar eram algumas das
cidades atendidas por estradas nessa época. No fim de 1927 já eram mais de
3.500 quilômetros de rodovias.
Em
dezembro de 1925 uma equipe de Anápolis foi de caminhão até Goiás para jogar
contra um time daquela cidade. Alguns anos depois, os clubes passaram a
utilizar automóveis nesses jogos intermunicipais, como aconteceu na partida
entre o Burity Futebol Clube X Santa Rita do Paranaína, em novembro de 1935.
Em
1930 teve inicio o processo de criação em Goiás, de uma associação ou liga
esportiva, para organizar as competições estaduais. Em comparação com outras
regiões do país, no que se referia aos esportes, era notória a preocupação das
elites goianas com o fato de não ter uma representação estadual no campeonato
nacional de futebol.