quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O pior futebol do Brasil


O futebol de Roraima é considerado o pior do Brasil. E tem motivos de sobra para isso, a começar pelo presidente da Federação local, José Gama Xaud, o “Zeca Xaud”, que em 2014 completa 40 anos no cargo. Ele assumiu a Federação em 1974, quando ela foi criada, e desde então vem conduzindo o precário futebol do Estado.

Ele até fala que é preciso uma renovação, mas não o deixam sair. Não aparece ninguém para lhe suceder. E disse que isso se deve ao fato de a Federação não ter dinheiro. E se arrisca a falar que se tivesse, teria um monte de candidatos.

Ele ressalta que apesar da crise, não deixa a entidade contrair dívidas. Garante que até tiraria dinheiro do próprio bolso, se preciso fosse. O mandato de “Zeca Xaud” termina no fim de 2014, mas foi prorrogado por causa da "Copa do Mundo". E segundo ele próprio, a idade – 70 anos – está começando a pesar.

Só para se ter uma ideia do tempo em que “Zeca Xaud” dirige o futebol roraimense, basta lembrar que quando ele assumiu, Pelé ainda jogava futebol, o Brasil era tri-campeão do mundo e Ricardo Teixeira, outro que se eternizou na direção da CBF – foram 23 anos -, ainda nem conhecia a filha de João Havelange, com quem se casou, tempos depois.

É um recorde nacional, talvez até mundial. São 11 mandatos ininterruptos. O campeonato estadual é tão desinteressante, que a média de público é de pouco mais de 50 torcedores por jogo. E pasmem, o ingresso é grátis.

Mesmo assim não chama a atenção dos torcedores. Qualquer campeonato amador de futebol, seja realizado onde for, é mais interessante que o Campeonato de Roraima, que só tem o nome de profissional.

Por lá acontecem coisas quase inacreditáveis. Um jogo entre duas equipes que disputavam o campeonato principal atrasou, porque um dos times esqueceu de levar o uniforme. Um cronista esportivo se ofereceu a emprestar um jogo de camisas, mas não foi preciso, porque o uniforme original foi finalmente levado até o estádio.

Em outro jogo aconteceu quase a mesma coisa. Em vez de esquecer o fardamento uma equipe não levou a documentação dos jogadores. Por pouco o jogo não foi cancelado. Outra coisa, o futebol de Roraima é o único no país que não tem “Segunda Divisão”.

Em 2010 o Atlético de Roraima tentou mandar seu jogo contra a Portuguesa de Desportos, pela Copa do Brasil, no Rio Grande do Sul, dizendo ter recebido uma oferta de empresários para isso. O presidente da Federação, "Zeca Xaud", disse que nada poderia fazer para impedir o jogo no Sul. A partida acabou ocorrendo em Roraima mesmo, com goleada do time paulista por 7 X 0.
       
Ainda que o futebol de Roraíma seja de péssima qualidade, o “Estádio Flamarion Vasconcelos”, popularmente conhecido por “Canarinho” foi reformado e sua capacidade aumentada para receber até 10 mil torcedores. A reforma custou cerca de R$ 100 milhões e foi executada pelo Governo do Estado, com recursos do Governo Federal.

A situação dos clubes é tão difícil, que até para contratar jogadores de fora é preciso muito jogo de cintura, pois ninguém quer jogar lá, devido a distância. O centro mais próximo de Boa Vista é Manaus, que fica a 800 quilômetros. Para jogar com time de outro Estado, só viajando de avião. E 70% da população local é de outras regiões do país e chegaram já como torcedores dos clubes de suas regiões. 

“Zeca Xaud” usa métodos paternalistas para se manter no poder. A Federação banca taxas de arbitragens, registros de jogadores e outras despesas. Mas mesmo assim os clubes estão afundados em dívidas e sem qualquer perspectiva de mudar essa situação.

O pior, a maioria dos presidentes de clubes estão também há décadas no poder. Quase não existem patrocínios de camisas, a TV não oferece contratos e nos estádios inexistem placas de publicidade.

O futebol no Estado profissionalizou-se em 1995 e contou com três equipes participantes no campeonato: Atlético Roraima e Baré ambos da capital, e Boa Vista e Progresso, da cidade de Mucajaí.

Nas décadas de 60 e 70 os roraimenses costumavam assistir os jogos no “Estádio João Mineiro”, que não existe mais. Ao que se sabe, o nome do estádio foi em homenagem a um pedreiro chamado “João Mineiro”. Ele foi o incentivador do futebol em Roraima, além de ter sido presidente de um time chamado Operário, cuja camisa era vermelha, azul e branca.

Na época o maior clássico do futebol local era o “Bareíma”, reunindo Baré X Roraíma. Depois de cada jogo, era costume do time vencedor sair pelas principais ruas da Capital numa carreata misturada com passeata, saindo do “Estádio João Mineiro” em direção a rua Jaime Brasil, no centro da cidade.

No portal do estádio João Mineiro tinha bilheterias separadas, para evitar confrontos entre os torcedores. Esta medida foi tomada em razão da grande rivalidade entre os torcedores dos dois times, na época. Quando do clássico, o estádio sempre lotava, chegando a receber público superior a dois mil expectadores.

Os torcedores lembram com saudade alguns bons jogadores que passaram pelo futebol de Roraíma, como Roberto Silva, que foi artilheiro durante 10 anos do Campeonato Amador, promovido pela Federação Riobranquense de Desporto (FRD). E também de Chico Roberto, ex-prefeito de Pacaraima, os irmãos Barac e Rubinho Bento, Newton Campos, chamado de a "Enciclopédia do Futebol Roraimense", Rubens Silva, o "Rubão", irmão de Roberto Silva.

Além de Idalmir Cavalcanti, Clóves Rates, Pedro Reis, Luciano Araújo e seu irmão Agacy Araújo, Augusto Monteiro, hoje diretor geral do Tribunal de Justiça, o próprio “Zeca Xaud, os goleiros Wilson Arruda, o “Pipira” e Alcides Lima, o “Alcidinho, Nelson Almeida, Pedro "Camarão" e Paulo Duarte, entre outros.

Em 1951 aconteceu um fato bastante pitoresco no “João Mineiro”. O médico Reinaldo Neves, que era uma pessoa muito impulsiva, não aceitou a marcação de um pênalti contra o Baré e foi até o árbitro reclamar. Disse que o pênalti não seria batido, o que realmente aconteceu. Além disso pediu que o juiz fosse substituído, o que também ocorreu, verificando-se um tremendo sururu em razão disso.

A demolição do “Estádio João Mineiro”, que ocupava um grande espaço em área nobre da cidade, aconteceu depois da inauguração do “Estádio Flamarion Vasconcelos”, o “Canarinho”. No local foi construída a Maternidade Nossa Senhora de Nazaré e uma praça. Mas uma parte da história do estádio ainda permanece de pé, o portal por onde os torcedores compravam os ingressos nos dias de jogos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Do antigo "Estádio João Mineiro", só restou o portal de entrada, que foi restaurado e fica a frente da Maternidade Nossa Senhora de Nazaré. (Foto: Divulgação)

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