segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Os 100 anos do Madureira E.C.

O Madureira Esporte Clube, que este ano comemorou 100 anos de fundação, nasceu com o nome de Fidalgo Atlético Clube. Ganhou a denominação atual em 1932, depois que um grupo de comerciantes do bairro localizado no subúrbio carioca, resolveu criar um grande time de futebol na região. Elísio Alves Ferreira, Manoel Lopes da Silva, Manuel Augusto Maia e Joaquim Braia, entre outros, lideraram o movimento para a fundação da nova agremiação.

Uassir do Amaral, presidente do Fidalgo se reuniu com esses comerciantes, sócios do clube e, após várias assembléias, foi fundado o Madureira Atlético Clube, em 16 de fevereiro, de 1933, também com a adesão do time do Magno.

Porém, a data de fundação que consta para os dirigentes é 8 de agosto, de 1914, dia do nascimento do Fidalgo Atlético Clube, antecessor do Madureira. A nova agremiação tinha como cores o roxo e o azul.

Apelidado de “Tricolor Suburbano”, o Madureira tem sua sede localizada na rua Conselheiro Galvão, 130 no bairro de Madureira. O seu estádio é o Aniceto Mocoso, mais conhecido por "Estádio da rua Conselheiro Glvão". 

Em sua existência centenária, o clube teve algumas conquistas expressivas. Em 1939 foi campeão carioca de amadores, seu primeiro título. No mesmo ano ganhou o Torneio Início de Profissionais, que reunia os principais clubes do Rio de Janeiro. Todos os jogos aconteciam no msmo dia.

O primeiro Torneio Início foi realizado em 1916, promovido pela Associação de Cronistas Desportivos, atual Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj). As regras da competição eram diferentes. Como as partidas tinham que ser realizadas apenas em um dia, tinham dois tempos de 10 minutos. A final era disputada em duas etapas de 30 minutos cada.

Em 1936, o time venceu o returno do Campeonato Estadual, organizado pela Federação Metropolitana de Desportos. Na decisão em melhor de três, frente o Vasco, vencedor do primeiro turno, o Madureira acabou perdendo. A dupla de zaga do Madureira, composta por Norival e Cachimbo, apelidada de "o terror dos subúrbios", não conseguiu conter a equipe de São Januário.

O Madureira não vive só de futebol. Em 12 de outubro de 1971 o clube fez uma fusão com o Madureira Tênis Clube e o Imperial Basquete Clube, nascendo o Madureira Esporte Clube, que passou a disputar também outras modalidades esportivas.

Foram unidas as cores tradicionais do clube as dos novos aliados. O azul era do Madureira Atlético Clube, o grená do Madureira Tênis Clube e o amarelo do Imperial Basquete Clube.

Em 2006 o Madureira chegou novamente perto de uma conquista expressiva. Foi quando ganhou o segundo turno do Campeonato Estadual, a “Taça Rio”. Na final, perdeu para o campeão da Taça Guanabara, o Botafogo, e foi vice-campeão, coisa que não acontecia há 70 anos.

Em 2007 o time voltou a fazer uma excelente campanha no Estadual do Rio de Janeiro, quando goleou o Flamengo por 4 X 1, com 4 gols do atacante Marcelo. O time chegou à final da Taça Guanabara, contra o próprio Flamengo. O primeiro jogo venceu por 1 X 0 e na segunda partida perdeu por 4 X 1.

Em 16 de outubro de 2010, o Madureira, pela primeira vez, obteve classificação para uma competição nacional. Ao derrotar o Operário-PR, no Estádio Aniceto Moscoso por 6 X 2 (já havia vencido o primeiro confronto por 4 X 2), em partida válida pela Série D do mesmo ano, ganhou o direito de jogar a Série C de 2011.

O clube já estava eliminado da competição, por ter perdido para o América-AM. Mas este foi punido pela CBF com a perda de pontos por ter escalado um jogador de forma irregular, o que beneficou o Madureira que herdou uma das vagas e foi vice-campeão nacional da Série D, a maior conquista do clube em toda a sua história.

Na Série C, em 2011, o clube terminou em 3º no seu grupo, não se classificando para a 2ª fase. Na Copa Rio, o Madureira foi campeão ao derrotar o Friburguense nas duas partidas da final, classificando-se para a Copa do Brasil de 2012.

