Morreu
hoje, aos 84 anos de idade, o ex-jogador de futebol Hilderaldo Luís Bellini,
capitão da Seleção Brasileira que se sagrou campeã mundial de futebol pela
primeira vez, na Suécia, em 1958.
O ex-atleta estava internado na UTI do hospital Nove de
Julho, em São Paulo depois de sofrer uma parada cardíaca. De acordo com a
família, Belloni sofria do Mal de Alzheimer há 10 anos e estava entubado em sua
residência antes de ser levado ao hospital.
No
mês passado Bellini já havia sido internado. Quando retornou à casa, o
ex-jogador permaneceu na cama monitorado por profissionais. Na terça-feira de
madrugada, uma enfermeira comunicou à família sobre a recaída do ex-jogador.
Internado
novamente, ele foi encaminhado diretamente para a Unidade de Terapia Intensiva,
onde faleceu. Em virtude do Mal de Alzheimer, há três anos que Bellini não
reconhecia mais ninguém, inclusive sua mulher.
Nascido
em Itapira (SP), no dia 7 de junho de 1930, começou a carreira em 1947 no
pequeno Itapirense, clube de sua cidade natal, onde ficou até 1958. Depois foi
jogar na Sanjoanense, de São João da Boa Vista, de 1949 a 1951, na Segunda
Divisão Paulista.
Bellini
se tornou famoso no Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, onde chegou em 1952, numa
época de renovação do time que ficou conhecido
como o “Expresso da Vitória”.
Jogou
no Vasco de 1952 a 1961. O time base do clube cruzmaltino na época era este:
Barbosa – Dario – Bellini – Orlando e Coronel – Écio e Rubens – Sabará – Almir
– Vavá e Pinga.
Depois,
já com 32 anos, foi para o São Paulo, onde ficou de 1962 a 1967, mas sem ganhar
um único título sequer. Encerrou a carreira no Atlético Paranaense, clube que
defendeu entre 1968 e 1970. No último ano no clube paranaense, foi campeão
estadual, junto com outro campeão do mundo, Djalma Santos.
Bellini
estava com 40 anos e já casado desde 1963 com Giselda, mãe de seus dois filhos,
Carla e Júnior.
O
zagueiro estrou na Seleção Brasileira em 1957, nas eliminatórias para a Copa de
1958, na Suécia, mais precisamente no dia 13 de abril, no empate em 1 x 1 com o
Peru, em Lima.
Devido
a sua seriedade em campo, o técnico Vicente Feola lhe deu a tarja de capitão já
na reta final da preparação para o Mundial, depois de ser elogiado publicamente
pelo “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho.
Seu
grande momento no futebol deu-se em 1958, quando na condição de “capitão” da
Seleção Brasileira, tornou-se o primeiro jogador a levantar a “Taça Jules
Rimet” com as duas mãos sobre a cabeça, gesto que a partir daí passou a ser
repetido por todos os “capitães” campeões do mundo.
Bellini conta que quando recebeu a Taça das mãos do rei Gustavo, não havia pensado em fazer o gesto que ganhou o mundo. Tudo aconteceu depois que alguns fotógrafos mais “baixinhos”, que não conseguiam fotografá-lo gritaram: “Bellini, levante a taça um pouco mais”
E
não decepcionou como “capitão”, valorizou a honraria. No 0 X 0 contra a
Inglaterra, a partida mais difícil do Brasil naquela Copa, o atacante Mazzola
perdeu um gol feito, entrou em pânico e começou a chorar. Bellini não teve
dúvida: saiu lá de trás e, com um tabefe regenerador, repôs o companheiro no
jogo.
Bellini
também notabilizou-se na Copa de 1958, quando juntamente com Nilton Santos,
Didi e Zito, influenciou Vicente Feola para que escalasse Garrincha e Pelé como
titulares daquela seleção.
Em
1962 no Chile, Bellini foi reserva de Mauro, que recebeu a braçadeira de
capitão e também levantou a Taça, repetindo o histórico gesto. O
capitão de 1958 aceitou a titularidade de Mauro sem mágoas, dizendo que a vez
realmente deveria ser do companheiro, o que evidenciou seu espírito de equipe.
Ainda
esteve presente na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando foi reserva de
Brito e encerrou sua participação na Seleção Brasileira. Com a camisa
“Canarinho” Bellini disputou 57 partidas, com 42 vitórias, 11 empates e apenas
quatro derrotas.
A
responsabilidade sempre andou lado a lado com Bellini. Em 1968, 10 anos depois
da conquista do Mundial da Suécia, o Comerciário, de Criciúma conquistou o
título de campeão catarinense. A festa de entrega das faixas aconteceu num jogo
amistoso com o Juventus, de Rio do Sul, na inauguração do estádio Alfredo João
Krieck, naquela cidade.
A
grande atração do jogo foi Hilderaldo Luiz Bellini, que jogou meio tempo pelo
Juventus e alguns momentos pelo Comerciário. À noite, houve um jantar promovido
pela prefeitura. O prefeito Alfredo João Krieck, não compareceu porque estava
com uma perna engessada.
