quinta-feira, 20 de março de 2014

A adeus ao capitão Bellini

Morreu hoje, aos 84 anos de idade, o ex-jogador de futebol Hilderaldo Luís Bellini, capitão da Seleção Brasileira que se sagrou campeã mundial de futebol pela primeira vez, na Suécia, em 1958.

O ex-atleta estava internado na UTI do hospital Nove de Julho, em São Paulo depois de sofrer uma parada cardíaca. De acordo com a família, Belloni sofria do Mal de Alzheimer há 10 anos e estava entubado em sua residência antes de ser levado ao hospital.

No mês passado Bellini já havia sido internado. Quando retornou à casa, o ex-jogador permaneceu na cama monitorado por profissionais. Na terça-feira de madrugada, uma enfermeira comunicou à família sobre a recaída do ex-jogador.

Internado novamente, ele foi encaminhado diretamente para a Unidade de Terapia Intensiva, onde faleceu. Em virtude do Mal de Alzheimer, há três anos que Bellini não reconhecia mais ninguém, inclusive sua mulher.

Nascido em Itapira (SP), no dia 7 de junho de 1930, começou a carreira em 1947 no pequeno Itapirense, clube de sua cidade natal, onde ficou até 1958. Depois foi jogar na Sanjoanense, de São João da Boa Vista, de 1949 a 1951, na Segunda Divisão Paulista.

Bellini se tornou famoso no Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, onde chegou em 1952, numa época de renovação do  time que ficou conhecido como o “Expresso da Vitória”.

Jogou no Vasco de 1952 a 1961. O time base do clube cruzmaltino na época era este: Barbosa – Dario – Bellini – Orlando e Coronel – Écio e Rubens – Sabará – Almir – Vavá e Pinga.

Depois, já com 32 anos, foi para o São Paulo, onde ficou de 1962 a 1967, mas sem ganhar um único título sequer. Encerrou a carreira no Atlético Paranaense, clube que defendeu entre 1968 e 1970. No último ano no clube paranaense, foi campeão estadual, junto com outro campeão do mundo, Djalma Santos.

Bellini estava com 40 anos e já casado desde 1963 com Giselda, mãe de seus dois filhos, Carla e Júnior.

O zagueiro estrou na Seleção Brasileira em 1957, nas eliminatórias para a Copa de 1958, na Suécia, mais precisamente no dia 13 de abril, no empate em 1 x 1 com o Peru, em Lima.

Devido a sua seriedade em campo, o técnico Vicente Feola lhe deu a tarja de capitão já na reta final da preparação para o Mundial, depois de ser elogiado publicamente pelo “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho.

Seu grande momento no futebol deu-se em 1958, quando na condição de “capitão” da Seleção Brasileira, tornou-se o primeiro jogador a levantar a “Taça Jules Rimet” com as duas mãos sobre a cabeça, gesto que a partir daí passou a ser repetido por todos os “capitães” campeões do mundo.

Bellini conta que quando recebeu a Taça das mãos do rei Gustavo, não havia pensado em fazer o gesto que ganhou o mundo. Tudo aconteceu depois que alguns fotógrafos mais “baixinhos”, que não conseguiam fotografá-lo gritaram: “Bellini, levante a taça um pouco mais”

E não decepcionou como “capitão”, valorizou a honraria. No 0 X 0 contra a Inglaterra, a partida mais difícil do Brasil naquela Copa, o atacante Mazzola perdeu um gol feito, entrou em pânico e começou a chorar. Bellini não teve dúvida: saiu lá de trás e, com um tabefe regenerador, repôs o companheiro no jogo.

Bellini também notabilizou-se na Copa de 1958, quando juntamente com Nilton Santos, Didi e Zito, influenciou Vicente Feola para que escalasse Garrincha e Pelé como titulares daquela seleção.

Em 1962 no Chile, Bellini foi reserva de Mauro, que recebeu a braçadeira de capitão e também levantou a Taça, repetindo o histórico gesto. O capitão de 1958 aceitou a titularidade de Mauro sem mágoas, dizendo que a vez realmente deveria ser do companheiro, o que evidenciou seu espírito de equipe.

Ainda esteve presente na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando foi reserva de Brito e encerrou sua participação na Seleção Brasileira. Com a camisa “Canarinho” Bellini disputou 57 partidas, com 42 vitórias, 11 empates e apenas quatro derrotas.

A responsabilidade sempre andou lado a lado com Bellini. Em 1968, 10 anos depois da conquista do Mundial da Suécia, o Comerciário, de Criciúma conquistou o título de campeão catarinense. A festa de entrega das faixas aconteceu num jogo amistoso com o Juventus, de Rio do Sul, na inauguração do estádio Alfredo João Krieck, naquela cidade.

A grande atração do jogo foi Hilderaldo Luiz Bellini, que jogou meio tempo pelo Juventus e alguns momentos pelo Comerciário. À noite, houve um jantar promovido pela prefeitura. O prefeito Alfredo João Krieck, não compareceu porque estava com uma perna engessada.