Na competição nacional foi eliminado no primeiro jogo, quando perdeu para o Criciúma por 2 x 0. No Campeonato Carioca, terminou em 12º. Na Série C, até que começou bem, mas caiu de desempenho ao longo do campeonato e quase foi rebaixado à Série D.

Na Copa Rio, passou fácil pelas primeiras fases, mas foi eliminado na semifinal pelo Bangu, depois de dois empates e uma disputa por pênaltis.

O Madureira é o oitavo clube com mais participações no Campeonato Carioca de Futebol, tendo disputado em 68 oportunidades. O clube também possui uma categoria de base muito bem cuidada, prova disso que em 1974 ganhou o campeonato carioca de juniores, em 1998 foi campeão de juvenis e em 1997 e 2000 de infantis.

O Madureira sempre foi conhecido por ser um celeiro de bons jogadores. De Conselheiro Galvão surgiram valores que chegaram até a Seleção Brasileira.

Lá foram formados Didi, Evaristo de Macedo, Jair da Rosa Pinto, Isaías, Lelé, Nair e Nelsinho. De um período mais recente, Marcelinho Carioca, Iranildo, Léo Lima e Souza. Também passou pelo clube o jogador Derlei, que mais tarde foi campeão da UEFA Champions League e Mundial de Clubes pelo F.C. Porto.

O papagaio “Zé Carioca“ é a mascote do Madureira. O personagem de Walt Disney foi escolhido por representar o estilo de vida carioca, malandro, bem peculiar dos subúrbios do Rio de Janeiro. O bairro de Madureira é conhecido como um reduto do samba, por suas peculiaridades.

O clube tem mais uma razão interessante para se orgulhar. É dele o recorde brasileiro de permanência de um clube no exterior, quando em 1961 esteve por seis meses nos mais variados e exóticos cantos do planeta.

Foram 144 dias de excursão, tendo se apresentado nos Estados Unidos, Guatemala, Japão, Indonésia, Malásia, Índia, Bélgica, França, União Soviética, África, Itália e Sri Lanka, entre outros. Quando do golpe militar de 1964, o Madureira se encontrava na China.

A presença do Madureira na China, constituiu-se em mais um pioneirismo do clube que fazia, sem saber, história. Foi o primeiro time brasileiro a visitar a fechada China comunista. Desfilou seu futebol mediano em Cantão, Pequim, Xangai e Tientsin sem licença da Confederação Brasileira de Desportos, a CBF da época, que cumpria determinação da Fifa, que proibia jogos internacionais naquele país.

O clube suburbano carioca disputou 36 jogos, com 23 vitórias, 3 empates e 10 derrotas, marcando 107 gols, média de quase 3 gols por partida. Foi também o primeiro clube brasileiro a jogar no Japão e Hong Kong.

Em 1963 o Madureira excursionou pelas Américas. Os jogos foram acertados pelo empresário de futebol, José da Gama Correia da Silva, o “Zé da Gama”, português que presidiu o Madureira em 1959/60.

A excursão começou na Colômbia, seguiu na Costa Rica, passando por El Salvador e México. Em Cuba, o Madureira jogou por cinco vezes, vencendo todas: Industriales (campeão local, 5 X 2), Municipalidad de Morrón, da Província de Camaguey (6 X 1), um combinado universitário (11 X 1) e uma seleção de Havana (vitórias por 1 X 0 e 3 X 2).

Na última partida, em 18 de maio, esteve presente ao estádio de beisebol adaptado para o futebol, o então ministro da Indútria, Che Guevara, vestindo o seu indefectível uniforme militar verde-oliva. Sorridente, sem tensão, leve, feliz, Che entrou no gramado e cumprimentou um a um os jogadores.

Argentino, torcedor do Rosário Central, Che não era apenas um guerrilheiro destemido, mas também um goleiro frustrado, apaixonado por esportes. Ele foi muito amável com os brasileiros e contam que até deixou uma flâmula com o empresário “Zé da Gama”.

Na mesma noite, na despedida da delegação, no hotel onde o Madureira estava hospedado, os governistas cubanos presentearam os  jogadores com caixas de garrafas de rum, que tinham como invólucro a frase “Cuba, País Libre de América”.

Naquela época, pouco antes da “Revolução de 1964”, o clima no Brasil era de desconfiança política. Para que um clube de futebol saísse do país, era necessário uma série de exigências, até juramento anticomunista.

Além de negativa de imposto de renda, título de eleitor, certificado de reservista, fotos, visto no passaporte e o famoso “nada consta”, para se entrar nos Estados Unidos, por exemplo, fazia-se necessário estirar o braço direito jurando ser contra o comunismo.