O
radialista Carlos Eduardo Mendonça tentou levá-lo para a noite da cidade mas,
elegantemente, Bellini alegou profissionalismo para o jogo do dia seguinte.
Normalmente
avesso a entrevistas e a exposições mais amplas, o “Capitão de 58”, fechou-se
ainda mais, após a morte do seu grande amigo Mauro Ramos de Oliveira, em 2002.
Bellini
via em Mauro um irmão, nunca um rival da camisa 3 “Canarinho”. Na abertura da
Copa do Mundo de 1982, na Espanha, Bellini foi o porta-bandeira da Seleção Brasileira
e, lá foi muito ovacionado pela torcida local.
Bellini
era muito querido pelos torcedores brasileiros. Tanto é verdade que a estátua de
bronze localizada no Maracanã, que reproduz o gesto do “capitão” com a "Jules
Rimet", ficou conhecida como “Estátua de Bellini”, mesmo não se parecendo com
ele.
O
bronze, uma homenagem aos campeões mundiais de 1958, foi inaugurado em 13 de
novembro de 1960. É um trabalho do artista plástico Mateus Fernandes.
Sabe-se
que a ideia da estátua foi do empresário Abraham Medina, pai de Roberto Medina,
criador do “Rock in Rio”. Até hoje, a inspiração da estátua é coberta de
mistérios. Oficialmente, a homenagem é dedicada aos campeões de 1958.
Mas
há quem diga que o rosto na escultura é de Francisco Alves, o “Rei da Voz”,
cantor que arrebatava multidões nas décadas de 40 e 50 e que faleceu em 1952 em
um acidente automobilístico. A placa da estátua, inclusive, traz o grifo de
"Rei de Voz".
Em
2011, Bellini foi homenageado pelo Avai F.C, de Florianópolis, sendo um dos
jogadores escolhidos para ter os pés eternizados na "Calçada da Fama",
no Estádio da Ressacada.
Bellini
não era um jogador que se podia chamar de técnico, muito pelo contrário. Tinha
no vigor físico e na raça, suas maiores virtudes, o que lhe garantia se impôr
dentro da área. Sempre jogou com seriedade e lealdade. Foi sempre um líder nato,
atributo que o levou ao posto de capitão da Seleção em 1958.
Depois
que voltou da Copa de 1958, Bellini foi muito assediado por fâns,
principalmente do sexo feminino. Dizia-se a boca cheia nos meios mais
sofisticados do Rio de Janeiro, que na época só haviam três homens bonitos no
mundo: Alain Delon, Tom Jobim e Bellini. A declaração foi atribuída ao
jornalista Ronald Bôscoli, um dos maiores conquistadores cariocas naqueles anos.
O
cartaz do zagueiro era tanto, que o diretor Lima Barreto chegou a convidá-lo
para fazer o papel de "Quelé do Pajeú", no cinema. Chegou até a fazer teste,
quando beijou a bela artista Rossana Ghessa. Mas o papel acabou ficando
com o ator Tarciso Meira.
O
zagueiro ainda recebeu convite para ser galã de fotonovela. O poderoso
empresário Harry Stone tentou levá-lo para Hollywood, mas o Vasco da Gama, que
já se negara a liberá-lo para o Real Madrid, da Espanha, vetou sua saída.
Depois
de aposentado, o ex-capitão da seleção começou a se aventurar nas mesas de
sinuca e trabalhos em escolinhas de futebol.
No
Vasco da Gama empilhou títulos. Foi três vezes campeão carioca (1952, 1956 e
1958); Torneio Internacional do Chile (1953); Torneio Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer (1953); Torneio Quadrangular do Rio
(1953); Torneio Rio-São Paulo (1958); Torneio de Paris (1957); Torneio
Triangular Internacional do Chile (1957) e Troféu Teresa Herrera (1957), entre outros.
Pela
Seleção Brasileira. Copa do Mundo (1958 e 1962); Copa Roca (1957 e 1960); Copa
Oswaldo Cruz (1958, 1961 e 1962); Taça Bernardo O'Higgins (1959) e Copa
Atlântica (1960).
Com
a morte de Bellini, agora só restam vivos dos campeões de 1958, Pelé, Zagallo, Zito,
Mazzola, Dino Sani e Pepe. Já morreram: Castilho, Gilmar, De Sordi, Djalma
Santos, Bellini, Mauro, Orlando, Zózimo, Nilton Santos, Oreco, Moacir, Didi, Garrincha,
Joel, Vaváe Dida.
Além
dos jogadores já são falecidos todos os membros da delegação: Vicente Feola
(técnico), Paulo Amaral (preparador físico), Hilton Gosling (médico), Mário
Trigo Loureiro (dentista), João Carvalhaes (psicólogo), Mário Américo
(massagista), Francisco de Assis (roupeiro), Luiz Murgel (delegado ao Congresso),
Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação brasileira), Carlos Nascimento
(supervisor), José de Almeida (observador técnico), Abílio de Almeida
(secretário) e Adolpho Marques Júnior (tesoureiro). (Pesquisa: Nilo Dias)
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