O radialista Carlos Eduardo Mendonça tentou levá-lo para a noite da cidade mas, elegantemente, Bellini alegou profissionalismo para o jogo do dia seguinte. 

Normalmente avesso a entrevistas e a exposições mais amplas, o “Capitão de 58”, fechou-se ainda mais, após a morte do seu grande amigo Mauro Ramos de Oliveira, em 2002.

Bellini via em Mauro um irmão, nunca um rival da camisa 3 “Canarinho”. Na abertura da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, Bellini foi o porta-bandeira da Seleção Brasileira e, lá foi muito ovacionado pela torcida local.

Bellini era muito querido pelos torcedores brasileiros. Tanto é verdade que a estátua de bronze localizada no Maracanã, que reproduz o gesto do “capitão” com a "Jules Rimet", ficou conhecida como “Estátua de Bellini”, mesmo não se parecendo com ele.

O bronze, uma homenagem aos campeões mundiais de 1958, foi inaugurado em 13 de novembro de 1960. É um trabalho do artista plástico Mateus Fernandes.

Sabe-se que a ideia da estátua foi do empresário Abraham Medina, pai de Roberto Medina, criador do “Rock in Rio”. Até hoje, a inspiração da estátua é coberta de mistérios. Oficialmente, a homenagem é dedicada aos campeões de 1958.

Mas há quem diga que o rosto na escultura é de Francisco Alves, o “Rei da Voz”, cantor que arrebatava multidões nas décadas de 40 e 50 e que faleceu em 1952 em um acidente automobilístico. A placa da estátua, inclusive, traz o grifo de "Rei de Voz".

Há, também, quem afirme que o rosto ali esculpido é de Hamilton Sparra, um modelo, e não do capitão da primeira seleção brasileira campeã do mundo..

Em 2011, Bellini foi homenageado pelo Avai F.C, de Florianópolis, sendo um dos jogadores escolhidos para ter os pés eternizados na "Calçada da Fama", no Estádio da Ressacada.

Bellini não era um jogador que se podia chamar de técnico, muito pelo contrário. Tinha no vigor físico e na raça, suas maiores virtudes, o que lhe garantia se impôr dentro da área. Sempre jogou com seriedade e lealdade. Foi sempre um líder nato, atributo que o levou ao posto de capitão da Seleção em 1958.

Depois que voltou da Copa de 1958, Bellini foi muito assediado por fâns, principalmente do sexo feminino. Dizia-se a boca cheia nos meios mais sofisticados do Rio de Janeiro, que na época só haviam três homens bonitos no mundo: Alain Delon, Tom Jobim e Bellini. A declaração foi atribuída ao jornalista Ronald Bôscoli, um dos maiores conquistadores cariocas naqueles anos.

O cartaz do zagueiro era tanto, que o diretor Lima Barreto chegou a convidá-lo para fazer o papel de "Quelé do Pajeú", no cinema. Chegou até a fazer teste, quando beijou a bela artista Rossana Ghessa. Mas o papel acabou ficando com o ator Tarciso Meira.

O zagueiro ainda recebeu convite para ser galã de fotonovela. O poderoso empresário Harry Stone tentou levá-lo para Hollywood, mas o Vasco da Gama, que já se negara a liberá-lo para o Real Madrid, da Espanha, vetou sua saída.

Depois de aposentado, o ex-capitão da seleção começou a se aventurar nas mesas de sinuca e trabalhos em escolinhas de futebol.

No Vasco da Gama empilhou títulos. Foi três vezes campeão carioca (1952, 1956 e 1958); Torneio Internacional do Chile (1953); Torneio Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer (1953); Torneio Quadrangular do Rio (1953); Torneio Rio-São Paulo (1958); Torneio de Paris (1957); Torneio Triangular Internacional do Chile (1957) e Troféu Teresa Herrera (1957), entre outros.

Pela Seleção Brasileira. Copa do Mundo (1958 e 1962); Copa Roca (1957 e 1960); Copa Oswaldo Cruz (1958, 1961 e 1962); Taça Bernardo O'Higgins (1959) e Copa Atlântica (1960).

Com a morte de Bellini, agora só restam vivos dos campeões de 1958, Pelé, Zagallo, Zito, Mazzola, Dino Sani e Pepe. Já morreram: Castilho, Gilmar, De Sordi, Djalma Santos, Bellini, Mauro, Orlando, Zózimo, Nilton Santos, Oreco, Moacir, Didi, Garrincha, Joel, Vaváe Dida.

Além dos jogadores já são falecidos todos os membros da delegação: Vicente Feola (técnico), Paulo Amaral (preparador físico), Hilton Gosling (médico), Mário Trigo Loureiro (dentista), João Carvalhaes (psicólogo), Mário Américo (massagista), Francisco de Assis (roupeiro), Luiz Murgel (delegado ao Congresso), Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação brasileira), Carlos Nascimento (supervisor), José de Almeida (observador técnico), Abílio de Almeida (secretário) e Adolpho Marques Júnior (tesoureiro). (Pesquisa: Nilo Dias) 


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