O time brasileiro chegou a Havana no dia 11 de maio. Na bagagem, café, cigarros, poucas coisas. Nas paredes dos quartos haviam gravadores espalhados.A recomendação era de que não conversassem sobre política. Falar só banalidades. De preferência, futebol.

Era um tempo em que o futebol brasileiro estava em alta no mundo todo, em razão do bicampeonato mundial nas Copas do Mundo de 1958 e 1962. A delegação do Madureira, em Cuba, foi tratada a pão de ló, ficando hospedada no Hotel Riviera.

Passados alguns dias, faltou água no hotel. Para que Cuba não queimasse o próprio filme que pretendia vender, os brasileiros foram transferidos para o luxuoso cinco estrelas “Habana Libre”, que comportava até boate de alto nível.

Alfredinho, ponta-esquerda do Madureira conta que na época do ditador Fulgência Batista, antes da revolução castrista, “crioulo não passava nem na porta daquele hotelzão”.

Na aventura por Havana, os jogadores brasileiros viram cenas que jamais sairiam da memória, como um prédio gigantesco com o rosto enorme de Fidel Castro estampado numa bandeira. Casas com teatro rebolado, rivalizavam com tanques de guerra e canhões. As mulheres, para serem vistas, tomavam a guarda e faziam a vigilância das 18 horas até o começo da manhã.

Em visita a uma fábrica de charutos, os jogadores foram aplaudidos pelos operários, visivelmente constrangidos, já que foram obrigados a isso. Era comum encontrar cubanos ávidos por consumir produtos proibidos no país. Queriam tudo o que os brasileiros tinham. Um deles, segundo o jogador Farah, vendeu suas roupas e saiu de lá cheio de grana.

Depois dos jogos em Cuba, a delegação partiu para México, El Salvador e Panamá. Em território mexicano jogadores eram distinguidos de dirigentes e técnicos. Os primeiros, eram classificados como artistas, os outros, turistas. Assim, cada atleta pagava US$ 43 para poder desenvolver sua “atividade artística”, ao passo que os demais membros, apenas US$ 3.

Ao pisar na Cidade do México, houve um choque de diplomacia. As caixas de papelão, que protegiam o rum cubano foram destruidas na alfândega, sob a desculpa de que se tratava de propaganda comunista. Mas as bebidas foram liberadas. 

Depois de três meses e 20 dias de viagem, a delegação do Madureira retornou ao Rio de janeiro, em 26 de junho. Somadas as duas excursões, a de 1961 e a de 1963, o Madureira praticamente andou pelo planeta inteiro.

Em 15 de junho de 1941 foi inaugurado o Estádio da rua Conselheiro Galvão, de propriedade do clube, com o jogo Madureira 4 X 2 Fluminense. Rongo fez os dois gols do Fluminense e Oseas, Isaías (2) e Jorginho marcaram para o Madureira. O árbitro foi José Ferreira Lemos, o "Juca da Praia". O jogo foi válido pelo Campeonato Carioca.

O público foi de 10.762 pagantes, com renda de Cr$ 53.946.200. Madureira: Alfredo - Benedicto e Ápio – Octacílio - Jair e Alcides – Jorginho – Lelé – Isaías - Jair Rosa Pinto e Oseas. Fluminense: Maia - Moysés e Machado – Bioró - Spinelli e Afonsinho - Pedro Amorim - Pedro Nunes – Rongo - Tim e Hércules.

Jogos memoráveis. 26/05/1940: Atlético-MG 1 X 2 Madureira. Amistoso. Local: Estádio Antônio Carlos, em Belo Horizonte-MG; Vasco da Gama 1 X 3 Madureira, em 03/08/1958, na Rua Bariri, válido pelo Campeonato Carioca; Vasco da Gama 1 X 2 Madureira, em São Januário, 21/01/200, válido pelo Campeonato Estadual e Madureira 4 X 1 Flamengo, dia 17/2/2007, em Moça Bonita, pelo Campeonato Carioca. (Pesquisa: Nilo Dias)




O Madureira foi o primeiro clube brasileiro a jogar na China Comunista.Na foto, o meia Farah apertando a mão do vice-primeiro-ministro chinês Chen Yi, nomeado marechal do Exército Popular de Libertação e que respondia ainda como ministro dos Negócios Exteriores. (Foto: Revista "Trip")

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